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30 maio 2020

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Biblioteca Montalvanense

30 maio 2020 0 Comentários
AINDA QUE «ROLANTE» ENVIADA PELA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN.


O «Serviço de Bibliotecas Itinerantes da F.C.G.» iniciou-se em maio de 1958 com 15 veículos cobrindo a área da Grande Lisboa e o litoral. Em dezembro de 1959 já abrangiam 118 concelhos por todo o País. Em meados dos Anos 60 atingiram a expansão máxima com 47 veículos, atingindo 3 900 povoações num total de 81 340 leitores, no início de 1974 quando o projeto foi reduzido, procurando apoio estatal. Entretanto com o 25 de abril de 1974 houve a reativação mas noutros moldes. As condições de acesso a livrarias e livros tinham entretanto, em 15 anos, mudado não se justificando um esforço financeiro tão elevado, até com o advento da televisão em tabernas e cafés nas aldeias.


A chegada da Citroën da Gulbenkian provocava agitação no local. O impacte nas pequenas povoações do interior era muito grande, quer nos mais jovens que estavam a aprender na escola primária a ler, quer entre os alfabetizados mais idosos que aproveitavam para conhecer obras de que só tinham ouvido falar mas nunca as tinham visto. Para outros, também, era o modo de conseguiram, praticamente, reaprender a ler depois de anos com pouca ou nenhuma leitura após deixarem a escola primária.



A «Biblioteca Itinerante» que servia Montalvão era a n.º 35 deslocando-se aproximadamente uma vez por mês à localidade. Estava hora-e-meia (16:00 às 17:30 horas) vinda de Nisa e seguia para a Póvoa e Meadas terminando o dia em Castelo de Vide. Por vezes estava mais de um mês afastada, para manutenção de veículo ou por motivos de saúde que afastavam algum dos dois funcionários: condutor (fazer o transporte, estacionar e abrir o espaço) e administrativo (saber do interesse dos leitores por algum tema mais específico e registo dos livros: entrega e devolução).


A Citroën n.º 35 parava na Praça da República, depois das obras desta tornarem impossível estragar o piso, junto ao banco corrido da Igreja da Misericórdia. Com as obras no Adro, passou a estacionar debaixo de uma das árvores do lado norte da torre da Igreja.


Os serviços de leitura itinerante disponibilizavam os livros que os leitores solicitassem durante os 90 minutos de funcionamento. E ainda podiam solicitar até dois exemplares - se existissem em duplicado no veículo - para serem lidos até à próxima visita quando seriam entregues.



Tantas bibliotecas itinerantes e tantas viagens proporcionaram milhares de histórias. Contam-se algumas. Há umas mais corriqueiras (deixar bilhetes escritos dentro dos livros para que outros os lessem noutra localidade) até algumas que ilustram a sociedade portuguesa da época. O «Diretor do Serviço de Bibliotecas Itinerantes», entre o seu início em 1958 - a ideia até é dele - e 1974 quando faleceu, foi o escritor Branquinho da Fonseca. 


Numa fotografia em 1923. Em cima, o escritor Branquinho da Fonseca - Director das BI da FCG - com o seu irmão. Em baixo, os pais com o escritor Tomás da Fonseca de livro na mão. Branquinho da Fonseca escreveu um dos contos mais brilhantes da literatura portuguesa, «O Barão», publicado em 1942

Conta-se que foi obrigado pela P.I.D.E. (tenebrosa polícia política do Estado Novo) - embora a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) tenha as costas largas para tudo e mais alguma coisa antes de 25 de Abril de 1974 - a retirar das estantes dos veículos o livro do seu próprio pai, a «Filha de Labão» do escritor Tomás da Fonseca, um escritor "maldito" por ser do Partido Comunista Português (P.C.P.) e escrever causticamente contra a religião, com acuidade criticando o catolicismo.


A Fundação Calouste Gulbenkian calcula em 97 milhões de empréstimos por 29 milhões de vezes, ou seja, havia leitores que tinham acesso a mais de um livro de cada vez. Um serviço inestimável que foi feito pela F.C.G. e que não está devidamente valorizado, pois substituía o que o Governo português devia fazer e não fez! 

