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04 julho 2020

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Sinais dos Tempos

04 julho 2020 0 Comentários
O QUE FOI DRAMÁTICO, NO DESENVOLVIMENTO E NA DEMOGRAFIA NO INTERIOR DE PORTUGAL, FORAM OS MELHORAMENTOS CHEGAREM TARDE.


Tal como em Montalvão, quando a desertificação demográfica e a decréscimo da atividade económica já eram irreversíveis. Ainda continua na atualidade. Mesmo a sede de concelho (Nisa) nem aparece em mapas temáticos quando estes são acerca de equipamentos e infraestruturas da modernidade. 



Nos Anos 60, na presidência da Câmara Municipal de Nisa, tendo por principal edil, o «Doutor Mário» ainda houve melhoramentos assinaláveis como um ambicioso plano de atividades para 1965.



O pontão no «Rebêre de Fevêle» foi substituído por uma ponte, entre 1965 e 1966, mas os que tanto necessitaram dela (bem como da estrada entre a Salavessa e o Pé da Serra) já tinham envelhecido e outros fugido para a emigração ou a Grande Lisboa. Chegava tudo demasiado tarde...



Séculos com uma travessia num pontão resistente mas perigoso com frequência assídua numa demografia crescente.


Carta Militar de Portugal; 1/25 000; Serviços Cartográficos do Exército; folha 314 (excerto); publicação em 1950; trabalho de campo 1946 (divisão de freguesias com base na Carta Corográfica de Portugal; 1/50 000; folha 28-B; Instituto Geográfico e Cadastral; publicada em 1982)

Décadas com uma ponte segura, resistente e adequada a uma travessia frequente mas já num território em declínio demográfico em que passará um carro "de quando em vez"! O progresso nunca peca por desnecessário e sumptuoso, só por tardio... 


Carta Militar de Portugal; 1/25 000; Instituto Geográfico do Exército; folha 314 (excerto); publicação em 1993; trabalho de campo 1989 (divisão de freguesias com base na Carta Corográfica de Portugal; 1/50 000; folha 28-B; Instituto Geográfico e Cadastral; publicada em 1982)

As duas pontes: uma antiga em derrocada (que teve muito mais pisoteio e "ouviu das boas") que outra recente praticamente sem utilização. Quando esta chegou já o povo tinha rumado a outras paragens bem mais tentadoras...



Os 2 242 dias da presidência de Mário Relvas Fraústo, como presidente do Município de Nisa, entre 30 de março de 1961 e 20 de maio de 1967... «dão pano para mangas»...

Assim se foi fazendo Montalvão 

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03 julho 2020

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Faria Artur: Jornalista Casapiano

03 julho 2020 0 Comentários
HÁ 122 ANOS, EM 3 DE JULHO DE 1898, O MONTALVANENSE FARIA ARTUR PUBLICOU O ÚLTIMO NÚMERO DE UM JORNAL CASAPIANO.



A terminar os seus estudos, aos 17 anos e três meses, António de Matos Faria Artur editou o n.º 20 do jornal manuscrito «O Justo». Assegurou vinte números de um tipo de publicação que era usual e estimulada dentro da Instituição para exercitar a escrita e leitura dos cerca de 400/450 casapianos que viviam na Real Casa Pia de Lisboa e cujos jornais "passavam de mão em mão". Ser o editor e principal redator era muito prestigiante, pois era ser um (o escolhido) em meia centena de rapazes. Dos cerca de 40 que entraram para a Instituição, em 1889, aquando da inscrição de Faria Artur coube ao montalvanense assegurar a edição deste jornal durante nove meses. E o nome escolhido indica muito da sua personalidade... JUSTO!



O percurso na infância e adolescência deste casapiano revela que é, provavelmente, o montalvanense mais ilustre do século XX. Nascido em 16 de março de 1881, na «Praça» (da República, depois do 5 de Outubro de 1910), órfão de pai aos dois anos e três meses (22 de junho de 1883) e de mãe aos dois anos e sete meses (15 de novembro de 1883) ingressou na Real Casa Pia de Lisboa, em 27 de abril de 1889 (oito anos e um mês de idade), pelo empenho do seu tio João de Matos Faria Artur. Resgatou o Futuro ao Destino. Em 29 de setembro desse ano (1898), cerca de três meses depois da edição do último «O Justo» deixaria a Casa Pia. 


