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22 maio 2020

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Montaluaõ 460

22 maio 2020 0 Comentários
HÁ 460 ANOS, EM MAIO DE 1560, FOI PUBLICADO O PRIMEIRO MAPA CONTENDO, INTEGRALMENTE, O TERRITÓRIO DE PORTUGAL: O MAPA DE ÁLVARO SECO.



Nele consta Montaluaõ, embora lendo-se Montalvaõ, o nosso Montalvão. Ainda com pouco rigor geográfico é admirável como tendo tão poucos meios, em meados do século XVI, as posições relativas das 2 167 localidades mais importantes do País estão corretas. Algumas apenas com uma centena de habitantes. Montalvão entre a confluência do rio Sever com o rio Tejo. Mais a sul, a magnífica Castelo de Vide. Entre Castelo de Vide e Montalvão, «A Póvoa» mais afastado do rio Sever e "As Meadas» mais próximas. Só alguém rigoroso e genial como geógrafo/cartógrafo conseguia, muito antes dos topógrafos e engenheiros, com instrumentos específicos para cartografia, estabelecer o rigor que só foi possível, no século XIX, com as triangulações geodésicas, naquilo que se conhece em Montalvão, por "taleves" ou "talefes". Havia no «Mapa de Álvaro Seco» outros pormenores como a hierarquia dos aglomerados populacionais (cidades e vilas/aldeias) e a rede hidrográfica (principais rios e afluentes). "Faltou" a orografia (relevo) e a incipiente rede viária, embora assinale as escassas 38 pontes sobre cursos de água. Para saber mais do genial Fernando Álvaro Seco (CLICAR). Para ver o mapa a várias dimensões, incluindo a dimensão total, ou seja, o tamanho real (CLICAR).




Outros mapas se seguiram até aos rigorosos trabalhos de campo no século XIX. Todos tiveram o «Mapa de Álvaro Seco» por referência. Sendo o primeiro, podia merecer tantos reparos que não seria referência para os seguintes, mas não foi assim. A sua qualidade, diz tudo...



Atualmente fazem-se mapas temáticos, em 2020, a 1/600 000, ou seja, a escalas maiores (o dobro) que a utilizada por Álvaro Seco (1/1 200 000) em que nem Nisa está cartografada... muito menos Montalvão. Tema a desenvolver num próximo texto, denominado «Sinais dos Tempos».

Assim se representava Montalvão... em Portugal, em Maio de 1560.
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19 maio 2020

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Atrás dos Tempos, Tempos Vêm

19 maio 2020 0 Comentários
NADA SE PERDE TUDO SE TRANSFORMA.



A maior parte do território de Montalvão é hoje um espaço inóspito habitado por animais selvagens de grande porte com destaque para um herbívoro (veados e corças), um omnívoro (javalis e javalinas) e alguns carnívoros (águias, de várias espécies, entre elas a real) além de serpentes. É como um retorno às origens, quando a «Herdade da Açafa» foi cedida aos Cavaleiros da Ordem do Templo ou Templários, em 5 de julho de 1119.  Ao surgir Montalvão como povoado, em final do século XIII, houve um progressivo e lento desenvolvimento agrícola de todo o território que culminaria em meados do século XX com todos os recantos praticamente modificados pelos montalvanenses. Até as giestas e xaras escasseavam tal a necessidade de lenha para uso doméstico e para alimentar os fornos de onde se fazia o pão do dia-a-dia. No início da terceira década do século XXI tudo parece rapidamente regressar ao que era o território antes da intervenção dos montalvanenses. O trabalho minucioso e penoso de arrotear xarais e giestais durante seis séculos está em cem anos a desaparecer para voltar à Açafa selvagem.   



Algumas das áreas mais impressionantes, com modificação rápida e irreversível, são os triângulos entre a Salgueirinha, os Falquetões/Vale do Muchacho e a Lomba da Barca. E entre esta, o Monte do Pombo e a Salgueirinha. Terras de areia e ponedros, difíceis de arar com animais, tal a quantidade e dimensão de cascalho amarelo-torrado e acastanhado que são como que as gotas do suor solidificado de gerações de montalvanenses incluindo os meus antepassados diretos - com propriedades neste território do noroeste - que conseguiram domar terrenos que hoje, aos olharmos para eles, espanta-nos como o conseguiram fazer. Foi um esforço sobre-humano cultivar e manter oliveiras e sobreiros em condições de poderem dar o máximo para sustento das famílias.



