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15 janeiro 2020

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Ciclo do Medronheiro III

15 janeiro 2020 0 Comentários
O MEDRONHEIRO É A ÁRVORE-MISTERIOSA DOS MONTALVANENSES.



Árvore fantástica ainda pode ter medronhos do ano anterior (se não os tiverem colhido) e rapidamente nascem as flores e destas os frutos, coexistindo medronhos maduros com medronhos novos. Estes têm um longo período de amadurecimento de 10/11 meses. Não há nenhuma outra árvore mediterrânica com estas características. Apenas os citrinos (Laranjeiras, por exemplo) se assemelham, mas estas espécies não são nativas mediterrânicas, ou seja, espontâneas no clima subtropical seco, mas sim nativas de climas subtropicais húmidos. Em Portugal, particularmente em Montalvão, têm condições de temperatura semelhantes mas para sobreviverem e darem frutos com qualidade e em quantidade têm de ser regadas (citrinos), ou seja, ter o suplemento em água fornecido pelo Ser Humano que no clima subtropical húmido é de origem natural, por haver mais humidade no ar e mais precipitação que no clima mediterrânico, que é um clima subtropical seco. 



Quase todos a queriam (até querem...) ter, pelo menos uma árvore, mas não é fácil. Só nos poucos terrenos de charneca - solos arenosos (degradação dos grauvaques) entre giestas, trovisco, urzes e carqueja - se encontram alguns exemplares. Como cresce em terrenos de forte inclinação não tem outras árvores de maior porte a disputar o mesmo espaço. O Medronheiro («madrunhêro» em montalvanês) pode ser considerado uma árvore pequena ou um arbusto grande!



Planta originária do Mediterrâneo é talvez, a árvore mais portuguesa de Portugal. A beleza da copa, flores e fruto fazem dela uma árvore ornamental. Mas é mais, muito mais, muitíssimo mais que isso.


A verde: áreas na Europa onde o Medronheiro se desenvolve com frequência e facilidade

É uma árvore de aspecto delicado mas das mais resistentes, até ao fogo.





Um ciclo bem definido na frutificação não causa surpresa a quem dele necessita para uma boa aguardente "medronheira". 


Com poucas palavras e frases curtas consegue-se descrever bem esta árvore arbustiva (clicar) para o portal "Brigada da Floresta".



Medronheiro é uma planta que oferece múltiplas utilizações.


Um dos maiores Medronheiros do Mundo. Uma exceção pois a árvore nos terrenos montalvanenses dificilmente ultrapassa, em média, os três metros de altura

1. Os seus frutos em pequenos cachos de candeia são apetitosos para serem consumidos diariamente durante longo tempo entre o Verão e Outono;



2. Os suas flores em candeia são apreciadas para ornamentar arranjos florais;



3. A casca pode ser utilizada como ingrediente para curtir peles;



4. Os frutos quando muito maduros transformados em mosto - apanham-se do chão ou abana-se a árvore para eles caírem de maduros - permite fazer com um alambique uma aguardente de elevada qualidade e teor em álcool. 



Ei-los lindos, bons e prontos a comer ou beber depois de uma "alimbêquéda" (em montalvanês)!



Este blogue irá acompanhar o "Ciclo do Medronheiro" com quatro publicações por ano, utilizando um nobre medronheiro de Montalvão. 



A. Verão/Outono - Início da frutificação e crescimento dos medronhos (publicado em 16 de setembro de 2019);




B. Outono/Inverno - Amadurecimento e apanha dos medronhos: na árvore para comer e do chão para fazer aguardente com um «álimbique» em montalvanês (publicado em 9 de dezembro de 2019);


Em Montalvão não era bem assim. A aguardente não corria "em bica". Quanto mais fino corria melhor seria a medronheira. Mais álcool, mais agradável o sabor.