 
Assim se foi fazendo Montalvão...
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27 maio 2020

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Para Além do Alem-Tejo (1248)

27 maio 2020 0 Comentários
COM O TERRITÓRIO TEMPLÁRIO EXCOMUNGADO, DESDE 1242, PELA DIOCESE DA GUARDA...


Resta aos Cavaleiros Templários terem líderes corajosos com aliados fortes para manter o Bispo da Guarda afastado do que restava da Herdade da Açafa: o território a Sul do rio Tejo.


Em 1248, no que resta da «Açafa» continua apenas a existir uma povoação - Nisa fundada por volta de 1232 com dificuldade em crescer demograficamente - e depois população escassa e dispersa pela restante território ainda sob o domínio dos «Cavaleiros do Templo»

NOTA INICIAL: As medidas de confinamento devido à epidemia COVID-19 prejudicaram a elaboração de textos relativos à história do território onde seria fundado Montalvão. Este que hoje se publica (final de maio) estava previsto para meados de março, mas não foi possível pelos motivos enunciados. O último texto acerca da história do território, pelo ano de 1242, data de 6 de novembro de 2019 (clicar). Há quase seis meses!



"Anda-se a viajar" por anos pré-povoação de Montalvão, ou seja, antes dela existir. Mas sendo território de domínio templário a ação destes foi importante para a criação de condições - principalmente garantia de segurança - que permitiram a fixação de pessoas no território. É depois uma questão de organização politica e estruturação social o aparecimento de povoações, ou seja, locais com agregação num pequeno espaço dando-lhe densidade demográfica, entre elas a fundação de Montalvão. O Grão-Mestre entre 1242 e 1248, foi muito importante para dar mais impulso demográfico ao território que restava da Açafa na margem esquerda do rio Tejo, entre a confluência do rio Salor (fronteira com Leão, depois Castela até ao tratado de Alcanices) e a da ribeira de Figueiró (que corre a sul de Nisa e a norte da Amieira). 



Um Grão-Mestre que vai ser firme da defesa do território templário é D. Martim Martins (1207 - 1248) que foi eleito por reunião do Capítulo, aos 35 anos, em 1242 falecendo, no cerco a Sevilha, em maio de 1248, aos 41 anos. Foram seis anos intensos, em defesa do que restava da Açafa, valorização de outras localidades beirãs importantes e na luta contra a presença muçulmana na Península Ibérica. Pagou bem alto este desígnio.



Irmão colaço de D. Sancho II
Martim Martins nasceu em 1207, sendo filho de D. Martim Pires e de D. Teresa Martins. A mãe de Martim Martins, foi ama-de-leite do futuro rei de Portugal, D. Sancho II. Este filho varão de D. Afonso II, nasceu em Coimbra, a 8 de setembro de 1209 ou 1210. Desde criança que se desenvolveu uma cumplicidade baseada na amizade entre Martim Martins e Sancho Afonso. Com a passagem do tempo, no Futuro, um seria rei de Portugal (coroado em 26 de março de 1223, com 13 anos) e outro Grão-Mestre dos Templários (escolhido em 1242), ou seja, duas décadas depois.



A Guerra Civil 1245/1247
D. Sancho II cedo se deixou envolver por intrigas palacianas mostrando-se incapaz de governar um território que necessitava de consolidar-se a nível demográfico e político, recuperar da crise económica do País que ameaçava tornar-se crónica, estruturar-se socialmente e expandir-se para Sul. Nascido de um casamento que o Papa e a Igreja portuguesa não reconhecera por afinidades familiares entre os cônjuges, D. Sancho II acabou excomungado, em 24 de julho de 1245, pelo Papa  Inocêncio IV. O seu irmão Afonso que vivia em França é instigado pelo Papa e clero português a repor a normalidade. E depois de tempos fraticidas, numa guerra de familiares contra familiares, D. Afonso III vence e assume o Reino de Portugal. 