Atualmente voltou a ser terra de animais selvagens de grande porte onde se assiste a uma luta diária pela sobrevivência dos mais fortes, entre xaras e giestas, com mais de dois metros de altura. Arbustos que encobrem árvores como as oliveiras que naqueles terrenos, sob aquelas condições, nunca puderam ser grandes em altura. Só generosas em azeitonas e azeite.



A Lomba da Barca e área envolvente voltou a ser território selvagem tal como no tempo em que foi ponto de passagem importante entre Castelo de Vide e Castelo Branco, entre este e Castelo de Vide, pois era neste local que se atravessava o rio Tejo, nos dias "em que a corrente deste rio, o maior e melhor veio aquífero central de superfície, na Península Ibérica" deixava o barqueiro manobrar a «Barca».



O crescimento demográfico e a consequente necessidade de obter alimentos para dar sustento às famílias permitiu que se fizesse agricultura em espaços sem qualquer capacidade de uso agrícola dos solos. Conseguiram-se plantar olivais (Ol) nos pequenos cabeços, erguer montados de sobro (Sb) e azinho (Az) nas suaves vertentes. Nos pequenos vales junto às linhas de água - barrancos, regatos, ribeiros e ribeiras - deu-se espaço a algumas culturas arvenses de sequeiro (Ca): searas, raramente de trigo, mais cevada e centeio ou aveia. Apesar do esforço em cultivar todo o espaço, mesmo o que não tinha qualquer aptidão agrícola, apenas os declives mais íngremes, a ladear cursos de água no fundo de vales estreitos, ficaram incultos (Ic). Só a força da gravidade - perigo de queda - conseguiu superar a capacidade dos montalvanenses em domar a totalidade do território no noroeste.  


Carta Agrícola e Florestal de Portugal/Folhas n.º 314/315 (excertos) na escala 1/25 000; Serviço de Reconhecimento e de Ordenamento Agrário; Secretaria de Estado da Agricultura; Ministério da Economia; publicada em 1967 (Reconhecimento de Campo (1951 a 1953) - Atualização: 1966)

A incapacidade do tipo de solos, relevo e clima permitiu que fossem necessários seis séculos para conseguir melhorar, de forma engenhosa, os sistemas agrários adaptando as pessoas aos terrenos e modelando o território. Após tanto esforço e dedicação, por necessidade, durante dezenas de gerações, sem intervenção humana tudo rapidamente se desfez em pouco tempo. Foram necessários seis séculos para tirar algum rendimento (pouco de uma escassez infra-humana, embora todo o espaço disponível tivesse que ser utilizado mesmo exigindo esforço gigantesco) mas um século chegará para encobrir e desfazer o que levou seis séculos a fazer. 



1. Em terrenos de arcoses e cascalheiras - areia, cascalho e ponedros - as linhas de água moldaram durante milhões de anos um território inóspito onde as espécies selvagens se adaptaram, sendo «donas e senhores» de um espaço que modelaram, reinando nos céus e na terra. 


Carta Militar de Portugal/Folhas n.º 314/315 (excertos) na escala 1/25 000; Serviços Cartográficos do Exército; publicada em 1950 (trabalhos de campo em 1946)

2. A origem geológica e fisionomia dos solos dão ao noroeste montalvanense características bem distintas dos terrenos de xisto cinzento/acastanhado barrento e grauvaques onde está implantada a principal povoação deste vasto território: Montalvão.



3. Com o povoamento humano empreendido pelos Templários, implantou-se uma via de comunicação importante (Castelo de Vide/Castelo Branco/Castelo de Vide). O troço entre a Ermida de Nossa Senhora dos Remédios e a Lomba da Barca, teve traçado entre giestais e xarais/estevais com a fixação de população numa área generosa em água, o Monte do Pombo.



4. Esse lugarejo de «Monte do Pombo» - que merecerá um texto próprio neste blogue num Futuro próximo - tinha no ano de 1758, treze casas e 50 habitantes, 33 maiores e 17 menores (menos de 21 anos). Mas chegou às duas dezenas de habitações e sessenta pessoas, no século XIX, despovoando-se, completamente, com habitação permanente, em finais dos Anos 50. No final dos Anos 70 foi totalmente abandonado. A problemática deslocação (maus acessos, impossibilidade em estados de tempo agreste e longas horas de viagem) entre Montalvão e o seu território do noroeste - mesmo que fossem grandes as dificuldades em obter escasso rendimento agrícola - obrigavam a que a fixação de população fosse permanente.



5. Depois dos xarais e giestais que se desenvolveram durante milénios, depois de ser caminho privilegiado entre o Alentejo e a Beira Baixa, esta e o Alentejo (pela Lomba da Barca), conseguiu-se num esforço gigantesco arrotear campos impróprios, implantando oliveiras (nos cabeços), quercus: sobreiros e azinheiras (nas encostas) e searas, nos apertados vales.



