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28 dezembro 2019

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Vamos à Salavessa

28 dezembro 2019 0 Comentários
UMA AZINHAGA, UM CAMINHO E DEPOIS UMA ESTRADA PRATICAMENTE FEITA (METADE TENDO OITO QUILÓMETROS) COM EXPROPRIAÇÕES PRESCINDINDO DO ESPAÇO PÚBLICO.



Algo que não obedeceu ao critério que existia, e que foi por exemplo, realizado na estrada entre Montalvão e a Póvoa e Meadas. Utilizar o caminho mais fiável para transformá-lo em estrada. A estrada de Montalvão para a Salavessa envolveu expropriação de terrenos agrícolas e a não utilização do ancestral caminho pelos Barros ou Barreiros Vermelhos que, como era comum no espaço rural, utilizava as cumeadas para poder ser utilizado todo o ano.  

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A azul a azinhaga que ligava o final da Corredoura ao entroncamento com o caminho dos Barros ou Barreiros Vermelhos. Era um caminho de cumeada (a vermelho) que depois continuava do mesmo modo para a Salavessa. O caminho pela azinhaga era mais rápido mas não permitia a circulação de veículos de tracção animal. Estes tinham de seguir pela estrada para Nisa e depois virar à direita nos Barros ou Barreiros Vermelhos, fazer a cumeada (linha de festos ou topos) ligando Montalvão à Salavessa sempre pela cumeada, ou seja, permitindo circular todo o ano (Inverno ou Verão) e utilizar carroças, carros ou carretas (embora em menor número).



A linha de cumeada (topos ou festos) divide as duas principais sub-bacias de afluentes da bacia hidrográfica do rio Tejo que têm confluência com este junto da Salavessa. O ribeiro de Fivenco ou Fevêlo a Sul da Salavessa e a ribeira de Ficalho a Norte da Salavessa. Como é habitual em Montalvão há nomes diferentes para acidentes ou formas geográficas oficiais. A ribeira de Ficalho é composta por troços com nomes diferentes: o troço mais a montante começa com dois ribeiros (a sul o da Aleitosa e a norte o do Pontão. Na confluência destes passa a denominar-se ribeira da Figueira Doida. Depois há o ribeiro da Palmeirinha que corre ao longo da cumeada e na confluência com a ribeira da Figueira (Feguêra) Doida passa a denominar-se ribeira de Ficalho. Oficialmente a ribeira de Ficalho é só uma linha de água, como é evidente, pois quer o ribeiro do Pontão, quer a ribeira da Figueira Doida são a mesma linha de água contínua. 



A estrada que liga Montalvão e a Salavessa não foi construída, como seria lógico, utilizando o ancestral caminho dos Barros ou Barreiros Vermelhos que é contemporâneo da fundação dos dois povoados, mas foi traçada em terrenos privados que foram expropriados em final dos Anos 40 até início dos Anos 50 para fazer a estrada entre meados dos Anos 50 até início da década de 60, primeiro em terra batida, depois em macadame e finalmente alcatroada, a parte final já no início dos Anos 70.



Em 1955 (5 de junho) não havia vestígios (em cima) de qualquer estrada, mas no Verão de 1959 estava já bem definida ainda que fosse uma azinhaga-nova (em baixo). Só depois foi transformada em estrada municipal, a ligar Montalvão à Salavessa. Esta tem mais um quilómetro (oito) que a antiga azinhaga (tinha sete quilómetros) e retirou cerca de três quilómetros ao antigo caminho pelos Barros ou Barreiros Vermelhos (tinha 10,5 quilómetros) desde o Largo da Igreja.



Entre o troço do lado da Praça de Touros (com olival) até ao montado nas propriedades do «Doutor Mário», com os seus silos e depois a coutada na Fonte da Feia o certo é que este ficou com a estrada "mesmo à porta". O que era de acesso difícil ficou com ele tão facilitado que melhor era impossível, passando de um casario isolado e mal servido por uma "azinhaguinha" ligada à cumeada junto ao marco geodésico "Feia" ( talefe em «montalvanês») a ter estrada alcatroada junto à entrada. Os primeiros silos, em Montalvão, foram os do senhor Domingos Ferro. 


