UMA DAS QUATRO FOLHAS EM QUE O VASTO TERRITÓRIO MONTALVANENSE ESTEVE DIVIDIDO DURANTE SÉCULOS.
Talvez que desde a formação da localidade já com características de povoação para lá de um lugarejo, entre finais do século XIII e início do século XVI.
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Carta Corográfica de Portugal; Folha 28 (Nisa); Escala 1/100 000; Instituto e Geográfico e Cadastral; Edição de 1960; Lisboa
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Aquando do inventário para avaliar os danos causados pelo terramoto de 1 de novembro de 1755, da Corte em Lisboa, foi enviado um inquérito aos párocos de todo o País, aproveitando para saber de cada paróquia - povoações e territórios - as características geográficas, demográficas, históricas, económicas, religiosas e administrativas. O aviso (perguntas) data de 18 de janeiro de 1758, assinado pelo Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino (equivalente ao atual primeiro ministro), Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro «Marquês de Pombal» em 1769 depois de ser «Conde de Oeiras», em 1759. A resposta de Montalvão surge em 24 de abril de 1758, pelo Vigário Frei António Nunes Pestana de Mendonça.
A pergunta é:
5. Se tem termo seu: que lugares, ou aldeas comprehende, como se chamaõ? E quantos visinhos tem?
A resposta (texto inicial):
5. Tem termo proprio dividido em quatro folhas - a saber Diagueiros, que tem huma legoa de comprimento para as partes de Castello de Vide = a folha de Magdalena, que tem outra legoa de comprimento para as partes de Nisa - A folha das Antas que hé a menor de todas terá três quartos de comprimento para as partes de Castella = finalmente a folha da Barreyra, que tem huma légoa para as partes da Beira, e finalisa no rio Tejo = ...... continua com a descrição e dimensão dos lugares
A folha das ANTAS deve o nome, certamente, à enorme variedade de construções megalíticas, com origem nos primeiros Seres Humanos que ocuparam a região na Pré-história, que existiam em ambas das margens do rio Sever e cujas lajes e pedras foram depois aproveitadas pelos montalvanenses para fazer palheiros, currais, poços e pedreiras. Apesar de ser uma "folha" pequena é a que era mais generosa em água, quer de nascentes, quer de água corrente (rio Sever). Era nesta "folha" que se localizavam quatro dos principais poços que abasteciam de água a povoação, além de um generoso chafariz (clicar). Dotada de inúmeros pequenos cursos de água (barrocas) que desaguam no rio Sever, mesmo os dois ribeiros - «Marí Neta» e «Dourédes» não têm grande extensão e correm pouco tempo no Inverno. Mas era uma "folha" com facilidade de ligação a Castela, depois Espanha nas proximidades de Montalvão. Além disso havia as azenhas (moinhos de rio) e uma grande variedade de peixes. "Folha" pequena mas com variedade de utilização e amplas e diversas possibilidades.
As três pequenas sub-bacias:
Ribeira da Marí Neta;
Ribeiro dos Dourédes;
Barroca de Vale do Forno.
Em Montalvão, um chafariz é uma nascente com uma bica em que a água corre para uma pia onde animais de grande porte (vacum, cavalar, muar e asinino) podem saciar a sede. Uma fonte pode ser um poço - água tirada a caldeiro - mas ficando sempre num espaço público. Uma nascente com bica mas sem pia a que tenham acesso animais de grande porte também é uma fonte, por isso há dois tipos de fonte: com bica e com caldeiro (forma de poço, mas em espaço público). O Chafariz de Santa Clara é a melhor nascente em toda esta folha das «Antas».
A folha das «Antas» tinha grande importância pois permitia a ligação a Espanha embora devido ao encaixe do leito do rio Sever - as «Barrêras do Rio» são imponentes - apenas em determinados açudes e pégos (portos) com destaque pelo do Artur que se localiza no seguimento da Porta de Baixo. A descrição do rio Sever, publicada em 1803, merecerá destaque em breve, completando o que dele se escreveu (clicar).
Apesar de pequena - relativamente às outras três folhas (Diagueiros, Madalena - nesta há muitíssimo para "dizer" até porque Santa Maria Madalena é padroeira (protetora) dos Templários - e Barreiras) a folha «Antas» tinha dois caminhos estruturantes. Para Oeste, o dos Moinhos - servindo essencialmente a azenha do Artur - e para Norte o caminho da Foz que era junto a Montalvão o caminho para a Lomba da Barca, ligando o Alentejo com a Beira Baixa praticamente todo o ano, exceto em dias de invernia que tornassem o rio Tejo perigoso devido à corrente e materiais arrastados que pudessem provocar rombos na Barca. No troço final o «Caminho da Foz» deixava de ser uma linha de festo, topos ou cumeada e seguia junto ao leito da Barroca de Vale do Forno.
Num território que pertencia a Montalvão, numa das quatro folhas em que estava dividido junto aos caminhos que estruturavam este espaço e permitiam a sua utilização e atravessamento - o caminho dos Moinhos com ligação a Espanha todo o ano pela azenha do Artur - localizava-se a Ermida de Santa Margarida. Todas as quatro folhas tinham um caminho estruturante e uma Ermida importante.
Conhecer a evolução de cada uma destas quatro folhas é perceber como se conseguiu assegurar a subsistência de uma povoação como Montalvão. É tão interessante perceber a evolução agrária destes espaços do vasto território montalvanense como perceber a evolução e crescimento dos arruamentos do povoado.
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Numa área dominada pela média e grande propriedade com destaque para o «Monte da Foz», tendo como últimos proprietários António Ferro (morava na rua da Barca) depois dos filhos «Jaquim Ferro» - solteiro morou com ele - e Domingos Ferro, habitava a casa do sogro o senhor Jaime (Regedor durante décadas) na casa da Praça da República (Monte da Foz que agora, consta, são eucaliptos do Novo Banco) há a curiosidade de a sul dessa propriedade e a norte dos Dourados existir um núcleo de olival em minifúndio - cerca de uma centena de «tchões» bem longe de Montalvão, aproveitando as vertentes de duas barrocas do «Muro da Porta» e do «Brás Neto». Esta "folha" como é a menor torna-se mais fácil de perceber quem eram os proprietários: ascendentes da família do senhor António Ferro e da esposa do senhor António Louro. Um dos maiores terratenentes montalvanenses - António Ferro - viu terminar a descendência, a viver em Montalvão, com a morte trágica do neto - um filho (Joaquim Ferro) nunca lhe deu netos e o outro - Domingos Ferro - teve um descendente que faleceu na Guerra Colonial (norte de Angola), em 21 de novembro de 1964, a quatro dias de completar 23 anos (clicar) além de uma filha que casou com um espanhol indo viver para Espanha. |
Só pode existir uma povoação e esta ter desenvolvimento durante séculos (sete) porque há um território que lhe deu subsistência e sustentabilidade, bem como a existência de água. Sem água não há vida.
Assim se foi fazendo Montalvão...