6. «Depois de tantos depois», a desertificação agrícola, êxodo rural e envelhecimento populacional fez, rapidamente, regressar o noroeste montalvanense às origens. E não está pior...

Assim se foi fazendo Montalvão...
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16 maio 2020

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Bicharada Montalvanense I

16 maio 2020 0 Comentários
OS ANIMAIS SELVAGENS FAZIAM PARTE DO DIA-A-DIA DA VIDA DOS MONTALVANENSES.


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14 maio 2020

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Ciclo da Parreira III

14 maio 2020 0 Comentários
A PARREIRA/VIDEIRA ERA O ARBUSTO-PREFERIDO DOS MONTALVANENSES.



Planta exigente fez parte da vida - mais do imaginário - dos montalvanenses durante séculos. 



Planta originária da Ásia Central desenvolveu-se por todas as regiões com clima temperado do Hemisfério Norte com destaque para a Europa, principalmente no Sul junto do Mar Mediterrâneo.



Arbusto-trepadeira muito importante desde o final da Idade do último degelo "matou a fome e sede" a muitos europeus, desenvolvendo-se em áreas isoladas. Esta "domesticação" permitiu ao longo de séculos desenvolver sub-espécies que são hoje as variedades de uvas e vinho.


Na Bacia do Mar Mediterrâneo a parreira (ou videira) tem as melhores condições para crescer e multiplicar-se com inúmeras variedades que depois permitem cruzar as mesmas produzindo uvas com sabores diversificados e vinhos de alta qualidade e tão diferentes que, por vezes, nem parecem ser obtidos do mesmo arbusto, em latim, Vitis Vinifera L. Pode vinho e uvas não parecerem provir da mesma espécie mas vêm. A parreira acaba por estar para a Flora como os cães para a Fauna. Ambos seres vivos manipulados pelo Ser Humano durante milénios.


Associada ao Cristianismo - azeite, pão e vinho - cedo começou a ser "domesticada" criando-se inúmeras variedades.




É um arbustro-trepadeira muito exigente em trabalho (poda) além de necessitar de estar constantemente a ser desparasitada (sulfatagem) para além da localização - encostas com muita exposição ao Sol - em vastas encostas soalheiras. E estas escasseiam na freguesia de Montalvão.

O Alentejo é terra de cereal (pão), azeite e cortiça. E bolotas para porcos. Montalvão é uma espécie «de Alentejo do Alentejo».



Apenas os Lavradores («os ricos» em montalvanês) tinham possibilidade de fazer vinho para consumo próprio. Que se saiba só havia duas vinhas - ou seja com número de parreiras e produção de cachos de uvas - para fazer vinho. A "Vinha do Senhor Alberto» lá para as Naves/Dourados («Dourédes» em montalvanês) e as parreiras na encosta ensolarada da Cereijeira («Cerinjêra» em montalvanês) quando era do senhor Jaquim Roberto, antes deste ter necessidades financeiras que o obrigou a vender a enorme propriedade em parcelas compradas por uma dúzia de "remediados" montalvanenses.



Os cachos de uvas são colhidos em Setembro - geralmente depois das festas de Nossa Senhora dos Remédos («Senhô'Drumédes» em montalvanês) - consumidas às refeições ou os cachos pendurados nos tetos dos sobrados para se transformarem em passas.




Parreira é uma planta que oferece múltiplas utilizações.

1. Os seus frutos em cacho são apetitosos para serem consumidos diariamente, em bagos, as uvas;



2. Outra utilização é extrair a polpa dos bagos fermentando o sumo da uva para produção de vinho;

3. O mosto - peles, polpa e graínhas (bago dos cachos de uvas) com engaços moído (mais complexos como se pode ler (clicar) - produzia a aguardente;



4. Os cachos de uvas também podem ser utilizados noutras épocas do anos, no Inverno, Primavera e Verão como passas.




Quem quiser saber mais (clicar).



Este blogue irá acompanhar o "Ciclo do Parreira" com quatro publicações por ano, utilizando uma nobre parreira de Montalvão.

A. Verão - Início da frutificação e crescimento das uvas (publicado em 10 de setembro de 2019);



B. Outono - Amadurecimento e apanha dos cachos de uvas (publicado em 20 de dezembro de 2019);




C. Inverno - Recuperação do arbusto durante os dias de Sol mais escasso com o desenvolvimento das folhas que permitirão o aparecimento dos cachos (publicar hoje, em 15 de maio de 2020 * tardio devido ao confinamento provocado pela COVID-19); 



D. Primavera - Inflorescências e floramentos (a publicar em 5 de junho de 2020). Ficando em definitivo como texto permanente neste blogue. 



