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25 junho 2020

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Mulheres Montalvanenses (Parte I: A Renda)

25 junho 2020 0 Comentários
ERAM ASSIM AS MULHERES DE MONTALVÃO.


Naquilo que se conhece, na atualidade, por tempos livres para elas era tempo de “fazer renda”. Estavam sempre ocupadas, entre as tarefas domésticas e algumas idas ao campo, o passatempo delas era fazerem o que as mães lhes ensinaram e estas já tinham aprendido com as suas mães (avós) e por aí fora e dentro (bisavós, trisavós, …) até tempos a que não se encontra o “fio à meada”. Ora de fios e meadas sabiam elas na perfeição.


Em casa…
Entre a fresta da janela para terem luminosidade, em pontos minuciosos quando a vista já as traía, no recato do lar caseiro, com algum gato ensonado à perna, davam pontos e nós, manejando a agulha ou agulhas (dependia do tipo de renda) com uma habilidade de ilusionista. Tinha particular gosto em ver a minha avó paterna (Xá Marí Jaquina) fazer meias que dizia serem para mim, mas de que eu desconfiava pois pareciam-me iguais às dos toureiros, mas em linha de algodão, por isso brancas como a cor da cal: pureza, limpeza e com aquele cheiro - quando em paredes caiadas de fresco - inconfundível. O que essas mulheres de Montalvão tinham era serem como a cal, mesmo muitas já enlutadas com negro carregado eram de uma habilidade e criatividade incomparáveis. Faziam quilómetros de rendas e bordados de linho, como a minha Ti Jaquina.

Mulheres a fazer renda, num largo, em Velada (freguesia de São Matias, no concelho de Nisa) mas podia ser numa qualquer rua de Montalvão

Juntas… mas cada uma por si
Ao final da tarde, em dias soalheiros juntavam-se, em pequenas cadeiras empalhadas, numa fila de mulheres a fazer renda. Eram as andorinhas a fazer ninho e alimentar os filhotes nos beirais dos telhados e elas junto à barra ocre ou azul das casas a “matar o vício”: agulha para ali, dedo para aqui, linha por cima, agulha para a esquerda, laçada para a direita, mais um nó para trás e um relevo para a frente. Uma manufatura de renda ali bem passada, de uma quantas montalvanenses, a trocar dois dedos de conversa e não se enganavam. Aliás era mais fácil enganarem-se na conversa que trocarem os dedos na renda! 




E assim passaram uma vida. Cuidar dos maridos, dos filhos, da casa e da… renda. Renda de casa era renda de tecedeira, transformando novelos em fio e fio em belas peças que ainda hoje são tão belas quando a habilidade permite superar o impossível: transformar um fio num pano! E olhar para ele dizendo:


Que mãos perfeitas e habilidade insuperável te fizeram

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