C. Inverno/Primavera - Floração e frutificação em dias de Sol mais escasso (em 15 de janeiro de 2020); 


Em Montalvão, os medronheiros ainda têm frutos de 2019 (por não serem apanhados) mas já têm medronhos de 2020 bem desenvolvidos e outros ainda não nasceram das flores, coexistindo duas gerações de medronhos (a de 2019 e 2020) e as flores que darão origem à nova geração de 2020!

D. Primavera/Verão
- Desenvolvimento dos frutos: medronhos (a publicar em 25 de maio de 2020). Ficando em definitivo como texto permanente neste blogue.




Uma homenagem à árvore que, escasseando na freguesia e tendo bem delimitadas as áreas onde cresce, deu alegria (por vezes em excesso) - como medronhos («madrônhôs» em montalvanês), casca e/ou aguardente - a milhares de montalvanenses durante 700 anos.


NOTA: Para saber mais (clicar)


Próxima paragem, num dia destes, no Futuro próximo. O Loureiro: a árvore-lustrosa.  

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07 janeiro 2020

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Os Ferradores

07 janeiro 2020 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE FERRADORES EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.



No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve o Ti António na rua as Almas, o Ti Demingues Tincótinco entre o largo da Igreja e a rua da Barca e o Ti Demingues Ferrador na rua de São Pedro. Havia até quem improvisasse de ferrador (quando corria mal um dos Ferradores tinha uma urgência a resolver), mas estes três ferradores de meados do século XX tinham como principal rendimento, para viver uma vida, a tarefa de ferrar animais.



No espaço rural, os Ferradores eram fundamentais para manter a saúde de animais, que utilizados para tração de veículos, lavoura (lavrar, trilhar, etecetra) ou auxiliares de transporte, eram clientes sazonais dos ferradores. Os animais (gado graúdo: bovino, equino, asinino e muar) eram o suporte que permitia às atividades agrícolas desenvolverem-se em harmonia com os ciclos naturais. Numa povoação como Montalvão nunca lhes faltava trabalho nem eles regateavam esforços para servir bem, pessoas e animais. Muitas vezes eram eles que faziam de veterinários. Até de farmacêuticos cuidando de pequenas mazelas que afetavam a pele e os tecidos exteriores dos montalvanenses.  Uma vida de saberes vários, acumulando experiência com os pais ou como aprendizes e apurando-a dia-a-dia compreendendo os animais era uma vida ao serviço da comunidade. De toda a comunidade, em sentido lato, pois envolvia muito mais que ajudar apenas as pessoas. Eram eles que garantiam o bem-estar dos animais. 

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)




Só conheci o Ti Demingues Ferrador, em finais dos Anos 60 e início de 70, que já devia ser o único ferrador. Talvez o último em Montalvão. Seja ou não, fosse ou não fosse, foi o único que me lembro de conhecer a exercer a atividade. Ficava "três portas" ao lado da casa dos meus avós maternos. Com tanta proximidade não é difícil ter estórias a envolver o Ti Demingues Ferrador e um miúdo curioso.



A mais hilariante foi estar a fazer-me confusão como se podiam espetar pregos nos pés de um animal assim sem mais nem menos. Claro que ainda não tinha estudado na escola que o casco é a unha córnea da última falange do dedo dos ungulados e constituída por "tecido morto", ou seja, onde não há extremidades nervosas ativas por isso não causa nenhum distúrbio ao animal qualquer intervenção. É como cortar as unhas nos seres humanos. 


Com um misto de tristeza e inconformismo perguntei ao Ti Demingues Ferrador se antes de pregar os cravos no casco do animal - tenho ideia que era um burro - o tinha anestesiado para que ao cravar ferros nos pés não lhe doesse. Ele riu-se e disse que não era preciso. Eles gostavam, até pediriam se falassem, que lhes cravassem os pregos para poderem andar em cima das ferraduras! Eu retorqui: «Como podem gostar de ser pregados com ferros desse tamanho?». 



