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25 julho 2020

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Fronteiras Interiores (1250)

25 julho 2020 0 Comentários
PARA LIBERTAR PRESSÃO E SOBREVIVER.



Com a pacificação da maior parte do território português as Ordens Religiosas que ocupam o espaço junto do rio Tejo têm cada vez mais dificuldade em justificar a sua existência para além da sua importância histórica.



Dioceses versus Ordens: passado
Com a guerra da Reconquista para expulsar os almóadas já no andaluz e no ocidente deste, o Algarve há nova correlação de forças no território a sul da principal via de comunicação, capacidade hídrica e barreira natural, que passou a eixo central do território, entre o Minho e o Algarve, o rio Tejo. É em torno deste que se registam mudanças profundas na segunda metade do século XIII. De um lado as Ordens (Templários e Hospitalários) e do outro os Bispados (Guarda e Évora).




Dioceses versus Ordens: futuro
As Ordens foram exemplares na forma como derrotaram os muçulmanos mas fracassaram no modo como não conseguiram povoar um território inóspito, com terrenos pouco férteis e escassez de água devido a Verões extremamente prolongados e muito secos. As duas Dioceses apresentam uma capacidade renovada em organizar o território estruturando-a. Num território estabilizado politica e militarmente, têm vantagem, por serem gregárias, em relação às duas Ordens que continuam a lutar mais cada vez mais longe e para sul.



Templários versus Hospitalários
Com territórios vizinhos há diferenças entre elas. Os Templários (Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão) têm o seu território, do que resta da Açafa, a confinar com o rio Tejo - Montalvão, Nisa e Alpalhão - excomungado desde 1242 pelo Bispado da Guarda que exige dominar esta vasta área. Os Hospitalários (Ordem dos Cavaleiros do Hospital de São João de Jerusalém) têm território a sul, entre a Amieira e o Crato. A ribeira de Figueiró faz "fronteira natural" durante alguns quilómetros mas os Templários foram ocupando território, como Alpalhão (para lá dos limites da "Herdade da Azafa" doado por D. Sancho I em 5 de Julho de 1199). Na década de 40 do século XIII os Templários profundos conhecedores do território, por serem quase nómadas envolvendo-se em escaramuças com fervor em nome do Cristianismo expandem o seu território até uma área com alguma abundância de água  - nascentes e na confluência de dois ribeiros afluentes da ribeira de Figueiró) permitindo agricultura menos rudimentar e potencial para crescer demograficamente, algo episódico no território que dominam. Uma área que não tinha presença - pelo menos em permanência - dos Hospitalários, nem era reivindicada pelo Bispado da Guarda. O seu nome... Ares (atual Arez). Embora local com referência histórica anterior, um «achado» só ao alcance de quem conhecia o território como a palma das mãos. Os Templários marcam o território onde os cursos de água não o fazem. Surgem marcos que os homens levaram e o tempo poucos salvou.



Templários versus Bispado da Guarda
Com o território de Montalvão, Nisa e Alpalhão, vulnerável perante as exigências da Diocese da Guarda, os Templários alinham na estratégia de uma outra Diocese, a de Évora. Perante as características da formação do território de Portugal, assente na Reconquista de Norte para Sul, as instituições, sejam de que tipo fora, tinham um maior poder concedido pela antiguidade e presença histórica. Por isso, para o Bispado da Guarda, o rio Tejo não significou qualquer obstáculo. O território necessitava de ser reorganizado a nível eclesiástico e estruturado socialmente, por isso serras ou montanhas, riachos ou rios (mesmo o maior a atravessar o território) eram apenas pormenores. 



Templários versus Bispado de Évora
Com a guerra para expulsar os muçulmanos instalada no Algarve e na Andaluzia, a Diocese de Évora expande-se territorialmente. Para norte da sede do Bispado (Évora) as condições eram favoráveis, por saber-se que o território estava completamente pacificado e necessitava de crescimento demográfico. Além disso, urgia estabelecer o domínio da Diocese o mais para norte possível pois havia o Bispado da Guarda com interesse territorial para sul do rio Tejo. A Diocese de Évora desejava que fosse o importante rio ibérico a fazer "fronteira" entre as duas Dioceses. Os Templários pressionados pela excomunhão percebiam que a pressão seria insustentável pois a sua presença nestes territórios há muito libertos do islamismo era cada vez menos imprescindível. 



