Resta aos Cavaleiros Templários terem líderes corajosos com aliados fortes para manter o Bispo da Guarda afastado do que restava da Herdade da Açafa: o território a Sul do rio Tejo.
NOTA INICIAL: As medidas de confinamento devido à epidemia COVID-19 prejudicaram a elaboração de textos relativos à história do território onde seria fundado Montalvão. Este que hoje se publica (final de maio) estava previsto para meados de março, mas não foi possível pelos motivos enunciados. O último texto acerca da história do território, pelo ano de 1242, data de 6 de novembro de 2019 (clicar). Há quase seis meses!
"Anda-se a viajar" por anos pré-povoação de Montalvão, ou seja, antes dela existir. Mas sendo território de domínio templário a ação destes foi importante para a criação de condições - principalmente garantia de segurança - que permitiram a fixação de pessoas no território. É depois uma questão de organização politica e estruturação social o aparecimento de povoações, ou seja, locais com agregação num pequeno espaço dando-lhe densidade demográfica, entre elas a fundação de Montalvão. O Grão-Mestre entre 1242 e 1248, foi muito importante para dar mais impulso demográfico ao território que restava da Açafa na margem esquerda do rio Tejo, entre a confluência do rio Salor (fronteira com Leão, depois Castela até ao tratado de Alcanices) e a da ribeira de Figueiró (que corre a sul de Nisa e a norte da Amieira).
Um Grão-Mestre que vai ser firme da defesa do território templário é D. Martim Martins (1207 - 1248) que foi eleito por reunião do Capítulo, aos 35 anos, em 1242 falecendo, no cerco a Sevilha, em maio de 1248, aos 41 anos. Foram seis anos intensos, em defesa do que restava da Açafa, valorização de outras localidades beirãs importantes e na luta contra a presença muçulmana na Península Ibérica. Pagou bem alto este desígnio.
Irmão colaço de D. Sancho II
Martim Martins nasceu em 1207, sendo filho de D. Martim Pires e de D. Teresa Martins. A mãe de Martim Martins, foi ama-de-leite do futuro rei de Portugal, D. Sancho II. Este filho varão de D. Afonso II, nasceu em Coimbra, a 8 de setembro de 1209 ou 1210. Desde criança que se desenvolveu uma cumplicidade baseada na amizade entre Martim Martins e Sancho Afonso. Com a passagem do tempo, no Futuro, um seria rei de Portugal (coroado em 26 de março de 1223, com 13 anos) e outro Grão-Mestre dos Templários (escolhido em 1242), ou seja, duas décadas depois.
A Guerra Civil 1245/1247
D. Sancho II cedo se deixou envolver por intrigas palacianas mostrando-se incapaz de governar um território que necessitava de consolidar-se a nível demográfico e político, recuperar da crise económica do País que ameaçava tornar-se crónica, estruturar-se socialmente e expandir-se para Sul. Nascido de um casamento que o Papa e a Igreja portuguesa não reconhecera por afinidades familiares entre os cônjuges, D. Sancho II acabou excomungado, em 24 de julho de 1245, pelo Papa Inocêncio IV. O seu irmão Afonso que vivia em França é instigado pelo Papa e clero português a repor a normalidade. E depois de tempos fraticidas, numa guerra de familiares contra familiares, D. Afonso III vence e assume o Reino de Portugal.
Lealdade ao lado que perde (D. Sancho II)
D. Afonso III obtém rapidamente apoio em todo o País, mas há fidalgos que continuarão fiéis até ao fim. D. Sancho II conseguiu importantes vitórias no campo de batalha na conquista para Sul do território muito à custa dos Ordens Militares e de fidalgos decididos e corajosos. Em destaque a Ordem do Templo, monges-guerreiros que estiveram sempre a seu lado. Mas com a derrota de D. Sancho II frente a D. Afonso III, o Grão Mestre Martim Martins (e os Templários) são perdedores. Nada que a eleição de um novo Mestre e posterior confirmação real não resolvesse. E chegaria mais depressa do que seria de supor.
Morte de D. Sancho II (Janeiro de 1248)
Perdeu o Reino de Portugal (por imposição do Papa, em 24 de julho de 1245) e a Guerra Civil para seu irmão, acabando exilado em Toledo, durante o ano de 1247. Morre nesta localidade de Castela, em 4 de Janeiro de 1248, aos 38 anos. Consta que D. Martim de Freitas, alcaide de Coimbra mantendo-se leal a D. Sancho II foi a Toledo, com uma comitiva de gente também leal, certificar-se que D. Sancho II morrera. No quadro pintado por C.M. Costa Lima (ver NOTA FINAL) o Cavaleiro Templário retratado - com a «Cruz Pátea» - só poderá representar D. Martim Martins, mas tudo não passa de Lenda. Que pode ter por base a verdade ou não...
Morte de D. Martim Martins (Maio de 1248)
Não iria sobreviver muito tempo, ao seu irmão colaço. Morre em combate, em Maio de 1248, no cerco a Sevilha empreendido pelas forças cristãs sob o comando de D. Fernando III de Leão e Castela. Sobreviveu quadro meses a D. Sancho II. D. Martim Martins é um dos «heróis esquecidos» da reconquista de Sevilha, num cerco que durou cerca de 15 meses, entre agosto de 1247 e 23 de novembro de 1248.
A pressão do Bispado da Guarda aumentaria
Num território pouco povoado - Nisa e depois população dispersa a viver junto dos terrenos menos inférteis e mais generosos em água potável - mas muito vasto, reivindicado desde 1242 pelo Bispo da Guarda, vítimas de excomunhão por não aceitarem o domino do bispado egitaniense, a pressão mantinha-se. A Sul do território templário povoações régias e a vasta área ocupada pela Ordem de São João do Hospital de Jerusalém ou dos Hospitalários, com imponentes castelos em Belver (Guidintesta), Amieira e Crato.
Era uma questão de tempo
As Ordens religiosas perderem poder à medida que aumentava o poder dos Bispados. O território estava praticamente definido, os muçulmanos aniquilados e a necessidade de reorganizar administrativamente o espaço era fundamental. Além disso havia muito mais estabilidade nas cúpulas dirigentes dos Bispados que nas Ordens que eram além de monges, também guerreiros. Por exemplo, entre 1248 e 1312, em 64 anos, a Diocese da Guarda teve quatro Bispos, enquanto os Templários tiveram... dez Mestres!
O território templário a sul do rio Tejo ia resistindo ao Bispo da Guarda. Em 1250 a estratégia passa por Évora!
NOTA FINAL: O quadro que ilustra este texto baseia-se na «Lenda de Martim de Freitas» citada na página 73, do Livro V, da «História de Portugal» escrita por Alexandre Herculano (28 de março de 1810 - 18 de setembro de 1877) entre 1846 e 1853. A pintura a óleo sobre tela «Martim de Freitas Verificando na Catedral de Toledo o Falecimento do Rei D. Sancho II» é da autoria do pintor portuense Caetano Moreira da Costa Lima (29 de julho de 1835 - 17 de novembro de 1898) estando exposta no «Museu Nacional Soares dos Reis» na cidade do Porto.
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