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Além das expropriações - embora a maior parte dos terrenos fossem do «Doutor Mário» - o troço de três quilómetros, entre a Praça de Touros, junto à «Fonte Cereja» e a ligação ao entroncamento dos dois caminhos ancestrais (azinhaga da Corredoura e caminho pelos Barros ou Barreiros Vermelhos) teve que haver trabalhos redobrados fazendo aterros (nivelar o terreno colocando sedimentos) e desaterros (cortar elevações para minimizar desníveis). Uma trabalheira. A diferença entre fazer caminhos por onde nunca se caminhara pois durante centenas de anos as populações escolhiam os espaços que mais se adequavam à utilização que pretendiam. adaptavam-se ao que a Natureza lhes tinha legado.  



A ancestral ponte sobre a ribeira de Ficalho, ainda designada ribeira da Figueira Doida pois a confluência com o ribeiro da Palmeirinha é a jusante.



As duas "extremidades" do ancestral caminho que ligava Montalvão à Salavessa. Em cima (A) o entroncamento com a Estrada Nacional n.º 359-3 que liga Montalvão a Nisa e em baixo o entroncamento (B) com o novo troço feito com a expropriação de terrenos agrícolas. 



As duas ligações (A e B) assinaladas na «Carta Corográfica de Portugal», na escala 1/50 000, folha 28-B, publicada em 1982.




A «Carta Corográfica de Portugal», na escala 1/50 000 - folha 28-B, publicada em 1956 (em baixo) ainda não tem o traçado da estrada, mas o trabalho de campo data de 1949/1951 daí que quando foi publicada já havia terrenos expropriados.



O povoado da Salavessa de Sul para Norte. A Leste (à esquerda) a  junção de duas estradas: a de ligação a Montalvão e de ligação ao Pé da Serra/São Simão, respetivamente, Estrada Municipal 526-2 e 526.



A povoação da Salavessa resulta de um latifúndio ou conjunto de grandes propriedades tão distante da povoação sede concelhia que não justificava deslocações frequentes levando ao crescimento de uma localidade para suporte das atividades rurais do extremo oeste do concelho de Montalvão. 

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Outra perspetiva do que existiu durante séculos, em termos de atividade agrícola, com a marcação da azinhaga e do caminho, para finalmente surgir a Estrada Municipal n.º 526-2, a da ligação entre os dois principais povoados («Salavôissa» em montalvanês») do outrora concelho (depois freguesia) de Montalvão.



A centenária ponte sobre a ribeira de Ficalho (nome oficial) ou da Feguêra Dôda (em montalvanês), obrigada a resistir aos frequentes incêndios florestais.
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22 dezembro 2019

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Ode ao Redondo

22 dezembro 2019 0 Comentários
O REDONDO É UM BURRO.



Mas não é um burro qualquer
Foi o meu burro, é o meu burro
Até para comer bem colhia-lhe um malmequer

Também não era todo meu
Tinha-o por empréstimo parte do ano
Era meu nos meses de Verão, é meu
Em mim confiava para cuidar dele o seu amo

Quando me via passado quase um ano
Arrebitava as orelhas guinando-as, juntas
Não gostava que nelas tocassem
Gostava, sim, de cócegas entre elas, na testa
Em meados de junho de cada ano era uma festa


Estava o Redondo destinado ao trabalho
De uma qualquer tapada
Para um curral que era plural
Tanto podia ser no Lagar como no Pontão
Em dias quentes e secos podia alterar  
Ficava em liberdade, mas peado, ao Luar

Do Monte Pombo para a rua das Almas
Pela azinhaga do Level
Da Fonte Cereja para o Lagar
Pela rua de Ferro
Carregado, a sacas, nas angarelas, devagar
Cansado, para ser preso, na argola de ferro
Descarregava para a Casa ou o Lagar 
Descarregar, carregar, descarregar
O Redondo viveu destinado ao trabalho

