AS PLANTAS ERAM FUNDAMENTAIS PARA A VIDA DOS MONTALVANENSES.
Principalmente os frutos. Podiam não existir, alguns, em elevada quantidade, mas variedade não faltava. Era comer a poupar. Tal como para os animais (clicar) as plantas também tinham os seus nomes bem característicos.
Eis algumas espécies com os respetivos nomes como eram conhecidas em Montalvão. Nomes sempre complexos de transformar em escrita, sem sinalética apropriada, por serem de oralidade nunca grafada em forma de substantivos comuns. Por baixo, a "tradução" à grave (linguagem para lá do Arrabalde da Vila).
ABÊBRA
FIGO (DE SÃO JOÃO) - Designação dos sicónios (inflorescências fechadas num invólucro) da figueira-comum (Ficus carica) uma das árvores de fruto de exploração humana mais antiga. Planta mediterrânica é autóctone de Montalvão, ou seja, "chegou ao território antes de chegarem os montalvanenses". É a primeira planta descrita na Bíblia, pois Adão e Eva, tapam-se com as suas enormes folhas. Os primeiros figos do ano, por junho, compridos, geralmente negros, com as inflorescências avermelhadas são as «abêbras». Há dezenas de variedades de figos montalvanenses.
BAJA
FEIJÃO VERDE - Designação de uma espécie de feijão-comum (Phaseolus vulgaris) colhida ainda antes de amadurecer. Planta trepadeira - geralmente por canas colocadas nos talhões - é presença em qualquer horta montalvanense que se "preze"! É da mesma família das vagens (ervilha, tremoço, fava, amendoim, soja ou alfarroba, por exemplo). Em Montalvão, feijão (maduro) é fêjã/fejõns.
BOUCHÊGU
PÊSSEGO - Designação do fruto do pessegueiro/«boucheguêre» (Prunus persica) originária da Ásia (como o nome em latim indica, da Pérsia). Disseminou-se por toda a Europa desde a Antiguidade por isso é provável que os primeiros seres humanos que ocuparam os vales do rio Tejo e rio Sever já cultivassem pessegueiros. É da família de uma grande variedade de frutos: abrunhos, ameixas, amêndoas, cerejas, damascos e ginjas, por exemplo.
BOUTÊLHA
ABÓBORA - Designação do fruto da aboboreira/«boutelhêra» (Cucurbita pepo) planta de hastes (trepadeira) mas rastejante originária da América. Chegou à Europa depois da Descoberta e Exploração do Novo Mundo. É uma família enorme com variedades nativas um pouco por todo o Planeta: cabaça, curgete, melancia, melão e pepino, por exemplo. Em Montalvão a variedade das «boutélhas» é enorme, para todos os gostos e feitios.
DEPENDURA DU CÁTCHE
CACHO DE UVAS - Designação dos frutos (bagos de uva) da videira ou «parrêra» um arbusto trepadeira, de troco lenhoso retorcido, que dá os seus bagos agrupados em cachos. De cultura muito antiga em toda a Bacia do Mar Mediterrâneo restam exemplares nativos da Europa e Ásia (Vitis vinifera) mas há de todas as variedades, com destaque para os enxertos com videiras americanas (Vitis labrusca) que foram a solução para recuperar a cultura depois da infestação pela filoxera (inseto) nos décadas de 60 e 70 do século XIX. Em tempos fez-se vinho (sem muito sucesso) em Montalvão mas as «dependuras-dus-cátches» são para consumo imediato ou deixar alguns para passas. É "mais do que provável" que as «parrêras» tenham chegado ao território montalvanense primeiro que os montalvanenses.
LIMÃO - Designação do fruto do limoeiro (Citrus x limon L.) árvore de médio porte originária da Ásia (clima subtropical húmido) adaptando-se - desde que haja humidade no solo - ao território português (clima subtropical seco). Há muitas variedades de «leméns» desde o nível de acidez, ao formato e tamanho. O amarelo é que é constante, embora varie do mais escuro para o mais claro. Também é provável que os primeiros seres humanos que ocuparam os vales do rio Tejo e rio Sever já cultivassem limoeiros, muito antes de se organizar um povoado, ou seja, existir Montalvão.
