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22 janeiro 2020

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Concelho de Montalvão (Territórios)

22 janeiro 2020 0 Comentários
CONCELHO ATÉ 28 DE DEZEMBRO DE 1836 E FREGUESIA DEPOIS O TERRITÓRIO MANTÉM-SE INALTERÁVEL.




Os limites do território ilustram na perfeição o isolamento do território. A superfície da freguesia (124,17 km2) já foi pretexto para um texto neste blogue, em 10 de agosto de 2019 (clicar). A freguesia de Montalvão tem maior superfície que 79 dos 308 concelhos existentes em Portugal.


Durante mais de seis séculos, entre finais do século XII e meados do século XIX, até à reforma administrativa de Mouzinho da Silveira (apoiado por Passos Manuel, entre outros), entre 16 de maio de 1932 e 6 de novembro de 1936,  o concelho de Montalvão, era um dos 788 concelhos portugueses, que podiam ser 804 municípios, pois em 16 é difícil apurar a área dos mesmos. Pois nos 788 municípios que estão estudados, Montalvão (com 124,17 km2) é superior a 563 municípios. E dos 225 com 100 ou mais quilómetros quadrados, Montalvão é superior a 28 concelhos, ou seja, em 788 municípios só 197 têm uma área superior a Montalvão, ou seja, Montalvão foi o 198.º maior concelho de Portugal. Um concelho gigantesco que devido ao sítio (localidade dominante num monte altaneiro), território (peneplanície vasta a perder de vista do cimo do monte onde se ergueu a principal povoação) e localização (de difícil transposição devido aos limites serem praticamente à prova de entrada e saída do território de modo facilitado) fizeram durante centenas de anos de isolamento gerar-se uma necessidade inexorável de ser, praticamente autosuficiente, mesmo que isso tenha acarretado muito pobreza secular.




O perímetro do território - concelho e depois freguesia - é de 57,87 quilómetros, com 47,25 delimitados por água (81.65 por cento) e 10,62 por terrenos (18.35 por cento), geralmente por cumeadas ou ligação entre estas e as linhas de água, a Sul. A distribuição é a seguinte:

11,94 quilómetros - Rio Sever (Este);
14,23 quilómetros - Ribeira de São João (Sul);
11,71 quilómetros - Rio Tejo (Norte);
09,37 quilómetros - Ribeiro de Fivenco ou Fevêlo (Sul).

Esta situação - limites naturais bem definidos e praticamente intransponíveis, pois o rio Tejo e o rio Sever (40.87 por cento do perímetro/limite da freguesia) correm encaixados em vales profundos com caudais abundantes, desnivelados e que arrastavam muitos detritos sólidos, de quatro a cinco meses por ano - provocaram um isolamento secular - que dificilmente tem paralelo noutro concelho ou freguesia em Portugal. Em conjunto de concelhos e freguesias há situações semelhantes, mas numa unidade territorial é único.



A morfologia e topografia da freguesia de Montalvão permite que mesmo os cursos de água - ribeira de São João e ribeiro de Fivenco ou Fevêlo - que nem têm caudal elevado, como o rio Tejo e o rio Sever, sejam difíceis de transpor. Redobrando o fator de isolamento quando tal poderia estar mais esbatido.

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



A ribeira de São João (um seu pequeno afluente) quando o limite entre freguesias (Montalvão e Póvoa e Meadas) que coincide com limites concelhios (Nisa e Castelo de Vide) deixa de ser a linha de água (afluente da ribeira) passando a ser a "fronteira" estabelecida por terrenos, está a 6,45 quilómetros da confluência da ribeira de São João com o rio Sever. Pois se a distância em linha reta é de 6 450 metros a distância que o curso de água vai ter na realidade é de 14 230 metros, ou seja mais do dobro. A quantidade de curvas e contracurvas, em espécie de meandros acidentados, quando estes existem em área planas aluviais, mostram na perfeição como o território de Montalvão, nos seus limites é de uma irregularidade impressionante. 



Se a ribeira de São João é sinuosa, mais a norte, no limite entre a freguesia de Montalvão e a do Espírito Santo e São Simão não lhe fica a dever nada em termos de morfologia, com igual sinuosidade. O local onde o limite entre as duas freguesias muda de terrestre para aquífero (nascente da Barroca das Laranjas que conflui no ribeiro) dista 4 825 metros da confluência do ribeiro de Fivenco ou Fevêlo com o rio Tejo, mas este curso de água está na realidade a 8 370 metros de confluir com o rio Tejo. Mais do dobro, devido às "curvas e contracurvas" que o terreno acidentado obriga. 