Lealdade ao lado que perde (D. Sancho II)
D. Afonso III obtém rapidamente apoio em todo o País, mas há fidalgos que continuarão fiéis até ao fim. D. Sancho II conseguiu importantes vitórias no campo de batalha na conquista para Sul do território muito à custa dos Ordens Militares e de fidalgos decididos e corajosos. Em destaque a Ordem do Templo, monges-guerreiros que estiveram sempre a seu lado. Mas com a derrota de D. Sancho II frente a D. Afonso III, o Grão Mestre Martim Martins (e os Templários) são perdedores. Nada que a eleição de um novo Mestre e posterior confirmação real não resolvesse. E chegaria mais depressa do que seria de supor. 



Morte de D. Sancho II (Janeiro de 1248)
Perdeu o Reino de Portugal (por imposição do Papa, em 24 de julho de 1245) e a Guerra Civil para seu irmão, acabando exilado em Toledo, durante o ano de 1247. Morre nesta localidade de Castela, em 4 de Janeiro de 1248, aos 38 anos. Consta que D. Martim de Freitas, alcaide de Coimbra mantendo-se leal a D. Sancho II foi a Toledo, com uma comitiva de gente também leal, certificar-se que D. Sancho II morrera. No quadro pintado por C.M. Costa Lima (ver NOTA FINAL) o Cavaleiro Templário retratado - com a «Cruz Pátea» - só poderá representar D. Martim Martins, mas tudo não passa de Lenda. Que pode ter por base a verdade ou não...

Morte de D. Martim Martins (Maio de 1248)
Não iria sobreviver muito tempo, ao seu irmão colaço. Morre em combate, em Maio de 1248, no cerco a Sevilha empreendido pelas forças cristãs sob o comando de D. Fernando III de Leão e Castela. Sobreviveu quadro meses a D. Sancho II. D. Martim Martins é um dos «heróis esquecidos» da reconquista de Sevilha, num cerco que durou cerca de 15 meses, entre agosto de 1247 e 23 de novembro de 1248. 



A pressão do Bispado da Guarda aumentaria
Num território pouco povoado - Nisa e depois população dispersa a viver junto dos terrenos menos inférteis e mais generosos em água potável - mas muito vasto, reivindicado desde 1242 pelo Bispo da Guarda, vítimas de excomunhão por não aceitarem o domino do bispado egitaniense, a pressão mantinha-se. A Sul do território templário povoações régias e a vasta área ocupada pela Ordem de São João do Hospital de Jerusalém ou dos Hospitalários, com imponentes castelos em Belver (Guidintesta), Amieira e Crato. 

Era uma questão de tempo
As Ordens religiosas perderem poder à medida que aumentava o poder dos Bispados. O território estava praticamente definido, os muçulmanos aniquilados e a necessidade de reorganizar administrativamente o espaço era fundamental. Além disso havia muito mais estabilidade nas cúpulas dirigentes dos Bispados que nas Ordens que eram além de monges, também guerreiros. Por exemplo, entre 1248 e 1312, em 64 anos, a Diocese da Guarda teve quatro Bispos, enquanto os Templários tiveram... dez Mestres! 

O território templário a sul do rio Tejo ia resistindo ao Bispo da Guarda. Em 1250 a estratégia passa por Évora!

NOTA FINAL: O quadro que ilustra este texto baseia-se na «Lenda de Martim de Freitas» citada na página 73, do Livro V, da «História de Portugal» escrita por Alexandre Herculano (28 de março de 1810 - 18 de setembro de 1877) entre 1846 e 1853. A pintura a óleo sobre tela «Martim de Freitas Verificando na Catedral de Toledo o Falecimento do Rei D. Sancho II» é da autoria do pintor portuense Caetano Moreira da Costa Lima (29 de julho de 1835 - 17 de novembro de 1898) estando exposta no «Museu Nacional Soares dos Reis» na cidade do Porto.  



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25 maio 2020

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Os Artesãos II

25 maio 2020 0 Comentários
NOS ANOS 40 MONTALVÃO ATINGIU O APOGEU DEMOGRÁFICO E NA DÉCADA DE 50 APRIMOROU A CAPACIDADE DE MONTALVANENSES TEREM ARTE E OFÍCIO PARA PERMITIR MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA DA COMUNIDADE.

