OU COMO O NOME DE MONTALVÃO CORREU MUNDO ATRAVÉS DOS MAPAS NOS SÉCULOS XVI E XVII.
Sendo este tema um assunto demasiado complexo, não será um texto científico, mas descritivo, mostrando - isso é o importante - como o povoado foi cartografado (e muito) surgindo em cartografia onde localidades que se sabem serem de maior dimensão não têm registo. Isso é visível nos mapas cartografados para a Península Ibérica, pois tendo de optar por menos designações a curiosidade está em que foi dada primazia a Montalvão.
1561
A cartografia atribuída a Fernando Álvaro (ou Álvares) Seco é a primeira em que Portugal surge num mapa em que está desenhado a totalidade do território e isolado de Espanha. O pormenor das descrições - principalmente topónimos - pode por isso ser maior e haver outros destaques (rede hidrográfica) além de maior rigor embora ainda com distorções próprias de um tempo (meados do século XVI) em que a cartografia terrestre diferia pouco da cartografia feita para facilitar o reconhecimento das margens dos Oceanos. A cartografia apresenta-se com orientação diferente da que é habitual Norte-Sul. Neste mapa o Sul está à esquerda e o Norte fica à esquerda. Ocidente para o topo e Oriente na base. Houve várias impressões - pelo menos três - nas escalas 1/1 300 000 e 1/750 000 com impressões em Veneza (por Michaelis Tramezini) e Antuérpia (pelos irmãos Jan van e Lucas van Doetichum). A última edição que se publica, neste blogue, é a que está incluída por Abraham Ortelius, no Atlas «Theatrum Orbis Terrarum» publicado em 1570.
Montalvão é uma das pouco mais de 1 700 localidades cartografadas quando se calcula que Portugal teria mais de 30 mil.
Durante um século foi este o mapa que representou Portugal, integrando os inúmeros "Atlas" que se organizaram, depois de 1570, nos Países mais desenvolvidos do Mundo. A cartografia de Portugal e Montalvão puderam frequentar desde bibliotecas de grandes instituições europeias até salões da nobreza mais conceituada da Europa. Foram desenhados muitos outros mapas, geralmente mais simplificados, durante um século mas sempre com base na cartografia atribuída a Álvaro Seco.
1662
Coube a Pedro Teixeira Albernaz (nascido em Lisboa cerca de 1595 e falecido, em 1662, na cidade de Madrid) embora vivendo praticamente toda a vida em Espanha, para onde foi viver, nos Anos 10 do século XVII, elaborar uma cartografia que "destronaria" 101 anos depois o célebre mapa de Álvaro Seco. Esta cartografa foi impressa, em Madrid, por Marcus de Orozcos. Apesar de, nos cem anos seguintes, se terem publicado cartografias de Portugal - até já com a "normal" orientação Norte/Sul - e com escalas que permitiam mais "espaço" para colocar toponímia e acidentes geográficos, em 1722, esta cartografia ainda era considerada a melhor, mais elaborada e fiável.
Como não podia deixar de ocorrer, Montalvão continua cartografado. Tal como A Barca (Lomba da Barca) no caminho entre Castelo de Vide e Castelo Branco, e vice-versa, com passagem por Montalvão. Há diferenças entre os dois mapas - para além de maior precisão pois cem anos significaram avanços científicos importantes no modo como se definiam as localizações absolutas - com Pedro Teixeira a registar, um aumento da toponímia, acima de 60 por cento, ou seja, localizou e assinalou mais de 2 800 localidades. A costa está melhor definida (o cartógrafo era especialista em cartografar os litorais) bem como a rede hidrográfica e já com o relevo desenhado, ao contrário de Álvaro Seco que apenas localizou a "Serra de Montejunto". Calcula-se que Pedro Teixeira tenha elaborado esta cartografia, nas décadas de 20 e 30, embora apenas publicada em final da sua vida.
A curiosidade vem de Espanha (ou da Ibéria)
Com a presença de Montalvão (e ausências várias de outras localidades) em 17 mapas num espólio de 53 da Ibéria, em que foi grafado, o topónimo correspondente a Montalvão) com a representação da Península Ibérica.
O primeiro, em 1559, dois anos antes de Álvaro Seco dar a conhecer Portugal ao Mundo...já o Mundo conhecia Montalvão!
1559
Noua totius Hispaniae descriptio (Pirro Ligorio e Michele Tramezzino)
Publicado em Roma (atual Itália) em Latim
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Portalegre, Nisa, Castelo de Vide ou Marvão. Quase nenhuma localidade do que é na atualidade o Distrito de Portalegre, exceto Crato e Arronches.
