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22 junho 2020

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Nomes à Montalvão

22 junho 2020 0 Comentários
CADA TERRA COM SEU NOME, TANTAS OUTRAS COM SEUS HÁBITOS.


Numa localidade tão isolada, quase tudo analfabeto, poucas pessoas sabiam o seu verdadeiro nome, com princípio (nome próprio), meio (quando não eram apenas duas palavras) e fim (apelido). Então completo só quando iam para a Escola. E antes desta ser obrigatória, só quando os homens iam para a «tropa» e para as mulheres, então, só quando se casavam ficavam a saber o seu "verdadeiro nome".

Quase todos se tratavam por "alcunhas" que num povoado como Montalvão eram mais «Nomes à Vila» que qualquer outra designação. Quem os dizia e quem os pronunciava não ligava o nome ao que ele significava na realidade mas, sim, em concreto, à pessoa de que queria falar ou com quem falava. Alguns «Nomes à Vila» nem isso eram, ou seja, terem alguma conotação, pois significavam apenas mais uma palavra no léxico montalvanês. Por isso não tinham sentido pejorativo ainda que em épocas muito recuadas pudessem ter tido. Mas isso perdera-se no tempo.

Para todas as regras há excepções. Mas nos «Nomes à Vila» fica-se com a impressão que as excepções são mais que as regras.

Regra: Passar de pais para filhos e a esposa "perder" o que tinha após o casamento para ter a do marido.

Muitas vezes mudava-se, em criança, do «Nome à Vila» tradicional para um outro (novo), por vários motivos. Um deles era a própria mãe ou alguém definir com determinado nome o bebé ou criança pelo que parecia ou fazia. Se isso «pegasse» abria-se aqui uma excepção. E muitas eram abertas todos os anos, estabelecendo-se um novo «Nome à Vila» que duraria uma vida, e se fosse rapaz, poderia passar para os filhos.

Resta ainda dizer que os «Nomes à Vila» substituíam os apelidos verdadeiros enquanto os nomes próprios eram substituídos por diminutivos antecedidos, aquando adultos, do indispensável Ti ou Senhô para os homens e ou Tchá (por vezes também Ti) para as senhoras.Ou Dona para as esposas dos «riques» ou Lavradores (em linguagem à grave, ou seja, "linguajar fino") e Menine para as filhas ou filhos dos Lavradores/Proprietários mesmo se aos 90 anos ainda fossem solteiras ou solteiros.

Amália era Amálha
Antónia era Antónha
António era Tónhe
Armando era Armande
Aurélio era Árel
Bartolomeu era Batlomê
Bento era Bente
Catarina era Catrina
Cecília era Cezila
Conceição era Conceicem
Domingos era Demingues
Elisa era Inlínza 
Emília era Imilha
Eusébio era Inzébe
Felícia era Fliça
Felipe era Flipe
Fernando era Fernande
Flávia era Fláiva
Fortunata era Fertunéta
Francisco era Chic ou Xique
Henrique era Anrique
Hermenegildo era Ermegilde
Isabel era Zabel
Januário era Jenuére
João era Júan ou Jã
Joaquim era Xequím ou Jaquím
Joaquina era Jaquina
José era Zé
Josefa era Zéfa
Júlia era Júla
Manuel era Manél
Maria era Marí
Mariana era Mariena
Miguel era Meguél
Olivier era Leviér
Pedro era Pôidre
Pimental era Pomantél
Possidónia era Pessedóna
Remédios era Drumédes
Roberta era Rebéta
Rosalina era Rezalina
Rosário era Drozá
Simão era Semên
Simplício era Simplice
Tomás era Temás
Tomázia era Temázia
Teresa era Trôisa
Vinagre era Venégre
Virgílio era Vergil
Zélia era Zélha

NOTAS: 1. É impossível ter todos os nomes. Nem os Dicionários de Língua Portuguesa têm todo o léxico de português, até porque há dicionários mais e menos completos; 2. É praticamente impossível (a não ser com anotações científicas lexicais que não tem interesse estar a publicar pois só ia complicar) conseguir transformar, com exatidão, uma palavra oral em escrita para ser lida com oralidade correta; 3. Depois, até dentro de uma comunidade, mesmo com escassos milhares de pessoas, há sempre quem dê uma acentuação diferenciada aos nomes; 4. Quem souber mais, desde que sejam antigos (antes de meados do século XX) agradeço sempre boas contribuições que só enriquecem estes textos.

Próxima paragem: Rua do Ferro


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