Grão-mestre D. Pedro Gomes
A morte do Mestre Martim Martins, em maio de 1248, no cerco cristão a Sevilha obrigou à eleição de novo Mestre recaindo a eleição em D. Paio Gomes em pleno campo de batalha. Ao regressar de Sevilha conquistada (novembro de 1248) o novo Mestre jura vassalagem perante o rei D. Afonso III colocando a Ordem ao seu dispor. Foi durante o seu Mestrado, breve pois faleceu em março de 1250 que o território português fica, praticamente, com as fronteiras definidas como na atualidade - seriam ajustadas em 12 de setembro de 1297 (tratado de Alcanizes) e depois em 29 de setembro de 1801 (perda de Olivença). Um ano antes de D. Pedro Gomes falecer, D. Afonso III entra em Faro, a 27 de março de 1249, conquistando o Algarve que é anexado ao território português. 



Grão-mestre D. Paio Gomes
A morte de D. Pedro Gomes obriga a nova escolha para Mestre Templário. É eleito D. Paio Gomes, em março de 1250, que tem tarefa importante a fazer em início de mestrado.



Abril de 1250
Com a presença do Mestre templário, D. Paio Gomes e do Bispo eborense, D. Martinho celebra-se um acordo de cedência, pela «Ordem do Templo», à revelia do Bispado da Guarda, dos direitos episcopais de Montalvão, Nisa, Alpalhão e Ares (Arez) à Diocese de Évora. Eis o documento em latim que data de abril de MCCLXXXVIII = 1288 corresponde na Era Cristã a 1250.



A força das Dioceses
As características da Reconquista Cristã, com avanços e recuos, fez-se sentir por todo o Alem-Tejo que até ao final do século XIII e mesmo depois continuou espartilhado por vários poderes. As Ordens Militares que foram fundamentais para libertar, pacificar e povoar o território a Sul do rio Tejo até ao Algarve detinham algumas localidades e territórios onde tentavam fundar outras. O seu poder e influência estava a perder-se, pois entre final do século XIII e o século XIV teriam de ceder face ao crescimento do domínio eclesiástico que organizaria um território que já estava estabilizado. Tinha terminado a Guerra para se promover a Paz.  



O território templário a sul do rio Tejo ia resistindo. Em 1260 nova tormenta chegaria...
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18 julho 2020

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Os Padres

18 julho 2020 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE PADRES EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.



Num povoado com origem nos Templários o fator religioso sobrepôs-se durante centenas de anos às atividades seculares. 




Um dos sacerdotes que marcou o século XX foi o padre Virgílio (Virgílio Diniz Oliveira). Foi ele o último grande orador e pregador da povoação, embora não fosse o último pároco e muito menos o último a residir em Montalvão que tem casa paroquial. 


Casa Paroquial: amplo edifício com excelente quintal na rua da Barca

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



O Padre Virgílio pregou a primeira missa - havia pelo menos duas celebrações por dia (uma de manhã e outra pela tarde) em 20 de fevereiro de 1898. Apesar de chegar a Montalvão no final do século XIX foi o "Padre do Século XX Montalvanense" afastando-se do sacerdócio, por velhice, no início dos Anos 30.




A sua principal atividade era assegurar as eucaristias e todo o serviço de que estava incumbido um sacerdote até ao século XX, num povoado com tantos habitantes como Montalvão. 


O Padre Virgílio celebrou o primeiro casamento e batizado em 21 de fevereiro de 1898 e registou o primeiro óbito, estreando-se no «sacramento da extrema-unção», em 5 de março de 1898. 


"Adro" na escadaria da Igreja Matriz antes das obras de 1968/1969 que desfiguraram o traçado com dezenas (ou mais...) de anos

Além da sua principal atividade eclesiástica ainda ensinou muitos montalvanenses a ler, escrever e contar. 


Edifício de habitação do Padre Virgílio, na rua do Outeiro

Tinha um prestígio insuperável no povoado, dando exemplo de ética e moral acima de qualquer dúvida ou equívoco. 


Interior da Igreja Matriz - com soalho/madeira e púlpito - antes das obras de 1968/1969 que desfiguraram o traçado com dezenas (ou mais...) de anos
Reprodução de uma gravura, a aguarela, do pintor portalegrense João Tavares, datada de 1944. João Augusto Silveira Tavares nasceu em Portalegre a 22 de Setembro de 1908, falecendo na mesma cidade, em 20 de Novembro de 1984, aos 76 anos e dois meses. Foi professor de desenho no Liceu de Portalegre, além de pintor a óleo e aguarela, com tapeçarias elaboradas com base nos seus trabalhos

Foi uma figura superlativa e ao qual os montalvanenses procuravam apoio e aconselhamento, mesmo tendo aperfilhado uma criança, que seria em adulto, o lojista António d'Oliveira Falcão.  