Uma homenagem ao arbusto que, escasseando na freguesia, deu alegria (por vezes em excesso) - como uvas, vinho, aguardente ou passas - a milhares de montalvanenses durante 700 anos.



 
Próxima paragem, a fechar esta primeira fase dos «Ciclos Agrícolas», num dia destes, no Futuro próximo. A Figueira: a árvore-mística  para os montalvanenses: multi-presente dos quintais às tapadas mais longínquas, a árvore da folha que tapou Adão e Eva e o tronco que segurou a corda com que Judas traidor se enforcou. A Figueira que, por isso, tem frutos sem dar flor!  
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09 maio 2020

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Fitas

09 maio 2020 0 Comentários
CASA QUE NÃO TIVESSE FITAS NA PORTA DA RUA ERA CASA ABANDONADA.



As fitas anti-mosquedo nas portas eram um clássico de Montalvão. E tal como as barras em torno das janelas, portas e empenas permitiu dar cor a uma aldeia branca.

Por isso estava-se sempre a mudar a cor das fitas de plástico, até porque era fácil (e não muito caro) alterar. As duas ripas horizontais que, entre elas, prendiam as fitas mantinham-se. Mudavam-se as fitas que nunca chegavam a velhas. As fitas também protegiam as portas de madeira, muitas vezes duas meias portas, da chuva (Inverno) e do calor (Verão). Havia ainda um outro efeito este, talvez, mais pessoal. Naqueles dias de calor abafado de Verão, mesmo com as portas fechadas, ouvir as fitas a bater umas nas outras baralhadas mesmo que por uma ligeira brisa de vento, o som que elas emitiam, provocava uma sensação tão agradável que até parecia fazer o calor ser menos penoso.



«Ó neto?! Tens que fazer um mandado (recado, em linguagem "grave", ou seja, à moda de outras terras)! Vai ao Xequim da Tróia ou à Xá Hermína e compra fitas diferentes destas azuis e brancas que já precisam de ser mudadas! Até porque as barras agora estão caiadas a azul!»

«Ó vó! E de que cor?»

«Não deve haver muitas diferentes. Escolhe umas que não sejam azuis, nem brancas!» 

Adorei, pois as cores que menos gostava, por causa dos futebóis eram riscas azuis e brancas, além de fazerem lembrar os pijamas!



Na loja - já não me lembro qual - pasmei. Daquela vez havia tantas cores que a loja parecia ter um arco-íris dentro dela. Fiz as contas. A largura era sempre a mesma (já sabia de cor) pois levava 36 fitas. 

«Quantas cores há?»

Riu-se (talvez por saber que se dizia ter sempre fitas das mesmas, e poucas, cores!): «Oito!»

«Quero seis cores, menos a branca e a azul. Seis fitas de cada uma das outras seis cores.»

Cheguei a casa e comecei a trabalhar. Tirar as fitas azuis e brancas e colocar as seis cores, inovando, duas a duas em vez de uma a uma. Duas vermelhas, duas pretas, duas verdes, duas amarelas, duas castanhas e duas violetas (não sei se foi esta a ordem, mas foram estas as cores). Repetindo a ordem mais duas vezes. Trinta e seis fitas. Coloquei os ganchos das ripas nos pregos do batente da porta e gostei.

O primeiro a chegar foi o meu avô. Espantado! 

«Quem é que fez isto?»

«Fui eu!»

«A tua avó já viu?»

«Não!»

«E foi a tua avó que te disse para pores essas cores todas?»

«Não! Disse para escolher cores diferentes das azuis e brancas».

«Bom! Agora é esperar! Mas esta porta fica a parecer as comédias do senhor Costa lá na Praça!»

Pelo que se passou a seguir a minha avó não parece ter gostado... nem desgostado! No Verão seguinte já lá estavam as fitas azuis e brancas. Mas as barras de cal também já eram... ocre!

E assim se ia fazendo Montalvão...


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06 maio 2020

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As Salsicheiras

06 maio 2020 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE SALSICHEIRAS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.




No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve a Xá Jula na Praça, a Ti Fegénia na rua do Outeiro, a Xá Hermína na rua Direita a chegar à do Cabo e a Xá Rebéta na rua de Sam Pedro.




