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29 janeiro 2020

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De Montalvão Para o Mundo

29 janeiro 2020 0 Comentários
PELO MENOS O MUNDO PORTUGUÊS QUE, ATÉ 1974, IA DO MINHO A TIMOR.



O livro «Leituras» para a 4.ª classe do ensino primário elementar, foi (ainda é...) o livro único que esteve mais anos letivos em vigor, entre 1931/32 e 1967/68, contando com 132 edições em 36 anos letivos, ou seja, teve edições plurianuais (anos letivos com várias edições) devido ao aumento do número de alunos matriculados na 4.ª classe ter crescido acima das previsões.

Quem leu, não esqueceu
Nesse livro, na página 45, num texto dedicado ao porco há uma justa referência ao que Montalvão (e povoações vizinhas) tem, de melhor a nível nacional e mundial... os enchidos.



Foi pois uma justa referência dos autores, entre eles, o insigne casapiano Cruz Filipe, professor na Instituição (Casa Pia de Lisboa) especializado em ensinar os alunos com deficiências cognitivas mais graves, na atualidade, designam-se «professores do ensino especial»: surdos-mudos, cegos, por exemplo, ou com alguma deficiência mental. Cruz Filipe nasceu em Manteigas/Serra da Estrela, em 1890 e faleceu, na cidade de Lisboa, em 1972.

O livro que substituiu o anterior foi editado, em 1968, para o ano letivo 1968/69.



O meu livro da quarta classe até foi outro. Este:



Regressando ao livro mais lido, editado e vendido, para a 4.ª classe, entre o início dos Anos 30 (para quem nasceu em 1920, há 100 anos, infelizmente poucos portugueses desse tempo o leram) até meados dos Anos 60 (já com uma taxa de analfabetismo menor, para quem nasceu por volta de 1955, agora com cerca de 65 anos).

Montalvão com orgulho a fazer parte da educação de várias gerações alfabetizadas de portugueses de Aquém e Além-Mar para lá do Além-Tejo!  
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26 janeiro 2020

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Cal é, Cal é...

26 janeiro 2020 0 Comentários
EU TENHO DOIS AMORES. UM É AZUL OUTRO É OCRE.


Não sei de qual gosto mais.




O melhor é ir mudando a cada caiadela...



Mais acima...



Mais abaixo...




Montalvão é terra bela
Bela com um senão
Nunca se está bem
Bem é mudar de barra
Entre o ocre e o azulão



Olha, olha um esfrunhador montalvanense. 
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23 janeiro 2020

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Escola Primária 70

23 janeiro 2020 0 Comentários

 HÁ 70 ANOS, EM 23 DE JANEIRO DE 1950, POUCO DEPOIS DO INÍCIO DO SEGUNDO PERÍODO FOI INAUGURADO O NOVO EDIFÍCIO PARA A ESCOLA PRIMÁRIA.

Que mereceu honras de destaque em jornais regionais e nacionais a assinalar, com algumas reproduções, em 2021. 

Na penúltima segunda-feira desse mês de janeiro de 1950 os alunos (transitaram da rua de São Pedro) e as alunas (transitaram da rua da Barca) para o novo edifício inaugurado no Sítio do Bernardino. Este tema merecerá destaque aquando de um texto neste blogue honrando «Os Professores».

Montalvão tinha, finalmente uma Escola no modelo idealizado depois da comemoração dos Centenários (1140/1640), em 1940. Demorou tempo a ser concluída, mas foi...

1947

1955

2020

O «Plano dos Centenários» para as escolas primárias adaptava os edifícios às características etnográficas bem como à dimensão do agregado populacional. Montalvão teve uma Escola modelo Alentejo" com dimensão de Vila, ou seja, dois pisos, com quatro salas: duas para raparigas (1.ª e 3.ª classes, na do rés-do-chão; e 2.ª e 4.ª classe no primeiro andar) e duas para rapazes, com a mesma disposição.

A organização das salas de aula, com três janelas, em 1950, era simples:

Catchópas/raparigas 
Dona Mónica, com as primeira e terceira classe, logo na sala do piso térreo;
 
Dona Maria de Lurdes, com as segunda e quarta classe, no piso de cima, subindo as escadas laterais.

Catchôpos/rapazes 
Senhor Domingos Antunes, com a primeira e terceira classes, no rés-do-chão; 

Dona Lucília, com as segunda e quarta classe, no primeiro andar, também com escadas pela lateral. 