Excerto do "Mestrado em Educação Artística", em 2007, de Helena Cabeleira: «A Auto-Invenção Artística nos Jornais Manuscritos da Casa Pia de Lisboa (1893 - 1929)

A produção de jornais na Casa Pia sempre foi prolifera por ser estimulada e bem sucedida, mas os vinte números de «O Justo» é uma das maiores referências nesta vertente de Imprensa informativa, crítica e ilustrada, em número único que circulava dentro da Instituição. 



A presença de Faria Artur bem como a qualidade e pertinência do que foi publicado e ficou encadernado para a posteridade já anunciava um futuro brilhante e fecundo para este montalvanense que passou de Órfão a Professor e cidadão com valia de excelência na Educação portuguesa.



António de Matos Faria Artur em parceria com outros autores foi responsável pela elaboração de muitos livros didáticos, entre eles os quatro manuais que permitiram alfabetizar, desde a 1.ª até à 4.ª classe, milhares de portugueses durante mais de vinte anos, entre 1929 e 1949, com o livro da 4.ª classe a prolongar-se até meados da década de 60.




Um orgulho para qualquer montalvanense escrever acerca dele.

NOTA: Agradecimento à Casa Pia de Lisboa que facilitou o acesso ao processo do nosso Faria Artur, bem como ao seu vasto espólio. Obrigado
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30 junho 2020

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Moda Montalvanense

30 junho 2020 1 Comentários
O TRAJE DE MONTALVÃO NÃO DIFERIA MUITO DO TRAJE QUE ERA UTILIZADO NO CONCELHO DE NISA E OUTROS MUNICÍPIOS LIMÍTROFES. MAS HÁ EXCEPÇÕES.



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27 junho 2020

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Rua do Hospital

27 junho 2020 0 Comentários
DURANTE SÉCULOS FOI O NOME DA ATUAL TRAVESSA DA PRAÇA.



Na toponímia de Montalvão nunca existiu o conceito de "Travessa". O mais próximo é «Ruínha». E há duas: a de Baixo (entre a rua Direita e a rua de São Pedro) e a de Cima (entre a rua do Cabo - continuação da rua Direita para Oeste, pois "cabo" é extremo ou ponta no Mundo Rural - e a rua de São Pedro) mesmo assim não evitando três quarteirões enormes entre as duas: a de São Pedro e a do Outeiro/Direita/Cabo.


Igreja da Misericórdia na atualidade (setembro de 2014). À esquerda (a Sul) a rua do Hospital (atual travessa da Praça) e à direita (a Norte) a rua do Outeiro


Com a construção da Igreja Misericórdia - em meados do século XVI - e do Hospital, é provável que surgissem dois novos arruamentos que antes não existiam: a rua do Outeiro e a rua do Hospital. 



Mesmo quando, em Lisboa, se decidiu fazer um inventário dos estragos que o terramoto do 1.º de novembro de 1755 provocou no país, quem responde de Montalvão é inequívoco quanto às questões n.º «11 - Se tem Conventos, e de que Religiosos?», n.º «12 - Se tem Hospital, e por quem he administrado?», n.º «13 - Se tem Casa de Misericordia, e qual fosse a sua origem?» e n.º «14 - E o que houver de notavel em qualquer destas cousas.» O Vigário Frei António Nunes de Mendonça escreve de Montalvão, em 24 de abril de 1758, de forma esclarecedora como respostas n.ºs 10, 11 e 12:




Na resposta n.º 10: «Naõ tem convento algum de Frades, nem Mosteiro de Religiosas».

