O TRAJE DE MONTALVÃO NÃO DIFERIA MUITO DO TRAJE QUE ERA UTILIZADO NO CONCELHO DE NISA E OUTROS MUNICÍPIOS LIMÍTROFES. MAS HÁ EXCEPÇÕES.
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30 junho 2020
27 junho 2020
Rua do Hospital
27 junho 2020 | 0 Comentários | | 00:00 |
DURANTE SÉCULOS FOI O NOME DA ATUAL TRAVESSA DA PRAÇA.
Na toponímia de Montalvão nunca existiu o conceito de "Travessa". O mais próximo é «Ruínha». E há duas: a de Baixo (entre a rua Direita e a rua de São Pedro) e a de Cima (entre a rua do Cabo - continuação da rua Direita para Oeste, pois "cabo" é extremo ou ponta no Mundo Rural - e a rua de São Pedro) mesmo assim não evitando três quarteirões enormes entre as duas: a de São Pedro e a do Outeiro/Direita/Cabo.
Com a construção da Igreja Misericórdia - em meados do século XVI - e do Hospital, é provável que surgissem dois novos arruamentos que antes não existiam: a rua do Outeiro e a rua do Hospital.
Mesmo quando, em Lisboa, se decidiu fazer um inventário dos estragos que o terramoto do 1.º de novembro de 1755 provocou no país, quem responde de Montalvão é inequívoco quanto às questões n.º «11 - Se tem Conventos, e de que Religiosos?», n.º «12 - Se tem Hospital, e por quem he administrado?», n.º «13 - Se tem Casa de Misericordia, e qual fosse a sua origem?» e n.º «14 - E o que houver de notavel em qualquer destas cousas.» O Vigário Frei António Nunes de Mendonça escreve de Montalvão, em 24 de abril de 1758, de forma esclarecedora como respostas n.ºs 10, 11 e 12:
Na resposta n.º 10: «Naõ tem convento algum de Frades, nem Mosteiro de Religiosas».
A pormenorizada resposta n.º 11 - «Tem um hospital, que foi albergaria cuja se anexou à Misericordia desta Villa por provisaõ dos Senhores Reis antigos; e este hospital administra duas capelas, huma que lhe deixou Frey Pedro Carrilho coadjutor, que foi desta Igreja com obrigaçaõ de meio annal de missas por sua alma em cada hum ano; e mais que sobrasse de suas rendas se gastasse com os pobres do mesmo hospital; outra, que lhe deixou Soror Mariana dos Santos religiosa agostinha descalça do convento dos Grilos de Lisboa, e natural desta Villa, com pensaõ de três festas cada hum ano de sermaõ, e missa contada, cujas capelas administra o provedor e mais irmaõs da Misericordia, e tem de renda o hospital com estas Capellas cento e trinta mil reys.»».
Na resposta n.º 12: «Tem casa de Misericordia e esta hé de Padroado Real com os mesmos privilégios que tem a Misericordia de Abrantes e tem de rendas proprias cada ano, quarenta mil reys e está proximo a Igreja Matriz».
A «rua do Hospital» sendo muito estreita (implantar um novo quarteirão com a Igreja e a albergaria/hospedaria/hospital "obrigou" a que assim fosse) e pouco extensa nunca teve grande expressão na demografia montalvanense, mas em 1910, por exemplo, ainda morreram dois montalvanenses, com 62 e 84 anos, no Hospital - cujo acesso se fazia pela atual «travessa da Praça» - além de um "anjinho" com três meses numa das poucas casas de habitação nela existentes. Como ficou registado para a eternidade:
Mas, com tanto tempo de existência e tanto nascimento, morte e casamento há dezenas de referências à «rua do Hospital». Eis dois exemplos de nascimentos, em anos de "números redondos", para 1900 e 1910, com os pais a morarem, como escreveu o senhor padre Virgílio, na «rua do Hospital»:
"Travessa" é um modismo importado para Montalvão, muito frequente na toponímia de Lisboa, por exemplo, pois não consta dos registos de Montalvão até à decisão em colocar placas toponímicas nos arruamentos montalvanenses.
Assim se foi fazendo Montalvão
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Na toponímia de Montalvão nunca existiu o conceito de "Travessa". O mais próximo é «Ruínha». E há duas: a de Baixo (entre a rua Direita e a rua de São Pedro) e a de Cima (entre a rua do Cabo - continuação da rua Direita para Oeste, pois "cabo" é extremo ou ponta no Mundo Rural - e a rua de São Pedro) mesmo assim não evitando três quarteirões enormes entre as duas: a de São Pedro e a do Outeiro/Direita/Cabo.
Igreja da Misericórdia na atualidade (setembro de 2014). À esquerda (a Sul) a rua do Hospital (atual travessa da Praça) e à direita (a Norte) a rua do Outeiro |
Com a construção da Igreja Misericórdia - em meados do século XVI - e do Hospital, é provável que surgissem dois novos arruamentos que antes não existiam: a rua do Outeiro e a rua do Hospital.
Mesmo quando, em Lisboa, se decidiu fazer um inventário dos estragos que o terramoto do 1.º de novembro de 1755 provocou no país, quem responde de Montalvão é inequívoco quanto às questões n.º «11 - Se tem Conventos, e de que Religiosos?», n.º «12 - Se tem Hospital, e por quem he administrado?», n.º «13 - Se tem Casa de Misericordia, e qual fosse a sua origem?» e n.º «14 - E o que houver de notavel em qualquer destas cousas.» O Vigário Frei António Nunes de Mendonça escreve de Montalvão, em 24 de abril de 1758, de forma esclarecedora como respostas n.ºs 10, 11 e 12:
Na resposta n.º 10: «Naõ tem convento algum de Frades, nem Mosteiro de Religiosas».
A pormenorizada resposta n.º 11 - «Tem um hospital, que foi albergaria cuja se anexou à Misericordia desta Villa por provisaõ dos Senhores Reis antigos; e este hospital administra duas capelas, huma que lhe deixou Frey Pedro Carrilho coadjutor, que foi desta Igreja com obrigaçaõ de meio annal de missas por sua alma em cada hum ano; e mais que sobrasse de suas rendas se gastasse com os pobres do mesmo hospital; outra, que lhe deixou Soror Mariana dos Santos religiosa agostinha descalça do convento dos Grilos de Lisboa, e natural desta Villa, com pensaõ de três festas cada hum ano de sermaõ, e missa contada, cujas capelas administra o provedor e mais irmaõs da Misericordia, e tem de renda o hospital com estas Capellas cento e trinta mil reys.»».
