-->

Páginas

14 agosto 2021

Textual description of firstImageUrl

Montalvão e Aljubarrota 636

14 agosto 2021 1 Comentários

 CUMPREM-SE HOJE, 14 DE AGOSTO DE 2021, OS 636 ANOS EM QUE OS PORTUGUESES DERROTARAM OS CASTELHANOS EM ALJUBARROTA.


E que ligação tem Montalvão com a famosa batalha? Uma peleja devastadora que glorifica um feito militar notável, de capacidade tática de Nuno Álvares Pereira, destreza dos arqueiros ingleses, valentia dos portugueses - a preparar o terreno e combater - e fazer o que parecia impossível. Um exército de cerca de sete mil guerreiros derrotar um de 31 mil, embora os valores sejam aproximados, mas sempre entre quatro a cinco vezes menor.



Até agora não há ligação mas talvez exista! Ainda que de circunstância. A "Batalha Real" pois colocou em confronto direto o proclamado Rei de Portugal com o Rei de Castela tem sido estudada - mais pelos portugueses que pelos espanhóis - mas isso parece estar a alterar-se. E só essa alteração permitirá saber e aferir se há ligação de Montalvão a Aljubarrota e que tipologia de afinidade. A batalha é estudada a nível militar pois é considerada um exemplo de como um exército menor desde que saiba utilizar contra o inimigo a força deste, pode vencer. Mas isso foi sempre assim. Esta tem a particularidade - não há duas pelejas iguais - de encurralar um inimigo numeroso entre dois vales acentuados com linhas de água e desbaratá-lo. Afinal ter muitos elementos fez com que se atrapalhassem uns aos outros (muitos morreram esmagados por companheiros) mas não é esse o interesse para este texto. A batalha tem sido estudada pelos portugueses como um misto entre um feito de bravura, arte militar e consequências políticas de independência face a Castela, iniciando uma nova dinastia (de Avis). Pelos espanhóis foi sempre considerada um desastre por haver sobranceria e desorganização, além dos aliados franceses terem revelado incapacidade e rivalidade entre Reinos, e insuficiência capaz de perceber a evolução militar. E o grande destaque na História de Espanha em relação ao desastre foi a decapitação de parte significativa da nobreza - o Rei "safou-se" por pouco - embora o gigantismo de Espanha comparado com Portugal depressa permitiu renovar os protagonistas. Mas que sofreram um rude golpe, sofreram. Profundo talvez não.



Há um recrudescer do interesse dos espanhóis pela «Batalha dos Reis», até porque há muita documentação que existe e está pouco estudada. 


Até agora, praticamente só têm (não é tanto assim...mas...) analisado o que escreveu o cronista castelhano Pedro López de Ayala (1332/1407) que acompanhava o Rei de Castela, Dom João I (1358/1390; rei desde 1379) e a escreveu nos anos seguintes aprisionado em Portugal, em Leiria e Óbidos, cerca de dois anos. Ou seja, viu pouco e ouviu (outros) contar muito. 


Manuscrito da "Crónicas dos Reis de Castela" por Pedro López de Ayala, que inclui a sua «Crónica do Rei João». Nesta reprodução lê-se claramente, na margem esquerda, a referência a "Aljubarrota".

 
Sem grandes desenvolvimentos, por enquanto - mas sabe-se que há quem esteja a investigar a participação dos extremenhos de Cáceres e Badajoz na batalha - esperemos que nos próximos anos, seria ótimo haver já informação em 2025 (640 anos da "Batalha Real") acerca do que é apenas uma hipótese. Dificilmente os castelhanos entraram por "terras do Côa" já com 30 mil homens, caminhando em direção a Lisboa. O exército castelhano foi sendo reforçado por contingentes de nobres extremenhos que atravessaram a fronteira e se foram juntando ao Rei de Castela.   


Como se sabe, a primeira tentativa até foi por Elvas, embora com um exército menor, sofrendo o primeiro revés na "Batalha dos Atoleiros", em 6 de abril de 1384, junto a Fronteira, a sul de Portalegre. O que tem lógica pois o percurso até à tomada de Lisboa seria menor e mais facilitado, pela peneplanície alentejana.



O que se sabe é que, há 636 anos, a fronteira a Sul do rio Tejo, de Castelo de Vide para o algarve, estava bem guarnecida como consta do rol de alcaides no tempo de Dom Fernando I (1345/1383; Rei desde 1367) bisneto de Dom Dinis (1261/1325; Rei desde 1279), este contemporâneo da fundação de Montalvão como povoamento devidamente organizado para permitir a sua existência e desenvolvimento. 

