DURANTE SÉCULOS A POPULAÇÃO DE MONTALVÃO MANTEVE-SE ABAIXO DE UM MILHAR.
Muitos nascimentos mas também muitos óbitos. Os "anjinhos" - bébés que morriam logo após nascerem ou nas semanas seguintes - tiveram durante décadas (séculos) números impressionantes.
As diferenças entre os nascimentos e as mortes eram praticamente iguais daí o crescimento populacional na freguesia ser diminuto até que...as vacinas tudo mudaram. Na primeira parte já se escreveu acerca das «catchópas» e ficou prometido fazer o mesmo para os «catchôpos». Como o prometido é devido.
NOTA: Um agradecimento muito sentido, para a disponibilidade, prontidão e qualidade no desempenho, a um «catchúpinhe» nascido em 14 de março de 1939 - teria pouco mais de oito anos quando a fotografia foi obtida - e que possibilitou completar e resolver algumas dúvidas que existiam na identificação de...85 «catchôpos», em princípio, por Maio de 1947: José da Graça de Matos (Zé Bôiana).
Num "belo dia" saíram do edifício da Escola, na rua de São Pedro, seguiram pela Praça da República e em frente à porta da Igreja Matriz registaram o momento para a posteridade os alunos da primeira classe (entraram neste ano letivo de 1946/47) até aos da quarta classe (tinham entrado em 1943/44). Coube a estes «catchúpinhos» da primeira classe e outros repetentes, já na quarta classe, inaugurarem as novas instalações da Escola Primária de Montalvão em 1949/50, como ficou escrito neste blogue (clicar). As «catchópas» também ficaram para a posteridade fotografadas (clicar). Numa tentativa de dar o nome - embora seja melhor consultar o "montalvanês" (clicar) e indicar por onde viviam aquando da sua frequência na Escola Primária, a "esta pequena multidão impressionante de quase...cem rapazes":
Professor: Senhor Domingues Autunes (à direita):
01. Júan (Sena) na Corredoura junto do 49.
02. Júan Moruje (Goulã) na rua do Cabo
03. Jaquim (Pé-cochinho) irmão do 25. na rua de São Pedro
04. Malaquias, irmão do 71. na rua de São Pedro para a Praça da República
05. Bento Zé Fraústo na rua do Arneiro
06. Clarinha (filho do Ti Arel) irmão do 12. na rua da Barca
07. Júan Maria (Craveiro) na rua do Arneiro
08. Jaquim Maria (Guia) no «Fundo da Rua»
09. Tónhe (da Pombinha) na rua da Barca
10. Tónhe (Canilhas) na rua Direita
11. Zé Barreto (Barrete) na rua Direita
12. Meguel (filho do Ti Arel) irmão do 6. na rua da Barca
13. Rodolfe na Corredoura
14. Júan dos Santos na Corredoura
15. Manél (Maneta) na rua da Costa
16. Júan Leirinha (Pêrro) irmão do 48. na rua de Direita
17. Júan Moruje (Ganhã) na rua da Costa
18. Zé Bello na rua de São Pedro
19. Jenuére (Pândega) na rua do Hospital
20. Zé Mouréte (filho do ti Antero) na rua de São Pedro
21. Júan (Foguete) na rua ?
22. Zé Gorrinha no Santo André
23. Tónhe Lopes (irmão da Tchá Roberta) na rua de São Pedro
24. Júan (Cantchã) no Sítio do Bernardino
25. Eugéne (irmão do Pé Coxinho, o 3., na rua de São Pedro
26. Júan (Xêra) no Sítio do Bernardino
27. Tónhe (Pirête) na Porta de Baixo
28. Zé (Xica) na rua do Ferro, a chegar aos Touriles
29. ?
30. Tónhe Leirinha na rua Direita
31. Menine Jaquim Ferro na Praça da República
32. Tónhe (Boneque) no Santo André
33. Tónhe (Pelaimas) neto da forneira Tchá Troisa do Forno, na rua do Cabo
34. Júan (Abelhêró) na rua de São Pedro
35. Afonse (filho do Ti Domingues "Tincó-tinco") na rua da Barca
36. Jenuére (Borralho) na rua ?
37. Zé (Derrota) filho do Ti Zé do Reté, na rua da Barca
38. Zé (Latêja) na rua da Barca
39. Daniel (filho do Ti André) na rua do Hospital
40. Júan (Fusil) na rua Direita
41. Zé (Joana) na rua do Ferro
42. Zé Maria (Zezana) na rua Direita
43. Júan Zé Carrilho na rua ?
44. Jaquim (Panim) no Sítio do Bernardino
45. Fernande (Tourêre) nas Traseiras com a rua da Costa
46. Tónhe (Serrã) na rua da Costa
47. Menine Zézinhe (filho do senhor Pemantel) no Arrabalde
48. Zé Leirinha (Pêrrio) irmão do 16. na rua Direita
49. Tónhe (Fornêre) filho da forneira Tchá Troisa na rua Direita, embora vivesse na Corredoura junto do 1.
50. Júan (Sarrasquêre) na Corredoura
51. Zé (Bôiana) na rua das Almas
52. Jenuére (Adista) no Arrabalde
53. Manél (da Barca) na rua do Cabo
54. ?