Na resposta n.º 12: «Tem casa de Misericordia e esta hé de Padroado Real com os mesmos privilégios que tem a Misericordia de Abrantes e tem de rendas proprias cada ano, quarenta mil reys e está proximo a Igreja Matriz».
A «rua do Hospital» sendo muito estreita (implantar um novo quarteirão com a Igreja e a albergaria/hospedaria/hospital "obrigou" a que assim fosse) e pouco extensa nunca teve grande expressão na demografia montalvanense, mas em 1910, por exemplo, ainda morreram dois montalvanenses, com 62 e 84 anos, no Hospital - cujo acesso se fazia pela atual «travessa da Praça» - além de um "anjinho" com três meses numa das poucas casas de habitação nela existentes. Como ficou registado para a eternidade:
Mas, com tanto tempo de existência e tanto nascimento, morte e casamento há dezenas de referências à «rua do Hospital». Eis dois exemplos de nascimentos, em anos de "números redondos", para 1900 e 1910, com os pais a morarem, como escreveu o senhor padre Virgílio, na «rua do Hospital»:
"Travessa" é um modismo importado para Montalvão, muito frequente na toponímia de Lisboa, por exemplo, pois não consta dos registos de Montalvão até à decisão em colocar placas toponímicas nos arruamentos montalvanenses.
Assim se foi fazendo Montalvão
25 junho 2020
Mulheres Montalvanenses (Parte I: A Renda)
25 junho 2020 | 0 Comentários | | 00:00 |
ERAM ASSIM AS MULHERES DE MONTALVÃO.
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Naquilo que se conhece, na atualidade, por tempos livres para elas
era tempo de “fazer renda”. Estavam sempre ocupadas, entre as tarefas
domésticas e algumas idas ao campo, o passatempo delas era fazerem o que as
mães lhes ensinaram e estas já tinham aprendido com as suas mães (avós) e por
aí fora e dentro (bisavós, trisavós, …) até tempos a que não se encontra o “fio
à meada”. Ora de fios e meadas sabiam elas na perfeição.
Em casa…
Entre a fresta da janela para terem luminosidade, em pontos
minuciosos quando a vista já as traía, no recato do lar caseiro, com algum gato
ensonado à perna, davam pontos e nós, manejando a agulha ou agulhas (dependia
do tipo de renda) com uma habilidade de ilusionista. Tinha particular gosto em
ver a minha avó paterna (Xá Marí Jaquina) fazer meias que dizia serem para mim, mas
de que eu desconfiava pois pareciam-me iguais às dos toureiros, mas em linha de algodão,
por isso brancas como a cor da cal: pureza, limpeza e com aquele cheiro -
quando em paredes caiadas de fresco - inconfundível. O que essas mulheres de
Montalvão tinham era serem como a cal, mesmo muitas já enlutadas com negro
carregado eram de uma habilidade e criatividade incomparáveis. Faziam
quilómetros de rendas e bordados de linho, como a minha Ti Jaquina.
Mulheres a fazer renda, num largo, em Velada (freguesia de São Matias, no concelho de Nisa) mas podia ser numa qualquer rua de Montalvão |
Juntas… mas cada uma por si
Ao final da tarde, em dias soalheiros juntavam-se, em pequenas
cadeiras empalhadas, numa fila de mulheres a fazer renda. Eram as andorinhas a
fazer ninho e alimentar os filhotes nos beirais dos telhados e elas junto à
barra ocre ou azul das casas a “matar o vício”: agulha para ali, dedo para
aqui, linha por cima, agulha para a esquerda, laçada para a direita, mais um nó para trás e um relevo para a frente. Uma
manufatura de renda ali bem passada, de uma quantas montalvanenses, a trocar
dois dedos de conversa e não se enganavam. Aliás era mais fácil enganarem-se na
conversa que trocarem os dedos na renda!
E assim passaram uma vida. Cuidar dos
maridos, dos filhos, da casa e da… renda. Renda de casa era renda de tecedeira,
transformando novelos em fio e fio em belas peças que ainda hoje são tão belas
quando a habilidade permite superar o impossível: transformar um fio num pano!
E olhar para ele dizendo:
Que mãos perfeitas e habilidade insuperável te fizeram
22 junho 2020
Nomes à Montalvão
22 junho 2020 | 0 Comentários | | 00:00 |
CADA TERRA COM SEU NOME, TANTAS OUTRAS COM SEUS HÁBITOS.
Numa localidade tão isolada, quase tudo analfabeto, poucas pessoas sabiam o seu verdadeiro nome, com princípio (nome próprio), meio (quando não eram apenas duas palavras) e fim (apelido). Então completo só quando iam para a Escola. E antes desta ser obrigatória, só quando os homens iam para a «tropa» e para as mulheres, então, só quando se casavam ficavam a saber o seu "verdadeiro nome".
Quase todos se tratavam por "alcunhas" que num povoado como Montalvão eram mais «Nomes à Vila» que qualquer outra designação. Quem os dizia e quem os pronunciava não ligava o nome ao que ele significava na realidade mas, sim, em concreto, à pessoa de que queria falar ou com quem falava. Alguns «Nomes à Vila» nem isso eram, ou seja, terem alguma conotação, pois significavam apenas mais uma palavra no léxico montalvanês. Por isso não tinham sentido pejorativo ainda que em épocas muito recuadas pudessem ter tido. Mas isso perdera-se no tempo.
Para todas as regras há excepções. Mas nos «Nomes à Vila» fica-se com a impressão que as excepções são mais que as regras.
Regra: Passar de pais para filhos e a esposa "perder" o que tinha após o casamento para ter a do marido.
Muitas vezes mudava-se, em criança, do «Nome à Vila» tradicional para um outro (novo), por vários motivos. Um deles era a própria mãe ou alguém definir com determinado nome o bebé ou criança pelo que parecia ou fazia. Se isso «pegasse» abria-se aqui uma excepção. E muitas eram abertas todos os anos, estabelecendo-se um novo «Nome à Vila» que duraria uma vida, e se fosse rapaz, poderia passar para os filhos.