A pormenorizada resposta n.º 11 - «Tem um hospital, que foi albergaria cuja se anexou à Misericordia desta Villa por provisaõ dos Senhores Reis antigos; e este hospital administra duas capelas, huma que lhe deixou Frey Pedro Carrilho coadjutor, que foi desta Igreja com obrigaçaõ de meio annal de missas por sua alma em cada hum ano; e mais que sobrasse de suas rendas se gastasse com os pobres do mesmo hospital; outra, que lhe deixou Soror Mariana dos Santos religiosa agostinha descalça do convento dos Grilos de Lisboa, e natural desta Villa, com pensaõ de três festas cada hum ano de sermaõ, e missa contada, cujas capelas administra o provedor e mais irmaõs da Misericordia, e tem de renda o hospital com estas Capellas cento e trinta mil reys.»».


Na resposta n.º 12: «Tem casa de Misericordia e esta hé de Padroado Real com os mesmos privilégios que tem a Misericordia de Abrantes e tem de rendas proprias cada ano, quarenta mil reys e está proximo a Igreja Matriz».


A atual travessa da Praça (já com paralelos) durante séculos «rua do Hospital» (em ponedros) que ligava a «rua da Igreja» (atual largo da Igreja/largo D. Manuel Godinho) à «Praça» que depois do 5 de outubro de 1910 passou a designar-se «Praça da República» 

A «rua do Hospital» sendo muito estreita (implantar um novo quarteirão com a Igreja e a albergaria/hospedaria/hospital "obrigou" a que assim fosse) e pouco extensa nunca teve grande expressão na demografia montalvanense, mas em 1910, por exemplo, ainda morreram dois montalvanenses, com 62 e 84 anos, no Hospital - cujo acesso se fazia pela atual «travessa da Praça» - além de um "anjinho" com três meses numa das poucas casas de habitação nela existentes. Como ficou registado para a eternidade:



Mas, com tanto tempo de existência e tanto nascimento, morte e casamento há dezenas de referências à «rua do Hospital». Eis dois exemplos de nascimentos, em anos de "números redondos", para 1900 e 1910, com os pais a morarem, como escreveu o senhor padre Virgílio, na «rua do Hospital»:



"Travessa" é um modismo importado para Montalvão, muito frequente na toponímia de Lisboa, por exemplo, pois não consta dos registos de Montalvão até à decisão em colocar placas toponímicas nos arruamentos montalvanenses.



Assim se foi fazendo Montalvão

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25 junho 2020

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Mulheres Montalvanenses (Parte I: A Renda)

25 junho 2020 0 Comentários
ERAM ASSIM AS MULHERES DE MONTALVÃO.


Naquilo que se conhece, na atualidade, por tempos livres para elas era tempo de “fazer renda”. Estavam sempre ocupadas, entre as tarefas domésticas e algumas idas ao campo, o passatempo delas era fazerem o que as mães lhes ensinaram e estas já tinham aprendido com as suas mães (avós) e por aí fora e dentro (bisavós, trisavós, …) até tempos a que não se encontra o “fio à meada”. Ora de fios e meadas sabiam elas na perfeição.


Em casa…
Entre a fresta da janela para terem luminosidade, em pontos minuciosos quando a vista já as traía, no recato do lar caseiro, com algum gato ensonado à perna, davam pontos e nós, manejando a agulha ou agulhas (dependia do tipo de renda) com uma habilidade de ilusionista. Tinha particular gosto em ver a minha avó paterna (Xá Marí Jaquina) fazer meias que dizia serem para mim, mas de que eu desconfiava pois pareciam-me iguais às dos toureiros, mas em linha de algodão, por isso brancas como a cor da cal: pureza, limpeza e com aquele cheiro - quando em paredes caiadas de fresco - inconfundível. O que essas mulheres de Montalvão tinham era serem como a cal, mesmo muitas já enlutadas com negro carregado eram de uma habilidade e criatividade incomparáveis. Faziam quilómetros de rendas e bordados de linho, como a minha Ti Jaquina.