FIGUEXUMBE
FIGO DA ÍNDIA - Designação do fruto da figueira-da-índia (Opuntia ficus-indica) da família dos catos. Originária do México chegou a Portugal no século XVI mas só mais tarde (século XIX) teve os frutos aproveitados. Como tem caules (erradamente designadas folhas) que se transformam em "troços lenhosos", em Montalvão, é utilizada com frequência para fazer de vedação, por isso é plantada junto aos muros/paredes ou nas extremas das propriedades.
MÔLÃ
MELÃO - Designação do fruto do meloeiro/«meloêre» (Cucumis melo L.) é uma planta de hastes (trepadeira) mas rastejante originária do Médio Oriente. Pouco exigente em água, disseminou-se há milhares de anos por África e Europa. Pertence a uma família enorme com variedades nativas um pouco por todo o Planeta: cabaça, curgete, melancia, abóbora e pepino, por exemplo. Também é provável que os primeiros seres humanos que ocuparam os vales do rio Tejo e rio Sever já cultivassem meloeiros, muito antes de existir Montalvão.
PÔMÉNTE
PIMENTO ou COLORAU - A mesma designação para dois tipos de planta. O pimento da horta e a especiaria. O primeiro é o fruto do pimenteiro/«pômentêre» (Capsicum annuum) indispensável na horta montalvanense, entre feijão verde e os restantes legumes e leguminosas: tomateiros, pepinos, cenouras, alhos, cebolas, alfaces, couves múltiplas e repolhos, por exemplo. Nativo da América chegou à Europa depois da viagem de Cristóvão Colombo (1492) e da exploração do Novo Mundo feita pelos espanhóis, destacando-se Américo Vespúcio que deu nome ao vasto Continente que quase liga o Pólo Norte ao Pólo Sul. O colorau é uma especiaria brasileira obtida de um fruto moído, o arilo do urucuzeiro. Mas como o pimentão-doce (paprica) - uma variedade do Capsicum annuum - também pode ser moído ficando com o mesmo aspeto - embora o sabor fosse diferente, como é óbvio - não se fazia diferença. Em meados do século XX o colorau não faltava, em Montalvão, vindo da Herdade do Pereiro, entre Póvoa e Meadas (Castelo de Vide) e a Beirã (Marvão).
OURVELHÊNA
AMENDOIM - Designação de uma planta leguminosa (Arachis hypogaea L.) da América do Sul também conhecida por alcagoita e ervilhana (do castelhano arcaico: avellana) que chegou a Portugal, calcula-se, no século XVIII. Da família das vagens (ervilha, tremoço, fava, feijão, soja ou alfarroba, por exemplo). O nome amendoim deriva da língua tupi que significa enterrado. É que as flores depois de fecundadas ao ar livre enterram-se para que o fruto se desenvolva debaixo da superfície, num processo raro chamado geocarpia.
Ainda há mais...muito mais! (em breve...)
O amendoim, do qual sou um consumidor em permanente regime de auto-controlo provém de uma planta herbácea anual muito interessante. Ao contrário do que muita gente pensa pela maneira como é colhida, não se trata de um tubérculo mas antes uma vagem que se enterrou no solo...
ResponderEliminarComo o Alberto refere, a espécie designa-se Arachis hypogea sendo que o termo latino hipogaea refere-se a esse tipo peculiar de crescimento "abaixo do solo" da vagem. O que acontece é que finda a polinização, os caules das flores alonga-se até uns 5-6 cm de comprimento, e empurram os frutos em desenvolvimento para o solo, de modo que os frutos devem ser desenterrados do solo para serem colhidos. Ou seja, trata-se de uma vagem subterrâneo de uma leguminosa... Na faculdade cheguei a fazer a sua cultura em hidroponia desta maravilhosa planta e foi uma revelação dupla pois vi o desenvolvimento das vagens sem depender de solo...
Caro Victor Carocha
EliminarAgradeço. Excelente explicação em que fiquei a conhecer melhor uma "estratégia de reprodução" fantástica. Ou não viesse esta explicação de um valoroso investigador e glorioso biólogo.
Obrigado.
Saudações Montalvanenses