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25 novembro 2021

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Rio Sever 1758 (Parte I: Peixes)

25 novembro 2021 0 Comentários

A POPULAÇÃO MONTALVANENSE TINHA NO RIO SEVER UMA OPORTUNIDADE DE LAZER E VARIEDADE ALIMENTAR.




O «Rio» permitia grande variedade de peixe, pois ficando na bacia hidrográfica do rio Tejo, no centro do País, este tem espécies de águas mais meridionais (quentes) e setentrionais (frias). Além disso ir "passar o dia" ao «Rio», geralmente ao domingo à tarde, era quebrar a rotina e monotonia de uma vida que se regia pelos mesmos padrões. Só o envelhecimento alterava as rotinas.  



Aquando do inventário para avaliar os danos causados pelo terramoto de 1 de novembro de 1755, da Corte em Lisboa, foi enviado um inquérito aos párocos de todo o País, aproveitando para saber de cada paróquia - povoações e territórios - as características geográficas, demográficas, históricas, económicas, religiosas e administrativas. O aviso (perguntas) data de 18 de janeiro de 1758, assinado pelo Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino (equivalente ao atual primeiro ministro), Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro «Marquês de Pombal» em 1769 depois de ser «Conde de Oeiras», em 1759. A resposta de Montalvão surge em 24 de abril de 1758, pelo Vigário Frei António Nunes Pestana de Mendonça.


As perguntas são:




&3 (1 e 7). O que se procura saber do Rio dessa terra hé o seguinte:

1.º Como se chama assim o Rio, como o sítio onde nasce? 

7.º Se cria peixes, e de que especie saõ os que trás em maior abundancia?


As respostas (excertos):




25 (Rio). ... hum hé o Rio chamado Sever, que nasce no termo da Villa de Marvaõ, que dista cinco légoas desta Villa; e vai morrer no Rio Tejo, no termo desta Villa; e tem este sete, ou oito légoas de comprido;...; e hé muito abundante de peixe a saber Barbo, Boga, Bordalo, Enguias, Truytas; e mais peixe meúdo; ...... continua com a descrição da utilização e importância do rio Sever



Quase três séculos depois o rio Sever alterou-se muito. O volume de água é enorme devido à albufeira artificial provocada pela barragem de Cedilho - já não há rio a correr impetuosamente durante o Inverno e a secar no Verão - com as plataformas aplanadas do antigo leito de cheia submersas. Com a construção das barragens de Belver e do Fratel, depois a de Cedilho as enguias foram as primeiras a sofrer com as mudanças. Seguiu-se a introdução do Achigã que sendo carnívoro desequilibrou as espécies endémicas. Ultimamente a introdução criminosa, pelos pescadores desportivos, do maior predador de água doce, o siluro, dizimou a biodiversidade no rio Sever. Ficou a memória do tempo em que até as malfadadas bogas assadas sabiam a "caviar". 




A quantidade de espécies de peixes que viviam no rio Sever era superior a duas dezenas, embora alguns em pequenas quantidades. Não sendo exaustivo utilize-se como guião a descrição do notável Vigário Frei António Nunes Pestana de Mendonça. 


Nesta fotografia - 9 de outubro de 1955 - à espera da «camneta» para a Feira de «Sam Meguél», em Nisa, junto do seu sogra Ti Manel Têxera (seu sogro)

Petiscos

Em Montalvão, no seu apogeu demográfico (Anos 40/50) e décadas seguintes há uma figura de referência quando se referem os peixes do «Rio» e não só, que é um extraordinário cozinheiro - que aprendeu fazendo, autodidata - que é o Ti Tomás Belo proprietário do Café Belo (um dia destes será tema a desenvolver: «Os Dois Cafés»). Sabia confecionar os peixes do rio - "famosos" por terem muitas espinhas - de modo a que todos fossem comestíveis e soubessem tão bem que não podia ser melhor... 





Barbos

Era o rei do Sever. O mais desejado por fazer a melhor sopa de peixe. Um barbo das grandes até dava para três ou quatro comerem uma boa sopa. Os pequenos, os montalvanenses "barbichos", eram um petisco quando fritos (clicar).



Bogas

Sempre "prejudicadas" pela preferência pelos barbos, era o peixe que existia em maior quantidade. Fritas eram um petisco aceitável (clicar).


Outra variedade (sub-espécie) de boga(clicar).

Bordalos

Também conhecido por Saramugo foi das espécies que começou por sentir a poluição do rio com barcos a motor e águas turvas devido às barragens. Petisco raro já deve estar extinto no rio Sever (clicar).




Enguias

Com fama de serem em elevada quantidade mas com a construção das barragens - Belver, Fratel e Cedilho - viram o acesso bloqueado e foram escasseando até desaparecerem do «Rio». As maiores . antes de partirem rumo ao Oceano para se reproduzirem - permitiam fazer sopas como se fossem barbos e as mais pequenas - chegadas do Mar dos Sargaços - eram fritas. (clicar)



Trutas

Em tempos mais recuados a rainha do Sever tal a qualidade embora em quantidade os barbos fossem imbatíveis. Em meados do século XX já não há notícias de se pescarem trutas no «Rio» mesmo junto à foz, na confluência com o rio Tejo.  (clicar)



Muge

Peixe de estuário - os seja, da foz dos rios com o Mar - desenvolve-se bem em ambientes menos equilibrados, por isso, com a degradação das condições naturais e qualidade da água - começo da introdução dos pesticidas no Ribatejo - conseguiram ocupar nichos no ecossistema à medida que outras espécies foram rareando. Também conhecida por "Tainha" as espécies que eram pescadas no «Rio» eram variedades que não necessitavam de muito teor em sal na água para sobreviver (clicar).



Assim se foi fazendo (e desfazendo) Montalvão

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