(clicar em cima da imagem para melhorar a visualização)



Com quase dois mil habitantes, muitas necessidades e pouco dinheiro os montalvanenses tinham nos seus artesãos as referências para um dia-a-dia de dificuldades. Montalvão era um enorme e carinhoso "Supermercado-a-céu-aberto-do-tamanho-de-uma-povoação" onde o engenho e arte de alguns povoavam os sonhos e eram a realidade de todos.



Para trás já ficou descrito o que foi possível apurar quanto às catorze atividades que possibilitavam a existência, em simultâneo, de vários artesãos/profissionais pela procura dos restantes montalvanenses o justificar.



Agora passará a escrever-se acerca de artesãos/profissionais que eram singulares, ou seja, um por geração "dava conta do recado".

Mantêm-se os critérios enunciados aquando da apresentação destas descrições (e que se repetem).

1: A «Planta Funcional de Montalvão» que ilustra a abertura deste texto com a localização dos ofícios nos Anos 50 foi elaborada a partir de uma imagem de fotografia aérea obtida em 23 de maio de 2015 (a qualidade técnica da obtida em 25 de junho de 1955 não permite trabalhar sobre a mesma com rigor) mas localiza os artesãos nas suas oficinas e habitações tendo como referencial os Anos 50. Como se sabe houve mudanças, principalmente no número de habitações entretanto construídas (cerca de mais 30) além de profundas alterações na fisionomia de inúmeros prédios, mas também em alguns que, na atualidade, resultam de aglutinações de dois e até de três edifícios. 





2: Serão considerados "Artesãos" os montalvanenses que no Recenseamento Geral da População realizado em 15 de dezembro de 1950 (o de 1940 apresenta menor diversidade e o de 1960 não foi objeto de consulta) afirmam ter como rendimento principal determinado ofício. A consulta foi feita, no INE (Instituto Nacional de Estatística), entre 1983 e 1984. Depois a informação foi aferida - principalmente por não haver indicação do número da porta que é uma inovação de final do século XX - com montalvanenses que seriam à época contemporâneos dos artesãos, ou seja nascidos entre a última década do século XIX e as duas iniciais do século XX. 

Próxima "paragem": O Louceiro
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22 maio 2020

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Montaluaõ 460

22 maio 2020 0 Comentários
HÁ 460 ANOS, EM MAIO DE 1560, FOI PUBLICADO O PRIMEIRO MAPA CONTENDO, INTEGRALMENTE, O TERRITÓRIO DE PORTUGAL: O MAPA DE ÁLVARO SECO.



Nele consta Montaluaõ, embora lendo-se Montalvaõ, o nosso Montalvão. Ainda com pouco rigor geográfico é admirável como tendo tão poucos meios, em meados do século XVI, as posições relativas das 2 167 localidades mais importantes do País estão corretas. Algumas apenas com uma centena de habitantes. Montalvão entre a confluência do rio Sever com o rio Tejo. Mais a sul, a magnífica Castelo de Vide. Entre Castelo de Vide e Montalvão, «A Póvoa» mais afastado do rio Sever e "As Meadas» mais próximas. Só alguém rigoroso e genial como geógrafo/cartógrafo conseguia, muito antes dos topógrafos e engenheiros, com instrumentos específicos para cartografia, estabelecer o rigor que só foi possível, no século XIX, com as triangulações geodésicas, naquilo que se conhece em Montalvão, por "taleves" ou "talefes". Havia no «Mapa de Álvaro Seco» outros pormenores como a hierarquia dos aglomerados populacionais (cidades e vilas/aldeias) e a rede hidrográfica (principais rios e afluentes). "Faltou" a orografia (relevo) e a incipiente rede viária, embora assinale as escassas 38 pontes sobre cursos de água. Para saber mais do genial Fernando Álvaro Seco (CLICAR). Para ver o mapa a várias dimensões, incluindo a dimensão total, ou seja, o tamanho real (CLICAR).




Outros mapas se seguiram até aos rigorosos trabalhos de campo no século XIX. Todos tiveram o «Mapa de Álvaro Seco» por referência. Sendo o primeiro, podia merecer tantos reparos que não seria referência para os seguintes, mas não foi assim. A sua qualidade, diz tudo...