A escola além de ter tido uma construção morosa, sete anos, quando abriu tinha condições precárias. Como não havia água canalizada, nem saneamento básico, obrigavam os alunos a "irem à fonte" - as raparigas iam à «Fonte Carreira» e os rapazes à «Fonte do Bernardino». As casas de banho eram rudimentares e o que lhes valia era serem pouco utilizadas. 

As escolas primárias eram muito semelhantes por todo o País, até mais no seu interior que exterior

O horário era sempre a "andar": das nove da manhã ao meio-dia; tudo para casa a almoçar; e da uma às três da tarde. Cinco horas, seis dias por semana. Numa hora, subir o Arrabalde, almoçar e regressar, muitas vezes à chuva e ao vento, era estar mesmo a pedir uma semana na cama doente. À ida, de manhã, e vinda, à tarde, de sacola de pano com livros e cadernos, mais a "pedra", o lápis de pedra e caneta com aparo. Os tinteiros ficavam na pocinha das carteiras. Era assim a escola naquele tempo. Depois foi mudando até tendo quatro salas destinar cada uma a uma classe com turmas mistas mão não misturadas.

Algures em Portugal, com menos batas brancas ou mais, era assim por todo o Portugal

As escolas primárias não eram todas iguais, mas variavam pouco - características regionalistas/etnográficas e dimensão da população.


Desse tempo o que ficou? 

Muitas crianças alfabetizadas, talvez um milhão entre 1950 e 1974, muita iliteracia (pois eram milhares as que nunca mais tinham oportunidade de voltar a ler e escrever) e como símbolo, a palmatória ou régua - eu nunca vi nenhuma palmatória em quatro anos: 1967/68 a 1970/71 - mas levei algumas reguadas.

Assim se foi fazendo Montalvão


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22 janeiro 2020

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Concelho de Montalvão (Territórios)

22 janeiro 2020 0 Comentários
CONCELHO ATÉ 28 DE DEZEMBRO DE 1836 E FREGUESIA DEPOIS O TERRITÓRIO MANTÉM-SE INALTERÁVEL.




Os limites do território ilustram na perfeição o isolamento do território. A superfície da freguesia (124,17 km2) já foi pretexto para um texto neste blogue, em 10 de agosto de 2019 (clicar). A freguesia de Montalvão tem maior superfície que 79 dos 308 concelhos existentes em Portugal.


Durante mais de seis séculos, entre finais do século XII e meados do século XIX, até à reforma administrativa de Mouzinho da Silveira (apoiado por Passos Manuel, entre outros), entre 16 de maio de 1932 e 6 de novembro de 1936,  o concelho de Montalvão, era um dos 788 concelhos portugueses, que podiam ser 804 municípios, pois em 16 é difícil apurar a área dos mesmos. Pois nos 788 municípios que estão estudados, Montalvão (com 124,17 km2) é superior a 563 municípios. E dos 225 com 100 ou mais quilómetros quadrados, Montalvão é superior a 28 concelhos, ou seja, em 788 municípios só 197 têm uma área superior a Montalvão, ou seja, Montalvão foi o 198.º maior concelho de Portugal. Um concelho gigantesco que devido ao sítio (localidade dominante num monte altaneiro), território (peneplanície vasta a perder de vista do cimo do monte onde se ergueu a principal povoação) e localização (de difícil transposição devido aos limites serem praticamente à prova de entrada e saída do território de modo facilitado) fizeram durante centenas de anos de isolamento gerar-se uma necessidade inexorável de ser, praticamente autosuficiente, mesmo que isso tenha acarretado muito pobreza secular.




O perímetro do território - concelho e depois freguesia - é de 57,87 quilómetros, com 47,25 delimitados por água (81.65 por cento) e 10,62 por terrenos (18.35 por cento), geralmente por cumeadas ou ligação entre estas e as linhas de água, a Sul. A distribuição é a seguinte:

11,94 quilómetros - Rio Sever (Este);
14,23 quilómetros - Ribeira de São João (Sul);
11,71 quilómetros - Rio Tejo (Norte);
09,37 quilómetros - Ribeiro de Fivenco ou Fevêlo (Sul).

Esta situação - limites naturais bem definidos e praticamente intransponíveis, pois o rio Tejo e o rio Sever (40.87 por cento do perímetro/limite da freguesia) correm encaixados em vales profundos com caudais abundantes, desnivelados e que arrastavam muitos detritos sólidos, de quatro a cinco meses por ano - provocaram um isolamento secular - que dificilmente tem paralelo noutro concelho ou freguesia em Portugal. Em conjunto de concelhos e freguesias há situações semelhantes, mas numa unidade territorial é único.