Da Charneca para o Lagar
Garboso quando o trato era puxar carroça
Esticava o corpo forte e trabalhado
Entre o trabalho feito e o descanso
Carregar, descarregar, carregar
Touriles a subir, Corredoura fora, Azinhaga abaixo
Descarregar, carregar, descarregar
O Redondo viveu destinado ao trabalho

Do Lamaceiro para o Pontão
Atalho para encurtar canseira
Que pela azinhaga dava menos carreiros
Num dia da seca trovoada costumeira
Um raio fulmina o sobreiro
Tudo sobressaltado, sim
Menos ele, sereno e à espera de seguir
Aquele Mundo não era o dele
O trabalho, sim

Da Cereijeira para a rua de São Pedro
Poucas vezes o fez
Arreata presa na argola
Sacas à porta, esperar decisões
De pé, ferraduras no ponedro
Descarregar, carregar, descarregar
O Redondo viveu destinado ao trabalho

Levantar, escovar, limpar
Cilha, argola, arroche e ajuste
Preparar para albardar
É o que faz ter vida para trabalhar
Cabresto, arreata e firmeza
Pronto para mais uma viagem
É o que faz ser vida para trabalhar

Em dias quentes e de desconforto
Espojava-se numa nuvem de pó
Quando me via levantava-se
Sentia que sujo de pó
Sujaria quem, depois, mais ninguém teria dó
Talvez eu não o tivesse visto no meio do pó! 

Uma vez
Das raras vezes que foi à argola
Da casa na rua de São Pedro
Chovia a cântaros e ninguém em casa
Tive pena e tentei levá-lo para dentro da sala
Recusou, especou e não entrou
Sentiu que quem estava errado era eu
Se tem entrado e depois fosse visto
Quem levava a tareia era eu
 
Sempre que fez mal
Nunca foi por ser mau
Nem ele o queria
Foi para me mostrar
A sorte que tinha em o ter a ele
E como o sabia demonstrar 
Outro burro, sim, seria mau
Ele só estava a mostrar o bem que me queria

Depois teve que desaparecer
Mudou de dono
Nunca deixou de ser o meu burro
Mas não podia deixar Montalvão
Abandonar os ponedros
E estacionar no jardim da Graça
Ficar em Lisboa seria a sua desgraça

Melhor foi andar à palha
Que roçar flores
E dar coices em curiosos
Que ele não era para jogar à malha

Teria, agora, uns sessenta anos
Tem sessenta anos
O Redondo nunca morreu
A memória dele faz parte de mim
O burro está visto, sobreviveu
O Redondo viverá dentro de mim
Enquanto eu viver


Ode é Elogio



Ode ao Redondo

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21 dezembro 2019

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Animais Preciosos

21 dezembro 2019 0 Comentários
EM TANTOS SÉCULOS MUITAS ESPÉCIES ANIMAIS FORAM FUNDAMENTAIS PARA A EXISTÊNCIA DE MONTALVÃO.



Tratando-se este blogue de um espaço que tem como objeto a divulgação da História e Cultura de Montalvão eles não podem ser ignorados. Fazer de conta que não existiram seria uma forma de os desprezar.

Sem os animais não era possível existir Montalvão.

Sem criação de animais, com destaque para o porco, mas também galinhas e coelhos, entre outras, uma povoação nunca existiria pois carecia de alimentação para ser saudável e resistente.

Sem rebanhos - ovelhas, cabras e vacas - seria impossível ter suplemento em lã, pele e carne, além do leite e seus derivados, com destaque para o queijo.  

Sem gado para auxiliar nas tarefas agrícolas e no transporte, bem como na existência de fertilizantes (estrume) - cavalos/éguas, vacas/bois, machos/mulas e burros/burras - era impossível sobreviver em terrenos tão inóspitos e difíceis de trabalhar para produzir o suficiente que suportasse a vida dos montalvanenses.  

