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27 novembro 2019

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Da Guarda a Montalvão 820 Anos

27 novembro 2019 0 Comentários
HÁ 820 ANOS, EM 27 DE NOVEMBRO DE 1199, O REI DOM SANCHO I CONCEDIA CARTA DE FORAL A UM LUGAR - GUARDA - COM POUCA IMPORTÂNCIA GEOPOLÍTICA NA ÉPOCA MAS QUE DEVIDO A ESTA CONCESSÃO VAI SER FUNDAMENTAL PARA A FUNDAÇÃO DE MONTALVÃO.


Embora há 820 anos ninguém percebesse. Mas isso não é sequer questão. O Futuro a Deus pertence.  



Esta efeméride, com 820 anos, não estando relacionada diretamente com Montalvão terá importância mais de setenta anos depois, para o aparecimento da povoação que foi o concelho mais a norte do norte do Alentejo e ainda é a freguesia mais ao alto do Alto Alentejo.



Entre a Guarda e Montalvão distam cerca de 110 quilómetros em linha reta. Além de alguns dias de caminho, em 1199 e durante muitos séculos depois. Mas, com Diocese em 1203, tendo suporte papal, depressa entendeu que havia muito território a ocupar impondo regras e concedendo proteção divina, reivindicando o direito episcopal ao território outrora pertencente ao Islão. A Guarda herdou o estatuto, em importância e prestígio da antiquíssima povoação sueva - convertida e fonte fecunda do cristianismo no oeste da Ibéria - Egitânia (Idanha-a-Velha) daí os naturais e habitantes da Guarda se denominarem egitanienses, mesmo a mais de seis dezenas de quilómetros a norte de Idanha-a-Velha! A Diocese da Guarda depressa revelou o que se esperava: ser expansionista, principalmente, para sul. Por exemplo, até Idanha-a-Velha (modelo cristão transferido para a Diocese da Guarda) pertencia aos «Templários» pois fazia parte da margem norte (em relação ao rio Tejo) da "Herdade da Açafa" cedida pelo rei de Portugal à Ordem do Templo.




Só que ao expandir-se para o Sul vai encontrar resistência no território que o mesmo rei D. Sancho I concedera à «Ordem Militar dos Cavaleiros Pobres do Templo de Salomão», alguns meses ou 145 dias antes (5 de julho de 1199). Os «Templários» vão cedendo face ao poder crescente do Bispo da Guarda mas conseguem, aproveitando a fronteira natural que o rio Tejo permitia, conservar o território na margem esquerda desse rio.

Mas foi um confronto desigual. De um lado um Bispado poderoso e do outro frades, igualmente poderosos, mas sem o poder de um Bispado. Apesar de guerreiros, intrépidos e orgulhosos, a Ordem dos Cavaleiros Templo só podia adiar até ao limite perder o poder absoluto - religioso, económico e social, incluindo o criminal - com que geria o território que pacificara e povoara. Algumas povoações foram mesmo fundadas ou tiveram forte proteção dos «Templários». 



A "Herdade da Açafa" foi um espaço durante décadas trespassado pelo conflito entre cristãos e muçulmanos com os leoneses "à espreita". Esta espécie de território único que ia passando de uns para outros foi constituindo uma espécie de "unidades territoriais menores" para melhor ser organizado e administrado, os concelhos. Entre eles Montalvam ou Montealvaõ que durante anos, até ao final do século XIII teve, certamente, poucos habitantes e dispersos por todo o concelho, nos lugares onde a sobrevivência de núcleos familiares restritos estava mais facilitada pelas características geográficas, tal como ocorria desde a Pré-história, sem formarem qualquer núcleo populacional importante. Mas a necessidade de afirmação da Diocese da Guarda obrigou-a a adquirir direitos episcopais, englobando a riqueza, mesmo que escassa, produzida num território praticamente desertificado em termos demográficos. Até Nisa - bem localizada e com condições geográficas (solos, topografia e clima - humidade e temperatura) mais favoráveis que todo o restante território da Açafa a sul do rio Tejo - teve dificuldade, no imediato, em conseguir fazer crescer a população. 


Delimitação (reconstrução sobre mapa do século XVII) do território que irá estar excomungado pelo Bispo da Guarda, entre 1242 e 1287


O conflito vai gerar uma forte reação do Bispo da Guarda que excomunga, a partir de 1242, tudo o que era território reivindicado pelo Bispado mas recusado pela Ordem do Templo. São décadas de conflito latente sem desenvolvimento eficaz. Há ações pontuais para "libertar" território reivindicado. É destas que surge a possibilidade de povoar um Monte enorme, perfeito na orientação nascente/poente, ermo, que estava como que suspenso, atingindo no horizonte as serranias a dezenas de quilómetros em todos os sentidos e dominando uma vasta peneplanície limitada por quatro cursos de água que a isolam do resto do território: rio Tejo, rio Sever (afluente do rio Tejo), ribeira de Nisa (afluente do rio Tejo) e ribeira de São João (afluente do rio Sever).            


Eis Montalvão a surgir quase do nada em termos demográficos que não geográficos e sóciopolíticos. 
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