Outros padres se seguiram, alguns a residir em Montalvão (por exemplo, o Padre José António dos Santos) outros vindos de fora da "Vila", quase sempre de Nisa. 


Da esquerda para a direita: Ti Chico (barbeiro), Ti Joaquim Branco (carpinteiro), Padre José dos Santos e Joaquim da Tróia (lojista)

Todos foram dando o seu contributo numa povoação onde as atividades diárias eram pontuadas pelo Sagrado. Com a desertificação demográfica tudo terminou. 

Próxima "paragem": Os Professores
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11 julho 2020

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Montalvão 1900

11 julho 2020 0 Comentários
A DEMOGRAFIA MONTALVANENSE HÁ 120 ANOS ERA UM «ASSUNTO À PARTE» COMPARADA COM A ATUALIDADE. 

A quantidade de crianças na «Vila» contrasta com a progressivo envelhecimento durante o século XX. E o despovoamento irreversível no século XXI

Até mesmo com a de 1940 ou 1950. Mas tendo de começar por algum ano que se perceba a de 1900.

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



No Recenseamento realizado em 1900, Montalvão (freguesia) tinha 1 819 habitantes (911 homens e 890 mulheres) que viviam em 507 edifícios. Metade dos fogos (contando também com edifícios abandonados e sem telhado!) na atualidade.

         DEMOGRAFIA 1900



Em 1900, nasceram 39 pessoas e morreram 20, o que fez transitar um acréscimo de mais 19 montalvanenses (dez homens e nove mulheres) para 1901. Em arruamentos, mesmo que diminutos (praticamente com a mesma expressão demográfica em 1900) há circunstâncias inevitáveis, enquanto a rua do Hospital acrescentou mais uma menina aos montalvanenses, na rua da Igreja (com mortes e nascimentos em 1899) não houve alterações em 1900.


(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)


NOTA: a rua das Almas parece ser a continuação da rua da Costa mas também pode ser a da rua da Barca. Só na segunda década do século XX "ganha autonomia"



Em 1900 - ou até 1900 - ainda não existiam alguns dos arruamentos que só foram surgindo durante o século XX, tais como o largo da Corredoura, a rua das Almas (embora esta informação seja dúbia), Porta de Cima e Porta de Baixo. Além da rua das Traseiras e rua da Cabine, que eram traseiras com os quintais da rua do Outeiro, Direita e Cabo. Alguns destes arruamentos surgiram com o esvaziamento demográfico do Monte do Santo André e Monte do Pombo.



Em 1900, mesmo alguns arruamentos eram muito menores - em termos de edifícios construídos e extensão - do que na atualidade. Principalmente os arruamentos nos extremos da povoação. Por exemplo, a rua de São Pedro seria menos de metade do que é passados 120 anos. Em 1900 era, essencialmente, uma rua de traseiras - quintais das casas do Outeiro, Direita e Cabo - depois do «Pátio» e até à capela, então Ermida de São Pedro. Aliás denominava-se «caminho do São Pedro».



Analisando os nascimentos e óbitos desde o século XVI é possível perceber como foram evoluindo os arruamentos montalvanenses. Há muito «pano para mangas». 

Assim se foi fazendo Montalvão


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04 julho 2020

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Sinais dos Tempos

04 julho 2020 0 Comentários
O QUE FOI DRAMÁTICO, NO DESENVOLVIMENTO E NA DEMOGRAFIA NO INTERIOR DE PORTUGAL, FORAM OS MELHORAMENTOS CHEGAREM TARDE.


Tal como em Montalvão, quando a desertificação demográfica e a decréscimo da atividade económica já eram irreversíveis. Ainda continua na atualidade. Mesmo a sede de concelho (Nisa) nem aparece em mapas temáticos quando estes são acerca de equipamentos e infraestruturas da modernidade. 



Nos Anos 60, na presidência da Câmara Municipal de Nisa, tendo por principal edil, o «Doutor Mário» ainda houve melhoramentos assinaláveis como um ambicioso plano de atividades para 1965.



O pontão no «Rebêre de Fevêle» foi substituído por uma ponte, entre 1965 e 1966, mas os que tanto necessitaram dela (bem como da estrada entre a Salavessa e o Pé da Serra) já tinham envelhecido e outros fugido para a emigração ou a Grande Lisboa. Chegava tudo demasiado tarde...



Séculos com uma travessia num pontão resistente mas perigoso com frequência assídua numa demografia crescente.