Nos Anos 70 até mesmo, Anos 80, era quase certo que havia animais, domesticados pelos montalvanenses, que descendiam de antepassados com a idade da própria fundação de Montalvão, no século XIII, passando de geração em geração até chegarem ao final do século XX. 

Em época de Natal e de Presépio, sendo este uma encenação do divino num ambiente rural, surgiu a ideia de dignificar mais um elemento fundamental para a existência e manutenção secular de Montalvão. É intenção de neste blogue se escrever acerca dos animais que foram suporte fundamental e essencial à vida dos montalvanenses. Está previsto começar a fazê-lo no segundo semestre de 2020. 

A maior parte dos textos publicados neste blogue versam documentos que foram "caindo no colo" quase por acaso em mais de 30 anos de outras pesquisas e investigações. Nunca houve uma pesquisa dirigida para temas de Montalvão. Foi no âmbito de outras investigações que, em cerca de três decénios, em Portugal e no estrangeiro, foram surgindo documentos, desde 1278 até à atualidade, de um modo lateral pois o centro das pesquisas não era Montalvão. Este surgia entre outras pesquisas e como é evidente, para um montalvanense, havia que recolher em vez de ignorar. Mas sendo este um blogue, por isso havendo sempre um foco de interesse pessoal, por muito que se queira ser imparcial e racional seria injusto não fazer destaques tendo em conta a vivência pessoal com tudo o que se relacione com Montalvão. Um blogue nunca será uma tese científica. Para isso existem outros meios, técnicas e formas. Será sempre um espaço onde se divulga informação que se entende ser do interesse para registar a História e Cultura de Montalvão mas também para opinar, destacar e enaltecer ou agradecer. Quer com pessoas, quer de situações, quer mesmo de relações de empatia com animais. Os animais que por serem tão importantes para os montalvanenses eram quase como mais um membro da família ainda que tendo a especificidade própria do que eram: animais e não pessoas. 

Amanhã será o tempo certo de evocar o que tem de ser feito.
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18 dezembro 2019

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Vamos à Póvoa

18 dezembro 2019 0 Comentários
PÓVOA E MEADAS É UM POVOADO MUITO MAIS RECENTE QUE MONTALVÃO.



A estrada (outrora caminho) que a liga a Montalvão é, no entanto, muito mais antigo. Tão antigo quanto Montalvão pois era a ligação de Montalvão a Castelo de Vide e deste a Castelo Branco por Montalvão via Lomba da Barca, onde se atravessava o rio Tejo. 


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A atual povoação de Póvoa e Meadas resultou da construção de edifícios nesse caminho que ligava Castelo Branco a Castelo de Vide. 

Não há aqui, neste blogue, qualquer interesse em fazer a história de Póvoa e Meadas. Só para fazer o enquadramento, pois para Montalvão o local onde se edificou, foi durante mais de um século, uma passagem.



"As Meadas", essas sim, são praticamente contemporâneas de Montalvão - uns anos, poucos, mais recentes - embora fossem um lugarejo quando comparadas com Montalvão. As Meadas resultam de um grande latifúndio romano que por sua vez têm origem numa ocupação ancestral (alguns dos menires e construções mais majestosas da Ibéria localizam-se no concelho de Castelo de Vide com a freguesia de Póvoa e Meadas, em destaque) mas com fraca densidade populacional. Aliás, toda a freguesia de Póvoa e Meadas é um conjunto de grandes latifúndios de origem romana a que depois se juntou um conjunto de habitações, construídas junto ao caminho que unia Montalvão a Castelo de Vide e este a Castelo Branco. 



As Meadas tiveram Foral, em 1348, mas Póvoa e Meadas só o vai ter em 1511, por isso é provável que a tentativa de povoamento ordenado pelo Poder Real (Dom Fernando) - daí o termo Póvoa - tenha ocorrido durante o século XV, nunca antes de 1426, talvez muito depois. Há notícias de um lugarejo, em 1435, mas percebe-se que «As Meadas», mesmo pouco povoadas, eram "mais importantes" que «A Póvoa». 



