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16 agosto 2020

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Aos Soldados Conhecidos

16 agosto 2020 1 Comentários
QUE TOMBARAM EM ANGOLA, GUINÉ E MOÇAMBIQUE.


Homenagem a todas as mães que tanto sofreram enquanto os seus filhos combatiam longe da família. Muitos despediram-se e nunca voltaram. Nem mortos, pois continuam sepultados nesses antigos territórios portugueses



Completam-se hoje, em 16 de agosto de 2020, 53 anos em que morreu um valente soldado da rua do Ferro numa emboscada no Norte da Guiné, junto ao Cacheu.



Manuel da Costa Sacramento nasceu na rua do Ferro, em 2 de agosto de 1945 e morreu, na Guiné, aos 22 anos e 14 dias (16 de agosto de 1967) numa emboscada do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) pois o veículo onde seguia acionou uma mina anti-carro com carga incendiária, muito próximo do Cacheu de onde os militares portugueses tinham saído em missão para Teixeira Pinto. A capacidade dos guerrilheiros africanos era terrível pois instalaram o dispositivo praticamente junto da povoação do Cacheu, entre a Tabanca Pecau e a ponte Alferes Nunes. O soldado Manel da Costa ainda foi transportado para o Hospital Militar de Bissau mas não resistiu, tal como mais dois camaradas e os outros ficaram com feridas graves para o resto da vida.





O primeiro montalvanense a morrer na «Guerra do Ultramar» foi Joaquim Possidónio Relvas Ferro. Nascido na Praça, neto do antigo Regedor o «Senhor Jaime», a 25 de novembro de 1941 faleceu em 21 de novembro de 1964, a quatro dias de completar 23 anos. Este furriel miliciano morreu em consequência de um acidente de viação, em Maquela do Zombo, norte de Angola.



No extremo Norte da província de Angola, em Uíge, na fronteira com o Congo Belga tombou o primeiro militar de Montalvão.







Em 20 de novembro de 1970 morreu, em combate, o alferes miliciano Raúl Pelecas Sereno, nascido em Montalvão, em 4 de agosto de 1946, contando 24 anos, três meses e 16 dias, mas a residir em Moçambique, para onde foi viver, acompanhando os pais montalvanenses que emigraram em meados dos Anos 50.



O rebentamento de uma mina anti-pessoal, junto à fronteira de Moçambique com a Tanzânia (antiga Tanganhica), na localidade de Palma, em Cabo Delgado, deitou por terra um jovem que nunca chegou a envelhecer. Teria completado 74 anos, no passado dia 4 de agosto de 2020. 





Em 23 de setembro de 1972, com 22 anos, dois meses e oito dias, morreu José Belo Pires, primeiro-cabo cozinheiro, nascido na Salavessa, em 15 de julho de 1950.



A cumprir serviço militar em Angola, faleceu num acidente de viação, em Lunda, no Leste do território angolano, numa viagem entre Dala, Chimbila e Cazage. 







As guerras medem o tamanho da estupidez humana pois quem decide a sua existência não as faz. Manda outros fazê-las. Há sempre dinheiro para gastar nas guerras, inventando armamento cada vez mais sofisticado e poderoso, construindo navios, levando militares, erguendo alojamentos, alimentando-os, curando as feridas, até sarar as mazelas e enterrá-los quando morrem. 



Os que decidem fazer guerras, numa luta de sobrevivência, depois são tão incongruentes que necessitam de outros que nada sabem delas e acerca da origem do conflito ou nelas não estão interessados, incluindo obrigar jovens a matar para não serem mortos. 



O que se passou durante os Anos 60 e a primeira metade da década de 70 foi um absurdo que podia ter sido evitado se de um lado não estivessem teimosos (os dirigentes de Portugal) e do outro não estivessem assassinos a soldo de ideologias que se utilizam de pessoas para fazer sobreviver uma elite (os dirigentes da UPA em Angola). Em 15 de março de 1961 elementos da União das Populações de Angola (UPA) mataram tudo o que lhes surgiu pela frente. A maior parte dos brancos e negros empregados dos colonos foram apanhados à traição, desarmados e muitos, até crianças, mortos pelas costas enquanto fugiam. Bebés mortos nos berços. Grávidas esventradas. Nada escapou aos assassinos.


Oito da manhã, em 15 de março de 1961. “Mata, mata. UPA, UPA.” Há mais de 59 anos, a União das Populações de Angola (UPA) desencadeava os primeiros ataques às fazendas e vilas coloniais no norte de Angola. Neste massacre foram mortos e mutilados centenas de colonos brancos e também negros, nas fazendas do café, zonas dos Dembos, Negage, Úcua e Nambuangongo. Muitos foram mortos à catanada. Ninguém escapou ao massacre. Homens, mulheres e crianças, negros e brancos. A fúria da UPA (posteriormente chamada FNLA – Frente Nacional de Libertação de Angola) não poupou ninguém.

A Guerra Colonial foi (ainda é...) um "monumento à estupidez" humana portuguesa. Principalmente aos governantes de Portugal que foram incapazes de assumir um problema que afectou, depois da Segunda Guerra Mundial, os países europeus com colónias em África e territórios na Ásia. Preferiram acobardar-se recrutando soldados no interior rural português, mal preparados, que tiveram de ser corajosos para poderem sobreviver num terreno, clima, fauna e vegetação muito diferentes dos existentes em Portugal Continental, Açores e Madeira.




Foi ter que fazer rapidamente e do modo que foi possível uma luta em que alguns acreditavam que estavam a lutar pela Pátria, mas nem todos sentiam vontade em o fazer. Foram obrigados. 



Há sempre dinheiro para fazer guerras e levar militares para longe onde as guerras ocorrem. Mas nunca houve dinheiro de dirigentes portugueses vesgos para trazerem de volta os restos mortais de 2 246 militares que continuam sepultados em Angola, Guiné e Moçambique. Principalmente filhos de gente pobre que nunca teve dinheiro para os trazer de volta ao Lar de onde foram arrancados, muitos contra a sua vontade e dos parentes. Milhares de mães e pais enlutados para o resto da sua vida que já morreram e nunca puderam chorar junto da sepultura dos filhos que um dia o Governo Português decidiu que seriam seus escravos para ir defender, em África, a sua cobardia em chegar a acordos políticos. Houve dinheiro para os levar, há sempre dinheiro para o que se quer, mas nunca houve, nem há, dinheiro para os trazer, mesmo que já apenas ossadas de portugueses sepultados em países estrangeiros que serviram Portugal e que este se serviu deles ignorando-lhes a dignidade na morte! 





Assim (também) se fez Montalvão
1 comentários blogger
  1. Nunca o Estado Português se comportou de forma minimamente digna para com os que estiveram no conflito e para com as suas famílias. Os que morreram, os que ficaram marcados para sempre, os que foram indirectamente afectados. Homens dignos que lutaram, deram o sangue e alguns a vida. Mereciam outra dignidade e reconhecimento.

    Somos um país com um grande povo mas com elites miseráveis.

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