Mulheres a fazer renda, num largo, em Velada (freguesia de São Matias, no concelho de Nisa) mas podia ser numa qualquer rua de Montalvão

Juntas… mas cada uma por si
Ao final da tarde, em dias soalheiros juntavam-se, em pequenas cadeiras empalhadas, numa fila de mulheres a fazer renda. Eram as andorinhas a fazer ninho e alimentar os filhotes nos beirais dos telhados e elas junto à barra ocre ou azul das casas a “matar o vício”: agulha para ali, dedo para aqui, linha por cima, agulha para a esquerda, laçada para a direita, mais um nó para trás e um relevo para a frente. Uma manufatura de renda ali bem passada, de uma quantas montalvanenses, a trocar dois dedos de conversa e não se enganavam. Aliás era mais fácil enganarem-se na conversa que trocarem os dedos na renda! 




E assim passaram uma vida. Cuidar dos maridos, dos filhos, da casa e da… renda. Renda de casa era renda de tecedeira, transformando novelos em fio e fio em belas peças que ainda hoje são tão belas quando a habilidade permite superar o impossível: transformar um fio num pano! E olhar para ele dizendo:


Que mãos perfeitas e habilidade insuperável te fizeram

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22 junho 2020

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Nomes à Montalvão

22 junho 2020 0 Comentários
CADA TERRA COM SEU NOME, TANTAS OUTRAS COM SEUS HÁBITOS.


Numa localidade tão isolada, quase tudo analfabeto, poucas pessoas sabiam o seu verdadeiro nome, com princípio (nome próprio), meio (quando não eram apenas duas palavras) e fim (apelido). Então completo só quando iam para a Escola. E antes desta ser obrigatória, só quando os homens iam para a «tropa» e para as mulheres, então, só quando se casavam ficavam a saber o seu "verdadeiro nome".

Quase todos se tratavam por "alcunhas" que num povoado como Montalvão eram mais «Nomes à Vila» que qualquer outra designação. Quem os dizia e quem os pronunciava não ligava o nome ao que ele significava na realidade mas, sim, em concreto, à pessoa de que queria falar ou com quem falava. Alguns «Nomes à Vila» nem isso eram, ou seja, terem alguma conotação, pois significavam apenas mais uma palavra no léxico montalvanês. Por isso não tinham sentido pejorativo ainda que em épocas muito recuadas pudessem ter tido. Mas isso perdera-se no tempo.

Para todas as regras há excepções. Mas nos «Nomes à Vila» fica-se com a impressão que as excepções são mais que as regras.

Regra: Passar de pais para filhos e a esposa "perder" o que tinha após o casamento para ter a do marido.

Muitas vezes mudava-se, em criança, do «Nome à Vila» tradicional para um outro (novo), por vários motivos. Um deles era a própria mãe ou alguém definir com determinado nome o bebé ou criança pelo que parecia ou fazia. Se isso «pegasse» abria-se aqui uma excepção. E muitas eram abertas todos os anos, estabelecendo-se um novo «Nome à Vila» que duraria uma vida, e se fosse rapaz, poderia passar para os filhos.

Resta ainda dizer que os «Nomes à Vila» substituíam os apelidos verdadeiros enquanto os nomes próprios eram substituídos por diminutivos antecedidos, aquando adultos, do indispensável Ti ou Senhô para os homens e ou Tchá (por vezes também Ti) para as senhoras.Ou Dona para as esposas dos «riques» ou Lavradores (em linguagem à grave, ou seja, "linguajar fino") e Menine para as filhas ou filhos dos Lavradores/Proprietários mesmo se aos 90 anos ainda fossem solteiras ou solteiros.