Resta ainda dizer que os «Nomes à Vila» substituíam os apelidos verdadeiros enquanto os nomes próprios eram substituídos por diminutivos antecedidos, aquando adultos, do indispensável Ti ou Senhô para os homens e Xá ou Tchá (por vezes também Ti) para as senhoras.Ou Dona para as esposas dos «riques» ou Lavradores (em linguagem à grave, ou seja, "linguajar fino") e Menine para as filhas ou filhos dos Lavradores/Proprietários mesmo se aos 90 anos ainda fossem solteiras ou solteiros.
Amália era Amálha
Antónia era Antónha
António era Tónhe
Armando era Armande
Aurélio era Árel
Bartolomeu era Batlomê
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Numa localidade tão isolada, quase tudo analfabeto, poucas pessoas sabiam o seu verdadeiro nome, com princípio (nome próprio), meio (quando não eram apenas duas palavras) e fim (apelido). Então completo só quando iam para a Escola. E antes desta ser obrigatória, só quando os homens iam para a «tropa» e para as mulheres, então, só quando se casavam ficavam a saber o seu "verdadeiro nome".
Quase todos se tratavam por "alcunhas" que num povoado como Montalvão eram mais «Nomes à Vila» que qualquer outra designação. Quem os dizia e quem os pronunciava não ligava o nome ao que ele significava na realidade mas, sim, em concreto, à pessoa de que queria falar ou com quem falava. Alguns «Nomes à Vila» nem isso eram, ou seja, terem alguma conotação, pois significavam apenas mais uma palavra no léxico montalvanês. Por isso não tinham sentido pejorativo ainda que em épocas muito recuadas pudessem ter tido. Mas isso perdera-se no tempo.
Para todas as regras há excepções. Mas nos «Nomes à Vila» fica-se com a impressão que as excepções são mais que as regras.
Regra: Passar de pais para filhos e a esposa "perder" o que tinha após o casamento para ter a do marido.
Muitas vezes mudava-se, em criança, do «Nome à Vila» tradicional para um outro (novo), por vários motivos. Um deles era a própria mãe ou alguém definir com determinado nome o bebé ou criança pelo que parecia ou fazia. Se isso «pegasse» abria-se aqui uma excepção. E muitas eram abertas todos os anos, estabelecendo-se um novo «Nome à Vila» que duraria uma vida, e se fosse rapaz, poderia passar para os filhos.
Resta ainda dizer que os «Nomes à Vila» substituíam os apelidos verdadeiros enquanto os nomes próprios eram substituídos por diminutivos antecedidos, aquando adultos, do indispensável Ti ou Senhô para os homens e Xá ou Tchá (por vezes também Ti) para as senhoras.Ou Dona para as esposas dos «riques» ou Lavradores (em linguagem à grave, ou seja, "linguajar fino") e Menine para as filhas ou filhos dos Lavradores/Proprietários mesmo se aos 90 anos ainda fossem solteiras ou solteiros.
Amália era Amálha
Antónia era Antónha
António era Tónhe
Armando era Armande
Aurélio era Árel
Bartolomeu era Batlomê
Bento era Bente
Catarina era Catrina
Cecília era Cezila
Conceição era Conceicem
Domingos era Demingues
Elisa era Inlínza
Emília era Imilha
Eusébio era Inzébe
Felícia era Fliça
Catarina era Catrina
Cecília era Cezila
Conceição era Conceicem
Domingos era Demingues
Elisa era Inlínza
Emília era Imilha
Eusébio era Inzébe
Felícia era Fliça
Felipe era Flipe
Fernando era Fernande
Flávia era Fláiva
Fortunata era Fertunéta
Francisco era Chic ou Xique
Henrique era Anrique
Hermenegildo era Ermegilde
Isabel era Zabel
Fernando era Fernande
Flávia era Fláiva
Fortunata era Fertunéta
Francisco era Chic ou Xique
Henrique era Anrique
Hermenegildo era Ermegilde
Isabel era Zabel
Januário era Jenuére
João era Júan ou Jã
Joaquim era Xequím ou Jaquím
Joaquina era Jaquina
José era Zé
Josefa era Zéfa
Júlia era Júla
Manuel era Manél
Maria era Marí
Mariana era Mariena
Miguel era Meguél
Olivier era Leviér
Pedro era Pôidre
Pimental era Pomantél
Possidónia era Pessedóna
Remédios era Drumédes
Roberta era Rebéta
Rosalina era Rezalina
Rosário era Drozá
Simão era Semên
Simplício era Simplice
João era Júan ou Jã
Joaquim era Xequím ou Jaquím
Joaquina era Jaquina
José era Zé
Josefa era Zéfa
Júlia era Júla
Manuel era Manél
Maria era Marí
Mariana era Mariena
Miguel era Meguél
Olivier era Leviér
Pedro era Pôidre
Pimental era Pomantél
Possidónia era Pessedóna
Remédios era Drumédes
Roberta era Rebéta
Rosalina era Rezalina
Rosário era Drozá
Simão era Semên
Simplício era Simplice
Tomás era Temás
Tomázia era Temázia
Teresa era Trôisa
Vinagre era Venégre
Virgílio era Vergil
Zélia era Zélha
NOTAS: 1. É impossível ter todos os nomes. Nem os Dicionários de Língua Portuguesa têm todo o léxico de português, até porque há dicionários mais e menos completos; 2. É praticamente impossível (a não ser com anotações científicas lexicais que não tem interesse estar a publicar pois só ia complicar) conseguir transformar, com exatidão, uma palavra oral em escrita para ser lida com oralidade correta; 3. Depois, até dentro de uma comunidade, mesmo com escassos milhares de pessoas, há sempre quem dê uma acentuação diferenciada aos nomes; 4. Quem souber mais, desde que sejam antigos (antes de meados do século XX) agradeço sempre boas contribuições que só enriquecem estes textos.
Próxima paragem: Rua do Ferro
Tomázia era Temázia
Teresa era Trôisa
Vinagre era Venégre
Virgílio era Vergil
Zélia era Zélha
NOTAS: 1. É impossível ter todos os nomes. Nem os Dicionários de Língua Portuguesa têm todo o léxico de português, até porque há dicionários mais e menos completos; 2. É praticamente impossível (a não ser com anotações científicas lexicais que não tem interesse estar a publicar pois só ia complicar) conseguir transformar, com exatidão, uma palavra oral em escrita para ser lida com oralidade correta; 3. Depois, até dentro de uma comunidade, mesmo com escassos milhares de pessoas, há sempre quem dê uma acentuação diferenciada aos nomes; 4. Quem souber mais, desde que sejam antigos (antes de meados do século XX) agradeço sempre boas contribuições que só enriquecem estes textos.