No Numeramento de 1527 («Cadastro da População do Reino») a "Póvoa" tinha 63 moradores (famílias, edifícios ou fogos) não tendo mais no seu termo (concelho). Montalvão tinha 153 moradores e mais 28 "em casaes apartados" (edifícios isolados ou juntos mas afastados do principal povoado). Tendo em conta o coeficiente de 4,5 pessoas por "fogos" utilizado pelos demógrafos, um concelho com 815 habitantes, tendo 689 pessoas no aglomerado principal, em Montalvão. Em "Póvoa e Meadas" (todo o concelho) habitavam 284 pessoas. O concelho de Montalvão era quase três vezes mais povoado, embora fosse também, 1.6 superior em superfície (quase o dobro).

A análise importante em relação tudo o que está escrito é a relativização do mesmo assunto. Quando se escreve "estrada entre Montalvão e a Póvoa e Meadas" é uma simplificação, pois ela foi construída no caminho antiquíssimo (século XIII) entre Montalvão e Castelo de Vide. Nesse caminho, no século XV, surgem edifícios ao longo do mesmo para serem habitados por famílias que beneficiaram da "doação" de terras para haver repovoamento num espaço demasiado vasto para estar desertificado em pessoas.

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Para instalar um aglomerado populacional (minorando a desertificação humana) junto do ancestral caminho, entre Montalvão e Castelo de Vide, a localização da Póvoa é "perfeita". É o sítio onde há maior abundância, em quantidade e qualidade, de água superficial e subterrânea, pois a ribeira da Ameixoeira corre paralela ao caminho. Bem diferente do que ocorria em "As Meadas", típico Povoado Romano em área agrícola adversa. quanto à localização de «Póvoa e Meadas» não é por acaso que a água canalizada em Montalvão é extraída junto à Póvoa e Meadas, seguindo em canalização subterrânea (curiosamente paralela à azinhaga - por ser em linha reta) até ao «Depósito»)

Como era comum em todo o espaço, português ou mundial, havia sempre - pelo menos dois - caminhos alternativos no espaço rural ou periurbano. Um de todo o ano utilizando a linha de festos (topos ou cumeadas) organizado entre sub-bacias hidrográficas, por isso permitindo a utilização mesmo de Inverno ou o transporte de veículos de tração animal (carros (mulas/éguas e machos/cavalos), carroças (burros e burras) e carretas (vacas e bois). Era um percurso mais longo, mas mais seguro e perene. Depois havia uma alternativa mais rápida, por "montes e vales" utilizando e atravessando linhas de água. Algumas vezes impraticáveis em dias/semanas de forte invernia mas geralmente possível de utilizar todo o ano, por pessoas ou um animal sem estar atrelado a um veículo. O caminho entre Montalvão e a Póvoa e Meadas não foi exceção.


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A estrada em macadame (depois alcatroada) foi construída no caminho que ligava Montalvão a Castelo de Vide e depois ficou com Póvoa e Meadas de permeio. O caminho foi organizado na linha de festos ou topos - por isso segue pela linha com marcos geodésicos («talefes» em montalvanês) como Boto e Atalaia I - que divide as sub-bacias hidrográficas do rio Tejo (para a esquerda) das sub-bacias hidrográficas do rio Sever (para a direita), com destaque para a da ribeira de São João que nasce junto à judiaria de Castelo de Vide. A Fonte Ferrenha (na azinhaga de Montalvão para Castelo de Vide/Póvoa e Meadas/São Silvestre é uma das nascentes do ribeiro de Fivenco ou Fevêlo

A cartografia não deixa margem para dúvidas quanto ao caminho habitual. Era o mais direto e rápido. A azinhaga pela Fonte Ferranha e o São Silvestre.




