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15 junho 2020

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Os Corticeiros

15 junho 2020 0 Comentários
EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES HOUVE CENTENAS DE ESPECIALISTAS.



Não é fácil tirar a casca do sobreiro sem ferir o troco causando danos à árvore que podem ser irreparáveis.




Requer perícia, paciência e destreza, pois "tempo é sempre dinheiro". Requer experiência, cuidado, temperança e solidariedade. Requer conhecer onde tirar "em prancha" e por vezes até deixar para proteger um nó ou uma imperfeição no caule.



Para poder ser tirada no tempo certo - quando começa a estar calor sem voltar a ficar frio - com a casca ainda a descolar com facilidade em "farrapos grandes" «é no tempo em que as catchópas deixam de usar meias», como dizia um dos grandes mestres corticeiros montalvanenses que conheci entre finais dos Anos 60 e início da década de 70. Se tirada no final do Verão, lá para finais de agosto ou início de setembro - já com a superfície de contacto entre casca e pele do tronco e ramos muito seca, a cortiça fica agarrada, saindo «aos bocadinhos». Impossível de ter aproveitamento a não ser moída, como a falca. Para mais ver neste blogue, em 4 de maio de 2020 (clicar)



O «Machado Corticeiro» é a ferramenta que permite cortar sem magoar, por ter a lâmina arredondada nas duas extremidades e a extremidade do cabo em cunha para a libertar do sobreiro. Mas só ter a ferramenta adequada não chega. Falta saber usá-la com eficiência e rapidez, ou seja, ser exímio na tiragem da cortiça.





O «descortiçamento» tem seis fases:
1. Abrir – Com o machado, golpeia-se a cortiça verticalmente e torce-se o gume do instrumento para separar a prancha de cortiça do entrecasco;
2. Separar – Em seguida, com a cunha do machado, separa-se a barriga da prancha do entrecasco;
3. Traçar – para delimitar o tamanho da prancha traça-se a cortiça horizontalmente;
4. Extrair – a prancha é cuidadosamente retirada para que saia inteira, pois tem mais valor comercial;
5. Descalçar – "Descalça-se a sapata do pé do sobreiro", ou seja, retira-se os fragmentos da cortiça que se encontram junto à base do tronco do sobreiro;
6. Marcação – depois de toda a cortiça retirada, marca-se a árvore com o último algarismo do ano da extração.




Os tiradores tinham sempre aprendizes que carregavam as pranchas tiradas numa rede para um monte onde se reunia toda a cortiça, numa «Meda» (à grave, linguajar fora de Montalvão, numa... pilha) numa área livre e espaçosa, daquela Tapada com montado.




Neste grupo (fotografia em baixo) está um dos montalvanenses que nos anos 40 a 60 mais cortiça tirou desde Montalvão até aos Perais, Retaxo, Cebolais e Malpica do Tejo, bem para lá das «Barreiras do Tejo Beirão», o Ti Mané Têxêra, exímio na avaliação dos sobreiros a que já se podia tirar a primeira vez cortiça (falca) bem como onde ir acrescentando mais tronco a descortiçar nos sobreiros já em plena atividade, com uma ou mais tiragens, que é de nove em nove anos. Há sobreiros que aguentam bem 15 tiragens, alguns chegam às vinte tiragens (mais de 180 anos). 



Os mestres corticeiros permitiam ter um trabalho não só para eles e familiares, por exemplo filhos catchôpos, mas também dar emprego e ocupação a muito jornaleiro da Vila. Óh! Se davam...

Assim se foi fazendo Montalvão...
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