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18 janeiro 2020

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Os Taberneiros

18 janeiro 2020 0 Comentários
HOUVE CENTENAS DE TABERNEIROS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.


No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve dez tabernas a funcionar em simultâneo, em Montalvão (além de uma no Santo André e outra no Burnáldine). Havia duas com «Salão de Baile» no piso superior.  Eram estes os estabelecimentos cujos donos menos dormiam em Montalvão! Abriam cedo e fechavam tarde. Viver na taberna facilitava a poupança de tempo. Eram dez as famílias, que em meados do século XX, tinham como principal rendimento a exploração de uma taberna.



Num povoado central de um vasto (em território) e reduzido (em rendimento) por isso escasso (em trabalho) espaço rural, como Montalvão, a taberna era muito mais que um local para copos e bebedeiras. Era muitas vezes nelas que se sabia de negócios e arranjava trabalho para o dia seguinte ou tempos mais próximos. Não são de estranhar dez (doze contando com os subúrbios) as tabernas montalvanenses.



Na rua Direita, considerando os topos - a do Cabo e a do Outeiro - como prolongamentos da rua principal da localidade funcionavam quatro tabernas. De nascente para poente, a do Ti Januário (logo depois da Praça), do Ti Juan Sequêra, do Ti Jaime (esta a mais tardia a abrir das dez) e a do Ti Semé (Simão para quem falava grave, ou seja, à Moda de Lisboa, para os montalvanenses). Na rua da Costa, a do Ti Ambrósio. No arrabalde, a do Ti Bagulho (talvez a última a fechar). Na rua de Sampedro (São Pedro) a do Ti Zé Leandro. No «Fundo da Rua» - cruzamento das quatro ruas: Barca, Costa, Ferro e Almas - a do Ti Mané Desgraça (amputado do braço esquerdo) que depois de falecer passou para a filha, Xá Antónia com a qual tenho uma estória para contar. Depois as duas "grandes tabernas" com Salão de Baile no piso superior. Mais acima da taberna do Ti Mané Desgraça, a caminho do topo da rua da Barca, a da Xá Cezíla Àzabumba. A outra grande taberna com «Salão de Baile» no primeiro andar era da Xá Gracinda e do Ti Antónhe Belo (depois passou para o edifício em frente quando a taberna passou a café) logo no início da rua do Arneiro para quem vem do Arrabalde. Mas isso - escrever acerca dos Cafés - fica para um Futuro próximo. Havia ainda mais duas tabernas: a do Ti Cananã no topo poente da rua do meio no Santo André e a do Ti Juan Branco no Burnáldine (em linguajar grave, Bernardino) já na estrada para Nisa, do lado esquerdo logo depois da divisão entre estradas: Nisa/Alferrarede e Póvoa e Meadas/Castelo de Vide.       


(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)




As múltiplas funções das tabernas
As tabernas eram geralmente reservadas aos homens adultos. E eram muito importantes. Depois do dia de trabalho findar e antes do jantar ou mesmo depois dele os homens tinham vantagem, por vezes necessidade, de irem à taberna, principalmente para saber «Notícias da Vila» ou quem necessitava de alguém para trabalhar. A taberna, em Montalvão, era uma espécie de jornal falado. Sabia-se o que se estava a passar na povoação - se fosse situação grave os sinos tocavam, mas se fosse mexerico ou situações mundanas ficavam quedos e mudos - e, principalmente, sabia-se se havia negócios a fazer ou trabalho a realizar. 



A jorna
Em Montalvão, muitos dos homens casados e solteiros em idade de trabalhar não tinham trabalho certo. Eram jornaleiros, ou seja, trabalhavam ao dia. Podiam era conseguir trabalho para mais de um dia, para dois, uma semana, um mês, sazonal ou um ano (estes eram os sortudos). Quando chegava a noite em que não tinham trabalho para o dia seguinte, tinham de passar por uma taberna para anunciar que precisavam de trabalho para a manhã seguinte ou procurar se alguém - e quem - andava à procura de pessoa para trabalhar e onde. Era assim! Vida difícil. Vida muito difícil. Vida dificílima. Vida em Montalvão. Por isso, muitos, quando podiam e puderam saíram da povoação. À procura de menos incerteza e proporcionar menos fome aos filhos, tal como poder dar a estes uma outra vida que Montalvão é um Ideal, bem bonito, mas depois a vida era o «Diabo». Que o pão amassou e não se saboreou ficando com "a barriga a dar horas"!



Salão de Baile
As duas tabernas com salão de baile eram sumptuosas. Nos dias de festa engalanavam-se com artistas tocadores. Eram concertinas, banjos, música e tudo a dançar. O Salão de Baile da Xá Gracinda era afamado. Música de fora, até vinham tocadores, dizia-se, lá dos lados de Lisboa, para abrilhantarem, até às tantas, as danças de pares, entre as montalvanenses e os montalvanenses. Nem se cabia e se o salão era grande. 



No da Xá Cecília Àzamumba até teatro se encenava e exibia, com tabuado improvisado a fazer de palco. Teatros à Capital com atores e atrizes bem aperaltados. A Rosa do Adro, As Pupilas do Senhor Reitor, Amor de Perdição e a Ceia dos Cardeais. Montalvão era terra prá frente não era para trás. Para trás mija a burra!



Depois com a construção e inauguração do novo edifício da Casa do Povo, em 10 de setembro de 1952, os Bailes e Teatro foram passando para lá, até que por lá ficaram em definitivo!
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As crianças e as tabernas
Eu tenho poucas história nas tabernas. Algumas já adolescente, na do Ti Bagulho, nem vale a pena contar. Em criança há algumas também pouco interessantes a envolver pessoas queridas. Resta uma que ilustra o que era, em final dos Anos 60 e início dos Anos 70, a diferença entre Montalvão e Lisboa. Num dia, teria nove anos, o meu avô materno fechou a carpintaria e anunciou. «Vou comprar-te um gelado!» Eu comecei logo a imaginar um gelado da "Olá" ou da "Rajá". Que bom! Entrámos na taberna da Xá Antónia - não me lembro de conhecer o pai, o Ti Mané Desgraça - e o meu avô pede um copo de três traçado (para ele) e um gelado para o neto. Eu contente. Fiquei desconfiado quando o vi com uma moeda de cinco tostões para pagar o gelado, mas seria porque em Montalvão estava tudo, sempre, em saldo. Eis que lá do quarto de dentro, atrás do balcão ao fundo da taberna, surge a Xá Antónia com um cubo de gelo vermelho preso com um palito. Era esse o gelado. Sabia a groselha. O meu avô todo contente perguntou-me, um minuto depois, pois já estava o gelado comido. «Então soube-te bem, com este calor abafado de agosto?» Eu: «Foi bom! Soube foi a pouco! Gastou-se logo!» E depois deste mais alguns gelados de cubos de gelo com groselha degustei ao longo de várias férias montalvanenses. Agora... trocava todos os Olás, rajás, cornetos, pernas-de-pau, etecetra-e-tal, que já comi ao longo da minha vida por um gelado de cubo de groselha dado pela mão do meu avô a pegar-lhe no palito e a passar para a minha mão. Mas o tempo não volta para trás.



Depois as tabernas foram fechando e os Cafés abrindo. Mas isso é outra história. E este foi apenas um contributo para a história das tabernas montalvanenses!


   
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