Carta Militar de Portugal; 1/25 000; Serviços Cartográficos do Exército; folha 314 (excerto); publicação em 1950; trabalho de campo 1946 (divisão de freguesias com base na Carta Corográfica de Portugal; 1/50 000; folha 28-B; Instituto Geográfico e Cadastral; publicada em 1982)

Décadas com uma ponte segura, resistente e adequada a uma travessia frequente mas já num território em declínio demográfico em que passará um carro "de quando em vez"! O progresso nunca peca por desnecessário e sumptuoso, só por tardio... 


Carta Militar de Portugal; 1/25 000; Instituto Geográfico do Exército; folha 314 (excerto); publicação em 1993; trabalho de campo 1989 (divisão de freguesias com base na Carta Corográfica de Portugal; 1/50 000; folha 28-B; Instituto Geográfico e Cadastral; publicada em 1982)

As duas pontes: uma antiga em derrocada (que teve muito mais pisoteio e "ouviu das boas") que outra recente praticamente sem utilização. Quando esta chegou já o povo tinha rumado a outras paragens bem mais tentadoras...



Os 2 242 dias da presidência de Mário Relvas Fraústo, como presidente do Município de Nisa, entre 30 de março de 1961 e 20 de maio de 1967... «dão pano para mangas»...

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03 julho 2020

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Faria Artur: Jornalista Casapiano

03 julho 2020 0 Comentários
HÁ 122 ANOS, EM 3 DE JULHO DE 1898, O MONTALVANENSE FARIA ARTUR PUBLICOU O ÚLTIMO NÚMERO DE UM JORNAL CASAPIANO.



A terminar os seus estudos, aos 17 anos e três meses, António de Matos Faria Artur editou o n.º 20 do jornal manuscrito «O Justo». Assegurou vinte números de um tipo de publicação que era usual e estimulada dentro da Instituição para exercitar a escrita e leitura dos cerca de 400/450 casapianos que viviam na Real Casa Pia de Lisboa e cujos jornais "passavam de mão em mão". Ser o editor e principal redator era muito prestigiante, pois era ser um (o escolhido) em meia centena de rapazes. Dos cerca de 40 que entraram para a Instituição, em 1889, aquando da inscrição de Faria Artur coube ao montalvanense assegurar a edição deste jornal durante nove meses. E o nome escolhido indica muito da sua personalidade... JUSTO!



O percurso na infância e adolescência deste casapiano revela que é, provavelmente, o montalvanense mais ilustre do século XX. Nascido em 16 de março de 1881, na «Praça» (da República, depois do 5 de Outubro de 1910), órfão de pai aos dois anos e três meses (22 de junho de 1883) e de mãe aos dois anos e sete meses (15 de novembro de 1883) ingressou na Real Casa Pia de Lisboa, em 27 de abril de 1889 (oito anos e um mês de idade), pelo empenho do seu tio João de Matos Faria Artur. Resgatou o Futuro ao Destino. Em 29 de setembro desse ano (1898), cerca de três meses depois da edição do último «O Justo» deixaria a Casa Pia. 


Excerto do "Mestrado em Educação Artística", em 2007, de Helena Cabeleira: «A Auto-Invenção Artística nos Jornais Manuscritos da Casa Pia de Lisboa (1893 - 1929)

A produção de jornais na Casa Pia sempre foi prolifera por ser estimulada e bem sucedida, mas os vinte números de «O Justo» é uma das maiores referências nesta vertente de Imprensa informativa, crítica e ilustrada, em número único que circulava dentro da Instituição. 



A presença de Faria Artur bem como a qualidade e pertinência do que foi publicado e ficou encadernado para a posteridade já anunciava um futuro brilhante e fecundo para este montalvanense que passou de Órfão a Professor e cidadão com valia de excelência na Educação portuguesa.



António de Matos Faria Artur em parceria com outros autores foi responsável pela elaboração de muitos livros didáticos, entre eles os quatro manuais que permitiram alfabetizar, desde a 1.ª até à 4.ª classe, milhares de portugueses durante mais de vinte anos, entre 1929 e 1949, com o livro da 4.ª classe a prolongar-se até meados da década de 60.




Um orgulho para qualquer montalvanense escrever acerca dele.

NOTA: Agradecimento à Casa Pia de Lisboa que facilitou o acesso ao processo do nosso Faria Artur, bem como ao seu vasto espólio. Obrigado
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30 junho 2020

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Moda Montalvanense

30 junho 2020 1 Comentários
O TRAJE DE MONTALVÃO NÃO DIFERIA MUITO DO TRAJE QUE ERA UTILIZADO NO CONCELHO DE NISA E OUTROS MUNICÍPIOS LIMÍTROFES. MAS HÁ EXCEPÇÕES.