A morfologia e topografia da freguesia de Montalvão permite que mesmo os cursos de água - ribeira de São João e ribeiro de Fivenco ou Fevêlo - que nem têm caudal elevado, como o rio Tejo e o rio Sever, sejam difíceis de transpor. Redobrando o fator de isolamento quando tal poderia estar mais esbatido.

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



A ribeira de São João (um seu pequeno afluente) quando o limite entre freguesias (Montalvão e Póvoa e Meadas) que coincide com limites concelhios (Nisa e Castelo de Vide) deixa de ser a linha de água (afluente da ribeira) passando a ser a "fronteira" estabelecida por terrenos, está a 6,45 quilómetros da confluência da ribeira de São João com o rio Sever. Pois se a distância em linha reta é de 6 450 metros a distância que o curso de água vai ter na realidade é de 14 230 metros, ou seja mais do dobro. A quantidade de curvas e contracurvas, em espécie de meandros acidentados, quando estes existem em área planas aluviais, mostram na perfeição como o território de Montalvão, nos seus limites é de uma irregularidade impressionante. 



Se a ribeira de São João é sinuosa, mais a norte, no limite entre a freguesia de Montalvão e a do Espírito Santo e São Simão não lhe fica a dever nada em termos de morfologia, com igual sinuosidade. O local onde o limite entre as duas freguesias muda de terrestre para aquífero (nascente da Barroca das Laranjas que conflui no ribeiro) dista 4 825 metros da confluência do ribeiro de Fivenco ou Fevêlo com o rio Tejo, mas este curso de água está na realidade a 8 370 metros de confluir com o rio Tejo. Mais do dobro, devido às "curvas e contracurvas" que o terreno acidentado obriga. 

Montalvão em termos geográficos foi durante séculos um local isolado pela dificuldade em aceder ao território mas também um importante local de passagem. 


O caminho entre as antiquíssimas e importantes povoações de Castelo de Vide e Castelo Branco passava por Montalvão para atravessar o rio Tejo na margem junto à Lomba da Barca. É provável que a ligação mais a norte do Alentejo se fizesse por uma barca no rio Sever. Mesmo Nisa para aceder a Castelo Branco teria de passar a ponte sobre a ribeira de Nisa junto à Senhora da Graça que era a única passagem confiável e que podia ser utilizado todo o ano mais próxima da confluência da ribeira de Nisa com o rio Tejo. Montalvão estava isolado pelos acidentes geográficos naturais mas era fundamental para permitir as ligações, pelo interior de Portugal, entre as margens esquerda e direita do rio Tejo, além das ligações com Espanha numa região, até ao rio Salor, que pertencera ao Reino de Portugal até à assinatura do «Tratado de Alcanices», em 12 de setembro de 1297, mas que só se fez sentir aquando da crise com Castela em 1383-1385 com fronteira marcada fisicamente apenas no século XIX.



O antigo concelho (depois freguesia) de Montalvão em forma de coração - o coração do Além-Tejo - tem esta idiossincrasia. Esta particularidade. é muito difícil entrar no seu território, tal como é extremamente difícil sair. Isto durante séculos, até ao início do século XX. Rodeado de água, só a Sul tem "fronteira terrestre" numa linha de cumeada cujas "pontas" tocam a Leste (A) e Oeste (B) duas linhas de água que não tendo a imponência do rio Tejo e rio Sever, serpenteiam como poucas a paisagem alentejana, a ligação da cumeada à ribeira de São João (A) pela barroca da Nave Gadelha e a ligação ao ribeiro de Fivenco ou Fevêlo (B) pela barroca das Laranjas. É impressionante ainda hoje, agora imagine-se quando não havia qualquer estrada de piso duro, em macadame e depois alcatrão. Montalvão devia parecer um ducado pobre dentro de uma região também pobre. Por isso desenvolveu-se olhando para si. Só por si podia dar sobrevivência aos montalvanenses. Muitos, durante centenas de anos, nunca devem ter saído do território da freguesia. Viviam uns para os outros. Dependiam uns dos outros. 


A linha de água a norte do limite da freguesia de Montalvão (Nisa) com a freguesia de Póvoa e Meadas (Castelo de Vide) é a Barroca da Nave Gadelha (nasce nesta tapada que no registo cadastral tem o n.º 4) que vai confluir com a Barroca de Vale das Espias e esta, sim, é afluente da ribeira de São João


Montalvanês ou como o isolamento de Montalvão durante séculos fez manter palavras, léxico, gramática, expressões idiomáticas, sintaxe, evolução semântica diferenciada e o que mais se verá (lerá) numa segunda parte que se não é (foi) uma língua diferente evoluindo em paralelo ao português tendo uma origem comum, o galaico-português bem parecia que sim!  Mas tudo foi perdido se é que houve mesmo um língua própria muito próxima da portuguesa falada a Sul, mas diferente, como o mirandês muito próxima do português falado a Norte. Língua diferente mas semelhante ou não, dialecto bem característico sem dúvida. Tudo - se foi língua, se foi dialecto ou se foi uma variante - perdeu-se por desconhecimento ou por ter havido outras prioridades...



