Embora a grande quebra de estar para ali sem ninguém dar por isso esteja muito mais relacionada com o serviço postal do que com as estradas num tempo em que ninguém ou poucos tinham automóvel. De qualquer modo as estradas permitiam que até o serviço postal fosse mais célere e eficiente.
A possibilidade de saber que havia caminhos de terra batida, muitas vezes implacáveis de Verão e impraticáveis de Inverno, depois transformados em estrada de todo o ano foi um incremento na quebra de isolamento, mas a melhoria do serviço postal e principalmente o telégrafo e telefone passaram para o imaginário dos montalvanenses do tipo: sabem que estamos aqui e podemos dizer que estamos aqui.
Até meados do século XX talvez mais de metade da população de Montalvão nunca tinha ido para além de Nisa ou Póvoa e Meadas, e mesmo nestes casos, muitas vezes só chegavam às Ermidas de Nossa Senhora da Graça (que também é a padroeira de Montalvão e à qual está dedicada a Igreja Matriz) e de São Silvestre, respetivamente.
Também houve quem nunca escrevesse uma carta, usasse o telégrafo ou fizesse um telefonema. Mas só por si, saber que tinha essa possibilidade era um descanso.
Antes de se escrever neste blogue acerca dessa quebra de isolamento, nem que fosse sentido, com o serviço postal, depois o telégrafo e finalmente o telefone, vamos às duas estradas.
Comecemos pela principal. A de Nisa que liga Montalvão à principal localidade da região, depois a sua sede de Concelho quando Montalvão deixou de o ser.
O primeiro mapa que regista as estradas (à época eram mais caminhos com capacidade para utilização de carros e carroças) em torno de Nisa é curioso. Data de 1771 impresso em França, vendido em Bordéus e da responsabilidade de Giovanni Antonio Rizzi Zannoni. Entre Nisa e Montalvão (e vice-versa) talvez alguém conseguisse ir de uma à outra sem sobressaltos de maior tendo em conta o que está cartografado. Mas que parece ser uma invenção... parece. E em cartografia antiga o que parece, por vezes, não é!
(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)
A cartografia de Tomás López publicada em 1790, ou seja, 19 anos depois da anterior, acrescenta mais informação para uma região recôndita de Portugal, da qual não seria de esperar mais... mas o certo é que já se percebe uma azinhaga direta entre Nisa e Montalvão e vice-versa (como são sempre as veredas, as azinhagas, os caminhos e as estradas).
Não menos curioso é o seguinte. Data de 1 de Agosto de 1810 e quem se guiasse por ele mais depressa chegaria a "Evendas" que a Montalvão! Publicado em Londres por T. Egerton da responsabilidade do cartógrafo Capitão William Elliott.
Isto quando estava cartografado o melhor mapa - dos que se conhecem - feito até à época datando de 1808 - num desdobrável com as distâncias-tempo que os militares tinham, ocasionalmente em caso de necessidade, de percorrer também usada no serviço postal que percorria diariamente todo o Portugal. Para simplificar a leitura juntam-se as folhas do desdobrável que por ser isso tem pano-cru, atrás, a suportar o desdobramento do papel. É a «Carta Militar das Principais Estradas Militares» da responsabilidade de Lourenço Homem da Cunha de Eça. Um pequeno avanço na cartografia, um enorme contributo para perceber «quanto tempo era o tempo que tinha de ter tempo»!
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Os mapas com cartografia da área de Nisa/Montalvão, no século XIX acrescentam muito pouco a este último, datado de 1808, que durante anos prestou um contributo de valor ao Serviço Postal permitindo a Montalvão ser servido diariamente (pelo menos, em 1888, ano em que há registos) diariamente de Nisa para Montalvão (a mala postal saía de Nisa às sete da manhã e chegava a Montalvão ao meio-dia) e de Montalvão para Nisa (a mala saía às duas da tarde e chegava às sete). Cinco horas de caminho! Mas isso é matéria para texto autónomo.
Há ainda os mapas (em cima) publicados pela CP (Caminhos de Ferro Portugueses) com o esperado pouco rigor nas estradas sem ser de ferro e os Mapas para velocipedistas, motociclistas e automobilistas (em baixo).
A União Velocipédica Portuguesa (atual Federação Portuguesa de Ciclismo) foi fundada em 14 de dezembro de 1899 por isso este mapa de Portugal foi elaborado em 1905 e publicado em 1907 (ao que consta) |
Com o aparecimento do automóvel e a sua expansão rapidamente apareceram os primeiros mapas comerciais. No início da responsabilidade da UVP (União Velocipédica Portuguesa) e a partir de 1913, pelo ACP (Automóvel Clube de Portugal). Quer com estes mapas, quer com a cartografia dos Serviços Cartográficos do Reino de Portugal e depois da República Portuguesa é muito interessante perceber a dificuldade que houve em concluir a Estrada Nacional n.º 359 (Montalvão - Nisa - Vila Flor - Amieira (variante por Gardete com a construção da barragem do Fratel, inaugurada em 1973) - Envendos - Mação - Mouriscas - Alferrarede, nos arredores de Abrantes) que foi traçada aos "bochechos" e pavimentada - primeiro em macadame - e depois alcatroada aos "soluços". Como começou em Alferrarede, ainda no século XIX soluçou quase 50 anos até ser finalizada ("macadamizada") junto do início da rua de São João (com ponedros, depois "paralelos") já os anos 30 do século XX iam para lá de meio.
Mas isso fica para a Parte II (século XX). E ainda há a Municipal n.º 525 entre Montalvão e Castelo de Vide passando pela Póvoa e Meadas. Além da ligação Montalvão - Salavessa que é a Municipal n.º 526. Só as estradas que substituíram caminhos e azinhagas desde a fundação de Montalvão - pensadas, trabalhadas e melhoradas, aos bochechos e soluços - davam para fazer um blogue à parte.
Até à próxima...
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