O caminho começou a ser transformado em estrada de macadame de Montalvão para a Póvoa e Meadas. Numa primeira fase até à divisão (ao marco geodésico do Boto, em montalvanês "talefe") entre o caminho (pela linha de festos ou topos entre as duas sub-bacias hidrográficas) e a azinhaga (pela Fonte Ferranha e São Silvestre).

    
A estrada de macadame (depois alcatroada) seguiu pelo caminho dos topos por ser menos oneroso (evitava viadutos, em particular uma ponte rodoviária por cima do ribeiro de Fivenco e Fonte Ferranha), seguro (menos declives) apesar de mais longo. A estrada, entre 1934 e 1938, ficou concluída em macadame.



O Município de Castelo de Vide (a estrada era municipal) fez um pequeno troço em macadame até ao limite do concelho (também freguesia de Póvoa e Meadas). 




Clicar para página integral da publicação arquivada na Hemeroteca cda Câmara Municipal de Lisboa (aqui)

Mais tarde, final dos anos 30, o Município de Nisa, terminou a ligação entre o marco geodésico do Boto e o limite do concelho (também freguesia de Montalvão) ligando os dois troços iniciais, do lado de Montalvão e do lado de Póvoa e Meadas.


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Agora é utilizar a estrada (antigo caminho) enquanto for possível. A azinhaga já era...

NOTA: Triste é querer ir à Fonte Ferrenha ou ao São Silvestre e ter que ir "quase à Póvoa e Meadas" pelo facto dos caçadores e o desleixo de quem tem mandado no executivo da Junta de Freguesia o terem permitido. Uns e os Outros... Uns (caçadores) por terem tomado conta da ancestral azinhaga para Castelo de Vide, Póvoa e Meadas, São Silvestre e Fonte Ferrenha e outros (autarcas) por a terem abandonado, estando intransitável. Há uns dois anos era impossível a sua utilização, entretanto pode ter havido modificações que só quem anda por aqueles lados saberá, embora não acredite embora gostasse de estar enganado! Pois é... já fica longe... não é útil... quase na Póvoa!
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11 dezembro 2019

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Os Ferreiros

11 dezembro 2019 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE FERREIROS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.



Só conheci o último ferreiro de Montalvão. No apogeu demográfico e social, entre os Anos 40 e a década de 50, houve o Ti Mané Calvanista da rua do Arrabalde, o Ti António Jaquim na rua de São Pedro e ainda o Ti Juan Drumédes da rua da Barca (antes, na mudança dos Anos 40 para 50, no ano de 1950, ferrava na oficina de carpintaria do pai na rua das Almas). Este foi o último ferreiro de Montalvão. De todos eles, o mais novo a começar o ofício e, por isso, o último a terminar.

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Os ferreiros eram fundamentais pois além de fazerem toda a espécie de ferragens, desde pás, a forquilhas, arados, enxadas e trincos, complementavam muito do que os carpinteiros faziam e necessitavam de juntar saberes pois as rodas eram ferradas e raro era o utensílio em ferro que não tinha o cabo ou a pega em madeira. 



Só recordo um. O Ti Juan Drumédes com oficina na rua da Barca. Conheci-o bem.




O ÚLTIMO FERREIRO DE MONTALVÃO

Com pai carpinteiro foi mandado aprender ofício
Para ajudar a compor a carpintaria no que falta fizesse
Mais umas rodas de carroça, mais uns aros à volta delas
O primogénito soube seguir bem depressa de aprendiz a Mestre
E passou a vida a malhar o ferro, à volta da bigorna 
Com martelo ritmado aproveitando o ferro em brasa saído da forja



Encaixados ou em soldadura das suas mãos e cabeça floresceram
Portas e janelas que foram mudando as que seu pai fizera em madeira aos repelões
Trincos, ferrolhos e linguetas numa cornucópia de saberes e utilidades
Portões e cercaduras bem urdidas que ainda povoam as ruas de Montalvão



E o tempo foi passando e o trabalho escasseando
A idade também passou e em final de ferraria soube terminar como inovador 




Fez do ferro filigrana
Da soldadura versos em rima
Da composição gotas de artista
Dos recortes traço de retratista
Da harmonia a matéria prima
Sonetos de espiga com pragana



Dobrou o frio metal em lava com sabor a néctar   
Transformou pedaços de ferro em pétalas de poesia
Podia ter feito mais. Muito mais. Mas fez as suficientes. E mais que pensar fazer... 