Ele entretido com a pergunta ingénua, enquanto ia colocando os cravos, disse-me. Então olha lá para ele e diz-me se vês ele queixar-se enquanto cravo mais este! E não é que ao olhar para o animal em vez de o sentir incomodado, pelo contrário, fez aquele gesto que por vezes é comum nos equídeos, muares e asnos de fazerem um trejeito com os lábios como se estivessem a sorrir! Fiquei convencido. Coincidências que sabem bem. Tão bem que duram a memória de uma vida!  


Os Ferradores foram importantes, como eram todos os ofícios, numa aldeia que praticamente subsistia só pelo que nela se fazia e produzia. As ferraduras permitiam que os cascos não se desgastassem em animais que tinham de fazer ao longo da vida milhares de quilómetros a pisar terrenos duros muitas vezes carregados com quase o triplo do seu próprio peso!   

Próxima "paragem": Os Taberneiros
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03 janeiro 2020

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Ainda os Forneiros e o Pão

03 janeiro 2020 0 Comentários
JÁ O ESCREVI MAIS DE UMA VEZ. QUANDO SE INVESTIGA E PESQUISA ACERCA DE UM ASSUNTO MUITAS VEZES "CAEM NO COLO" TEMAS MONTALVANENSES.



Há poucas horas, por volta das quatro da tarde, dia 2 de janeiro de 2020 estava a continuar as minhas pesquisas acerca da evolução da legislação que foi modificando os Serviços de Cartografia em Portugal. Ao consultar o "Diário do Governo" (2.ª série) n.º 54, de 7 de março de 1942, encontrei... Montalvão. E que Montalvão! Quando neste blogue foi divulgado «Os Forneiros» que até será mais "As Forneiras", em 7 de novembro de 2019 (clicar para o texto que foi publicado), ficou escrito que os fornos não eram das famílias que os faziam funcionar mas sim de algumas das famílias mais ricas de Montalvão. Eis parte do que ficou (e está escrito):



Mas não sabendo indexar os fornos a essas famílias não se tocou no assunto. Eis que passados dois meses (ou 56 dias) o «Diário do Governo» é inequívoco. Em 24 de fevereiro de 1942 (data do registo do Chefe de Repartição da SICA/IGI/CA) há quatro fornos - os outros dois foram construídos ou licenciados depois dessa data - com os nomes dos seus proprietários.


(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



A distribuição dos Fornos, em Montalvão, segundo o Recenseamento de 1950 é a seguinte:


(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)


  
Agora - depois da euforia de ter descoberto mais acerca do inigualável Montalvão - vou tentar indexar os nomes desses afamados Lavradores («ricos» em montalvanês) a cada forno tentando saber qual é de quem. Mas não parece difícil.

Resta dizer, ainda que tenha fotocopiado mas apenas li "na diagonal", os dois decretos-lei, um de 1930 e outro de 1939, que legalizam e estabelecem os procedimentos para funcionamento dos «Fornos de Cozer Pão à Maquia» em que o sistema era o seguinte:
1. Uma pessoa pedia para lhe ser concedido um alvará para poder ter um Forno;
2. Todos os anos uma "entidade idónea" da localidade tinha de atestar que o alvará estava a ser cumprido, mormente a existência de condições de salubridade do local, utilização adequada e negócio "transparente" dos proprietários;
3. O Chefe da Repartição dos Serviços das Indústrias e do Comércio Agrícolas, da Inspecção Geral das Indústrias e do Comércio Agrícolas aprovava e fazia publicar  anualmente no «Diário do Governo» a lista dos Fornos que estavam em condições legais de poderem "cozer pão à maquia" sendo da competência das autoridades locais só autorizar o funcionamento dos Fornos que estivessem na lista publicada em «Diário do Governo».



