AMBOS ASSENTOS - EM LINGUAGEM À GRAVE, OU SEJA PARA LÁ DOS ARRABALDES DA VILA - "PEÇAS DE MOBILIÁRIO". SÃO BANCOS DE ASSENTO CUJA ORIGEM DE ENCONTRA PARA LÁ DA MEMÓRIA DO PASSADO.
Os nomes são curiosos um de enganador e outro de confirmação. A origem também. Tripeça até parece um objeto/utensílio constituído por três peças mas não é. Apenas uma, de madeira compacta, até seria numa nomenclatura "à letra" - Tripés - e outra, feita de cortiça, dava mesmo para nela se tropeçar além da sua finalidade...servir de assento cómodo.
A TRIPEÇA era uma obra de visualização e engenho. Ver no tronco de uma árvore três ramos apropriados para depois de cortada essa secção da árvore fazer um assento.
A TROPEÇA era o resultado de ter cortiça de boa qualidade - espessa e plana - utilizando depois uma técnica em que os cantos davam resistência a um assento cómodo, pois a cortiça é suave, ao contrário da madeira.
A TRIPEÇA tinha aspeto mais tosco mas era mais compacta. Resultado do corte de madeira de uma azinheira - raramente de um sobreiro - mas tanto podia ser feita com a madeira de azinho como com a de sobro. Que provinha do montado montalvanense era mais que certo. Também se podia designar BURRO pois o utilizador sentava-se nela como no dorso de um asinino. Pernas - uma para cada lado - com a "frente" (perna ímpar) para a dianteira e as duas pernas semi-paralelas (na Natureza a perfeição não está sempre na simetria perfeita mas, também, no equilíbrio).
A AZINHEIRA montalvanense chegou a ocupar um espaço no montado nos séculos mais afastados superior ao dos séculos XIX e XX. E todo os porcos levaram...com estes a receberem como alimentação restos domésticos, um punhado de bagaço e outro tanto de farelos, a ("vienda" em Montalvão) bem como deixar de viver em espaços amplos - debaixo de azinheiras (bolotas) e sobreiros (lande) - mas em pocilgas ("furdas" em Montalvão). Os azinhais ou montado de azinheiras foram diminuindo, em área e quantidade de exemplares, substituídas pelo sobreiro que é uma árvore de "maior rendimento" - cortiça - tendo a alimentação do(s) porco(s) assegurada por "restos domésticos" pois a lande é inferior à bolota. A TRIPEÇA pode ser pequena mas havia algumas bem grandes capazes de servirem de bom banco até para um artesão passar o dia nele encavalitado a fazer o que tinha de ser feito para proveito seu e dos seus. Era "olhar com olhos de ver" para um tronco e perceber que dali - da disposição na árvore daqueles três ramos, bem como no seu diâmetro - se podia fazer uma tripeça.
A tropeça era mais sofisticada que a tripeça pois envolvia trabalho com a cortiça, em corte e modo engenhoso como se colocavam as placas - que podiam ir até quatro - entre quatro suportes laterais feitos com pequenos pedaços de cortiça tudo num equilíbrio perfeito e unidos por pequenos (em largura) mas bem dimensionados (em tamanho) que eram uma espécie de pregos de madeira.
A curiosidade do nome (tropeça) remete para o facto de por vezes se tropeçar nelas, quando havia distração indevida ou "elas" parece que se camuflavam quando a iluminação era fraca ou inexistente e os espaços entre placas parece que estava sempre disposto a receber um pé ou um algo que este tivesse calçado para desequilibrar quem tanto as usava para se sentar.
Feita de cortiça que é unida com "cravos" de madeira de xara (esteva) |
Havia TROPEÇAS de muitos tamanhos e feitios (mais largas com formato retângular ou parecendo um cubo por terem os quatro lados iguais). As mais pequenas utilizadas pelos catchúpinhos e catchúpinhas também serviam para as mulheres apoiarem os pés enquanto faziam renda sentadas numa cadeira empalhada. Outro tipo de assento, outras histórias.
Assim se foi fazendo o Montalvão secular
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