1575
Regni Hispaniae post omnivm editiones Locvpletissima descriptio (Abraham Ortelius)
Publicado em Antuérpia (atual Bélgica) em Latim
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Nisa, Alpalhão, Amieira, Arez, Tolosa, Castelo de Vide ou Marvão.
1593
Noua descriptio Hispaniae (Pirro Ligorio (cartógrafo), Gerard de Jode (impressor), Jan van Doetichum e Lucas van Doetichum, irmãos gravadores)
Publicado em Antuérpia (atual Bélgica) em Latim
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Portalegre, Nisa, Castelo de Vide ou Marvão. Nem Amieira, Arez ou As Meadas. Quase nenhuma localidade - exceto Vila Flor, Alpalhão, Crato e Arronches - do que é na atualidade o Distrito de Portalegre.
1598
Versão melhorada da cartografia de 1575
Regni Hispaniae (Abraham Ortellus)
Publicado em Antuérpia (atual Bélgica) em Latim
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Nisa, Castelo de Vide ou Marvão. Nem Amieira, Arez, Tolosa ou Alpalhão, por exemplo.
1601
Hispaniae noua descriptio (Matteo Florimi e Arnoldo Arnoldi)
Publicado em Roma (atual Itália) em Latim
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Nisa, Alpalhão, Arez, Amieira, Tolosa, Castelo de Vide ou Marvão.
1605
Nova et accurata tabula Hispaniae... (Willem Janszoon Blaeu)
Publicado em Amesterdão (atual Países Baixos/Holanda) em LatimEstá Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Nisa, Alpalhão, Amieira, Arez, Tolosa, Castelo de Vide ou Marvão.
1610
Nova Hispaniae descriptio (Jodocus Hondius)
Publicado em Amesterdão (atual Países Baixos/Holanda) em Latim
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Nisa, Castelo de Vide ou Marvão. Além de Tolosa, Alpalhão, Arez e Amieira.
1617
Typus Hispaniae (Hessel Gerritsz)
Publicado em Amesterdão (atual Países Baixos/Holanda) em Latim
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Nisa, Castelo de Vide ou Marvão. Além de As Meadas, Amieira, Tolosa e Arez.
1630
Tabvla Moderna Hispanie (Gerhard Mercator)
Publicado em Paris (França) em Francês
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Nisa, Alpalhão, Arez, As Meadas ou Castelo de Vide.
1631
Typus Hispaniae ab Hesselo (Henricus Hondius)
Publicado em Paris (França) em Latim
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Nisa, Castelo de Vide ou Marvão. Nem Arez, As Meadas, Amieira ou Tolosa, por exemplo.
1633
Nova et accurata tabula Hispaniae... (Henricus Hondius)
Publicado em Amesterdão (atual Países Baixos/Holanda) em Latim1635
Regnorum Hispaniae nova descriptio (Willem Janszoon)
Publicado em Amesterdão (atual Países Baixos/Holanda) em Latim
1638
Generalis, exactissima et novissima Hispaniae descriptio... (Melchior Tavernier)
Publicado em Paris (França) em Latim
1640
Nova et accurata tabula Hispania praecipuis urbibus vestitu insignibus et antiquitatibus (Cornelis Danckerts)
Publicado em Paris (França) em Latim
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Nisa, Castelo de Vide ou Marvão. E muito menos As Meadas, Arez, Amieira, Tolosa e Alpalhão, entre muitas outras, mas Montalvão continua.
1645
Hispania Regnum (Matthaeus Merian)
1650
Accuratissima Totius Regni Hispaniae tabula (Frederick de Wit)
Publicado em Amesterdão (atual Países Baixos/Holanda) em Latim
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Alpalhão, Amieira, Arez e As Meadas.
1660
Carte generale d'Hespagne (Pierre d'Avity)
Publicado em Paris (França) em Francês
Está Montalvão, mas não foram registadas, entre outras, Nisa, Castelo de Vide, Marvão, Amieira, Arez e As Meadas.
Eis como Montalvão, esteve presente, nos mais importantes «Atlas» (conjunto de mapas e cartografias) desde que estes começaram a ter grande divulgação e procura em toda a Europa. "Frequentou" salões e foi (certamente...) soletrado por algumas das personalidades mais influentes e cultas da Europa (e do Mundo).
Excelente post! Parabéns!
ResponderEliminarObrigado
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