Fez!



Conheci bem o último ferreiro de Montalvão. E gostei



Próxima "paragem": os Ferradores
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27 novembro 2019

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Da Guarda a Montalvão 820 Anos

27 novembro 2019 0 Comentários
HÁ 820 ANOS, EM 27 DE NOVEMBRO DE 1199, O REI DOM SANCHO I CONCEDIA CARTA DE FORAL A UM LUGAR - GUARDA - COM POUCA IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA NA ÉPOCA MAS QUE DEVIDO A ESTA CONCESSÃO VAI SER FUNDAMENTAL PARA A FUNDAÇÃO DE MONTALVÃO.


Embora há 820 anos ninguém percebesse. Mas isso não é sequer questão. O Futuro a Deus pertence.  



Esta efeméride, com 820 anos, não estando relacionada diretamente com Montalvão terá importância mais de setenta anos depois, para o aparecimento da povoação que foi o concelho mais a norte do norte do Alentejo e ainda é a freguesia mais ao alto do Alto Alentejo.



Entre a Guarda e Montalvão distam cerca de 110 quilómetros em linha reta. Além de alguns dias de caminho, em 1199 e durante muitos séculos depois. Mas, com Diocese em 1203, tendo suporte papal, depressa entendeu que havia muito território a ocupar impondo regras e concedendo proteção divina, reivindicando o direito episcopal ao território outrora pertencente ao Islão. A Guarda herdou o estatuto, em importância e prestígio da antiquíssima povoação sueva - convertida e fonte fecunda do cristianismo no oeste da Ibéria - Egitânia (Idanha-a-Velha) daí os naturais e habitantes da Guarda se denominarem egitanienses, mesmo a mais de seis dezenas de quilómetros a norte de Idanha-a-Velha! A Diocese da Guarda depressa revelou o que se esperava: ser expansionista, principalmente, para sul. Por exemplo, até Idanha-a-Velha (modelo cristão transferido para a Diocese da Guarda) pertencia aos «Templários» pois fazia parte da margem norte (em relação ao rio Tejo) da "Herdade da Açafa" cedida pelo rei de Portugal à Ordem do Templo.




Só que ao expandir-se para o Sul vai encontrar resistência no território que o mesmo rei D. Sancho I concedera à «Ordem Militar dos Cavaleiros Pobres do Templo de Salomão», alguns meses ou 145 dias antes (5 de julho de 1199). Os «Templários» vão cedendo face ao poder crescente do Bispo da Guarda mas conseguem, aproveitando a fronteira natural que o rio Tejo permitia, conservar o território na margem esquerda desse rio.

Mas foi um confronto desigual. De um lado um Bispado poderoso e do outro frades, igualmente poderosos, mas sem o poder de um Bispado. Apesar de guerreiros, intrépidos e orgulhosos, a Ordem dos Cavaleiros Templo só podia adiar até ao limite perder o poder absoluto - religioso, económico e social, incluindo o criminal - com que geria o território que pacificara e povoara. Algumas povoações foram mesmo fundadas ou tiveram forte proteção dos «Templários». 



A "Herdade da Açafa" foi um espaço durante décadas trespassado pelo conflito entre cristãos e muçulmanos com os leoneses "à espreita". Esta espécie de território único que ia passando de uns para outros foi constituindo uma espécie de "unidades territoriais menores" para melhor ser organizado e administrado, os concelhos. Entre eles Montalvam ou Montealvaõ que durante anos, até ao final do século XIII teve, certamente, poucos habitantes e dispersos por todo o concelho, nos lugares onde a sobrevivência de núcleos familiares restritos estava mais facilitada pelas características geográficas, tal como ocorria desde a Pré-história, sem formarem qualquer núcleo populacional importante. Mas a necessidade de afirmação da Diocese da Guarda obrigou-a a adquirir direitos episcopais, englobando a riqueza, mesmo que escassa, produzida num território praticamente desertificado em termos demográficos. Até Nisa - bem localizada e com condições geográficas (solos, topografia e clima - humidade e temperatura) mais favoráveis que todo o restante território da Açafa a sul do rio Tejo - teve dificuldade, no imediato, em conseguir fazer crescer a população. 