Atualmente fazem-se mapas temáticos, em 2020, a 1/600 000, ou seja, a escalas maiores (o dobro) que a utilizada por Álvaro Seco (1/1 200 000) em que nem Nisa está cartografada... muito menos Montalvão. Tema a desenvolver num próximo texto, denominado «Sinais dos Tempos».

Assim se representava Montalvão... em Portugal, em Maio de 1560.
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19 maio 2020

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Atrás dos Tempos, Tempos Vêm

19 maio 2020 0 Comentários
NADA SE PERDE TUDO SE TRANSFORMA.



A maior parte do território de Montalvão é hoje um espaço inóspito habitado por animais selvagens de grande porte com destaque para um herbívoro (veados e corças), um omnívoro (javalis e javalinas) e alguns carnívoros (águias, de várias espécies, entre elas a real) além de serpentes. É como um retorno às origens, quando a «Herdade da Açafa» foi cedida aos Cavaleiros da Ordem do Templo ou Templários, em 5 de julho de 1119.  Ao surgir Montalvão como povoado, em final do século XIII, houve um progressivo e lento desenvolvimento agrícola de todo o território que culminaria em meados do século XX com todos os recantos praticamente modificados pelos montalvanenses. Até as giestas e xaras escasseavam tal a necessidade de lenha para uso doméstico e para alimentar os fornos de onde se fazia o pão do dia-a-dia. No início da terceira década do século XXI tudo parece rapidamente regressar ao que era o território antes da intervenção dos montalvanenses. O trabalho minucioso e penoso de arrotear xarais e giestais durante seis séculos está em cem anos a desaparecer para voltar à Açafa selvagem.   



Algumas das áreas mais impressionantes, com modificação rápida e irreversível, são os triângulos entre a Salgueirinha, os Falquetões/Vale do Muchacho e a Lomba da Barca. E entre esta, o Monte do Pombo e a Salgueirinha. Terras de areia e ponedros, difíceis de arar com animais, tal a quantidade e dimensão de cascalho amarelo-torrado e acastanhado que são como que as gotas do suor solidificado de gerações de montalvanenses incluindo os meus antepassados diretos - com propriedades neste território do noroeste - que conseguiram domar terrenos que hoje, aos olharmos para eles, espanta-nos como o conseguiram fazer. Foi um esforço sobre-humano cultivar e manter oliveiras e sobreiros em condições de poderem dar o máximo para sustento das famílias.



Atualmente voltou a ser terra de animais selvagens de grande porte onde se assiste a uma luta diária pela sobrevivência dos mais fortes, entre xaras e giestas, com mais de dois metros de altura. Arbustos que encobrem árvores como as oliveiras que naqueles terrenos, sob aquelas condições, nunca puderam ser grandes em altura. Só generosas em azeitonas e azeite.



A Lomba da Barca e área envolvente voltou a ser território selvagem tal como no tempo em que foi ponto de passagem importante entre Castelo de Vide e Castelo Branco, entre este e Castelo de Vide, pois era neste local que se atravessava o rio Tejo, nos dias "em que a corrente deste rio, o maior e melhor veio aquífero central de superfície, na Península Ibérica" deixava o barqueiro manobrar a «Barca».



O crescimento demográfico e a consequente necessidade de obter alimentos para dar sustento às famílias permitiu que se fizesse agricultura em espaços sem qualquer capacidade de uso agrícola dos solos. Conseguiram-se plantar olivais (Ol) nos pequenos cabeços, erguer montados de sobro (Sb) e azinho (Az) nas suaves vertentes. Nos pequenos vales junto às linhas de água - barrancos, regatos, ribeiros e ribeiras - deu-se espaço a algumas culturas arvenses de sequeiro (Ca): searas, raramente de trigo, mais cevada e centeio ou aveia. Apesar do esforço em cultivar todo o espaço, mesmo o que não tinha qualquer aptidão agrícola, apenas os declives mais íngremes, a ladear cursos de água no fundo de vales estreitos, ficaram incultos (Ic). Só a força da gravidade - perigo de queda - conseguiu superar a capacidade dos montalvanenses em domar a totalidade do território no noroeste.  


