LAVAR A ROUPA DE BARRELA É A FORMA DE LAVAGEM MAIS ANTIGA QUE SE CONHECE: QUANDO NÃO HAVIA SABÃO, ESTE ERA ESCASSO OU O QUE HAVIA TINHA QUE SER POUPADO.
Montalvão era terra de roupa de linho, muito Linho. Até meados do século XX ainda se lavava muito e com frequência utilizando pouco sabão e muita barrela. Num tempo em que a sujidade era muito mais orgânica que química. Roupa da cama e roupa interior, em Linho, era lavada a barrela - só roupa clara ia para a barrela - para tirar a sujidade natural de uso frequente. Outra roupa muito colorida - em algodão e lã - não ia a barrela. A colorida em malha ou garrida era lavada com algum, pouco sabão.
Não havendo água canalizada, na povoação, até 1965 aproveitava-se durante o Verão, o Rio Sever, num esforço gigantesco para pessoas e animais, pois ficando longe obrigava a deslocações complexas e menos frequentes (quinzenais) devido aa facto da rede hidrográfica próxima do povoado estar em estiagem - sem água - desde o final da Primavera até ao início do Outono.
A chegada das primeiras chuvas correspondia a uma fase menos dolorosa porque as barrocas ao redor de Montalvão começavam a ter cada vez mais água permitindo lavar mais próximo da «Vila». A ida às três fontes (clicar) permitia começar a ouvir correr a «Marí Neta» sinal que se podia fazer barrela mais próximo da povoação.
Antes da instalação da energia elétrica (1948) quando funcionavam os fornos para cozer pão à maquia (clicar)(clicar) encontrar lenha para fazer barrela não era fácil. Tinha que se levar - além da roupa suja, em canastrões, à cabeça - madeira de "taçalho" (debaixo do braço) para fazer a fogueira que permitia a barrela.
O montalvanense António Faria Artur (clicar) é um dos autores de uma lição maravilhosa acerca do modo de lavar a roupa. O pano que se colocava sobre a roupa que estava acamada no canastrão e que separava a cinza dessa roupa, onde se vertia a água a ferver, denominava-se «sarrador». Tal como o pano que se colocava sobre o pão a fermentar, já no tabuleiro de madeira (clicar) se denominava «tendal».
Depois com o declínio dos fornos a lenha, substituídos pelo forno elétrico, junto à "cabina" na rua das traseiras começou a ser mais fácil encontrar um troço de xara ou de giesta - ramagem («chamisses», em montalvanês) - para permitir uma fogueira onde se faziam as barrelas.
A lavagem foi-se simplificando, primeiro com a passagem de algum sabão pela roupa aquando da primeira lavagem, utilizando-se cada vez mais até deixar de se fazer a barrela. A utilização da lixivia em grande escala foi o "golpe final" na barrela.
Com a distribuição de água ao domicílio (clicar), a partir do final de 1965, instalaram-se tanques que tornavam mais cómodo lavar a roupa.
Há que assinalar o local onde mais roupa se lavou e mais barrelas se fizeram durante séculos. Duas pequenas barrocas, afluentes, do ribeiro da «Marí Neta». A barroca da Fonte de Mato e a barroca da Dioga, esta já para lá do chafariz de Santa Clara.
Após a Fonte de Mato que era uma fonte com água de excelência, além da sua singularidade: duas paredes e duas grandes lajes de xisto a fazerem o rebordo para permitir debruçar e bandear o caldeiro, pouco depois corre a barroca da Fonte de Mato com lajes onde muita roupa se lavou e esfregou.
Próxima "paragem": roupa a corar
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