Próxima paragem: Rua do Ferro
20 junho 2020
Montalvam 770
20 junho 2020 | 0 Comentários | | 00:00 |
EM ABRIL DE 1250 PROCURAVA-SE DEFINIR ESPAÇO MOSTRANDO PODER.
NOTA INICIAL: Este texto estava previsto para Abril de 2020 mas a COVID-19 impossibilitou na prática o que foi idealizado. Só agora foi possível escrevê-lo e ilustrar tentando ser o mais didático possível, pois este blogue não pretende fazer teses científicas acerca do que quer que seja. Mas apenas divulgar (com rigor, ou seja, documentando) a História e Cultura de Montalvão. A apreciação, valoração e creditação fica sempre por conta de quem o lê.
O território templário a Sul do rio Tejo há muito que se sabe ter começado com a doação da «Herdade da Açafa», por D. Sancho I aos Cavaleiros da Ordem do Templo, em 5 de julho de 1199, facto que já foi assinalado neste blogue inúmeras vezes, com destaque para a efeméride, em 5 de julho de 2019 (clicar).
Como se percebe pelo texto da doação os limites eram vagos, procurando delimitar o território tendo como referências elementos naturais: os cursos de água e os pontos mais elevados com destaque económico (por exemplo mineração) por serem conhecidos. É que num território que há pouco tempo ficara na posse dos cristãos e era praticamente despovoado - aliás a doação era para garantir essa posse (defesa) e ter condições para povoar (fixar população) - não podia haver rigor na definição de fronteiras que não fossem naturais. Não se conhecia o território, nem havia como fazer fronteiras, mesmo interiores.
Mas como é evidente o território templário não ficou estático - nem nunca o foi por não poder ter sido traçado um limite exato - mas sofreu alterações na primeira metade do século XIII. Em 1199 houve uma definição generalista. O tempo seguinte, ou seja, as cinco décadas iniciais do século XIII, permitiu conhecer e estabelecer avanços e recuos, até pela presença a sul da «Ordem dos Hospitalários» e sobrepondo-se o poder das Dioceses da Guarda e de Évora, com a definição territorial de Portugal, depois da conquista do Algarve, em 27 de março de 1249.
Cumpre para assinalar esta efeméride, colocar o documento do acordo entre o Bispado de Évora e a Ordem do Templo, estabelecido em abril de 1250. Está previsto, neste blogue, para 25 de julho de 2020, um texto denominado «Fronteiras Interiores (1250)» com uma explicação mais pormenorizada da necessidade deste acordo mas está relacionado com um outro «Açafa a Deixar de o Ser (1242)» já publicado, em 6 de novembro de 2019 (clicar). Eis o documento em latim que data de abril de MCCLXXXVIII = 1288 corresponde na Era Cristã a 1250.
Assim se foram criando condições para surgir um povoado ímpar, num território inóspito, chamado: Montalvão.
NOTA 1: O limite da «Herdade da Açafa» em 1199, entre a ribeira de Figueiró e o esporão rochoso da Melriça (a norte de Castelo de Vide) é complexo, pois depende de onde se quer estender o limite montante na ribeira de Figueiró, visto entre esta e a Melriça existir o vale onde corre a ribeira de Nisa. Há num curto espaço de seis quilómetros a separação de três sub-bacias hidrográficas (o que ilustra a complexidade da hidrografia nesta região norte do Alto Alentejo): Monte Navens (por onde passa a cumeada que separa a ribeira de Figueiró da ribeira de Nisa), Melriça (por onde passa a cumeada que separa a ribeira de Nisa da ribeira de São João, afluente do rio Sever).
NOTA FINAL: O texto do acordo estabelecido em abril de 1250 é o segundo por ordem cronológica (que conheça) com referência ao território Montalvam (Montalvão) embora ainda não seja possível - a COVID-19 serve para desculpar muito, até o que não se justifica, mas neste caso é mesmo por ela que não se publica - colocar a digitalização da primeira referência ao território Montalvam (Montalvão) que, como é óbvio, é anterior a esta em abril de 1250. Depois desta começam a existir muitas: 1260, 1287, 1291, etecetra...
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Em 1250 estão em sobreposição dois domínios. Um a perder importância (Ordens Militares) e outro a ter cada vez mais preponderância (Bispados). Ordem dos Templários a norte da ribeira de Figueiró e Ordem dos Hospitalários a sul dessa ribeira. O Bispado de Évora a querer chegar à margem esquerda do rio Tejo e o da Guarda a reivindicar Montalvão, Nisa e Alpalhão desde 1142 |
NOTA INICIAL: Este texto estava previsto para Abril de 2020 mas a COVID-19 impossibilitou na prática o que foi idealizado. Só agora foi possível escrevê-lo e ilustrar tentando ser o mais didático possível, pois este blogue não pretende fazer teses científicas acerca do que quer que seja. Mas apenas divulgar (com rigor, ou seja, documentando) a História e Cultura de Montalvão. A apreciação, valoração e creditação fica sempre por conta de quem o lê.
O território templário a Sul do rio Tejo há muito que se sabe ter começado com a doação da «Herdade da Açafa», por D. Sancho I aos Cavaleiros da Ordem do Templo, em 5 de julho de 1199, facto que já foi assinalado neste blogue inúmeras vezes, com destaque para a efeméride, em 5 de julho de 2019 (clicar).
Duas interpretações do território da Açafa a sul do rio Tejo. Em cima pelo povacho com "alma montalvanense" José Pedro Martins Barata e em baixo pelo nisense José Augusto Fraústo Basso |
Como se percebe pelo texto da doação os limites eram vagos, procurando delimitar o território tendo como referências elementos naturais: os cursos de água e os pontos mais elevados com destaque económico (por exemplo mineração) por serem conhecidos. É que num território que há pouco tempo ficara na posse dos cristãos e era praticamente despovoado - aliás a doação era para garantir essa posse (defesa) e ter condições para povoar (fixar população) - não podia haver rigor na definição de fronteiras que não fossem naturais. Não se conhecia o território, nem havia como fazer fronteiras, mesmo interiores.