Carta Agrícola e Florestal de Portugal/Folhas n.º 314/315 (excertos) na escala 1/25 000; Serviço de Reconhecimento e de Ordenamento Agrário; Secretaria de Estado da Agricultura; Ministério da Economia; publicada em 1967 (Reconhecimento de Campo (1951 a 1953) - Atualização: 1966)

A incapacidade do tipo de solos, relevo e clima permitiu que fossem necessários seis séculos para conseguir melhorar, de forma engenhosa, os sistemas agrários adaptando as pessoas aos terrenos e modelando o território. Após tanto esforço e dedicação, por necessidade, durante dezenas de gerações, sem intervenção humana tudo rapidamente se desfez em pouco tempo. Foram necessários seis séculos para tirar algum rendimento (pouco de uma escassez infra-humana, embora todo o espaço disponível tivesse que ser utilizado mesmo exigindo esforço gigantesco) mas um século chegará para encobrir e desfazer o que levou seis séculos a fazer. 



1. Em terrenos de arcoses e cascalheiras - areia, cascalho e ponedros - as linhas de água moldaram durante milhões de anos um território inóspito onde as espécies selvagens se adaptaram, sendo «donas e senhores» de um espaço que modelaram, reinando nos céus e na terra. 


Carta Militar de Portugal/Folhas n.º 314/315 (excertos) na escala 1/25 000; Serviços Cartográficos do Exército; publicada em 1950 (trabalhos de campo em 1946)

2. A origem geológica e fisionomia dos solos dão ao noroeste montalvanense características bem distintas dos terrenos de xisto cinzento/acastanhado barrento e grauvaques onde está implantada a principal povoação deste vasto território: Montalvão.



3. Com o povoamento humano empreendido pelos Templários, implantou-se uma via de comunicação importante (Castelo de Vide/Castelo Branco/Castelo de Vide). O troço entre a Ermida de Nossa Senhora dos Remédios e a Lomba da Barca, teve traçado entre giestais e xarais/estevais com a fixação de população numa área generosa em água, o Monte do Pombo.



4. Esse lugarejo de «Monte do Pombo» - que merecerá um texto próprio neste blogue num Futuro próximo - tinha no ano de 1758, treze casas e 50 habitantes, 33 maiores e 17 menores (menos de 21 anos). Mas chegou às duas dezenas de habitações e sessenta pessoas, no século XIX, despovoando-se, completamente, com habitação permanente, em finais dos Anos 50. No final dos Anos 70 foi totalmente abandonado. A problemática deslocação (maus acessos, impossibilidade em estados de tempo agreste e longas horas de viagem) entre Montalvão e o seu território do noroeste - mesmo que fossem grandes as dificuldades em obter escasso rendimento agrícola - obrigavam a que a fixação de população fosse permanente.



5. Depois dos xarais e giestais que se desenvolveram durante milénios, depois de ser caminho privilegiado entre o Alentejo e a Beira Baixa, esta e o Alentejo (pela Lomba da Barca), conseguiu-se num esforço gigantesco arrotear campos impróprios, implantando oliveiras (nos cabeços), quercus: sobreiros e azinheiras (nas encostas) e searas, nos apertados vales.



6. «Depois de tantos depois», a desertificação agrícola, êxodo rural e envelhecimento populacional fez, rapidamente, regressar o noroeste montalvanense às origens. E não está pior...

Assim se foi fazendo Montalvão...
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16 maio 2020

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Bicharada Montalvanense I

16 maio 2020 0 Comentários
OS ANIMAIS SELVAGENS FAZIAM PARTE DO DIA-A-DIA DA VIDA DOS MONTALVANENSES.


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14 maio 2020

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Ciclo da Parreira III

14 maio 2020 0 Comentários
A PARREIRA/VIDEIRA ERA O ARBUSTO-PREFERIDO DOS MONTALVANENSES.



Planta exigente fez parte da vida - mais do imaginário - dos montalvanenses durante séculos. 



Planta originária da Ásia Central desenvolveu-se por todas as regiões com clima temperado do Hemisfério Norte com destaque para a Europa, principalmente no Sul junto do Mar Mediterrâneo.