Amália era Amálha
Antónia era Antónha
António era Tónhe
Armando era Armande
Aurélio era Árel
Bartolomeu era Batlomê
Bento era Bente
Catarina era Catrina
Cecília era Cezila
Conceição era Conceicem
Domingos era Demingues
Elisa era Inlínza 
Emília era Imilha
Eusébio era Inzébe
Felícia era Fliça
Felipe era Flipe
Fernando era Fernande
Flávia era Fláiva
Fortunata era Fertunéta
Francisco era Chic ou Xique
Henrique era Anrique
Hermenegildo era Ermegilde
Isabel era Zabel
Januário era Jenuére
João era Júan ou Jã
Joaquim era Xequím ou Jaquím
Joaquina era Jaquina
José era Zé
Josefa era Zéfa
Júlia era Júla
Manuel era Manél
Maria era Marí
Mariana era Mariena
Miguel era Meguél
Olivier era Leviér
Pedro era Pôidre
Pimental era Pomantél
Possidónia era Pessedóna
Remédios era Drumédes
Roberta era Rebéta
Rosalina era Rezalina
Rosário era Drozá
Simão era Semên
Simplício era Simplice
Tomás era Temás
Tomázia era Temázia
Teresa era Trôisa
Vinagre era Venégre
Virgílio era Vergil
Zélia era Zélha

NOTAS: 1. É impossível ter todos os nomes. Nem os Dicionários de Língua Portuguesa têm todo o léxico de português, até porque há dicionários mais e menos completos; 2. É praticamente impossível (a não ser com anotações científicas lexicais que não tem interesse estar a publicar pois só ia complicar) conseguir transformar, com exatidão, uma palavra oral em escrita para ser lida com oralidade correta; 3. Depois, até dentro de uma comunidade, mesmo com escassos milhares de pessoas, há sempre quem dê uma acentuação diferenciada aos nomes; 4. Quem souber mais, desde que sejam antigos (antes de meados do século XX) agradeço sempre boas contribuições que só enriquecem estes textos.

Próxima paragem: Rua do Ferro


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20 junho 2020

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Montalvam 770

20 junho 2020 0 Comentários
EM ABRIL DE 1250 PROCURAVA-SE DEFINIR ESPAÇO MOSTRANDO PODER.


Em 1250 estão em sobreposição dois domínios. Um a perder importância (Ordens Militares) e outro a ter cada vez mais preponderância (Bispados). Ordem dos Templários a norte da ribeira de Figueiró e Ordem dos Hospitalários a sul dessa ribeira. O Bispado de Évora a querer chegar à margem esquerda do rio Tejo e o da Guarda a reivindicar Montalvão, Nisa e Alpalhão desde 1142 

NOTA INICIAL: Este texto estava previsto para Abril de 2020 mas a COVID-19 impossibilitou na prática o que foi idealizado. Só agora foi possível escrevê-lo e ilustrar tentando ser o mais didático possível, pois este blogue não pretende fazer teses científicas acerca do que quer que seja. Mas apenas divulgar (com rigor, ou seja, documentando) a História e Cultura de Montalvão. A apreciação, valoração e creditação fica sempre por conta de quem o lê.

O território templário a Sul do rio Tejo há muito que se sabe ter começado com a doação da «Herdade da Açafa», por D. Sancho I aos Cavaleiros da Ordem do Templo, em 5 de julho de 1199, facto que já foi assinalado neste blogue inúmeras vezes, com destaque para a efeméride, em 5 de julho de 2019 (clicar). 


Duas interpretações do território da Açafa a sul do rio Tejo. Em cima pelo povacho com "alma montalvanense" José Pedro Martins Barata e em baixo pelo nisense José Augusto Fraústo Basso

Como se percebe pelo texto da doação os limites eram vagos, procurando delimitar o território tendo como referências elementos naturais: os cursos de água e os pontos mais elevados com destaque económico (por exemplo mineração) por serem conhecidos. É que num território que há pouco tempo ficara na posse dos cristãos e era praticamente despovoado - aliás a doação era para garantir essa posse (defesa) e ter condições para povoar (fixar população) - não podia haver rigor na definição de fronteiras que não fossem naturais. Não se conhecia o território, nem havia como fazer fronteiras, mesmo interiores. 