Mas como é evidente o território templário não ficou estático - nem nunca o foi por não poder ter sido traçado um limite exato - mas sofreu alterações na primeira metade do século XIII. Em 1199 houve uma definição generalista. O tempo seguinte, ou seja, as cinco décadas iniciais do século XIII, permitiu conhecer e estabelecer avanços e recuos, até pela presença a sul da «Ordem dos Hospitalários» e sobrepondo-se o poder das Dioceses da Guarda e de Évora, com a definição territorial de Portugal, depois da conquista do Algarve, em 27 de março de 1249.
Cumpre para assinalar esta efeméride, colocar o documento do acordo entre o Bispado de Évora e a Ordem do Templo, estabelecido em abril de 1250. Está previsto, neste blogue, para 25 de julho de 2020, um texto denominado «Fronteiras Interiores (1250)» com uma explicação mais pormenorizada da necessidade deste acordo mas está relacionado com um outro «Açafa a Deixar de o Ser (1242)» já publicado, em 6 de novembro de 2019 (clicar). Eis o documento em latim que data de abril de MCCLXXXVIII = 1288 corresponde na Era Cristã a 1250.
Assim se foram criando condições para surgir um povoado ímpar, num território inóspito, chamado: Montalvão.
NOTA 1: O limite da «Herdade da Açafa» em 1199, entre a ribeira de Figueiró e o esporão rochoso da Melriça (a norte de Castelo de Vide) é complexo, pois depende de onde se quer estender o limite montante na ribeira de Figueiró, visto entre esta e a Melriça existir o vale onde corre a ribeira de Nisa. Há num curto espaço de seis quilómetros a separação de três sub-bacias hidrográficas (o que ilustra a complexidade da hidrografia nesta região norte do Alto Alentejo): Monte Navens (por onde passa a cumeada que separa a ribeira de Figueiró da ribeira de Nisa), Melriça (por onde passa a cumeada que separa a ribeira de Nisa da ribeira de São João, afluente do rio Sever).
NOTA FINAL: O texto do acordo estabelecido em abril de 1250 é o segundo por ordem cronológica (que conheça) com referência ao território Montalvam (Montalvão) embora ainda não seja possível - a COVID-19 serve para desculpar muito, até o que não se justifica, mas neste caso é mesmo por ela que não se publica - colocar a digitalização da primeira referência ao território Montalvam (Montalvão) que, como é óbvio, é anterior a esta em abril de 1250. Depois desta começam a existir muitas: 1260, 1287, 1291, etecetra...
18 junho 2020
Montalvão Descentrado
18 junho 2020 | 0 Comentários | | 00:00 |
ATUALMENTE MONTALVÃO NÃO OCUPA UMA ÁREA CENTRAL NO TERRITÓRIO QUE ADMINISTRA COMO FREGUESIA.
A localidade de Montalvão como sede de concelho e depois de freguesia ficou sempre muito periférica em relação ao centro geográfico do território que tem sob sua "jurisdição".
O «Sítio», o «Local» e a centralidade
Para Montalvão, percebe-se que o «sítio» - um lugar no topo de um "monte perfeito" (Leste/Oeste) que domina do alto o território até longas dezenas de quilómetros parece ter sido mais importante que o «local», ou seja, a posição que ocupa no território que domina. É possível calcular com rigor o centro geográfico da freguesia de Montalvão, embora seja complexo e moroso pela configuração, mas não há necessidade para o que se pretende. O centro geográfico está algures a Norte da «Palmeirinha». Na atualidade a sede de freguesia está completamente descentrada em relação ao território da sua freguesia, mas...
Antes do «Tratado de Alcanices» (12 de setembro de 1297)
Não se sabe (ainda não se sabe...) os limites para Leste do território de Montalvão. A Vila montalvanense teria como limite Leste o leito do rio Sever ou iria mais para Este pois sabe-se que a fronteira de Portugal com o Reino de Leão era no rio Salor? Se o território de prolongasse mais dez/vinte quilómetros para Este, Montalvão seria central. Além do «sítio» justificava bem o «local».
As "descentralidade": Norte (7,5 km), Sul (8,5 km), Leste (2,5 km) e Oeste (11 km)
Principalmente na relação Este e Oeste. Entre o rio Sever (a Este) e a confluência do ribeiro de Fivenco ou Fevêlo com o rio Tejo (a Oeste) a proporção é de quatro vezes mais (440 por cento): 2,5 para 11 quilómetros. Entre a confluência do rio Sever com o rio Tejo (a Norte) e a confluência da ribeira de São João com o rio Sever (a Sul) é de 88 por cento: 7,5 para 8,5 quilómetros. Em cima da ou sobre a... raia (fronteira).
O exemplo de Nisa
A sede de concelho (Nisa) ocupa um lugar central bem condizente com o lugar territorial histórico que sempre teve. Só as localidades históricas, mas com território diminuto (o que sublinha o factor histórico a sobrepor-se ao territorial), Castelo de Vide e Marvão impossibilitam uma "quase perfeição".
Os «vizinhos» ilustres de Nisa
O concelho de Marvão é pouco maior que a freguesia de Montalvão e o concelho de Castelo de Vide tem pouco mais do dobro da freguesia de Montalvão. Percebe-se bem quão importante é territorialmente Montalvão.
As periferias montalvanenses
A localização de Montalvão junto do seu limite Leste (rio Sever), aliada à grande distância para o importante rio central da Ibéria (rio Tejo) num misto de "obrigação" e "funcionalidade" possibilitou a necessidade de criar lugarejos no Noroeste, Sudoeste e Sudeste do território montalvanense.
Além de Montalvão - e devido a essa descentralidade - foi necessário criar dois lugares - Salavessa e Monte do Pombo - no território junto ao rio Tejo onde havia facilidade no acesso a água e a terrenos mais "fáceis de trabalhar" que o de xisto, os das cascalheiras, ponedros e arcoses/arenitos. Nestes a proliferação de nascentes com «boa água, em qualidade e quantidade» é superior ao resto do território. Ficando estes tão afastados de Montalvão num tempo em que as deslocações eram difíceis, de Inverno muitas vezes impossíveis e com terrenos a necessitar de trabalho diário fez muito mais sentido fixar população junto a eles - que permitiram o seu crescimento demográfico - que habitar em Montalvão e depois ter trabalho rural tão longe. Houve outros lugarejos, talvez uma dúzia em toda a orla do rio Tejo à ribeira de São João, mas eram consequência de necessidades e prioridades dos seus proprietários. Foram lugarejos de circunstância que duraram pouco tempo, ou que pelo menos, nunca tiveram capacidade para fixar população durante décadas a fio... É por isso interessante perceber o que se passou em sete séculos de território montalvanense.
