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12 junho 2020

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Entre a Cesta e o Cabaz

12 junho 2020 0 Comentários
ERA COM O VIME E O JUNCO APANHADO NAS MARGENS DA RIBEIRA DE NISA QUE SE FAZIAM AS CEIRAS, OS CESTOS E OS CABAZES PARA MONTALVÃO.



No tempo em que não havia plástico nem bolsas de fibras sintéticas com alça gigante para transportar ao ombro...




Nas mãos habilidosas dos nisenses teciam-se os caules de modo a fazerem recipientes úteis para transportar tudo e mais alguma coisa.


Ceiras, cestas, cabazes, cestos e canastrões bonitos por fora e cheios de delícias por dentro: de boleimas, cavacas a queijos e enchidos. De roupa a bordados. De alpercatas a chinelas e sapatos.



Com a realização, no segundo domingo de junho, de mais uma «Feira das Cerejas» em Nisa, principal localidade - sede de concelho - de um vasto território a que pertence Montalvão (até à última reforma administrativa a maior freguesia, em superfície, desse concelho) havia que fazer o "inventário" do que levar para passar o dia em Nisa (a cerca de 16 quilómetros) e o que comprar. No tempo em que não havia plástico e derivados era entre as ceiras, cestos, cabazes, cestas e canastrões que tudo girava.



A CEIRA

Um achado que, certamente, levou séculos a aprimorar: muito leve, boa capacidade e alguma resistência eram características ideais para comprar produtos que não fossem muito pesados, nem necessitassem de ficar muito protegidos de um qualquer percalço. Para o dia-a-dia era o equivalente aos sacos de plástico ou às grandes sacolas de fibra da atualidade.



O CABAZ

Era mais utilizado para transporte a maiores distâncias e que obrigassem a um melhor acondicionamento, como utensílios de vidro, porcelana ou barro. Tudo o que se pudesse partir ou desmanchar cabia nos cabazes, pois tal como as ceiras, havia três/quatro tamanhos. Dependia muito do meio de transporte que era utilizado. Quem o tinha por conta própria podia utilizar cabazes maiores. É sempre assim... assim será! Era um recipiente com uma estrutura dura, por isso resistia a impactos mais fortes ao contrário das ceiras que tinham a vantagem de serem mais leves.








O CESTO

Bem, geralmente, este ia de transporte próprio a grandes distâncias ou à cabeça das mulheres, que utilizavam uma rodilha (ou "sogra", uma palavra utilizada em montalvanês). Recipiente bem estruturado permitia levar ou trazer grandes quantidades de produtos, que necessitassem de segurança contra pancadas inesperadas ou que fossem pesados, pois quer os lados, quer o fundo era bem resistente. Ótimo para levar em carroças (tração por asnos) ou carros (tração por muares). 


A «rodilha" feita com pano enrolado para dar conforto e equilíbrio entre o alto da cabeça e a base dos recipientes de maior volume. Também para recipientes de metal ou madeira (como os alguidares) e barro, como os potes, cântaros, infusas ou bilhas para água. As «catchópas» (raparigas em montalvanês) gostavam de as fazer coloridas. Com a idade das utilizadoras a ser maior diminuíam as cores garridas acabando, em negro, para viúvas ou mulheres de mais idade.








O CANASTRÃO

Muito utilizado no tempo em que se lavava a roupa nos ribeiros e ribeiras que correm junto a Montalvão, como na Marí Neta, Palmeirinha ou Pecerra. Até no rio Sever se faziam barrelas e corava roupa. Também se aproveitava muitas vezes, se o dia fosse passado longe num terreno com mais abundância em água que Montalvão, para levar um canastrão só com roupa para lavar. A minha avó materna era perita em encher, até dois canastrões para colocar na carroça, para desespero do meu avô, quando se ia passar o dia à Charneca, a cerca de cinco quilómetros de Montalvão, onde havia água em quantidade e qualidade, já próximo da Salavessa. Dizia ele que lhe atafulhavam a carroça só com canastrões de roupa suja.







A CESTA DA RENDA

O recipiente que acompanhava as mulheres todo o santo dia. Era aqui que guardavam os rolos de fio, do linho ao algodão, até lã ou pêlo de cabra, para fazerem rendas e bordados. Obras primas do saber que passava de mães para filhas e quando complicava ainda "metia" uma «Mestra» pelo meio. Quem não conhece? 



De cima para baixo. Da esquerda para a direita: mulher do Ti Abil, Xá Marí de Matos Cegarrilha e Ti Liontina; Xá Gonçalves, Xá Engélica e a Tomázia Catorze, mulhér do Ti Alexandre (irmã da Xá Gonçalves, ambos filhos da Xá Tomásia do Forno); mulhé do Ti Anjinho, sobrinha do Ti Manél Texêra e a Xá Cezila (irmã da Xá Gonçalves)

A CESTA DA MERENDA

Que me lembre este era o recipiente com mais tamanhos, uns seis ou sete. Dependia do tamanho da família, das idades e da quantidade de pessoas que necessitavam de farnel para parte do dia ou mesmo todo o dia. Havia cestas que acabavam tão pesadas que mesmo tendo asa para pegar pela mão tinham de ir à cabeça com a indispensável rodilha.





Assim se foi fazendo Montalvão...




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