HÁ DOIS SÉCULOS MONTALVÃO FICOU "RETRATADO" A TINTA EM PAPEL PARA A POSTERIDADE.
Descrito com critério por quem não habitava em Montalvão. É pois um olhar "de fora para dentro" de alguém que era perito em interessar-se pelos pormenores que realmente deviam ser valorizados.
Em 1758, há uma excelente descrição do território feito por Vigário Frei António Nunes Pestana de Mendonça a pedido do futuro Marquês de Pombal que solicitou aos párocos de todo o País a descrição das suas paróquias. Comparando a descrição de Montalvão com as outras paróquias podemos estar grato ao nosso vigário que se esmerou. Colocado pela Diocese de Portalegre, em Montalvão, com conhecimento do local onde vivia pode fazer um trabalho de grande qualidade que permite conhecer (bem...) o território de Montalvão em meados do século XVIII.
Quase meio século depois, em 1803, há outra descrição, desta vez por um "estranho" que estudava as características da fronteira do Nordeste Alentejano. São 28 páginas manuscritas (mais 27 e um pouco da 28.ª!) essencialmente do ponto de vista militar mas que foram muito para além disso, ainda que seja esse o objetivo. Mas permitiu saber a geografia física e humana, bem como a arquitetura, demografia, rede viária interna e externa, vida dos montalvanenses e a sua capacidade de sobreviver, bem como o modo como o faziam. Aborda-se neste texto as descrições mais detalhadas acerca das pessoas, deixando-se para outros, o clima, a vegetação, a geologia, os cursos de água (dois rios e cinco ribeiras/ribeiros) e a descrição da vasta rede de caminhos - para veículos (carrilhos) e para pessoas (veredas e carreiros) - com as distâncias reais e tempo gasto, para chegar a localidades como Castelo de Vide, Marvão, Portalegre, Alpalhão, Nisa, Castelo Branco e Ferreira de Alcântara (Espanha). Além das localidades intermédias, como é evidente.
Foi o então Oficial do Real Corpo de Engenheiros, José Maria das Neves Costa, nascido em Carnide (atualmente pertencente a Lisboa) que fez um reconhecimento militar da fronteira do Nordeste Alentejano. Deixou um conjunto de memórias descritivas e uma carta topográfica pormenorizada que mesmo sendo trabalhos para o exército (Inspeção Geral das Fronteiras e Costas Marítimas do Reino) e interesse militar documentam com preciosidade e minucia o que eram e por onde se deslocavam os montalvanenses.
Não chegavam a 300 casas com cerca de 4 pessoas por edifício. Ruas revestidas com ponedros - não havia ruas de "terra batida" - com casas térreas (um piso) o que confere com aquilo que ouvia dizer aos mais velhos da povoação no início dos Anos 70. A Vila era constituída quase só por habitações de um piso mas depois as que se iam fazendo de novo já tinham dois e algumas das outras receberam mais um. Vendo as poucas fotografias de Montalvão com mais de um século percebe-se que tudo encaixa. A povoação com metade das casas que já tinha nos Anos 60 do século XX era o núcleo central, como é facilmente percetível (clicar). Se em finais do século XIX já havia rua do Ferro no início desse século a Vila a norte terminava na rua da Barca sendo esta a ligação à foz do rio Sever e à barca para atravessar o rio Tejo.
Não havia convento e o hospital (na Misericórdia) era rudimentar e esconso. Há 200 anos o acesso à água no final do Verão era problemático. Como era em meados dos Anos 50 quando a população quase triplicara desde 1800. Os oito poços/fontes são fáceis de identificar pois quatro situam-se a Norte - Cereja (salobra), Nova/Ouro, Grande e "do Mato" - e quatro a Sul: Chouriça, Carreira, «Fontanhão» e Judia. Depois os artesãos que parecem suficientes para mil habitantes, bem como os moinhos no rio Sever e o açougue (matadouro) por baixo do edifício do Município e que deixou topónimo a assinalar as suas "escadinhas". Em relação aos dois lugares a esperada ordem de grandeza. A Salavessa era quatro vezes maior que o Monte do Pombo, em edifícios, mas as famílias neste eram maiores. Assim se descreveu Montalvão. Uma parte pois há muito mais para saber acerca de Montalvão e dos montalvanenses recuando mais de dois séculos.
Continua um dia destes...
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