Era assim ou parece ser assim. Mas só analisando ao pormenor a legislação de 5 de setembro de 1930 (DL 18 820) e 10 de agosto de 1939 (DL 29 815) se poderá saber. Mais importante, por agora, vai ser descobrir quem era o proprietário de cada Forno, em 1942. Isso sim é um desafio para esta noite de Inverno.

1. Xá Tomásia do Forno (dono: senhor Juan dos Ramos);
2. Xá Teresa do Forno (dono: senhor Jaquim Pinto);
3. Xá Tomásia Carrilho (dono: senhor Leviel Pimentel); 
4. Falta identificar
5. Falta identificar
6. Falta identificar
NOTA: Há um dono (senhor doutor Carita) que é proprietário de um destes três fornos ou de... todos eles!

Até já!
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02 janeiro 2020

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Igreja Matriz e D. Isabel

02 janeiro 2020 0 Comentários
NASCIA-SE QUASE À PORTA, BATIZAVAM-SE, CASAVAM-SE, VELAVA-SE EM CASA MAS PASSAVA-SE POR ELA ANTES DA SEPULTURA. A NOSSA IGREJA MATRIZ ERA A CASA DE TODOS OS MONTALVANENSES.


Contemporânea do crescimento de Montalvão foi D. Isabel de Borgonha, filha de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Alentejana nascida em Évora, a 21 de fevereiro de 1397, era uma das mulheres mais belas, cultas e sensíveis do seu tempo. E era Princesa. A "fama" de ser única permitiu que um dos homens mais poderosos da Europa, o Duque da Borgonha que se considerava ser mesmo mais rico e poderoso que o rei de França enviasse a Portugal, em 1429, o pintor mais conceituado na Europa, Jan van Eyck para pintar o retrato (que se reproduz em cima) interessado em conhecê-la para casar. E assim foi. Depois de conhecer o retrato fez-se o casamento em 10 de janeiro de 1430. Protetora da Arte e dos Artistas, em particular da música e dos músicos, considera-se que foi a sua influência que fez evoluir a Música, do canto gregoriano para a polifonia, introduzindo os instrumentos musicais na sagrada cerimónia da «Missa». Um pequeno passo na Música, um passo gigante para a Humanidade! Com tudo o que surgiu depois.





Talvez que um dia, antes de partir, aos 32 anos para não mais regressar da Borgonha, tenha feito o caminho de Castelo de Vide para Castelo Branco, algo que o seu pai deve ter feito em várias ocasiões. E se a Infanta D. Isabel o fez passou em, ou por, Montalvão.



Se D. Isabel a irmã desconhecida, da Ínclita Geração, como denominou, o príncipe dos poetas, Luís de Camões, os filhos de D. João I e D. Filipa de Lencastre: D. Duarte (seis anos mais velho), D. Pedro, D. Henrique, D. João e D. Fernando (três anos mais novo) fez o caminho entre Castelo de Vide e Castelo Branco, ou vice-versa, provavelmente parou e rezou na Igreja de Montalvão. 



Talvez nunca tenha ocorrido mas há sempre uma possibilidade, ainda que remota, por ser passagem entre a margem norte e sul, pela Barca. As probabilidades de D. Isabel ter estado em Montalvão são ínfimas. Talvez também se tenha ouvido na nossa Igreja, já no século XVI, uma das primeiras obras que foram possíveis de concretizar pelo mecenato que D. Isabel instituiu na Borgonha. 



Depois de uma vida preenchida - uma das mais interessantes existências terrenas em final do século XV - D. Isabel enviuvou, aos 67 anos, retirou-se para um convento, falecendo em Dijon, a 17 de dezembro de 1471, aos 74 anos.




Quem sabe se um dia, algures, entre 1397 e 1429, não passou e rezou em Montalvão, esta alentejana nascida em Évora e que se tornou numa das personalidades mais impressionantes da Idade Média na Europa e uma das primeiras cidadãs do Mundo civilizado.




