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06 maio 2020

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As Salsicheiras

06 maio 2020 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE SALSICHEIRAS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.




No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve a Xá Jula na Praça, a Ti Fegénia na rua do Outeiro, a Xá Hermína na rua Direita a chegar à do Cabo e a Xá Rebéta na rua de Sam Pedro.




Não era fácil, até meados do século XX ser proprietário de um porco e criá-lo. Não tanto, mas também, em conseguir diariamente a ração de comida («vienda» em montalvanês). Mas a principal dificuldade era ter um espaço de terreno afastado da aldeia mas logo nos arredores para fazer uma furda de modo a poder ir, pelo menos duas vezes por dia, alimentá-lo. Se a casa tivesse um quintal grande até era possível uma furda, mas eram raríssimas as casas com um quintal suficientemente adequado para poder fazer uma furda sem incomodar os vizinhos com o cheiro e dejetos poluidores e lamacentos que os porcos produzem abundantemente. Ora não havendo porco, não havia matança, não havendo matança, não havia enchidos. 


O "ritual" da matança: apanhar e levar o porco para a banca, enrolar uma corda no focinho (para não morder), dar o golpe fatal do pescoço ao coração, queimar os pêlos com carqueja, raspar a pele, pendurar o porco, ser desmanchado no «tchimbarilho» e depois fazer os enchidos típicos de Montalvão merecem em destaque à parte num destes dias, num Futuro próximo

Se poucas famílias tinham porco, poucas tinham enchidos para o dia-a-dia. Mas os enchidos faziam muita falta para condutomerenda para o campo» ou «acompanhamento da refeição» em linguagem grave) não os podendo ter havia que os comprar. Onde? Nas salsicharias (charcutarias em linguagem grave). Em Montalvão, mesmo no auge demográfico dos Anos 40 para 50 as quatro salsicharias chegavam pois o dinheiro escasseava. 

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



Havia até duas salsicharias que eram "mistas": a da Xá Hermínia também era loja que vendia um pouco de tudo e a da Xá Júla era também açougue (vendia carne fresca de outros animais: borregos, ovelhas, cabras e chibos). 



As salsicharias vendiam essencialmente carne de porco em enchidos, mas alguma - pouca - carne fresca de porco. Um dia destes há que falar isoladamente da vida montalvanense de cada um destes animais que bem o merecem: juntado-lhes as galinhas e os coelhos. E porque não o gado muar, asnino e cavalar. Além das vacas.



Apenas conheci duas salsicharias - era bilingue pois fora de Montalvão eram charcutarias - a da Xá Hermínia e a da Xá Roberta. Curiosamente não me lembro de fazer mandados/mandédes (recados em linguagem grave) à loja da Xá Hermínia para comprar enchidos, mas sim para algum produto alimentar, para coser ou fitas de plástico coloridas para pôr nas portas da rua afastando o mosquedo. Lembro-me de ir fazer compras de uns chouriços, linguiças ou as malfadadas farinheiras à loja da Xá Roberta pois ficava quase em frente, mas um pouco mais para oeste da casa dos meus avós maternos na rua de São Pedro. A Xá Rebéta herdou três qualidades da sua avó materna: o nome (eram as duas Robertas); o oficio e habilidade (a avó dela também tinha uma salsicharia, embora na rua Direita, que não conta para este rol pois funcionou nos Anos 10 até aos Anos 30, e aqui escreve-se acerca dos Anos 40 e 50); e a capacidade de enfrentar as adversidades que a vida lhe pregou. Ficou viúva muito nova, pouco mais de 20 anos, e teve que lidar com um acidente que limitou a habilidade manual do seu filho único. Nunca desmoreceu e pode ser vista como um dos exemplos do que são capazes as mulheres montalvanenses perante os escolhos que a vida lhes vai colocando no caminho. Uma mulher com M grande, de mulher e de Montalvão. Um éme a dobrar.


A avó Roberta (também enviuvou e teve continuar a cuidar da salsicharia e ir amparando os quatro filhos, embora já casados, dois rapazes e duas raparigas, uma delas mãe da Roberta) tinha uma salsicharia na rua Direita com quintal atrás como quase todas as casas da rua Direita e as das extremidades desta, do Cabo para Oeste e do Outeiro para Leste.



Esta (imagem acima) era a salsicharia, na rua Direita, da avó Roberta da Xá Rebéta. No quintal desta casa da rua Direita fez-se outra casa, esta para a rua de São Pedro. Uma casa com varanda no primeiro piso. Pois é! Quase em frente a esta casa, do outro lado da rua de São Pedro, ficava a salsicharia da Xá Rebéta. 


A curiosidade é que, nesta rua de São Pedro, se deste lado vivia um tio (pelo lado da avó materna) da Xá Rebéta do outro lado era a salsicharia dela que vivia com a mãe Joana, ou seja, irmão do tio que viveu desde final dos Anos 60 nesta casa... até nela morrer, em meados dos Anos 70, e ser velado.

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