Houve mestres portugueses que bem "avisaram", como José Leite de Vasconcelos na «Carta Dialectológica de Portugal Continental» (em 1894) e no «Mapa Dialectológico do Continente Português» (1897), entre outros estudos; bem como em «Mapa de Dialectos e Falares de Portugal Continental» (em 1958) de Manuel de Paiva Boléo e Maria Helena Santos Silva; ainda Luís Lindley Sintra, em 1992, com «Mapa dos Dialectos de Portugal Continental e da Galiza»; e ultimamente Marco Neves em «O Galego e o Português São a Mesma Língua?», publicado em junho de 2019. Além do notável «Assim Nasceu uma Língua», de Fernando Venâncio, publicado em novembro de 2019.  



Os "falares de Castelo Branco e Portalegre" têm particularidades locais, algumas bem audíveis durante anos até haver a contaminação irreversível por outras localidades vizinhas mais populosas, a Escola e a Televisão. Entre essas particularidades, Montalvão e Salavessa, mostravam-se um caso bem à parte. Com muito mais diferenças que semelhanças em relação a toda essa região que já era uma "ilha linguística" dentro da Língua Portuguesa. Como se verá (porque já não se ouvirá)!

Próxima "paragem": Concelho de Montalvão (Falares)

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18 janeiro 2020

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Os Taberneiros

18 janeiro 2020 0 Comentários
HOUVE CENTENAS DE TABERNEIROS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.


No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve dez tabernas a funcionar em simultâneo, em Montalvão (além de uma no Santo André e outra no Burnáldine). Havia duas com «Salão de Baile» no piso superior.  Eram estes os estabelecimentos cujos donos menos dormiam em Montalvão! Abriam cedo e fechavam tarde. Viver na taberna facilitava a poupança de tempo. Eram dez as famílias, que em meados do século XX, tinham como principal rendimento a exploração de uma taberna.



Num povoado central de um vasto (em território) e reduzido (em rendimento) por isso escasso (em trabalho) espaço rural, como Montalvão, a taberna era muito mais que um local para copos e bebedeiras. Era muitas vezes nelas que se sabia de negócios e arranjava trabalho para o dia seguinte ou tempos mais próximos. Não são de estranhar dez (doze contando com os subúrbios) as tabernas montalvanenses.



Na rua Direita, considerando os topos - a do Cabo e a do Outeiro - como prolongamentos da rua principal da localidade funcionavam quatro tabernas. De nascente para poente, a do Ti Januário (logo depois da Praça), do Ti Juan Sequêra, do Ti Jaime (esta a mais tardia a abrir das dez) e a do Ti Semé (Simão para quem falava grave, ou seja, à Moda de Lisboa, para os montalvanenses). Na rua da Costa, a do Ti Ambrósio. No arrabalde, a do Ti Bagulho (talvez a última a fechar). Na rua de Sampedro (São Pedro) a do Ti Zé Leandro. No «Fundo da Rua» - cruzamento das quatro ruas: Barca, Costa, Ferro e Almas - a do Ti Mané Desgraça (amputado do braço esquerdo) que depois de falecer passou para a filha, Xá Antónia com a qual tenho uma estória para contar. Depois as duas "grandes tabernas" com Salão de Baile no piso superior. Mais acima da taberna do Ti Mané Desgraça, a caminho do topo da rua da Barca, a da Xá Cezíla Àzabumba. A outra grande taberna com «Salão de Baile» no primeiro andar era da Xá Gracinda e do Ti Antónhe Belo (depois passou para o edifício em frente quando a taberna passou a café) logo no início da rua do Arneiro para quem vem do Arrabalde. Mas isso - escrever acerca dos Cafés - fica para um Futuro próximo. Havia ainda mais duas tabernas: a do Ti Cananã no topo poente da rua do meio no Santo André e a do Ti Juan Branco no Burnáldine (em linguajar grave, Bernardino) já na estrada para Nisa, do lado esquerdo logo depois da divisão entre estradas: Nisa/Alferrarede e Póvoa e Meadas/Castelo de Vide.       


