NESTA SEGUNDA PARTE O DESTAQUE É A NATUREZA DESCRITA NO INÍCIO DO SÉCULO XIX.
Na primeira parte (clicar) já se divulgou o âmbito e objetivo desta descrição elaborada, pelo então Oficial do Real Corpo de Engenheiros, José Maria das Neves Costa, nascido em Carnide (atualmente pertencente a Lisboa) que fez um reconhecimento militar da fronteira do Nordeste Alentejano, publicada em 1803.
Descrição (excerto) num dos textos deste blogue (clicar) |
Um concelho com dimensão humana apreciável para além de um território (termo) gigante ainda para os critérios do século XXI
Uma vila (Montalvão) com duas localidades (Salavessa e Monte do Pombo) perfazendo um total de 1 296 habitantes a viver em 338 edifícios. Haveria, certamente, mais uns quantos montalvanenses a viver dispersos pelo território mas menos que os relatados cerca de 50 anos antes (1758) por Vigário Frei António Nunes Pestana de Mendonça, tendo em conta a tendência para a aglutinação das pessoas em localidades com a melhoria das comunicações. Em breve, surgiria o Monte do Santo André junto a Montalvão.
Vida difícil devido às condições naturais
O isolamento sempre foi a principal característica do território que permitiu conservar um linguajar muito próprio bem como tradições ancestrais e modos de fazer bem diferenciados dos territórios contíguos que chegaram até décadas tardias ainda no século XX. A descrição feita no início do século XIX ilustra as dificuldades de final de Verão quando a água - mesmo ruim todo o ano - ainda diminuía, em anos secos, tanto que tornava a vida num calvário, para os habitantes (principalmente da vila de Montalvão) mas eram os animais que mais sofriam. Na Salavessa e no Monte do Pombo como eram terrenos de cascalho e areão havia água com qualidade e alguma abundância todo o ano. Aliás era sabendo das dificuldades em ter água em final de Verão e início de Outono que fazia muitos Proprietários e Lavradores limitarem o número de cabeças de gado para não terem que fazer abates forçados por falta de água para permitir a sobrevivência das espécies domesticadas. A falta de água implicava também dificuldade, por questões de higiene, em debelar doenças e fraquezas que o esforço dos trabalhos rurais agudizavam a cada safra durante o Verão. A população até 1864 (data do primeiro Censo, com 1373 habitantes, mais 77 que no início do século) nem cem pessoas aumentara em mais de meio século. E é provável que até fossem menos pois ainda haveria montalvanenses a viver dispersos pelo território que não foram inventariados pelo exército às ordens de José Maria das Neves Costa.
Território vasto mas com terrenos pouco produtivos
Salientando-se, no entanto, um clima ótimo para o Trigo (de todos os cereais o mais valioso) e para o Linho (importante para tecer roupa e agasalhos de qualidade) complementando-se à lã e ao algodão. O secular manuseamento do linho permitiu dar destaque ao trabalho dos mulheres que até meados do século XX conseguiam fazer preciosidades artesanais com técnicas e composições que passavam de mães para filhas, durante gerações cuja origem chega do "fundo dos tempos passados".
Cinquenta anos antes já se destacava o Trigo e o Linho
Quando, em Lisboa, se decidiu fazer um inventário dos estragos que o terramoto do 1.º de novembro de 1755 provocou no país, quem responde de Montalvão é inequívoco quanto à questão n.º 15 - «Quaes saõ os frutos da terra, que os moradores recolhem em maior abundancia?»
O Vigário Frei António Nunes Pestana de Mendonça escreve de Montalvão, em 24 de abril de 1758, de forma inequívoca como resposta n.º 15:
15. «Os frutos desta terra saõ somente trigo, senteyo, sevada, e linho, e algum azeyte, e mel; sendo entre todos estes de trigo a mayor abbundançia, segundo a qualidade dos annos.»
A quantificação no início do século XIX
Permite comparar quão importante era o Trigo em relação aos restantes cereais cultivados, tais como o centeio e a cevada. Faltou avaliar os feixes de Linho. Em terrenos pouco férteis e com escassa humidade o gado miúdo (ovelhas/lã e caprino) era muito superior ao gado graúdo (vacas). Com carreiros (veredas), caminhos e azinhagas tão tortuosas o gado asinino (burros e burras) sobrepunha-se ao total de gado mais possante mas também mais exigente: cavalar (éguas e cavalos) e muares (machos e mulas). Não sendo inventariadas as carroças de dois varais (para um animal, geralmente um jumento) e os carros de um varal (para uma parelha, geralmente, de muares) fica-se sem conhecer as proporções entre cada um deles, mas tendo em conta a quantidade as carroças deviam dominar.
Eis um retrato escrito da Natureza de Montalvão há 220 anos!
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