Tendo em consideração o limite da «Herdade da Açafa» em 1199 (ver ainda uma NOTA 1, no final) é evidente que para a "Ordem do Templo" ter dentro do seu domínio Arez e Alpalhão teve que ir para além do limite estabelecido pela ribeira de Figueiró pois esta corre a norte daqueles dois povoados. Quais os limites a Sul de Arez e Alpalhão? Não sei, mas o mais natural é utilizar cursos de água como a ribeira de Santo António (para Arez) e a ribeira de Sor (para Alpalhão)

Mas como é evidente o território templário não ficou estático - nem nunca o foi por não poder ter sido traçado um limite exato - mas sofreu alterações na primeira metade do século XIII. Em 1199 houve uma definição generalista. O tempo seguinte, ou seja, as cinco décadas iniciais do século XIII, permitiu conhecer e estabelecer avanços e recuos, até pela presença a sul da «Ordem dos Hospitalários» e sobrepondo-se o poder das Dioceses da Guarda e de Évora, com a definição territorial de Portugal, depois da conquista do Algarve, em 27 de março de 1249. 



Cumpre para assinalar esta efeméride, colocar o documento do acordo entre o Bispado de Évora e a Ordem do Templo, estabelecido em abril de 1250. Está previsto, neste blogue, para 25 de julho de 2020, um texto denominado «Fronteiras Interiores (1250)» com uma explicação mais pormenorizada da necessidade deste acordo mas está relacionado com um outro «Açafa a Deixar de o Ser (1242)» já publicado, em 6 de  novembro de 2019 (clicar). Eis o documento em latim que data de abril de MCCLXXXVIII = 1288 corresponde na Era Cristã a 1250.



Assim se foram criando condições para surgir um povoado ímpar, num território inóspito, chamado: Montalvão.

NOTA 1: O limite da «Herdade da Açafa» em 1199, entre a ribeira de Figueiró e o esporão rochoso da Melriça (a norte de Castelo de Vide) é complexo, pois depende de onde se quer estender o limite montante na ribeira de Figueiró, visto entre esta e a Melriça existir o vale onde corre a ribeira de Nisa. Há num curto espaço de seis quilómetros a separação de três sub-bacias hidrográficas (o que ilustra a complexidade da hidrografia nesta região norte do Alto Alentejo): Monte Navens (por onde passa a cumeada que separa a ribeira de Figueiró da ribeira de Nisa), Melriça (por onde passa a cumeada que separa a ribeira de Nisa da ribeira de São João, afluente do rio Sever). 


A complexidade em perceber por onde se fazia a ligação, em 1199 do território da «Herdade da Açafa» entre a ribeira de Figueiró e o esporão rochoso da Melriça. Pode ser entre as duas linhas amarelas ou não... ser mesmo por um outro espaço. Como se percebe, Alpalhão nem fica na sub-bacia da ribeira de Figueiró, mas sim na sub-bacia da ribeira de Sor que depois será o rio Sorraia, junto ao Couço, na junção com a ribeira da Raia! A ribeira de Figueiró estabelece, desde sempre, desde que existem, a delimitação entre o concelho de Nisa (pela freguesia de Alpalhão) e o concelho de Castelo de Vide (pela freguesia de São João Batista)

NOTA FINAL: O texto do acordo estabelecido em abril de 1250 é o segundo por ordem cronológica (que conheça) com referência ao território Montalvam (Montalvão) embora ainda não seja possível - a COVID-19 serve para desculpar muito, até o que não se justifica, mas neste caso é mesmo por ela que não se publica - colocar a digitalização da primeira referência ao território Montalvam (Montalvão) que, como é óbvio, é anterior a esta em abril de 1250. Depois desta começam a existir muitas: 1260, 1287, 1291, etecetra...
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18 junho 2020

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Montalvão Descentrado

18 junho 2020 0 Comentários
ATUALMENTE MONTALVÃO NÃO OCUPA UMA ÁREA CENTRAL NO TERRITÓRIO QUE ADMINISTRA COMO FREGUESIA.



A localidade de Montalvão como sede de concelho e depois de freguesia ficou sempre muito periférica em relação ao centro geográfico do território que tem sob sua "jurisdição".