Alcaidarias portuguesas no reinado de Dom Fernando I


O alcaide da raia mais próximo da margem esquerda do rio Tejo estava em Castelo de Vide (n.º 62 no mapa). Depois um "enorme vazio" para norte. O que se justifica pois a fronteira a sul de Castelo de Vide estava, há muito, estabilizada. Entre Castelo de Vide e a confluência do rio Sever com o rio Tejo não! Havia o Castelo Templário do Esparregal mas deixara de ser português pois estava construído junto da antiga fronteira, no rio Salor.  Recorde-se que até ao "Tratado de Alcanizes", em 12 de setembro de 1297, a fronteira entre Portugal e Leão/Castela era no rio Salor (clicar). Com o "recuo", para o rio Sever, os castelhanos ficaram mais próximos do litoral português. A foz do rio Sever fica a cerca de 7º 32' 23" Oeste enquanto que a confluência do rio Chança com o rio Guadiana - segunda mais próxima do litoral, é aproximadamente 7º 34' 09" Oeste, maior longitude e mais longe de Lisboa que a foz do rio Sever. O "Tratado de Alcanizes" colocou Montalvão como território vulnerável, num conflito entre portugueses e castelhanos. Atravessar o rio Sever a vau (seco) - antes da construção da barragem de Cedilho - em meados de agosto fazia-se praticamente até à foz (dependendo se o rio Tejo fazia entrar água no rio Sever). Mesmo o rio Tejo, até à construção da barragem de Alcântara e do sistema de barragens Fratel/Belver era fácil pois há relatos que a "Barca" (a Norte de Montalvão) nem necessitava de funcionar a não ser para auxiliar na travessia de carroças e carro de muares. Até se dizia ser mais fácil na Primavera e no Outono que no final do Verão por encalhar nos afloramentos rochosos que fazem um «leito de pedra» onde corre o rio Tejo, praticamente desde Herrera (ex-Ferreira) de Alcântara até às Portas de Ródão. 

A foz do rio Sever (à direita) na confluência com o rio Tejo (em primeiro plano). Ao fundo, à esquerda, o vale do rio Pônsul. Antes da construção da barragem de Cedilho (na confluência do rio Sever com o rio Tejo)


A facilidade com que se atravessava a fronteira no território de Montalvão era enorme. Se houve mesmo a participação de guerreiros/ militares/ soldados castelhanos da Extremadura espanhola eis o local mais fácil para entrar em Portugal, até porque desde que o território começou a ser utilizado pela sociedade humana, seja em Montalvão ou noutro lado, os cumes podiam ter mato com xaras e giestas, carrasco e zambujeiros, mas os leitos das ribeiras, em particular a de São João e de Nisa estavam arroteadas pois o acesso à água, principalmente, quando escasseava era fundamental para assegurar a sobrevivência dos animais domésticos. Seria perfeitamente natural, se é que houve entrada de castelhanos, utilizarem os leitos das ribeiras (secas ou praticamente secas) nesta época do ano - e limpas quando o espaço estava a ser utilizado em termos económicos/sobrevivência - como caminhos preferenciais por facilitarem as deslocações dentro da bacia hidrográfica do rio Tejo, no Nordeste Alentejano e sul da Beira Baixa.

Carta Militar de Portugal; 1/25 000; Serviços Cartográficos do Exército; folha 314 (excerto); publicação em 1950; trabalho de campo 1946

A ter ocorrido uma situação destas - reforço do exército castelhano - passando por uma fronteira desguarnecida tem sentido que após esse acontecimento (a ter existido) tenha surgido a necessidade de dotar Montalvão de uma cerca amuralhada (Castelo) aproveitando um sítio privilegiado, em que nem foi necessário fazer um castelo de grande dimensão, pois o local é tão elevado face ao território circundante que chegou meio hectare para erguer duas ameias e uma muralha circundante. 


Com a construção do Castelo, o espaço entre Castelo de Vide e a confluência do rio Sever com o rio Tejo ficou com muito mais capacidade de vigiar e defender o território português.


Que a Igreja Matriz é anterior ao Castelo há poucas dúvidas, pois é a Igreja Matriz que tem o altar junto ao ponto mais elevado, com o Castelo já a ser construído no declive para o rio Sever. Se o Castelo fosse anterior à Igreja ocuparia a área mais elevada, por todos os motivos (clicar).  


Que os espanhóis - têm os documentos onde estão descritas as participações e movimentações, para formar um exército imponente com mais de 30 mil homens - desenvolvam os estudos que lhes permitam ter um melhor conhecimento de como se processou a reunião dessa coluna impressionante de seres humanos, vindos de Castela, que foi dizimada a poucos quilómetros de Alcobaça.


E que se consiga fazer (ou não) ligação entre parte do exército castelhano e Montalvão.

1 comentários blogger
  1. É uma versão muito verossímil que nos conta o Caratana 1 a propósito da mãe de todas as batalhas!
    Dizem que havia barcos espanhóis no Tejo junto a Lisboa à espera da chegada por terra das hostes Espanholas. Não sei até que ponto algumas dessas barcaças não vieram Tejo abaixo e passaram por Montalvão, que nessa altura estavam carenciadas de gentes. Depois da Alcanizes, os "nuestros hermanos" ficaram mais perto de Lisboa.
    A nossa vitória deve-se aos muitos "saberes militares" de D. Nuno Alvares Pereira que nessa altura tinha 25 anos e 50 dias. Note-se que na Batalha de Atoleiros, graças à tática implementada por este, "o famoso quadrado" não tivemos nenhuma baixa.
    A ideia de combater os castelhanos ali no "Campo da Feira" em Aljubarrota, deve-se a que, se fossemos vencidos, ainda seria possível darmos batalha antes dos castelhanos chegarem a Lisboa.
    A estratégia militar de D.Nuno Alvares Pereira deu resultado com a escolha do terreno, das covas por ele mandadas fazer e apanhar a frente da coluna composta por Nobres Franceses a cavalo com o sol pela frente.
    Esses Franceses olharam para os "portuguesitos" com sobranceria pensando que era coisa de minutos desbaratá-los. Lixaram-se!!!

    ResponderEliminar