Não era fácil, até meados do século XX ser proprietário de um porco e criá-lo. Não tanto, mas também, em conseguir diariamente a ração de comida («vienda» em montalvanês). Mas a principal dificuldade era ter um espaço de terreno afastado da aldeia mas logo nos arredores para fazer uma furda de modo a poder ir, pelo menos duas vezes por dia, alimentá-lo. Se a casa tivesse um quintal grande até era possível uma furda, mas eram raríssimas as casas com um quintal suficientemente adequado para poder fazer uma furda sem incomodar os vizinhos com o cheiro e dejetos poluidores e lamacentos que os porcos produzem abundantemente. Ora não havendo porco, não havia matança, não havendo matança, não havia enchidos. 


O "ritual" da matança: apanhar e levar o porco para a banca, enrolar uma corda no focinho (para não morder), dar o golpe fatal do pescoço ao coração, queimar os pêlos com carqueja, raspar a pele, pendurar o porco, ser desmanchado no «tchimbarilho» e depois fazer os enchidos típicos de Montalvão merecem em destaque à parte num destes dias, num Futuro próximo

Se poucas famílias tinham porco, poucas tinham enchidos para o dia-a-dia. Mas os enchidos faziam muita falta para condutomerenda para o campo» ou «acompanhamento da refeição» em linguagem grave) não os podendo ter havia que os comprar. Onde? Nas salsicharias (charcutarias em linguagem grave). Em Montalvão, mesmo no auge demográfico dos Anos 40 para 50 as quatro salsicharias chegavam pois o dinheiro escasseava. 

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



Havia até duas salsicharias que eram "mistas": a da Xá Hermínia também era loja que vendia um pouco de tudo e a da Xá Júla era também açougue (vendia carne fresca de outros animais: borregos, ovelhas, cabras e chibos). 



As salsicharias vendiam essencialmente carne de porco em enchidos, mas alguma - pouca - carne fresca de porco. Um dia destes há que falar isoladamente da vida montalvanense de cada um destes animais que bem o merecem: juntado-lhes as galinhas e os coelhos. E porque não o gado muar, asnino e cavalar. Além das vacas.



Apenas conheci duas salsicharias - era bilingue pois fora de Montalvão eram charcutarias - a da Xá Hermínia e a da Xá Roberta. Curiosamente não me lembro de fazer mandados/mandédes (recados em linguagem grave) à loja da Xá Hermínia para comprar enchidos, mas sim para algum produto alimentar, para coser ou fitas de plástico coloridas para pôr nas portas da rua afastando o mosquedo. Lembro-me de ir fazer compras de uns chouriços, linguiças ou as malfadadas farinheiras à loja da Xá Roberta pois ficava quase em frente, mas um pouco mais para oeste da casa dos meus avós maternos na rua de São Pedro. A Xá Rebéta herdou três qualidades da sua avó materna: o nome (eram as duas Robertas); o oficio e habilidade (a avó dela também tinha uma salsicharia, embora na rua Direita, que não conta para este rol pois funcionou nos Anos 10 até aos Anos 30, e aqui escreve-se acerca dos Anos 40 e 50); e a capacidade de enfrentar as adversidades que a vida lhe pregou. Ficou viúva muito nova, pouco mais de 20 anos, e teve que lidar com um acidente que limitou a habilidade manual do seu filho único. Nunca desmoreceu e pode ser vista como um dos exemplos do que são capazes as mulheres montalvanenses perante os escolhos que a vida lhes vai colocando no caminho. Uma mulher com M grande, de mulher e de Montalvão. Um éme a dobrar.


A avó Roberta (também enviuvou e teve continuar a cuidar da salsicharia e ir amparando os quatro filhos, embora já casados, dois rapazes e duas raparigas, uma delas mãe da Roberta) tinha uma salsicharia na rua Direita com quintal atrás como quase todas as casas da rua Direita e as das extremidades desta, do Cabo para Oeste e do Outeiro para Leste.



Esta (imagem acima) era a salsicharia, na rua Direita, da avó Roberta da Xá Rebéta. No quintal desta casa da rua Direita fez-se outra casa, esta para a rua de São Pedro. Uma casa com varanda no primeiro piso. Pois é! Quase em frente a esta casa, do outro lado da rua de São Pedro, ficava a salsicharia da Xá Rebéta. 


A curiosidade é que, nesta rua de São Pedro, se deste lado vivia um tio (pelo lado da avó materna) da Xá Rebéta do outro lado era a salsicharia dela que vivia com a mãe Joana, ou seja, irmão do tio que viveu desde final dos Anos 60 nesta casa... até nela morrer, em meados dos Anos 70, e ser velado.

Próxima "paragem": Os Latoeiros
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