A POPULAÇÃO DO TERRITÓRIO DE MONTALVÃO, DESDE COMENDA A CONCELHO E DEPOIS A FREGUESIA MANTEVE-SE NO MILHAR DE HABITANTES.
Anos após anos. Esta fatalidade devia-se em grande parte à elevada mortalidade infantil causada pelas condições de vida precárias, em alimentação e doenças que eram implacáveis para crianças ainda com pouca capacidade de resistência a infecções graves por contágio. As vacinas, mesmo que praticamente resumidas à BCG (tuberculose) e varíola (a célebre vacina "com aparo") mudaram a demografia. Até à segunda década do século XX praticamente, em média, por cada ano os que nasciam compensavam os que morriam, daí a população manter-se entre 950 e 1050 pessoas desde que há registos.
Poucos eram os casais que não perdiam um ou mais filhos. Como dizia a minha avó materna (1910/1981) «havia "anjinhos" em todas as casas». Nos Anos 30 do século passado Montalvão tinha uma quantidade de «catchôpos e catchópas» impressionante, evidenciando que a mortalidade infantil era muito menor que cem anos antes. Nos Anos 30 do século XIX por cada cinco montalvanenees que nasciam - e nasciam cerca de 60 crianças por ano - em média, morria uma até um ano, outra até cinco anos e outra até aos dez anos, ou seja, das 60 crianças, até dez anos, sobreviviam cerca de 25! Sensivelmente a mesma mortalidade por ano acima dos dez anos até à velhice. Um pouco menos, por isso a população, em média, crescia muito pouco a cada ano.
Um século depois tudo era diferente. À entrada para os Anos 50 havia cerca de 200 crianças em idade escolar, 7 a 11 anos, com algumas repetências e muitas «catchúpinhas» a concluírem apenas a 3.ª classe. Eis uma imagem obtida em Maio de 1947, com as raparigas só da sede de freguesia. Contando 64 e sabendo que nem todas estariam presentes, nesse dia/instante, por vários motivos e algumas não frequentavam a Escola o número de «catchópas» entre os 7/8 anos e os 11/12, em Montalvão, seria de uma centena. Em relação aos «catchôpos» outro tanto.
Em maio de 1947 saíram do edifício da Escola, na casa paroquial, subiram a rua da Barca e em frente à porta da Igreja Matriz registaram o momento para a posteridade as alunas da primeira classe (entraram neste ano letivo de 1946/47) até às da quarta classe (tinham entrado em 1943/44). Coube a estas «catchúpinhas» da primeira classe e outras repetentes, já na quarta classe, inaugurarem as novas instalações da Escola Primária de Montalvão em 1949/50, como ficou escrito neste blogue (clicar). Numa tentativa de dar o nome a "esta pequena multidão":
Professoras: A - Dona Mónica (à esquerda); e B - Dona Ana (à direita):