Montalvão em termos geográficos foi durante séculos um local isolado pela dificuldade em aceder ao território mas também um importante local de passagem. 


O caminho entre as antiquíssimas e importantes povoações de Castelo de Vide e Castelo Branco passava por Montalvão para atravessar o rio Tejo na margem junto à Lomba da Barca. É provável que a ligação mais a norte do Alentejo se fizesse por uma barca no rio Sever. Mesmo Nisa para aceder a Castelo Branco teria de passar a ponte sobre a ribeira de Nisa junto à Senhora da Graça que era a única passagem confiável e que podia ser utilizado todo o ano mais próxima da confluência da ribeira de Nisa com o rio Tejo. Montalvão estava isolado pelos acidentes geográficos naturais mas era fundamental para permitir as ligações, pelo interior de Portugal, entre as margens esquerda e direita do rio Tejo, além das ligações com Espanha numa região, até ao rio Salor, que pertencera ao Reino de Portugal até à assinatura do «Tratado de Alcanices», em 12 de setembro de 1297, mas que só se fez sentir aquando da crise com Castela em 1383-1385 com fronteira marcada fisicamente apenas no século XIX.



O antigo concelho (depois freguesia) de Montalvão em forma de coração - o coração do Além-Tejo - tem esta idiossincrasia. Esta particularidade. é muito difícil entrar no seu território, tal como é extremamente difícil sair. Isto durante séculos, até ao início do século XX. Rodeado de água, só a Sul tem "fronteira terrestre" numa linha de cumeada cujas "pontas" tocam a Leste (A) e Oeste (B) duas linhas de água que não tendo a imponência do rio Tejo e rio Sever, serpenteiam como poucas a paisagem alentejana, a ligação da cumeada à ribeira de São João (A) pela barroca da Nave Gadelha e a ligação ao ribeiro de Fivenco ou Fevêlo (B) pela barroca das Laranjas. É impressionante ainda hoje, agora imagine-se quando não havia qualquer estrada de piso duro, em macadame e depois alcatrão. Montalvão devia parecer um ducado pobre dentro de uma região também pobre. Por isso desenvolveu-se olhando para si. Só por si podia dar sobrevivência aos montalvanenses. Muitos, durante centenas de anos, nunca devem ter saído do território da freguesia. Viviam uns para os outros. Dependiam uns dos outros. 


A linha de água a norte do limite da freguesia de Montalvão (Nisa) com a freguesia de Póvoa e Meadas (Castelo de Vide) é a Barroca da Nave Gadelha (nasce nesta tapada que no registo cadastral tem o n.º 4) que vai confluir com a Barroca de Vale das Espias e esta, sim, é afluente da ribeira de São João


Montalvanês ou como o isolamento de Montalvão durante séculos fez manter palavras, léxico, gramática, expressões idiomáticas, sintaxe, evolução semântica diferenciada e o que mais se verá (lerá) numa segunda parte que se não é (foi) uma língua diferente evoluindo em paralelo ao português tendo uma origem comum, o galaico-português bem parecia que sim!  Mas tudo foi perdido se é que houve mesmo um língua própria muito próxima da portuguesa falada a Sul, mas diferente, como o mirandês muito próxima do português falado a Norte. Língua diferente mas semelhante ou não, dialecto bem característico sem dúvida. Tudo - se foi língua, se foi dialecto ou se foi uma variante - perdeu-se por desconhecimento ou por ter havido outras prioridades...



Houve mestres portugueses que bem "avisaram", como José Leite de Vasconcelos na «Carta Dialectológica de Portugal Continental» (em 1894) e no «Mapa Dialectológico do Continente Português» (1897), entre outros estudos; bem como em «Mapa de Dialectos e Falares de Portugal Continental» (em 1958) de Manuel de Paiva Boléo e Maria Helena Santos Silva; ainda Luís Lindley Sintra, em 1992, com «Mapa dos Dialectos de Portugal Continental e da Galiza»; e ultimamente Marco Neves em «O Galego e o Português São a Mesma Língua?», publicado em junho de 2019. Além do notável «Assim Nasceu uma Língua», de Fernando Venâncio, publicado em novembro de 2019.  



Os "falares de Castelo Branco e Portalegre" têm particularidades locais, algumas bem audíveis durante anos até haver a contaminação irreversível por outras localidades vizinhas mais populosas, a Escola e a Televisão. Entre essas particularidades, Montalvão e Salavessa, mostravam-se um caso bem à parte. Com muito mais diferenças que semelhanças em relação a toda essa região que já era uma "ilha linguística" dentro da Língua Portuguesa. Como se verá (porque já não se ouvirá)!

Próxima "paragem": Concelho de Montalvão (Falares)

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