Arbusto-trepadeira muito importante desde o final da Idade do último degelo "matou a fome e sede" a muitos europeus, desenvolvendo-se em áreas isoladas. Esta "domesticação" permitiu ao longo de séculos desenvolver sub-espécies que são hoje as variedades de uvas e vinho.


Na Bacia do Mar Mediterrâneo a parreira (ou videira) tem as melhores condições para crescer e multiplicar-se com inúmeras variedades que depois permitem cruzar as mesmas produzindo uvas com sabores diversificados e vinhos de alta qualidade e tão diferentes que, por vezes, nem parecem ser obtidos do mesmo arbusto, em latim, Vitis Vinifera L. Pode vinho e uvas não parecerem provir da mesma espécie mas vêm. A parreira acaba por estar para a Flora como os cães para a Fauna. Ambos seres vivos manipulados pelo Ser Humano durante milénios.


Associada ao Cristianismo - azeite, pão e vinho - cedo começou a ser "domesticada" criando-se inúmeras variedades.




É um arbustro-trepadeira muito exigente em trabalho (poda) além de necessitar de estar constantemente a ser desparasitada (sulfatagem) para além da localização - encostas com muita exposição ao Sol - em vastas encostas soalheiras. E estas escasseiam na freguesia de Montalvão.

O Alentejo é terra de cereal (pão), azeite e cortiça. E bolotas para porcos. Montalvão é uma espécie «de Alentejo do Alentejo».



Apenas os Lavradores («os ricos» em montalvanês) tinham possibilidade de fazer vinho para consumo próprio. Que se saiba só havia duas vinhas - ou seja com número de parreiras e produção de cachos de uvas - para fazer vinho. A "Vinha do Senhor Alberto» lá para as Naves/Dourados («Dourédes» em montalvanês) e as parreiras na encosta ensolarada da Cereijeira («Cerinjêra» em montalvanês) quando era do senhor Jaquim Roberto, antes deste ter necessidades financeiras que o obrigou a vender a enorme propriedade em parcelas compradas por uma dúzia de "remediados" montalvanenses.



Os cachos de uvas são colhidos em Setembro - geralmente depois das festas de Nossa Senhora dos Remédos («Senhô'Drumédes» em montalvanês) - consumidas às refeições ou os cachos pendurados nos tetos dos sobrados para se transformarem em passas.




Parreira é uma planta que oferece múltiplas utilizações.

1. Os seus frutos em cacho são apetitosos para serem consumidos diariamente, em bagos, as uvas;



2. Outra utilização é extrair a polpa dos bagos fermentando o sumo da uva para produção de vinho;

3. O mosto - peles, polpa e graínhas (bago dos cachos de uvas) com engaços moído (mais complexos como se pode ler (clicar) - produzia a aguardente;



4. Os cachos de uvas também podem ser utilizados noutras épocas do anos, no Inverno, Primavera e Verão como passas.




Quem quiser saber mais (clicar).



Este blogue irá acompanhar o "Ciclo do Parreira" com quatro publicações por ano, utilizando uma nobre parreira de Montalvão.

A. Verão - Início da frutificação e crescimento das uvas (publicado em 10 de setembro de 2019);



B. Outono - Amadurecimento e apanha dos cachos de uvas (publicado em 20 de dezembro de 2019);




C. Inverno - Recuperação do arbusto durante os dias de Sol mais escasso com o desenvolvimento das folhas que permitirão o aparecimento dos cachos (publicar hoje, em 15 de maio de 2020 * tardio devido ao confinamento provocado pela COVID-19); 



D. Primavera - Inflorescências e floramentos (a publicar em 5 de junho de 2020). Ficando em definitivo como texto permanente neste blogue. 



Uma homenagem ao arbusto que, escasseando na freguesia, deu alegria (por vezes em excesso) - como uvas, vinho, aguardente ou passas - a milhares de montalvanenses durante 700 anos.



 
Próxima paragem, a fechar esta primeira fase dos «Ciclos Agrícolas», num dia destes, no Futuro próximo. A Figueira: a árvore-mística  para os montalvanenses: multi-presente dos quintais às tapadas mais longínquas, a árvore da folha que tapou Adão e Eva e o tronco que segurou a corda com que Judas traidor se enforcou. A Figueira que, por isso, tem frutos sem dar flor!  
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