55. Jaquim (Cárol) na rua do Cabo
56. Zé Loure na rua da Barca
57. Júan Dias no Santo André
58. ? (Tourêre) no Santo André
59. Zé Mouzinhe no Santo André
60. Manél (Marrafa) filho do Ti Segarilha na rua da Barca
61. Zé Abêlhe na rua Direita
62. Tónhe (Manel) na rua da Barca ao «Fundo da Rua»
63. Mané (Paixã) no Santo André
64. Tónhe Belarde no Santo André
65. Janjan (João Branco) na rua de São Pedro
66. Tónhe (Balhã) na rua do Arneiro
67. Zé (filho do Ti Cágadenhêre) na rua do Cabo
68. Zé Ricarde irmão do 69. na Praça da República
69. Tónhe Ricarde irmão do 68. na Praça da República
70. Zé Tavares na rua ?
71. Jaquim (Canhoto) irmão do 4. na rua de São Pedro para a Praça da República
72. Jaquim (Xina) na rua do Cabo
73. Tónhe (Patrice) na Corredoura
74. ?
75. Flipe (Espanhol) filho do Ti Zé Curto no Santo André
76. Menine Artur (filho do senhor Zé da Loja) na rua de São Pedro
77. Erneste (filho do Jaquim Fidalgo) na ?
78. Tónhe (Cigano) no «Fundo da Rua»
79. Júan (Ica) na rua da Barca
80. Bente (Grouga) na rua de São Pedro
81. Júan (Polainas) na rua do Cabo
82. Júan dos Rês (pai do Toninho) na rua da Barca
83. Tónhe Loure (filho do Ti Júan Jule) na Corredoura
84. Bente Lêten na rua Direita
85. Júan (Atabira) na ?
HOMENAGEM: O isolamento, condições de vida difíceis e o próprio País condicionaram tanto alguns que não chegaram a adultos ou tiveram dificuldades acrescidas, entre eles:
23. Tónhe Lopes só fez a terceira classe pois morreu, pouco depois de ser aqui fotografado, a caminho de Portalegre vitimado por apendicite aguda;
26. Júan (Xêra) foi mobilizado para fazer o serviço militar na Índia Portuguesa. Pouco depois de regressar a Montalvão faleceu, ao que tudo indicou, por alguma doença contraída durante as viagens ou estadia na Ásia. Morte ainda mais sentida pois quando partiu para a Índia a sua namorada (neta da Tchá Antónia, do Ti Zé Rouco, fizera-lhe uma quadra que dizia muitas vezes enquanto ele esteve ausente. Mal sabia ela!
31. Joaquim Possidónio Relvas Ferro (Montalvão/Praça da República; 25 de novembro de 1941 - 21 de novembro de 1964; Maquela do Zombo/Norte de Angola) foi o primeiro montalvanense a falecer na Guerra Colonial, a quatro dias de completar 23 anos. Já se escreveu acerca dos mortos de Montalvão na Guerra do Ultramar (clicar).
58. Filho de contrabandista - ele e uma vasta prole de irmãos - cedo ficou órfão, por morte do pai afogado no rio Sever, que teve este infortúnio descrito numa excelente "Décima" (uma quadra de mote e quatro estrofes com dez versos) de Júlio Baptista Morujo, o Júle da Rebêra:
Um aspeto interessante é um topónimo que na atualidade desapareceu mas durou e perdurou durante decénios, talvez séculos, pois era muito utilizado, o «Fundo da Rua», um largo - é mais um alargamento - formado pela interseção de quatro ruas: Barca, Costa, Ferro e Almas. Só o que se passava no «Fundo da Rua» (até Forno tinha) dá para fazer um texto autónomo.
Interessante será, também, perceber ou fazer um cruzamento entre esta fotografia e a das «catchópas» (clicar) da mesma idade pois houve algumas bôdas (casamentos) ainda que a média, em Montalvão até meados dos Anos 50 e início da década de 60 fossem os homens terem mais três/cinco anos que as mulheres. A ver vamos!
O mais apetecível é destacar que esta geração - há sempre exceções, como em tudo - nascida entre meados dos Anos 30 e meados dos Anos 40 é a «Ínclita Geração Montalvanense». Poucos, muito poucos, dos que chegaram a adultos, quer «catchôpos» quer «catchópas» ficaram em Montalvão, saindo para trabalhar e proporcionar um futuro melhor para si, mas principalmente para os filhos. É a primeira geração de montalvanenses que recusa ter "a mesma vida" que os seus antepassados e decide que os seus descendentes mereciam ter um futuro melhor, que a estrutura sócioeconómica montalvanense, bem como o isolamento do território e perspetivas de emprego, eram incapazes de assegurar. Merecem ser homenageados, por aqui, num dia destes, pelo que decidiram fazer, nos Anos 50 e 60 (casados ou não) muitos a pensar, um dia em voltar mas depressa perceberam que tal não passava de utopia!
Assim se foi fazendo (e desfazendo) Montalvão
Prodigiosa fotografia e memória do autor deste blogue.
ResponderEliminarAté à década de 80, no cemitério da aldeia transmontana dos meus pais, impressionava ver o talhão dos anjinhos. Ver todas aquelas campas pequeninas, com as cruzes... Vidas que não se fizeram nem geraram outras vidas. Muitas vezes a morte vinha de uma enterite, de uma meningite, ou noutras, de "morte desconhecida". Os cuidados médicos, Vacinas, a importância dos hábitos de higiene foram fundamentais para progressivamente desaparecer esse maldito talhão. Depois, as vacinas... Essa maravilhosa conquista da Ciência. Esta pandemia, apesar de agravada explorada pelos políticos, ainda mais expôs a excelência das possibilidades cientificas da Humanidade. Pena é que a ignorância e o negacionismo continuem a ser semeados e colhidos por gente indigna de representar um único eleitor.
Saudações de um alfacinha que divide o seu coração entre Lisboa e as suas raízes transmontanas.