RIBEIRO IMPORTANTE NUM VASTO TERRITÓRIO ONDE OS RIOS QUE O DELIMITAM SÃO O TEJO E O SEVER.
A grafia do nome do ribeiro é muito variada, tendo já referências ao mesmo escritas no século XVIII (Fivelrro), no século XIX (Fevebro, Feverlo e Fevel) e no século XX (Fivelo, Fivenco e Fouvel) certamente influenciadas pela oralidade com que quem perguntava se confrontava. No século XX na Salavessa é Fiverlô e em Montalvão até se ouvia duas designações: Fevêle ou Fouvôile.«Lá pró Pé Lázar no rebêre de Fouvôile!»
Seja como for o ribeiro é estruturante para o território, primeiro concelho e depois de 6 de novembro de 1836, freguesia não só por ser uma linha de água das maiores e sem dúvida a que tem a maior superfície (sub-bacia hidrográfica fazendo parte da bacia do rio Tejo de que é afluente "direto") ocupando na freguesia a maior área muito superior a qualquer outra. Aliás o Plano Diretor Municipal de Nisa dá-lhe o devido destaque.
Mas o ribeiro de Fivenco tem ainda outras duas particularidades.
1. É sem dúvida um dos responsáveis pelo isolamento do território durante séculos devido à dificuldade, principalmente de Inverno, que colocava em ultrapassar de uma margem para outra - ou seja, isolava Montalvão para Sul e Sudoeste - sendo a sua importância e inacessibilidade tal que é a vertente sul demarca a fronteira do anterior concelho e depois freguesia praticamente em toda a extensão. Desde a nascente quase na Póvoa e Meadas até muito próximo da foz. Até é algo surpreendente o porquê do território montalvanense ter como limite o leito do ribeiro já tão perto da sua confluência com o rio Tejo quando o setor da sua sub-bacia que não faz parte da freguesia é diminuto. Ao tempo, quanto foi feita a demarcação, entre Montalvão e Nisa (freguesia de Nossa Senhora da Graça), algo fez com que assim ficasse decidido.
2. O ribeiro tem importância desigual para a Salavessa e para Montalvão. Correndo a sul da Salavessa tem (ou tinha...) para esta uma importância económica que não tem para Montalvão. Tinha moinho (do Fivêrlo) e na foz uma azenha (Pêgo do Bispo) já no rio Tejo, sem dúvida o engenho mais sofisticado para moagem existente em todo o território montalvanense. Ficará para outra ocasião fazer uma espécie de radiografia do ribeiro desde a nascente até à foz - onde foi mesmo cortado uma nesga de lajes, o «buraco» - para abreviar o local onde desagua no rio Tejo. Com fotografias de vários locais, alguns bem pitorescos, incluindo as travessias centenárias, além de imagens do moinho do Fivêrlo. Serão notas com a descrição de alguém que é de Montalvão valorizando com a opinião salavessense, até porque em termos de importância, o ribeiro é "muito mais da Salavessa que de Montalvão" visto ser mais importante para a Salavessa que para Montalvão.
Neste texto há que colocar a descrição do ribeiro feita há 220 anos por quem não era da região mas estava a fazer um reconhecimento do território. Foi o então Oficial do Real Corpo de Engenheiros, José Maria das Neves Costa, nascido em Carnide (atualmente pertencente a Lisboa) que fez o reconhecimento militar da fronteira do Nordeste Alentejano, a deixar um conjunto de memórias descritivas e uma carta topográfica pormenorizada que mesmo sendo trabalhos para o exército (Inspeção Geral das Fronteiras e Costas Marítimas do Reino). Apesar de ser realizado sob o ponto de vista do interesse militar, o trabalho documenta com preciosidade e minucia o que eram e por onde se deslocavam os montalvanenses no início do século XIX. Em 1803 foi publicado o seguinte:
Santo António da Giesteira onde na realidade a fisionomia do ribeiro se altera profundamente.
E as descrições que ilustram como o ribeiro para os montalvanenses, antes da construção da estrada nacional n.º 359 que liga Montalvão a Nisa, era um forte factor de impedimento das ligações a Nisa/Pé da Serra e Alpalhão. Neste caso é de referir que antes da construção da citada estrada o caminho para Alpalhão não coincidia com o caminho para Nisa. Exatamente para aproveitar passagens mais facilitadas sobre o ribeiro de Fivenco e sobre a ribeira e Nisa.
Próxima paragem: o ribeiro de Fivenco no século XXI