EM BREVE (TANTO QUANTO POSSÍVEL)
Parte II - O Sudoeste e a Salavessa
Parte III - O Noroeste e o Monte do Pombo
Parte IV - Outros lugarejos
Assim se fez Montalvão...
Ler Mais ►
A localidade de Montalvão como sede de concelho e depois de freguesia ficou sempre muito periférica em relação ao centro geográfico do território que tem sob sua "jurisdição".
O «Sítio», o «Local» e a centralidade
Para Montalvão, percebe-se que o «sítio» - um lugar no topo de um "monte perfeito" (Leste/Oeste) que domina do alto o território até longas dezenas de quilómetros parece ter sido mais importante que o «local», ou seja, a posição que ocupa no território que domina. É possível calcular com rigor o centro geográfico da freguesia de Montalvão, embora seja complexo e moroso pela configuração, mas não há necessidade para o que se pretende. O centro geográfico está algures a Norte da «Palmeirinha». Na atualidade a sede de freguesia está completamente descentrada em relação ao território da sua freguesia, mas...
Antes do «Tratado de Alcanices» (12 de setembro de 1297)
Não se sabe (ainda não se sabe...) os limites para Leste do território de Montalvão. A Vila montalvanense teria como limite Leste o leito do rio Sever ou iria mais para Este pois sabe-se que a fronteira de Portugal com o Reino de Leão era no rio Salor? Se o território de prolongasse mais dez/vinte quilómetros para Este, Montalvão seria central. Além do «sítio» justificava bem o «local».
Apesar da distorção cartográfica num mapa do século XVIII optou-se por este em detrimento de um atual, mais equilibrado mas com menos sentido. Percebe-se o porquê da escolha... |
As "descentralidade": Norte (7,5 km), Sul (8,5 km), Leste (2,5 km) e Oeste (11 km)
Principalmente na relação Este e Oeste. Entre o rio Sever (a Este) e a confluência do ribeiro de Fivenco ou Fevêlo com o rio Tejo (a Oeste) a proporção é de quatro vezes mais (440 por cento): 2,5 para 11 quilómetros. Entre a confluência do rio Sever com o rio Tejo (a Norte) e a confluência da ribeira de São João com o rio Sever (a Sul) é de 88 por cento: 7,5 para 8,5 quilómetros. Em cima da ou sobre a... raia (fronteira).
O exemplo de Nisa
A sede de concelho (Nisa) ocupa um lugar central bem condizente com o lugar territorial histórico que sempre teve. Só as localidades históricas, mas com território diminuto (o que sublinha o factor histórico a sobrepor-se ao territorial), Castelo de Vide e Marvão impossibilitam uma "quase perfeição".
Os «vizinhos» ilustres de Nisa
O concelho de Marvão é pouco maior que a freguesia de Montalvão e o concelho de Castelo de Vide tem pouco mais do dobro da freguesia de Montalvão. Percebe-se bem quão importante é territorialmente Montalvão.
As periferias montalvanenses
A localização de Montalvão junto do seu limite Leste (rio Sever), aliada à grande distância para o importante rio central da Ibéria (rio Tejo) num misto de "obrigação" e "funcionalidade" possibilitou a necessidade de criar lugarejos no Noroeste, Sudoeste e Sudeste do território montalvanense.
Além de Montalvão - e devido a essa descentralidade - foi necessário criar dois lugares - Salavessa e Monte do Pombo - no território junto ao rio Tejo onde havia facilidade no acesso a água e a terrenos mais "fáceis de trabalhar" que o de xisto, os das cascalheiras, ponedros e arcoses/arenitos. Nestes a proliferação de nascentes com «boa água, em qualidade e quantidade» é superior ao resto do território. Ficando estes tão afastados de Montalvão num tempo em que as deslocações eram difíceis, de Inverno muitas vezes impossíveis e com terrenos a necessitar de trabalho diário fez muito mais sentido fixar população junto a eles - que permitiram o seu crescimento demográfico - que habitar em Montalvão e depois ter trabalho rural tão longe. Houve outros lugarejos, talvez uma dúzia em toda a orla do rio Tejo à ribeira de São João, mas eram consequência de necessidades e prioridades dos seus proprietários. Foram lugarejos de circunstância que duraram pouco tempo, ou que pelo menos, nunca tiveram capacidade para fixar população durante décadas a fio... É por isso interessante perceber o que se passou em sete séculos de território montalvanense.
EM BREVE (TANTO QUANTO POSSÍVEL)
Parte II - O Sudoeste e a Salavessa
Parte III - O Noroeste e o Monte do Pombo
Parte IV - Outros lugarejos
Assim se fez Montalvão...
15 junho 2020
Os Corticeiros
15 junho 2020 | 0 Comentários | | 00:00 |
EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES HOUVE CENTENAS DE ESPECIALISTAS.
Não é fácil tirar a casca do sobreiro sem ferir o troco causando danos à árvore que podem ser irreparáveis.
Requer perícia, paciência e destreza, pois "tempo é sempre dinheiro". Requer experiência, cuidado, temperança e solidariedade. Requer conhecer onde tirar "em prancha" e por vezes até deixar para proteger um nó ou uma imperfeição no caule.
Para poder ser tirada no tempo certo - quando começa a estar calor sem voltar a ficar frio - com a casca ainda a descolar com facilidade em "farrapos grandes" «é no tempo em que as catchópas deixam de usar meias», como dizia um dos grandes mestres corticeiros montalvanenses que conheci entre finais dos Anos 60 e início da década de 70. Se tirada no final do Verão, lá para finais de agosto ou início de setembro - já com a superfície de contacto entre casca e pele do tronco e ramos muito seca, a cortiça fica agarrada, saindo «aos bocadinhos». Impossível de ter aproveitamento a não ser moída, como a falca. Para mais ver neste blogue, em 4 de maio de 2020 (clicar)
O «Machado Corticeiro» é a ferramenta que permite cortar sem magoar, por ter a lâmina arredondada nas duas extremidades e a extremidade do cabo em cunha para a libertar do sobreiro. Mas só ter a ferramenta adequada não chega. Falta saber usá-la com eficiência e rapidez, ou seja, ser exímio na tiragem da cortiça.