01. Jaquina do Ti Mané Fado (rua Direita)
02. Marí Meguéns (rua da Barca)
03. Catrina do Bornaldinhe (Sítio do Bernardino)
04. Jaquina Ramalheta (rua Direita)
05. Troisa do Bornaldinhe (Sítio do Bernardino)
06. Elvira (rua da Barca)
07. Lurdes "caga-denêro" (rua do Cabo)
08. Catrina à Plecas (rua da Costa)
09. Marí Jaquina "Espríto Malino" (Sítio do Bernardino)
10. Marí Dias (rua Direita)
11. Análha (rua de São Pedro)
12. Marí da Silva (rua de São Pedro)
13. Flávia (Sítio do Bernardino)
14. Catrina Loura do Ti Alfarroba (rua do Ferro)
15. Silvéria (rua da Barca)
16. Sena (rua do Cabo)
17. Amélia (rua da Costa; irmã da 45.)
18. Bagulha (rua do Cabo)
19. Marí Júla (Corredoura)
20. Etelvina a Xanana (rua Direita)
21. Cecília Broxa (rua da Costa)
22. Irene, filha de um Guarda (rua Direita)
23. Marí Zé (Santo André)
24. Tomásia (rua de São Pedro)
25. Marí de Matos Cegarrilha (rua de São Pedro)
26. Catrina Loura (rua do Cabo)
27. Marí Jaquina (Santo André)
28. Troisa (recanto na rua do Arneiro)
29. Balbina (rua do Cabo)
30. Marí da Costa (Corredoura)
31. Emília da Xá Carrilha (rua São Pedro)
32. Ana (rua do Ferro)
33. Marí Amálha (rua do Outeiro)
34. Catrina dos Santos (rua de São Pedro após o Pátio)
35. Marí dos Santos do Ti Íca (rua da Barca)
36. Marianinha (rua do Cabo)
37. Joana Robéta (rua de São Pedro)
38. Marí Drumédes Caratana (rua das Almas)
39. Marí Jaquina (Santo André)
40. Marí da Silva (Sítio do Bernardino)
41. Catrina Gorrinha (Santo André)
42. Mouzinho (Santo André)
43. Jaquina a Calvanista (Arrabalde)
44. Lucília do Santo André
45. Lucília da rua da Costa (irmã da 17.)
46. La Salette (Traseiras)
47. Graciosa da Etelvina (Sítio do Bernardino)
48. Marçalina da Xá Catrina Mendes (Santo André)
49. Sara (casinha dos mordomos do São Pedro)
50. Amálha (rua do Ferro)
51. Jaquina Carrilho (rua para a Praça)
52. Catrina (rua da Barca)
53. Imília à Bonita (rua do Cabo)
54. Albertina Patrícia (rua de São Pedro)
55. Catrina Russinha (rua do Arneiro)
56. Filha mais nova do Ti Rebêra Brava (rua Direita)
57. ? (Prima do senhor Morujo Júlio; filha de uma irmã da mãe de senhor Morujo Júlio) avó materna comum que morava na rua do Ferro (Xá Possedóna)
58. Graciosa (Corredoura)
59. Ângelita, a Espanhola (Santo André)
60. Etelvina do Tinco-ó-tinco (rua da Barca)
61. Meguela Barbêro (rua do Ferro)
62. Marí Drúmedes Barreto (Santo André)
63. Marí Troisa da Xá Fortunata (Praça da República)
64. Mariana (rua da Costa)
Meninas que foram raparigas, depois mulheres e mães quase todas casadas na Igreja Matriz com filhos batizados na mesma igreja.
Hoje tudo «catchúpinhas» que, estando ainda por cá, já são octogenárias.
Na parte II (em breve): Os catchôpos.
As meninas são todas, mas todas mesmo, uma doçura...mas a 38, não sei porquê, é a minha eleita!!!
ResponderEliminarNuma segunda opinião, iria para a nr.2
Mas renovo uma vez mais que todas elas são mais que flores!!!
Aí para os Montes Hermínios
EliminarA n.º 2 é a irmã mais velha do homem mais interessante da Vila, o Tónhe Manél Meguéns (Teixeira) que casaria com...a n.º 38 que é de longe a «mais prendada». Foi a primeira (11 de novembro de 1938) a nascer na casa da rua das Almas e o desgraçado do seu filho nasceria quase 22 anos depois, em 21 de outubro de 1960, nessa mesma casa sendo o 4.º e último a nascer na casa que tem barra ocre por azul ser ingrato. A deusa do «Futebol» tinha o relógio «às arrecuas» pois devia ter estado em Montalvão mas preferiu estar a vadiar pelo bairro de Lanús, na Argentina, a 30 de outubro!
Enfim. Valeu o príncipe dos poetas, Luís Vaz de Camões que dedicou um soneto ao filho mais velho da n.º 38, talvez por conhecer a rua das Almas, virada para o Tejo, Beira e Espanha:
O dia em que eu nasci, morra e pereça
Não o queira jamais o tempo dar,
não torne mais ao mundo e, se tornar,
eclipse nesse passo o sol padeça.
A luz lhe falte, o sol se escureça,
mostre o mundo sinais de se acabar,
nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
a mãe ao próprio filho não conheça.
As pessoas pasmadas, de ignorantes,
as lágrimas no rosto, a côr perdida,
cuidem que o mundo já se destruiu.
Ó gente temerosa, não te espantes,
que este dia deitou ao mundo a vida
mais desgraçada que jamais se viu.
Pela resposta, vejo que ainda não perdi a pontaria!!!
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