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07 novembro 2019

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Os Forneiros

07 novembro 2019 0 Comentários
FINAL DO CICLO DO «PÃO NOSSO DE CADA DIA»



Depois dos moleiros transformarem o grão em farinha eram as «mulheres da Vila» numa prática ancestral que passava de mães para filhas permitindo a estas quando casavam amassar o pão dia-a-dia (uma forma de dizer, pois por vezes era uma vez por semana) para ser comido por todos e por vezes dar um naco a quem não o tinha. E não eram poucos. Os nacos e quem não tinha farinha para amassar. 



Amassando a farinha, deixando o pão amassado fermentar, crescer, fazer-se massa para cozer, tinham importância redobrada os seis fornos - que coziam pão - em simultâneo em Montalvão.


Benza-o Deus para que cresça/ Que não falte em barriga que mexa

No século XX (Anos 30 a 60), houve o Forno da Xá Tomásia no «Fundo da Rua», o da Xá Teresa e da Xá Tomásia Carrilho na rua Direita e Outeiro, o da Xá Cigarrilha e da Xá Ana na rua do Cabo (continuação para oeste da rua Direita) e o da Xá Martinha na rua do Arneiro a chegar ao «Pátio». Esposas a controlar o calor do forno onde as mulheres levavam a massa já pronta para cozer e os esposos a catar xaras, até às «Barreiras do Rio» para fazer lume e dar seguimento ao «Ciclo do Pão»: da semente se faz crescer grão, do grão de faz farinha e da farinha amassada se faz pão.

(clicar em cima da imagem para melhorar a visualização)



Cozendo o pão à vez cabia a cada mulher estabelecer "um contrato" com o forno pagando a respetiva maquia, ou seja, deixava um número determinado de pães (dependendo de quantos cozia, da frequência com que ia ao forno e da relação pessoal com os forneiros). Os fornos não eram dos forneiros e forneiras, estes faziam o trabalho mas as instalações pertenciam a algumas das famílias ricas de Montalvão que assim conseguiam uma espécie de "economia de escala": tinham quem cozesse o seu pão de graça e o "pagamento" em maquia era feito pelo resto das famílias montalvanenses. Também vendiam pão a quem não tivesse farinha para amassar. E tivesse dinheiro para o comprar...




O grão que ao passar a farinha ficara uma maquia para o Moleiro acabava por sofrer mais "um corte" já em forma final, numa maquia de pão ou pães. Era assim à mingua. Pagar produtos com parte do produto.




Eis uma parte importante da vida montalvanense. Pois aquele pão fintado e com o sinal da cruz permitia que surgissem apetitosos quatro nacos. Abençoados nacos.



Próxima "paragem": Os Carpinteiros

NOTA FINAL: Quando se escreve "Os Forneiros" seria mais correto "As Forneiras" pois os maridos praticamente não estavam no forno. Passavam o dia (às vezes parte da noite aquando do Inverno dos dias curtos e debaixo de chuvadas) a apanhar lenha - quase catar a pouca que havia e cada vez mais longe da Vila - e transportá-la, em cima de um par de burrecos, para abastecer o Forno e aquecê-lo para funcionar (cozer a massa e transformá-la em pão). O «Pão Nosso de Cada Dia».




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