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30 maio 2020

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Biblioteca Montalvanense

30 maio 2020 0 Comentários
AINDA QUE «ROLANTE» ENVIADA PELA FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN.


O «Serviço de Bibliotecas Itinerantes da F.C.G.» iniciou-se em maio de 1958 com 15 veículos cobrindo a área da Grande Lisboa e o litoral. Em dezembro de 1959 já abrangiam 118 concelhos por todo o País. Em meados dos Anos 60 atingiram a expansão máxima com 47 veículos, atingindo 3 900 povoações num total de 81 340 leitores, no início de 1974 quando o projeto foi reduzido, procurando apoio estatal. Entretanto com o 25 de abril de 1974 houve a reativação mas noutros moldes. As condições de acesso a livrarias e livros tinham entretanto, em 15 anos, mudado não se justificando um esforço financeiro tão elevado, até com o advento da televisão em tabernas e cafés nas aldeias.


A chegada da Citroën da Gulbenkian provocava agitação no local. O impacte nas pequenas povoações do interior era muito grande, quer nos mais jovens que estavam a aprender na escola primária a ler, quer entre os alfabetizados mais idosos que aproveitavam para conhecer obras de que só tinham ouvido falar mas nunca as tinham visto. Para outros, também, era o modo de conseguiram, praticamente, reaprender a ler depois de anos com pouca ou nenhuma leitura após deixarem a escola primária.



A «Biblioteca Itinerante» que servia Montalvão era a n.º 35 deslocando-se aproximadamente uma vez por mês à localidade. Estava hora-e-meia (16:00 às 17:30 horas) vinda de Nisa e seguia para a Póvoa e Meadas terminando o dia em Castelo de Vide. Por vezes estava mais de um mês afastada, para manutenção de veículo ou por motivos de saúde que afastavam algum dos dois funcionários: condutor (fazer o transporte, estacionar e abrir o espaço) e administrativo (saber do interesse dos leitores por algum tema mais específico e registo dos livros: entrega e devolução).


A Citroën n.º 35 parava na Praça da República, depois das obras desta tornarem impossível estragar o piso, junto ao banco corrido da Igreja da Misericórdia. Com as obras no Adro, passou a estacionar debaixo de uma das árvores do lado norte da torre da Igreja.


Os serviços de leitura itinerante disponibilizavam os livros que os leitores solicitassem durante os 90 minutos de funcionamento. E ainda podiam solicitar até dois exemplares - se existissem em duplicado no veículo - para serem lidos até à próxima visita quando seriam entregues.



Tantas bibliotecas itinerantes e tantas viagens proporcionaram milhares de histórias. Contam-se algumas. Há umas mais corriqueiras (deixar bilhetes escritos dentro dos livros para que outros os lessem noutra localidade) até algumas que ilustram a sociedade portuguesa da época. O «Diretor do Serviço de Bibliotecas Itinerantes», entre o seu início em 1958 - a ideia até é dele - e 1974 quando faleceu, foi o escritor Branquinho da Fonseca. 


Numa fotografia em 1923. Em cima, o escritor Branquinho da Fonseca - Director das BI da FCG - com o seu irmão. Em baixo, os pais com o escritor Tomás da Fonseca de livro na mão. Branquinho da Fonseca escreveu um dos contos mais brilhantes da literatura portuguesa, «O Barão», publicado em 1942

Conta-se que foi obrigado pela P.I.D.E. (tenebrosa polícia política do Estado Novo) - embora a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) tenha as costas largas para tudo e mais alguma coisa antes de 25 de Abril de 1974 - a retirar das estantes dos veículos o livro do seu próprio pai, a «Filha de Labão» do escritor Tomás da Fonseca, um escritor "maldito" por ser do Partido Comunista Português (P.C.P.) e escrever causticamente contra a religião, com acuidade criticando o catolicismo.


A Fundação Calouste Gulbenkian calcula em 97 milhões de empréstimos por 29 milhões de vezes, ou seja, havia leitores que tinham acesso a mais de um livro de cada vez. Um serviço inestimável que foi feito pela F.C.G. e que não está devidamente valorizado, pois substituía o que o Governo português devia fazer e não fez! 

 
Assim se foi fazendo Montalvão...
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