No tempo em que não havia plástico nem bolsas de fibras sintéticas com alça gigante para transportar ao ombro...
Nas mãos habilidosas dos nisenses teciam-se os caules de modo a fazerem recipientes úteis para transportar tudo e mais alguma coisa.
Ceiras, cestas, cabazes, cestos e canastrões bonitos por fora e cheios de delícias por dentro: de boleimas, cavacas a queijos e enchidos. De roupa a bordados. De alpercatas a chinelas e sapatos.
Com a realização, no segundo domingo de junho, de mais uma «Feira das Cerejas» em Nisa, principal localidade - sede de concelho - de um vasto território a que pertence Montalvão (até à última reforma administrativa a maior freguesia, em superfície, desse concelho) havia que fazer o "inventário" do que levar para passar o dia em Nisa (a cerca de 16 quilómetros) e o que comprar. No tempo em que não havia plástico e derivados era entre as ceiras, cestos, cabazes, cestas e canastrões que tudo girava.
A CEIRA
Um achado que, certamente, levou séculos a aprimorar: muito leve, boa capacidade e alguma resistência eram características ideais para comprar produtos que não fossem muito pesados, nem necessitassem de ficar muito protegidos de um qualquer percalço. Para o dia-a-dia era o equivalente aos sacos de plástico ou às grandes sacolas de fibra da atualidade.
O CABAZ
Era mais utilizado para transporte a maiores distâncias e que obrigassem a um melhor acondicionamento, como utensílios de vidro, porcelana ou barro. Tudo o que se pudesse partir ou desmanchar cabia nos cabazes, pois tal como as ceiras, havia três/quatro tamanhos. Dependia muito do meio de transporte que era utilizado. Quem o tinha por conta própria podia utilizar cabazes maiores. É sempre assim... assim será! Era um recipiente com uma estrutura dura, por isso resistia a impactos mais fortes ao contrário das ceiras que tinham a vantagem de serem mais leves.
O CESTO
Bem, geralmente, este ia de transporte próprio a grandes distâncias ou à cabeça das mulheres, que utilizavam uma rodilha (ou "sogra", uma palavra utilizada em montalvanês). Recipiente bem estruturado permitia levar ou trazer grandes quantidades de produtos, que necessitassem de segurança contra pancadas inesperadas ou que fossem pesados, pois quer os lados, quer o fundo era bem resistente. Ótimo para levar em carroças (tração por asnos) ou carros (tração por muares).
O CANASTRÃO
Muito utilizado no tempo em que se lavava a roupa nos ribeiros e ribeiras que correm junto a Montalvão, como na Marí Neta, Palmeirinha ou Pecerra. Até no rio Sever se faziam barrelas e corava roupa. Também se aproveitava muitas vezes, se o dia fosse passado longe num terreno com mais abundância em água que Montalvão, para levar um canastrão só com roupa para lavar. A minha avó materna era perita em encher, até dois canastrões para colocar na carroça, para desespero do meu avô, quando se ia passar o dia à Charneca, a cerca de cinco quilómetros de Montalvão, onde havia água em quantidade e qualidade, já próximo da Salavessa. Dizia ele que lhe atafulhavam a carroça só com canastrões de roupa suja.
A CESTA DA RENDA
O recipiente que acompanhava as mulheres todo o santo dia. Era aqui que guardavam os rolos de fio, do linho ao algodão, até lã ou pêlo de cabra, para fazerem rendas e bordados. Obras primas do saber que passava de mães para filhas e quando complicava ainda "metia" uma «Mestra» pelo meio. Quem não conhece?
A CESTA DA MERENDA
Que me lembre este era o recipiente com mais tamanhos, uns seis ou sete. Dependia do tamanho da família, das idades e da quantidade de pessoas que necessitavam de farnel para parte do dia ou mesmo todo o dia. Havia cestas que acabavam tão pesadas que mesmo tendo asa para pegar pela mão tinham de ir à cabeça com a indispensável rodilha.
Assim se foi fazendo Montalvão...
0 comentários blogger
Enviar um comentário