Delimitação (reconstrução sobre mapa do século XVII) do território que irá estar excomungado pelo Bispo da Guarda, entre 1242 e 1287


O conflito vai gerar uma forte reação do Bispo da Guarda que excomunga, a partir de 1242, tudo o que era território reivindicado pelo Bispado mas recusado pela Ordem do Templo. São décadas de conflito latente sem desenvolvimento eficaz. Há ações pontuais para "libertar" território reivindicado. É destas que surge a possibilidade de povoar um Monte enorme, perfeito na orientação nascente/poente, ermo, que estava como que suspenso, atingindo no horizonte as serranias a dezenas de quilómetros em todos os sentidos e dominando uma vasta peneplanície limitada por quatro cursos de água que a isolam do resto do território: rio Tejo, rio Sever (afluente do rio Tejo), ribeira de Nisa (afluente do rio Tejo) e ribeira de São João (afluente do rio Sever).            


Eis Montalvão a surgir quase do nada em termos demográficos que não geográficos e sóciopolíticos. 
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25 novembro 2019

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José Pedro Martins Barata 41

25 novembro 2019 0 Comentários
COMPLETAM-SE HOJE 41 ANOS DO FALECIMENTO DO MONTALVANENSE POR ADOPÇÃO, JOSÉ PEDRO MARTINS BARATA.



A propósito dele já houve dois textos neste blogue:
O primeiro para assinalar dos 40 anos do seu falecimento (clicar);
O segundo para comemorar os 123 anos do seu nascimento (clicar).



E ficou prometida uma recensão crítica ao seu trabalho acerca de Montalvão que será sobre os textos escritos, visto que a obra fotográfica publicada é muito parcelar, embora já de grande qualidade.


Conheci e falei (pouco...) com o homenageado
Eu como habitual frequentador, no Verão, da carpintaria do Ti Zé Caratana e ele como curioso para dialogar com o dono da carpintaria, na rua das Almas. Como é evidente estava longíssimo de imaginar, no início dos Anos 70, a importância do "Senhor da Póvoa" para o conhecimento de Montalvão embora tenha ficado desde essa data com três opúsculos:
- «Apontamentos sobre a fala viva de Montalvão no extremo-norte alentejano» (1966);
- «As Xácolas em Montalvão e em Póvoa e Meadas no extremo-norte alentejano» (1966);
- «Tradições religiosas em Montalvão e em Póvoa e Meadas no extremo-norte alentejano» (1969).
A que fui acrescentando "informação". 

Recensão crítica
São documentos importantes que mostram, primeiro a dedicação à aldeia dos seus antepassados e depois paixão pelo que via. Montalvão era uma espécie de umbigo do Mundo como se depois fosse o próprio Mundo. O isolamento se trouxe angústia e dificuldades, por outro lado preservou a identidade secular trazendo-a até ao século XX. Ele percebeu isso e escreveu-o deixando um legado de valor incalculável. Não há "bela sem senão". Mas a mais não era obrigado. Faltou registar em som a «fala viva» de Montalvão pois as palavras que anotou não eram pronunciadas como as escreveu. Além de centenas de expressões e termos únicos, como:  alárve (palerma), bouchêgo (pêssego), campreádo (inconveniente), férra (pá doméstica), manhouva (indeciso), paparou (desajeitado), tronchas (às costas) ou xaringár (incomodar). Todos sabemos que até um "simples" buraco é... bureque em Montalvão!

O muito obrigado é sempre pouco para quem tanto fez e deixou!

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