O «Sítio», o «Local» e a centralidade
Para Montalvão, percebe-se que o «sítio» - um lugar no topo de um "monte perfeito" (Leste/Oeste) que domina do alto o território até longas dezenas de quilómetros parece ter sido mais importante que o «local», ou seja, a posição que ocupa no território que domina. É possível calcular com rigor o centro geográfico da freguesia de Montalvão, embora seja complexo e moroso pela configuração, mas não há necessidade para o que se pretende.  O centro geográfico está algures a Norte da «Palmeirinha». Na atualidade a sede de freguesia está completamente descentrada em relação ao território da sua freguesia, mas...


Antes do «Tratado de Alcanices» (12 de setembro de 1297)
Não se sabe (ainda não se sabe...) os limites para Leste do território de Montalvão. A Vila montalvanense teria como limite Leste o leito do rio Sever ou iria mais para Este pois sabe-se que a fronteira de Portugal com o Reino de Leão era no rio Salor? Se o território de prolongasse mais dez/vinte quilómetros para Este, Montalvão seria central. Além do «sítio» justificava bem o «local».


Apesar da distorção cartográfica num mapa do século XVIII optou-se por este em detrimento de um atual, mais equilibrado mas com menos sentido. Percebe-se o porquê da escolha... 

As "descentralidade": Norte (7,5 km), Sul (8,5 km), Leste (2,5 km) e Oeste (11 km)
Principalmente na relação Este e Oeste. Entre o rio Sever (a Este) e a confluência do ribeiro de Fivenco ou Fevêlo com o rio Tejo (a Oeste) a proporção é de quatro vezes mais (440 por cento): 2,5 para 11 quilómetros. Entre a confluência do rio Sever com o rio Tejo (a Norte) e a confluência da ribeira de São João com o rio Sever (a Sul) é de 88 por cento: 7,5 para 8,5 quilómetros. Em cima da ou sobre a... raia (fronteira).



O exemplo de Nisa
A sede de concelho (Nisa) ocupa um lugar central bem condizente com o lugar territorial histórico que sempre teve. Só as localidades históricas, mas com território diminuto (o que sublinha o factor histórico a sobrepor-se ao territorial), Castelo de Vide e Marvão impossibilitam uma "quase perfeição". 



Os «vizinhos» ilustres de Nisa 
O concelho de Marvão é pouco maior que a freguesia de Montalvão e o concelho de Castelo de Vide tem pouco mais do dobro da freguesia de Montalvão. Percebe-se bem quão importante é territorialmente Montalvão.


As periferias montalvanenses
A localização de Montalvão junto do seu limite Leste (rio Sever), aliada à grande distância para o importante rio central da Ibéria (rio Tejo) num misto de "obrigação" e "funcionalidade" possibilitou a necessidade de criar lugarejos no Noroeste, Sudoeste e Sudeste do território montalvanense.



Além de Montalvão - e devido a essa descentralidade - foi necessário criar dois lugares - Salavessa e Monte do Pombo - no território junto ao rio Tejo onde havia facilidade no acesso a água e a terrenos mais "fáceis de trabalhar" que o de xisto, os das cascalheiras, ponedros e arcoses/arenitos. Nestes a proliferação de nascentes com «boa água, em qualidade e quantidade» é superior ao resto do território. Ficando estes tão afastados de Montalvão num tempo em que as deslocações eram difíceis, de Inverno muitas vezes impossíveis e com terrenos a necessitar de trabalho diário fez muito mais sentido fixar população junto a eles - que permitiram o seu crescimento demográfico - que habitar em Montalvão e depois ter trabalho rural tão longe. Houve outros lugarejos, talvez uma dúzia em toda a orla do rio Tejo à ribeira de São João, mas eram consequência de necessidades e prioridades dos seus proprietários. Foram lugarejos de circunstância que duraram pouco tempo, ou que pelo menos, nunca tiveram capacidade para fixar população durante décadas a fio... É por isso interessante perceber o que se passou em sete séculos de território montalvanense.

EM BREVE (TANTO QUANTO POSSÍVEL)

Parte II - O Sudoeste e a Salavessa

Parte III - O Noroeste e o Monte do Pombo

Parte IV - Outros lugarejos



Assim se fez Montalvão...

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