Neste grupo (fotografia em baixo) está um dos montalvanenses que nos anos 40 a 60 mais cortiça tirou desde Montalvão até aos Perais, Retaxo, Cebolais e Malpica do Tejo, bem para lá das «Barreiras do Tejo Beirão», o Ti Mané Têxêra, exímio na avaliação dos sobreiros a que já se podia tirar a primeira vez cortiça (falca) bem como onde ir acrescentando mais tronco a descortiçar nos sobreiros já em plena atividade, com uma ou mais tiragens, que é de nove em nove anos. Há sobreiros que aguentam bem 15 tiragens, alguns chegam às vinte tiragens (mais de 180 anos).
Os mestres corticeiros permitiam ter um trabalho não só para eles e familiares, por exemplo filhos catchôpos, mas também dar emprego e ocupação a muito jornaleiro da Vila. Óh! Se davam...
Assim se foi fazendo Montalvão...
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Não é fácil tirar a casca do sobreiro sem ferir o troco causando danos à árvore que podem ser irreparáveis.
Para poder ser tirada no tempo certo - quando começa a estar calor sem voltar a ficar frio - com a casca ainda a descolar com facilidade em "farrapos grandes" «é no tempo em que as catchópas deixam de usar meias», como dizia um dos grandes mestres corticeiros montalvanenses que conheci entre finais dos Anos 60 e início da década de 70. Se tirada no final do Verão, lá para finais de agosto ou início de setembro - já com a superfície de contacto entre casca e pele do tronco e ramos muito seca, a cortiça fica agarrada, saindo «aos bocadinhos». Impossível de ter aproveitamento a não ser moída, como a falca. Para mais ver neste blogue, em 4 de maio de 2020 (clicar)
O «Machado Corticeiro» é a ferramenta que permite cortar sem magoar, por ter a lâmina arredondada nas duas extremidades e a extremidade do cabo em cunha para a libertar do sobreiro. Mas só ter a ferramenta adequada não chega. Falta saber usá-la com eficiência e rapidez, ou seja, ser exímio na tiragem da cortiça.
O «descortiçamento» tem seis fases:
1. Abrir – Com o machado, golpeia-se a cortiça verticalmente e torce-se o gume do instrumento para separar a prancha de cortiça do entrecasco;
2. Separar – Em seguida, com a cunha do machado, separa-se a barriga da prancha do entrecasco;
3. Traçar – para delimitar o tamanho da prancha traça-se a cortiça horizontalmente;
4. Extrair – a prancha é cuidadosamente retirada para que saia inteira, pois tem mais valor comercial;
5. Descalçar – "Descalça-se a sapata do pé do sobreiro", ou seja, retira-se os fragmentos da cortiça que se encontram junto à base do tronco do sobreiro;
6. Marcação – depois de toda a cortiça retirada, marca-se a árvore com o último algarismo do ano da extração.
Os tiradores tinham sempre aprendizes que carregavam as pranchas tiradas numa rede para um monte onde se reunia toda a cortiça, numa «Meda» (à grave, linguajar fora de Montalvão, numa... pilha) numa área livre e espaçosa, daquela Tapada com montado.
Neste grupo (fotografia em baixo) está um dos montalvanenses que nos anos 40 a 60 mais cortiça tirou desde Montalvão até aos Perais, Retaxo, Cebolais e Malpica do Tejo, bem para lá das «Barreiras do Tejo Beirão», o Ti Mané Têxêra, exímio na avaliação dos sobreiros a que já se podia tirar a primeira vez cortiça (falca) bem como onde ir acrescentando mais tronco a descortiçar nos sobreiros já em plena atividade, com uma ou mais tiragens, que é de nove em nove anos. Há sobreiros que aguentam bem 15 tiragens, alguns chegam às vinte tiragens (mais de 180 anos).
Os mestres corticeiros permitiam ter um trabalho não só para eles e familiares, por exemplo filhos catchôpos, mas também dar emprego e ocupação a muito jornaleiro da Vila. Óh! Se davam...
Assim se foi fazendo Montalvão...
12 junho 2020
Entre a Cesta e o Cabaz
12 junho 2020 | 0 Comentários | | 00:00 |
ERA COM O VIME E O JUNCO APANHADO NAS MARGENS DA RIBEIRA DE NISA QUE SE FAZIAM AS CEIRAS, OS CESTOS E OS CABAZES PARA MONTALVÃO.
No tempo em que não havia plástico nem bolsas de fibras sintéticas com alça gigante para transportar ao ombro...
Nas mãos habilidosas dos nisenses teciam-se os caules de modo a fazerem recipientes úteis para transportar tudo e mais alguma coisa.
Ceiras, cestas, cabazes, cestos e canastrões bonitos por fora e cheios de delícias por dentro: de boleimas, cavacas a queijos e enchidos. De roupa a bordados. De alpercatas a chinelas e sapatos.
Com a realização, no segundo domingo de junho, de mais uma «Feira das Cerejas» em Nisa, principal localidade - sede de concelho - de um vasto território a que pertence Montalvão (até à última reforma administrativa a maior freguesia, em superfície, desse concelho) havia que fazer o "inventário" do que levar para passar o dia em Nisa (a cerca de 16 quilómetros) e o que comprar. No tempo em que não havia plástico e derivados era entre as ceiras, cestos, cabazes, cestas e canastrões que tudo girava.
A CEIRA
Um achado que, certamente, levou séculos a aprimorar: muito leve, boa capacidade e alguma resistência eram características ideais para comprar produtos que não fossem muito pesados, nem necessitassem de ficar muito protegidos de um qualquer percalço. Para o dia-a-dia era o equivalente aos sacos de plástico ou às grandes sacolas de fibra da atualidade.