(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)




As múltiplas funções das tabernas
As tabernas eram geralmente reservadas aos homens adultos. E eram muito importantes. Depois do dia de trabalho findar e antes do jantar ou mesmo depois dele os homens tinham vantagem, por vezes necessidade, de irem à taberna, principalmente para saber «Notícias da Vila» ou quem necessitava de alguém para trabalhar. A taberna, em Montalvão, era uma espécie de jornal falado. Sabia-se o que se estava a passar na povoação - se fosse situação grave os sinos tocavam, mas se fosse mexerico ou situações mundanas ficavam quedos e mudos - e, principalmente, sabia-se se havia negócios a fazer ou trabalho a realizar. 



A jorna
Em Montalvão, muitos dos homens casados e solteiros em idade de trabalhar não tinham trabalho certo. Eram jornaleiros, ou seja, trabalhavam ao dia. Podiam era conseguir trabalho para mais de um dia, para dois, uma semana, um mês, sazonal ou um ano (estes eram os sortudos). Quando chegava a noite em que não tinham trabalho para o dia seguinte, tinham de passar por uma taberna para anunciar que precisavam de trabalho para a manhã seguinte ou procurar se alguém - e quem - andava à procura de pessoa para trabalhar e onde. Era assim! Vida difícil. Vida muito difícil. Vida dificílima. Vida em Montalvão. Por isso, muitos, quando podiam e puderam saíram da povoação. À procura de menos incerteza e proporcionar menos fome aos filhos, tal como poder dar a estes uma outra vida que Montalvão é um Ideal, bem bonito, mas depois a vida era o «Diabo». Que o pão amassou e não se saboreou ficando com "a barriga a dar horas"!



Salão de Baile
As duas tabernas com salão de baile eram sumptuosas. Nos dias de festa engalanavam-se com artistas tocadores. Eram concertinas, banjos, música e tudo a dançar. O Salão de Baile da Xá Gracinda era afamado. Música de fora, até vinham tocadores, dizia-se, lá dos lados de Lisboa, para abrilhantarem, até às tantas, as danças de pares, entre as montalvanenses e os montalvanenses. Nem se cabia e se o salão era grande. 



No da Xá Cecília Àzamumba até teatro se encenava e exibia, com tabuado improvisado a fazer de palco. Teatros à Capital com atores e atrizes bem aperaltados. A Rosa do Adro, As Pupilas do Senhor Reitor, Amor de Perdição e a Ceia dos Cardeais. Montalvão era terra prá frente não era para trás. Para trás mija a burra!



Depois com a construção e inauguração do novo edifício da Casa do Povo, em 10 de setembro de 1952, os Bailes e Teatro foram passando para lá, até que por lá ficaram em definitivo!
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As crianças e as tabernas
Eu tenho poucas história nas tabernas. Algumas já adolescente, na do Ti Bagulho, nem vale a pena contar. Em criança há algumas também pouco interessantes a envolver pessoas queridas. Resta uma que ilustra o que era, em final dos Anos 60 e início dos Anos 70, a diferença entre Montalvão e Lisboa. Num dia, teria nove anos, o meu avô materno fechou a carpintaria e anunciou. «Vou comprar-te um gelado!» Eu comecei logo a imaginar um gelado da "Olá" ou da "Rajá". Que bom! Entrámos na taberna da Xá Antónia - não me lembro de conhecer o pai, o Ti Mané Desgraça - e o meu avô pede um copo de três traçado (para ele) e um gelado para o neto. Eu contente. Fiquei desconfiado quando o vi com uma moeda de cinco tostões para pagar o gelado, mas seria porque em Montalvão estava tudo, sempre, em saldo. Eis que lá do quarto de dentro, atrás do balcão ao fundo da taberna, surge a Xá Antónia com um cubo de gelo vermelho preso com um palito. Era esse o gelado. Sabia a groselha. O meu avô todo contente perguntou-me, um minuto depois, pois já estava o gelado comido. «Então soube-te bem, com este calor abafado de agosto?» Eu: «Foi bom! Soube foi a pouco! Gastou-se logo!» E depois deste mais alguns gelados de cubos de gelo com groselha degustei ao longo de várias férias montalvanenses. Agora... trocava todos os Olás, rajás, cornetos, pernas-de-pau, etecetra-e-tal, que já comi ao longo da minha vida por um gelado de cubo de groselha dado pela mão do meu avô a pegar-lhe no palito e a passar para a minha mão. Mas o tempo não volta para trás.



Depois as tabernas foram fechando e os Cafés abrindo. Mas isso é outra história. E este foi apenas um contributo para a história das tabernas montalvanenses!


   
Próxima "paragem": As Parteiras
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