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28 dezembro 2019

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Vamos à Salavessa

28 dezembro 2019 0 Comentários
UMA AZINHAGA, UM CAMINHO E DEPOIS UMA ESTRADA PRATICAMENTE FEITA (METADE TENDO OITO QUILÓMETROS) COM EXPROPRIAÇÕES PRESCINDINDO DO ESPAÇO PÚBLICO.



Algo que não obedeceu ao critério que existia, e que foi por exemplo, realizado na estrada entre Montalvão e a Póvoa e Meadas. Utilizar o caminho mais fiável para transformá-lo em estrada. A estrada de Montalvão para a Salavessa envolveu expropriação de terrenos agrícolas e a não utilização do ancestral caminho pelos Barros ou Barreiros Vermelhos que, como era comum no espaço rural, utilizava as cumeadas para poder ser utilizado todo o ano.  

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A azul a azinhaga que ligava o final da Corredoura ao entroncamento com o caminho dos Barros ou Barreiros Vermelhos. Era um caminho de cumeada (a vermelho) que depois continuava do mesmo modo para a Salavessa. O caminho pela azinhaga era mais rápido mas não permitia a circulação de veículos de tracção animal. Estes tinham de seguir pela estrada para Nisa e depois virar à direita nos Barros ou Barreiros Vermelhos, fazer a cumeada (linha de festos ou topos) ligando Montalvão à Salavessa sempre pela cumeada, ou seja, permitindo circular todo o ano (Inverno ou Verão) e utilizar carroças, carros ou carretas (embora em menor número).



A linha de cumeada (topos ou festos) divide as duas principais sub-bacias de afluentes da bacia hidrográfica do rio Tejo que têm confluência com este junto da Salavessa. O ribeiro de Fivenco ou Fevêlo a Sul da Salavessa e a ribeira de Ficalho a Norte da Salavessa. Como é habitual em Montalvão há nomes diferentes para acidentes ou formas geográficas oficiais. A ribeira de Ficalho é composta por troços com nomes diferentes: o troço mais a montante começa com dois ribeiros (a sul o da Aleitosa e a norte o do Pontão. Na confluência destes passa a denominar-se ribeira da Figueira Doida. Depois há o ribeiro da Palmeirinha que corre ao longo da cumeada e na confluência com a ribeira da Figueira (Feguêra) Doida passa a denominar-se ribeira de Ficalho. Oficialmente a ribeira de Ficalho é só uma linha de água, como é evidente, pois quer o ribeiro do Pontão, quer a ribeira da Figueira Doida são a mesma linha de água contínua. 



A estrada que liga Montalvão e a Salavessa não foi construída, como seria lógico, utilizando o ancestral caminho dos Barros ou Barreiros Vermelhos que é contemporâneo da fundação dos dois povoados, mas foi traçada em terrenos privados que foram expropriados em final dos Anos 40 até início dos Anos 50 para fazer a estrada entre meados dos Anos 50 até início da década de 60, primeiro em terra batida, depois em macadame e finalmente alcatroada, a parte final já no início dos Anos 70.



Em 1955 (5 de junho) não havia vestígios (em cima) de qualquer estrada, mas no Verão de 1959 estava já bem definida ainda que fosse uma azinhaga-nova (em baixo). Só depois foi transformada em estrada municipal, a ligar Montalvão à Salavessa. Esta tem mais um quilómetro (oito) que a antiga azinhaga (tinha sete quilómetros) e retirou cerca de três quilómetros ao antigo caminho pelos Barros ou Barreiros Vermelhos (tinha 10,5 quilómetros) desde o Largo da Igreja.



Entre o troço do lado da Praça de Touros (com olival) até ao montado nas propriedades do «Doutor Mário», com os seus silos e depois a coutada na Fonte da Feia o certo é que este ficou com a estrada "mesmo à porta". O que era de acesso difícil ficou com ele tão facilitado que melhor era impossível, passando de um casario isolado e mal servido por uma "azinhaguinha" ligada à cumeada junto ao marco geodésico "Feia" ( talefe em «montalvanês») a ter estrada alcatroada junto à entrada. Os primeiros silos, em Montalvão, foram os do senhor Domingos Ferro. 


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Além das expropriações - embora a maior parte dos terrenos fossem do «Doutor Mário» - o troço de três quilómetros, entre a Praça de Touros, junto à «Fonte Cereja» e a ligação ao entroncamento dos dois caminhos ancestrais (azinhaga da Corredoura e caminho pelos Barros ou Barreiros Vermelhos) teve que haver trabalhos redobrados fazendo aterros (nivelar o terreno colocando sedimentos) e desaterros (cortar elevações para minimizar desníveis). Uma trabalheira. A diferença entre fazer caminhos por onde nunca se caminhara pois durante centenas de anos as populações escolhiam os espaços que mais se adequavam à utilização que pretendiam. adaptavam-se ao que a Natureza lhes tinha legado.  



A ancestral ponte sobre a ribeira de Ficalho, ainda designada ribeira da Figueira Doida pois a confluência com o ribeiro da Palmeirinha é a jusante.



As duas "extremidades" do ancestral caminho que ligava Montalvão à Salavessa. Em cima (A) o entroncamento com a Estrada Nacional n.º 359-3 que liga Montalvão a Nisa e em baixo o entroncamento (B) com o novo troço feito com a expropriação de terrenos agrícolas. 



As duas ligações (A e B) assinaladas na «Carta Corográfica de Portugal», na escala 1/50 000, folha 28-B, publicada em 1982.




A «Carta Corográfica de Portugal», na escala 1/50 000 - folha 28-B, publicada em 1956 (em baixo) ainda não tem o traçado da estrada, mas o trabalho de campo data de 1949/1951 daí que quando foi publicada já havia terrenos expropriados.



O povoado da Salavessa de Sul para Norte. A Leste (à esquerda) a  junção de duas estradas: a de ligação a Montalvão e de ligação ao Pé da Serra/São Simão, respetivamente, Estrada Municipal 526-2 e 526.



A povoação da Salavessa resulta de um latifúndio ou conjunto de grandes propriedades tão distante da povoação sede concelhia que não justificava deslocações frequentes levando ao crescimento de uma localidade para suporte das atividades rurais do extremo oeste do concelho de Montalvão. 

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Outra perspetiva do que existiu durante séculos, em termos de atividade agrícola, com a marcação da azinhaga e do caminho, para finalmente surgir a Estrada Municipal n.º 526-2, a da ligação entre os dois principais povoados («Salavôissa» em montalvanês») do outrora concelho (depois freguesia) de Montalvão.



A centenária ponte sobre a ribeira de Ficalho (nome oficial) ou da Feguêra Dôda (em montalvanês), obrigada a resistir aos frequentes incêndios florestais.
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