CHEGOU O MOMENTO EM QUE O TERRITÓRIO ONDE ESTÁ MONTALVÃO ENTRA NUMA NOVA FASE DA SUA EXISTÊNCIA.
Antes de se formar uma povoação - geralmente organizada à volta de uma Igreja - há que ir definindo "administrativamente" o território que lhe vai servir de sustentação. Depois para surgir uma povoação é necessário que esta esteja devidamente organizada, com funções e capacidade de implantar-se, crescendo de uma forma sustentada, sem depender de outras, embora haja sempre alguma complementaridade entre aglomerados populacionais próximos. Uma povoação não é um conjunto de casas. É um espaço habitado coerente, agregado e capaz de oferecer condições de vida a quem nele habita. O território montalvanense não é exceção e nem é necessário recuar até à Pré-História. Seria um romance romântico mas cheio de lacunas com milhares de anos.
Recuemos, até 5 de julho de 1199, com a doação da "Herdade da Açafa" à Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (Templários), como já se escreveu neste blogue (clicar) (clicar). Depois durante cem anos, até que crescesse à volta de uma Igreja que com o tempo, cresceria e seria Matriz, o território foi-se organizando, primeiro pacificado pelos Templários, depois cobiçado pelo Bispado da Guarda entrando em conflito com a Ordem do Templo que se recusa a ceder o que restava da «Herdade da Açafa" a sul do rio Tejo, tendo como consequência ser excomungado, em 1242 (clicar). A Ordem do Templo continua a resistir, em 1248 (clicar). Sentindo o perigo do Poder do Bispo da Guarda face a perda de importância das Ordens Religiosas, os Templários procuram a proteção do Bispado de Évora, em abril de 1250 (clicar). Com a Ordem do Templo incapaz de assegurar a manutenção do que restava da "Açafa" e em resultado da resolução de um conflito de delimitação de influências/fronteiras, em 22 de março de 1260, a Diocese de Évora entrega o território à Diocese da Guarda. Estava consumado o que o influente Bispado da Guarda exigia há 12 anos, desde 1248.
A Ordem dos Templários colocada de lado nas negociações não reconhece, em 1260, o direito da Diocese da Guarda na jurisdição do seu espaço a sul do rio Tejo, mas também já tinha o território sob excomunhão desde 1248. Em 1260, deixa é de ter a "proteção" do Bispado de Évora, acordada em 1250. Mas só, em 1287, a Ordem do Templo reconhecerá que o território terá a jurisdição da Diocese da Guarda. Os «Cavaleiros Templários» cediam face ao Poder. Os Bispados sobrepunham-se, definitivamente, às Ordens Religiosas. O Clero organizaria, administrativamente, o que os «monges-guerreiros» haviam conquistado, aos Sarracenos/Maometanos (muçulmanos), de Norte para Sul, ao longo de quase um século.
A expansão da Diocese de Évora depois de estabelecida em resultado da Reconquista do território ocupado pelos Almóadas |
Durante anos, a Diocese da Guarda e a de Évora mantiveram um conflito na delimitação da fronteira entre os dois bispados. Évora queria que fosse o rio Tejo a delimitar a fronteira por ser uma "barreira natural" mas a Guarda mantinha que o território de Nisa, Montalvão e Alpalhão eram seus. Os bispos das duas Dioceses chegaram a delegar a "terceiros" - ao chantre de Lisboa e ao arcediago da Covilhã - plenos poderes para estudarem, julgarem e decidirem acerca da questão. Esta arrastou-se sem que houvesse decisão, embora se saiba de algumas reuniões, até numa em Portalegre. Finalmente os dois Bispados decidiram por fim à contenda. Não entregaram a questão a ninguém, decidindo reunir-se. D. Rodrigues Fernandes, bispo da Guarda e D. Martinho, bispo de Évora, com os respetivos representantes dos dois Cabidos, Martim Pedro, pela Guarda e Lourenço Pais, por Évora, deram plenos poderes a Pero Martins, deão da Guarda e Paio Pais, deão de Évora, para estudarem a questão e apresentarem uma solução justa. Os comissionados receberam esta incumbência em 9 de março, reuniram-se e a 22 do mesmo mês, na granja da Torrejana (pensa-se que numa herdade da atual freguesia de Galveias, pertencente à Ordem de Avis) os dois prelados, os árbitros e os deputados de ambos os cabidos assinavam um acordo complexo (cuja composição em Latim) será colocada no final do texto de hoje, bem como a tradução do excerto generoso que envolve Montalvão, ainda que difícil pela linguagem dos tabeliões da época. O texto está todo traduzido mas é demasiado longo para ser colocado num blogue. Até porque há tantos pormenores que são mais porMaiores. No mais importante:
- A diocese da Guarda recebeu os termos de Nisa, Montalvão, Alpalhão, Castelo de Vide, Marvão, Portalegre, Alegrete, Coudosera e Albuquerque (estes dois lugares atualmente em Espanha), com os castelos, pertenças e lugares intermédios;
- A diocese de Évora manteve Elvas, Arronches, Monforte, Assumar, Alter do Chão, Crato, Arez e Amieira (do Tejo), os seus termos, castelos, pertenças e lugares intermédios.
O território de Montalvão passou definitivamente para a jurisdição do Bispado da Guarda.
Até 16 de abril de 1287 - quando a Ordem do Templo faz o acordo de cedência face à Diocese da Guarda - distam 27 anos em que muitos acontecimentos condicionaram o povoamento do território levando a que surgisse, com a pujança que lhe garantiria a continuidade durante séculos, uma das povoações mais imponentes do Norte Alentejano tendo em conta a realidade do povoamento no século XIV (1301 a 1400).
O próximo ou próximos acontecimentos vão fazer parar este blogue em 1261, nascimento do futuro Rei Dom Dinis, em Lisboa, e de Dom Vasco Fernandes de Távora, em Santarém (data e local provável) cidade de que foi comendador entre 1288 e 1293. Até 1287 - quase cem anos depois da entrega da Açafa e organização de Montalvão - muito há para dizer.
NOTA: Apesar de ter todo o acordo traduzido para português tendo por optar, entre o texto em latim e a tradução, a decisão é publicar o texto "original" (embora em tipografia, mas existe o manuscrito):
(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)
As minhas felicitações por este trabalho de divulgação da História da sua terra, caríssimo montalvense. Emérito montalvense e emérito benfiquista, um cidadão emérito, afinal.
ResponderEliminarUm abraço.