NOTA: Como é evidente isto é mais um desejo - pensar que a Infanta D. Isabel pode ter rezado ou passado por Montalvão - que estar próximo de ser realidade. Mesmo o seu pai, o Rei D. João I já é quase uma impossibilidade quanto mais a filha! Mas que D. João I esteve em Castelo de Vide e Castelo Branco... esteve, pois Fernão Lopes escreveu-o na Crónica do Rei de Boa Memória. Apesar de ter lido a "Crónica" nos Anos 80, não me lembro de ter lido que viajou de uma localidade para outra - e se tivesse lido a existência dessa viagem o montalvanismo que há dentro de cada natural de Montalvão fazia logo efeito memorizando-o para o resto da vida - mas se o fez passou por Montalvão. Probabilidades de o ter feito? Praticamente nenhumas! E probabilidades da Princesa D. Isabel o ter feito? Ainda menos... Mas sabe-se lá. Talvez um dia alguém entorpece num documento. Fica o sonho e o desejo! Quem quiser vasculhar a «Crónica» pode e deve fazê-lo em (clicar).
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28 dezembro 2019

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Vamos à Salavessa

28 dezembro 2019 0 Comentários
UMA AZINHAGA, UM CAMINHO E DEPOIS UMA ESTRADA PRATICAMENTE FEITA (METADE TENDO OITO QUILÓMETROS) COM EXPROPRIAÇÕES PRESCINDINDO DO ESPAÇO PÚBLICO.



Algo que não obedeceu ao critério que existia, e que foi por exemplo, realizado na estrada entre Montalvão e a Póvoa e Meadas. Utilizar o caminho mais fiável para transformá-lo em estrada. A estrada de Montalvão para a Salavessa envolveu expropriação de terrenos agrícolas e a não utilização do ancestral caminho pelos Barros ou Barreiros Vermelhos que, como era comum no espaço rural, utilizava as cumeadas para poder ser utilizado todo o ano.  

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A azul a azinhaga que ligava o final da Corredoura ao entroncamento com o caminho dos Barros ou Barreiros Vermelhos. Era um caminho de cumeada (a vermelho) que depois continuava do mesmo modo para a Salavessa. O caminho pela azinhaga era mais rápido mas não permitia a circulação de veículos de tracção animal. Estes tinham de seguir pela estrada para Nisa e depois virar à direita nos Barros ou Barreiros Vermelhos, fazer a cumeada (linha de festos ou topos) ligando Montalvão à Salavessa sempre pela cumeada, ou seja, permitindo circular todo o ano (Inverno ou Verão) e utilizar carroças, carros ou carretas (embora em menor número).



A linha de cumeada (topos ou festos) divide as duas principais sub-bacias de afluentes da bacia hidrográfica do rio Tejo que têm confluência com este junto da Salavessa. O ribeiro de Fivenco ou Fevêlo a Sul da Salavessa e a ribeira de Ficalho a Norte da Salavessa. Como é habitual em Montalvão há nomes diferentes para acidentes ou formas geográficas oficiais. A ribeira de Ficalho é composta por troços com nomes diferentes: o troço mais a montante começa com dois ribeiros (a sul o da Aleitosa e a norte o do Pontão. Na confluência destes passa a denominar-se ribeira da Figueira Doida. Depois há o ribeiro da Palmeirinha que corre ao longo da cumeada e na confluência com a ribeira da Figueira (Feguêra) Doida passa a denominar-se ribeira de Ficalho. Oficialmente a ribeira de Ficalho é só uma linha de água, como é evidente, pois quer o ribeiro do Pontão, quer a ribeira da Figueira Doida são a mesma linha de água contínua. 



A estrada que liga Montalvão e a Salavessa não foi construída, como seria lógico, utilizando o ancestral caminho dos Barros ou Barreiros Vermelhos que é contemporâneo da fundação dos dois povoados, mas foi traçada em terrenos privados que foram expropriados em final dos Anos 40 até início dos Anos 50 para fazer a estrada entre meados dos Anos 50 até início da década de 60, primeiro em terra batida, depois em macadame e finalmente alcatroada, a parte final já no início dos Anos 70.



