EM MONTALVÃO COMO EM TODO O MUNDO RURAL ALENTEJANO.
Mais de 90 por cento das famílias viviam, exclusivamente, dos rendimentos obtidos no espaço rural que envolvia o povoado. Mas era uma repartição muito desigual. Nesses 90 por cento, quase todos dependiam do que podiam e conseguiam fazer a cada dia, em cada jorna. Os restantes (cerca de dez por cento) eram os que tinham um Ofício ou outra atividade como se resumiu (clicar). E até ao início do século XX ainda havia que contar com alguns (poucos) almocreves (clicar).
PROPRIETÁRIOS - Os "riques". Terratenentes detendo mais de metade do território da freguesia. Viviam nas maiores casas, na periferia da povoação - Arrabalde, rua da Barca, rua do Arneiro, início da rua de São Pedro, Corredoura ou perto dela quando Montalvão terminava na rua do Cabo. Tinham quintais que eram autênticas tapadas. Eram servidos nos seus casarões por criadas (muitas viviam a sua vida entre os patrões e patroas) e criados. Nas suas vastas propriedades tinham empregados permanentes, a cuidar dos olivais, montados, searas, vacas, animais de capoeira, varas (de porcos) e rebanhos (ovinos e caprinos). Em épocas de mais trabalho: mondas, ceifas, apanha da azeitona, tiragem da cortiça, por exemplo, contratavam jornaleiros que estivessem livres.
LAVRADORES - Tinham propriedades em extensão suficiente para conseguirem sobreviver apenas da agricultura e pecuária. Empregavam alguns jornaleiros para cuidarem dos rebanhos, lavrarem, semearem, mondarem, ceifarem e trilharem o cereal. Apanhar e transformar a azeitona em azeite. Tirar a cortiça. Cuidar de porcinos aproveitando a lande dos sobreiros e as bolotas das azinheiras. Não "manchavam" as mãos de terra, lama, trabalhos agrícolas ou pecuários. Mandavam. Em épocas de mais trabalho: mondas, ceifas, apanha da azeitona, tiragem da cortiça, por exemplo, contratavam jornaleiros que estivessem livres.
SEAREIROS - Lavradores com capacidade (e vontade) para semear mais hectares de searas para a dimensão das propriedades que detinham. "Alugavam" superfície a Proprietários que, pelo contrário, tinham mais hectares para searas que capacidade em utilizar toda a superfície disponível. Em troca pagavam esse "aluguer para semear trigo, centeio, cevada ou aveia" em bens, geralmente, uma parte dessa produção que obtinham depois da ceifa e debulha. Tudo isto porque o "Mercado da Terra/Tapadas" era inexistente. Quem tinha, mesmo que não tivesse capacidade e vontade de as cultivar ou necessidade/interesse, não tendo dívidas avultadas não se desfazia das propriedades, pois era um desprestígio vergonhoso ceder terrenos dos seus antepassados.
JORNALEIROS - Eram a maioria. Esmagadora. Dependiam do trabalho que os Proprietários e Lavradores lhes pagavam. Muitas vezes era nas tabernas ou um que informava outro que havia trabalho no(s) dia(s) seguinte(s). Uma enorme falange de gente pobre que muitas vezes eram tratados como se fossem mais um rebanho, só que de gente. Autênticas «almas mortas», servos a necessitar de um pedaço de pão ou meios para o comprar.
Havia ainda quem tivesse um ofício e que dispusesse de pequenos espaços agrícolas, geralmente herdados, de algum casamento com filhas de Lavradores (raramente de Proprietários, pois estes casavam entre eles, para manter a posse de muitos hectares de terreno).
Vai ser a emigração e a migração, em meados do século XX, para a Área Metropolitana de Lisboa, com destaque para São Domingos de Rana e Bobadela, que vai por fim a este mundo agrícola iniciado aquando da formação do povoado no final do século XIII. Os jornaleiros e seus filhos (condenados a serem jornaleiros, nascendo pobres e morrendo pobres) aproveitam a oportunidade da haver melhores condições de deslocação, nas ligações de Montalvão para lá da povoação. E o apoio dos que saíram primeiro acolherem os que queriam sair depois. Abandonam Montalvão indo viver (e trabalhar) para onde podiam singrar na vida, eles e os seus descendentes. A «Vila» passa a ser saudade. Os «riques» depois do cruzamento constante de laços de consanguinidade têm gerações incapazes de resolver o novo problema - por vezes, alguns «Proprietários» nem descendência tiveram - a falta de Jornaleiros. A mão de obra alheia para permitir acumular bens/receitas. Sem condições para saber o que fazer, como mudar, fazem extinguir a classe dos montalvanenses mais abastados. Alguns dos familiares dos «riques» sobrevivem, na atualidade, por terem "ido casar" fora do povoado, mas já sem ligações ao Mundo Rural Montalvanense.
Assim se foi construindo (e desconstruindo) Montalvão
As minhas felicitações por este trabalho de divulgação da História da sua terra, caríssimo montalvense. Emérito montalvense e emérito benfiquista, um cidadão emérito, afinal.
ResponderEliminarO Viriato de Viseu tem razão: para quando o livro? Mas eu entendo a sua resposta ao Viriato.
Um abraço daqueles.
Obrigado
EliminarUm glorioso abraço.