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27 junho 2020

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Rua do Hospital

27 junho 2020 0 Comentários
DURANTE SÉCULOS FOI O NOME DA ATUAL TRAVESSA DA PRAÇA.



Na toponímia de Montalvão nunca existiu o conceito de "Travessa". O mais próximo é «Ruínha». E há duas: a de Baixo (entre a rua Direita e a rua de São Pedro) e a de Cima (entre a rua do Cabo - continuação da rua Direita para Oeste, pois "cabo" é extremo ou ponta no Mundo Rural - e a rua de São Pedro) mesmo assim não evitando três quarteirões enormes entre as duas: a de São Pedro e a do Outeiro/Direita/Cabo.


Igreja da Misericórdia na atualidade (setembro de 2014). À esquerda (a Sul) a rua do Hospital (atual travessa da Praça) e à direita (a Norte) a rua do Outeiro


Com a construção da Igreja Misericórdia - em meados do século XVI - e do Hospital, é provável que surgissem dois novos arruamentos que antes não existiam: a rua do Outeiro e a rua do Hospital. 



Mesmo quando, em Lisboa, se decidiu fazer um inventário dos estragos que o terramoto do 1.º de novembro de 1755 provocou no país, quem responde de Montalvão é inequívoco quanto às questões n.º «11 - Se tem Conventos, e de que Religiosos?», n.º «12 - Se tem Hospital, e por quem he administrado?», n.º «13 - Se tem Casa de Misericordia, e qual fosse a sua origem?» e n.º «14 - E o que houver de notavel em qualquer destas cousas.» O Vigário Frei António Nunes de Mendonça escreve de Montalvão, em 24 de abril de 1758, de forma esclarecedora como respostas n.ºs 10, 11 e 12:




Na resposta n.º 10: «Naõ tem convento algum de Frades, nem Mosteiro de Religiosas».

A pormenorizada resposta n.º 11 - «Tem um hospital, que foi albergaria cuja se anexou à Misericordia desta Villa por provisaõ dos Senhores Reis antigos; e este hospital administra duas capelas, huma que lhe deixou Frey Pedro Carrilho coadjutor, que foi desta Igreja com obrigaçaõ de meio annal de missas por sua alma em cada hum ano; e mais que sobrasse de suas rendas se gastasse com os pobres do mesmo hospital; outra, que lhe deixou Soror Mariana dos Santos religiosa agostinha descalça do convento dos Grilos de Lisboa, e natural desta Villa, com pensaõ de três festas cada hum ano de sermaõ, e missa contada, cujas capelas administra o provedor e mais irmaõs da Misericordia, e tem de renda o hospital com estas Capellas cento e trinta mil reys.»».


Na resposta n.º 12: «Tem casa de Misericordia e esta hé de Padroado Real com os mesmos privilégios que tem a Misericordia de Abrantes e tem de rendas proprias cada ano, quarenta mil reys e está proximo a Igreja Matriz».


A atual travessa da Praça (já com paralelos) durante séculos «rua do Hospital» (em ponedros) que ligava a «rua da Igreja» (atual largo da Igreja/largo D. Manuel Godinho) à «Praça» que depois do 5 de outubro de 1910 passou a designar-se «Praça da República» 

A «rua do Hospital» sendo muito estreita (implantar um novo quarteirão com a Igreja e a albergaria/hospedaria/hospital "obrigou" a que assim fosse) e pouco extensa nunca teve grande expressão na demografia montalvanense, mas em 1910, por exemplo, ainda morreram dois montalvanenses, com 62 e 84 anos, no Hospital - cujo acesso se fazia pela atual «travessa da Praça» - além de um "anjinho" com três meses numa das poucas casas de habitação nela existentes. Como ficou registado para a eternidade:



Mas, com tanto tempo de existência e tanto nascimento, morte e casamento há dezenas de referências à «rua do Hospital». Eis dois exemplos de nascimentos, em anos de "números redondos", para 1900 e 1910, com os pais a morarem, como escreveu o senhor padre Virgílio, na «rua do Hospital»:



"Travessa" é um modismo importado para Montalvão, muito frequente na toponímia de Lisboa, por exemplo, pois não consta dos registos de Montalvão até à decisão em colocar placas toponímicas nos arruamentos montalvanenses.



Assim se foi fazendo Montalvão

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