Em 1955 (5 de junho) não havia vestígios (em cima) de qualquer estrada, mas no Verão de 1959 estava já bem definida ainda que fosse uma azinhaga-nova (em baixo). Só depois foi transformada em estrada municipal, a ligar Montalvão à Salavessa. Esta tem mais um quilómetro (oito) que a antiga azinhaga (tinha sete quilómetros) e retirou cerca de três quilómetros ao antigo caminho pelos Barros ou Barreiros Vermelhos (tinha 10,5 quilómetros) desde o Largo da Igreja.



Entre o troço do lado da Praça de Touros (com olival) até ao montado nas propriedades do «Doutor Mário», com os seus silos e depois a coutada na Fonte da Feia o certo é que este ficou com a estrada "mesmo à porta". O que era de acesso difícil ficou com ele tão facilitado que melhor era impossível, passando de um casario isolado e mal servido por uma "azinhaguinha" ligada à cumeada junto ao marco geodésico "Feia" ( talefe em «montalvanês») a ter estrada alcatroada junto à entrada. Os primeiros silos, em Montalvão, foram os do senhor Domingos Ferro. 


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Além das expropriações - embora a maior parte dos terrenos fossem do «Doutor Mário» - o troço de três quilómetros, entre a Praça de Touros, junto à «Fonte Cereja» e a ligação ao entroncamento dos dois caminhos ancestrais (azinhaga da Corredoura e caminho pelos Barros ou Barreiros Vermelhos) teve que haver trabalhos redobrados fazendo aterros (nivelar o terreno colocando sedimentos) e desaterros (cortar elevações para minimizar desníveis). Uma trabalheira. A diferença entre fazer caminhos por onde nunca se caminhara pois durante centenas de anos as populações escolhiam os espaços que mais se adequavam à utilização que pretendiam. adaptavam-se ao que a Natureza lhes tinha legado.  



A ancestral ponte sobre a ribeira de Ficalho, ainda designada ribeira da Figueira Doida pois a confluência com o ribeiro da Palmeirinha é a jusante.



As duas "extremidades" do ancestral caminho que ligava Montalvão à Salavessa. Em cima (A) o entroncamento com a Estrada Nacional n.º 359-3 que liga Montalvão a Nisa e em baixo o entroncamento (B) com o novo troço feito com a expropriação de terrenos agrícolas. 



As duas ligações (A e B) assinaladas na «Carta Corográfica de Portugal», na escala 1/50 000, folha 28-B, publicada em 1982.




A «Carta Corográfica de Portugal», na escala 1/50 000 - folha 28-B, publicada em 1956 (em baixo) ainda não tem o traçado da estrada, mas o trabalho de campo data de 1949/1951 daí que quando foi publicada já havia terrenos expropriados.



O povoado da Salavessa de Sul para Norte. A Leste (à esquerda) a  junção de duas estradas: a de ligação a Montalvão e de ligação ao Pé da Serra/São Simão, respetivamente, Estrada Municipal 526-2 e 526.



A povoação da Salavessa resulta de um latifúndio ou conjunto de grandes propriedades tão distante da povoação sede concelhia que não justificava deslocações frequentes levando ao crescimento de uma localidade para suporte das atividades rurais do extremo oeste do concelho de Montalvão. 

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Outra perspetiva do que existiu durante séculos, em termos de atividade agrícola, com a marcação da azinhaga e do caminho, para finalmente surgir a Estrada Municipal n.º 526-2, a da ligação entre os dois principais povoados («Salavôissa» em montalvanês») do outrora concelho (depois freguesia) de Montalvão.



A centenária ponte sobre a ribeira de Ficalho (nome oficial) ou da Feguêra Dôda (em montalvanês), obrigada a resistir aos frequentes incêndios florestais.
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