O CABAZ
Era mais utilizado para transporte a maiores distâncias e que obrigassem a um melhor acondicionamento, como utensílios de vidro, porcelana ou barro. Tudo o que se pudesse partir ou desmanchar cabia nos cabazes, pois tal como as ceiras, havia três/quatro tamanhos. Dependia muito do meio de transporte que era utilizado. Quem o tinha por conta própria podia utilizar cabazes maiores. É sempre assim... assim será! Era um recipiente com uma estrutura dura, por isso resistia a impactos mais fortes ao contrário das ceiras que tinham a vantagem de serem mais leves.
O CESTO
Bem, geralmente, este ia de transporte próprio a grandes distâncias ou à cabeça das mulheres, que utilizavam uma rodilha (ou "sogra", uma palavra utilizada em montalvanês). Recipiente bem estruturado permitia levar ou trazer grandes quantidades de produtos, que necessitassem de segurança contra pancadas inesperadas ou que fossem pesados, pois quer os lados, quer o fundo era bem resistente. Ótimo para levar em carroças (tração por asnos) ou carros (tração por muares).
O CANASTRÃO
Muito utilizado no tempo em que se lavava a roupa nos ribeiros e ribeiras que correm junto a Montalvão, como na Marí Neta, Palmeirinha ou Pecerra. Até no rio Sever se faziam barrelas e corava roupa. Também se aproveitava muitas vezes, se o dia fosse passado longe num terreno com mais abundância em água que Montalvão, para levar um canastrão só com roupa para lavar. A minha avó materna era perita em encher, até dois canastrões para colocar na carroça, para desespero do meu avô, quando se ia passar o dia à Charneca, a cerca de cinco quilómetros de Montalvão, onde havia água em quantidade e qualidade, já próximo da Salavessa. Dizia ele que lhe atafulhavam a carroça só com canastrões de roupa suja.
A CESTA DA RENDA
O recipiente que acompanhava as mulheres todo o santo dia. Era aqui que guardavam os rolos de fio, do linho ao algodão, até lã ou pêlo de cabra, para fazerem rendas e bordados. Obras primas do saber que passava de mães para filhas e quando complicava ainda "metia" uma «Mestra» pelo meio. Quem não conhece?
A CESTA DA MERENDA
Que me lembre este era o recipiente com mais tamanhos, uns seis ou sete. Dependia do tamanho da família, das idades e da quantidade de pessoas que necessitavam de farnel para parte do dia ou mesmo todo o dia. Havia cestas que acabavam tão pesadas que mesmo tendo asa para pegar pela mão tinham de ir à cabeça com a indispensável rodilha.
Assim se foi fazendo Montalvão...
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No tempo em que não havia plástico nem bolsas de fibras sintéticas com alça gigante para transportar ao ombro...
Nas mãos habilidosas dos nisenses teciam-se os caules de modo a fazerem recipientes úteis para transportar tudo e mais alguma coisa.
Ceiras, cestas, cabazes, cestos e canastrões bonitos por fora e cheios de delícias por dentro: de boleimas, cavacas a queijos e enchidos. De roupa a bordados. De alpercatas a chinelas e sapatos.
Com a realização, no segundo domingo de junho, de mais uma «Feira das Cerejas» em Nisa, principal localidade - sede de concelho - de um vasto território a que pertence Montalvão (até à última reforma administrativa a maior freguesia, em superfície, desse concelho) havia que fazer o "inventário" do que levar para passar o dia em Nisa (a cerca de 16 quilómetros) e o que comprar. No tempo em que não havia plástico e derivados era entre as ceiras, cestos, cabazes, cestas e canastrões que tudo girava.
A CEIRA
Um achado que, certamente, levou séculos a aprimorar: muito leve, boa capacidade e alguma resistência eram características ideais para comprar produtos que não fossem muito pesados, nem necessitassem de ficar muito protegidos de um qualquer percalço. Para o dia-a-dia era o equivalente aos sacos de plástico ou às grandes sacolas de fibra da atualidade.
O CABAZ
Era mais utilizado para transporte a maiores distâncias e que obrigassem a um melhor acondicionamento, como utensílios de vidro, porcelana ou barro. Tudo o que se pudesse partir ou desmanchar cabia nos cabazes, pois tal como as ceiras, havia três/quatro tamanhos. Dependia muito do meio de transporte que era utilizado. Quem o tinha por conta própria podia utilizar cabazes maiores. É sempre assim... assim será! Era um recipiente com uma estrutura dura, por isso resistia a impactos mais fortes ao contrário das ceiras que tinham a vantagem de serem mais leves.
O CESTO
Bem, geralmente, este ia de transporte próprio a grandes distâncias ou à cabeça das mulheres, que utilizavam uma rodilha (ou "sogra", uma palavra utilizada em montalvanês). Recipiente bem estruturado permitia levar ou trazer grandes quantidades de produtos, que necessitassem de segurança contra pancadas inesperadas ou que fossem pesados, pois quer os lados, quer o fundo era bem resistente. Ótimo para levar em carroças (tração por asnos) ou carros (tração por muares).
O CANASTRÃO
Muito utilizado no tempo em que se lavava a roupa nos ribeiros e ribeiras que correm junto a Montalvão, como na Marí Neta, Palmeirinha ou Pecerra. Até no rio Sever se faziam barrelas e corava roupa. Também se aproveitava muitas vezes, se o dia fosse passado longe num terreno com mais abundância em água que Montalvão, para levar um canastrão só com roupa para lavar. A minha avó materna era perita em encher, até dois canastrões para colocar na carroça, para desespero do meu avô, quando se ia passar o dia à Charneca, a cerca de cinco quilómetros de Montalvão, onde havia água em quantidade e qualidade, já próximo da Salavessa. Dizia ele que lhe atafulhavam a carroça só com canastrões de roupa suja.
A CESTA DA RENDA
O recipiente que acompanhava as mulheres todo o santo dia. Era aqui que guardavam os rolos de fio, do linho ao algodão, até lã ou pêlo de cabra, para fazerem rendas e bordados. Obras primas do saber que passava de mães para filhas e quando complicava ainda "metia" uma «Mestra» pelo meio. Quem não conhece?
A CESTA DA MERENDA
Que me lembre este era o recipiente com mais tamanhos, uns seis ou sete. Dependia do tamanho da família, das idades e da quantidade de pessoas que necessitavam de farnel para parte do dia ou mesmo todo o dia. Havia cestas que acabavam tão pesadas que mesmo tendo asa para pegar pela mão tinham de ir à cabeça com a indispensável rodilha.
Assim se foi fazendo Montalvão...
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