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29 maio 2021

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Tripeça e Tropeça

29 maio 2021 0 Comentários

AMBOS ASSENTOS - EM LINGUAGEM À GRAVE, OU SEJA PARA LÁ DOS ARRABALDES DA VILA - "PEÇAS DE MOBILIÁRIO". SÃO BANCOS DE ASSENTO CUJA ORIGEM DE ENCONTRA PARA LÁ DA MEMÓRIA DO PASSADO.




Os nomes são curiosos um de enganador e outro de confirmação. A origem também. Tripeça até parece um objeto/utensílio constituído por três peças mas não é. Apenas uma, de madeira compacta, até seria numa nomenclatura "à letra" - Tripés - e outra, feita de cortiça, dava mesmo para nela se tropeçar além da sua finalidade...servir de assento cómodo.




A TRIPEÇA era uma obra de visualização e engenho. Ver no tronco de uma árvore três ramos apropriados para depois de cortada essa secção da árvore fazer um assento.

  



A TROPEÇA era o resultado de ter cortiça de boa qualidade - espessa e plana - utilizando depois uma técnica em que os cantos davam resistência a um assento cómodo, pois a cortiça é suave, ao contrário da madeira.



A TRIPEÇA tinha aspeto mais tosco mas era mais compacta. Resultado do corte de madeira de uma azinheira - raramente de um sobreiro - mas tanto podia ser feita com a madeira de azinho como com a de sobro. Que provinha do montado montalvanense era mais que certo. Também se podia designar BURRO pois o utilizador sentava-se nela como no dorso de um asinino. Pernas - uma para cada lado - com a "frente" (perna ímpar) para a dianteira e as duas pernas semi-paralelas (na Natureza a perfeição não está sempre na simetria perfeita mas, também, no equilíbrio). 



A AZINHEIRA montalvanense chegou a ocupar um espaço no montado nos séculos mais afastados superior ao dos séculos XIX e XX. E todo os porcos levaram...com estes a receberem como alimentação restos domésticos, um punhado de bagaço e outro tanto de farelos, a ("vienda" em Montalvão) bem como deixar de viver em espaços amplos - debaixo de azinheiras (bolotas) e sobreiros (lande) - mas em pocilgas ("furdas" em Montalvão). Os azinhais ou montado de azinheiras foram diminuindo, em área e quantidade de exemplares, substituídas pelo sobreiro que é uma árvore de "maior rendimento" - cortiça - tendo a alimentação do(s) porco(s) assegurada por "restos domésticos" pois a lande é inferior à bolota. A TRIPEÇA pode ser pequena mas havia algumas bem grandes capazes de servirem de bom banco até para um artesão passar o dia nele encavalitado a fazer o que tinha de ser feito para proveito seu e dos seus. Era "olhar com olhos de ver" para um tronco e perceber que dali - da disposição na árvore daqueles três ramos, bem como no seu diâmetro - se podia fazer uma tripeça.  



SOBREIRO montalvanense domina as grandes áreas da freguesia para lá nos núcleos de olivais junto daas povoações - Montalvão e Salavessa - Montalvã e Salavôissa - e em espaços propícios a poder ter qualidade ainda que a quantidade não seja elevada, mas depois quando se traduz quilos de azeitona em litros de azeite estes são em maior proporção devido ao teor "gorduroso" da azeitona, daí "cabeços" afastados de Montalvão com extensos olivais. 



A tropeça era mais sofisticada que a tripeça pois envolvia trabalho com a cortiça, em corte e modo engenhoso como se colocavam as placas - que podiam ir até quatro - entre quatro suportes laterais feitos com pequenos pedaços de cortiça tudo num equilíbrio perfeito e unidos por pequenos (em largura) mas bem dimensionados (em tamanho) que eram uma espécie de pregos de madeira.




A curiosidade do nome (tropeça) remete para o facto de por vezes se tropeçar nelas, quando havia distração indevida ou "elas" parece que se camuflavam quando a iluminação era fraca ou inexistente e os espaços entre placas parece que estava sempre disposto a receber um pé ou um algo que este tivesse calçado para desequilibrar quem tanto as usava para se sentar. 


Feita de cortiça que é unida com "cravos" de madeira de xara (esteva)

Havia TROPEÇAS de muitos tamanhos e feitios (mais largas com formato retângular ou parecendo um cubo por terem os quatro lados iguais). As mais pequenas utilizadas pelos catchúpinhos e catchúpinhas também serviam para as mulheres apoiarem os pés enquanto faziam renda sentadas numa cadeira empalhada. Outro tipo de assento, outras histórias.




Assim se foi fazendo o Montalvão secular 

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