A ROUPA ERA BRANQUEÁ-LA AO SOL.
A roupa era lavada e não podendo ir para barrela (clicar) passava-se por água estendendo-se ao Sol mas de modo a que, ficando o mais na horizontal possível, para ir sendo regada. Chamava-se a este processo - nunca deixar as peças de roupa secar totalmente - «ógár»! De vez em quando alguém lembrava-se de pedir/exigir: «A roupa já stá seica! Tem de sê ouguéda! Vai ógár a roupa, catchópa!»
Se tivesse alguma sujidade havia que salpicar essas nódoas com cinza húmida para que adicionando água do regador e cinza fosse branqueando pela ação solar.
Uma espécie de "tira-nódoas".
A procura de giestas, pequenos arbustos e erva era meticulosa e por vezes difícil tal a quantidade de peças que estavam a corar.
A roupa para secar tinha dois destinos: a da barrela era secada em arbustos, ao vento, como giestas, gadapeiros (azinheiras jovens) e chaparros (sobreiros novos, antes de serem descortiçados pela primeira vez).
A roupa para corar era secada ao Sol (não ao vento) em locais ervados procurando ter menos flores possível para não manchar a brancura com o pólen. Perfumar roupa a corar é um mito! Na barrela sim, perfumava-se, colocava-se "mantraste, murta (no Verão as suas bagas são os martunhos) até flores silvestres como rosas bravias" misturando com a cinza no caldeirão a ferver.
Durante alguns anos, mesmo depois da lixívia substituir a barrela, continuou a secar-se a roupa ao Sol tal era o hábito.
Esta atividade complexa (em trabalho) mas simples (de acordo com a Natureza) e histórica (cultura ancestral passada de mães para filhas) depois de realizada era motivo de satisfação após concluída. E assim se sucediam uns dias a seguir a outros. Anos a fio... Vidas!
Até no ervado junto ao Castelo de Montalvão, no Adro Norte, se secava roupa ao Sol.
Em cima: ainda no tempo em que o Castelo era cemitério (até 1 de novembro de 1951). Em baixo: depois da construção do Depósito da Água (1963/64)
Assim se foi construindo Montalvão
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