DURANTE SÉCULOS O CONCELHO DE MONTALVÃO ESTEVE DIVIDIDO EM QUATRO FOLHAS.
Talvez que desde a formação da localidade já com características de povoação para lá de um lugarejo, entre finais do século XIII e início do século XVI.
Aquando do inventário para avaliar os danos causados pelo terramoto de 1 de novembro de 1755, da Corte em Lisboa, foi enviado um inquérito aos párocos de todo o País, aproveitando para saber de cada paróquia - povoações e territórios - as características geográficas, demográficas, históricas, económicas, religiosas e administrativas. O aviso (perguntas) data de 18 de janeiro de 1758, assinado pelo Secretário de Estado dos Negócios Interiores do Reino (equivalente ao atual primeiro ministro), Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro «Marquês de Pombal» em 1769 depois de ser «Conde de Oeiras», em 1759. A resposta de Montalvão surge em 24 de abril de 1758, pelo Vigário Frei António Nunes Pestana de Mendonça.
A pergunta é:
5. Se tem termo seu: que lugares, ou aldeas comprehende, como se chamaõ? E quantos visinhos tem?
A resposta (texto inicial):
5. Tem termo proprio dividido em quatro folhas - a saber Diagueiros, que tem huma legoa de comprimento para as partes de Castello de Vide = a folha de Magdalena, que tem outra legoa de comprimento para as partes de Nisa - A folha das Antas que hé a menor de todas terá três quartos de comprimento para as partes de Castella = finalmente a folha da Barreyra, que tem huma légoa para as partes da Beira, e finalisa no rio Tejo = ...... continua com a descrição e dimensão dos lugares
A curiosidade está na pedra tumular de D. Vasco Fernandes que esteve na origem de Montalvão e que estando, inicialmente sepultado junto ao altar-mor, como os montalvanenses mais idosos ainda se recordam, agora serve de tapete à entrada da Igreja Matriz (alguém se lembrou, em 1967/1969, que era "bonito" embelezar a entrada da Igreja e tem levado à destruição da pedra - felizmente a igreja está quase sempre fechada - e o desgaste é residual) pois no topo da pedra tumular a composição do quadrilátero é de um simbolismo exemplar, embora pareça dividir o território em três folhas, uma maior a Sul - confinando com "terra" (Castelo de Vide e Nisa) e duas menores a Norte com "água" representada por conchas - a Noroeste com o rio Tejo e a Beira e a Nordeste com o rio Sever e Castela/Espanha.
As conchas (vieiras) também fazem parte do brasão da família Fernandes.
Enquanto não houver um documento a descrever será sempre suposição, mas esta pedra tem muitos enigmas pois fixando - 30 segundos bastam - a rosácea templária, na base do túmulo, ela está cinzelada de modo a parecer que se altera entre baixo e alto relevo.
(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)
Desde o século XVIII que todos os caminhos, azinhagas e carreiros, em terra "batida pelo pisoteio de pessoas, animais e veículos de tração animal", estão bem descritos em vasta documentação, por vezes com suporte cartográfico. Dos caminhos das "carretas" (veículos de tração animal) aos das "bestas" (animais albardados e pessoas) estes com percursos mais curtos, embora mais sinuosos e estreitos. Tal como o curso dos ribeiros e rios como haverá, em breve, o devido e merecido destaque neste blogue. As quatro grandes vias que separaram as quatro folhas são essencialmente traçadas por utilização das cumeadas a dividir as quatro grandes sub-bacias de ribeiros e ribeiras, duas para o rio Sever e outras duas para o rio Tejo. Alguns desses caminhos tiveram cobertura a macadame e alcatrão. No século XX outras estradas surgiram expropriando tapadas, mas as ligações centenárias ainda existem, embora muitas cobertas de xaras, giestas e vegetação agreste. A "Porta de Montalvão" em Nisa marca a direção do principal caminho (o do Oeste) devido à ribeira de Nisa. O caminho de Sul e Leste esteve sempre facilitado pela cumeada desde a confluência Sever/Tejo até ao caminho para Castelo de Vide, uma ligação entre a separação de águas para o rio Sever (a Este) e o rio Tejo (a Oeste). O do Norte pela Barca, no rio Tejo. Principal mas complexo e muito dependente das condições de navegabilidade do maior rio peninsular.
As quatro folhas, em 1758, não são difíceis de delimitar pois num território com economia agrícola a separação de águas estabelecia as divisões. A exceção deve ser o secular caminho de Montalvão para Alpalhão e Nisa, "apartado" pelo Monte Queimado, em direção à ponte de pedra na ribeira de Nisa (junto à Ermida de Nossa Senhora da Graça) entrando na porta de Montalvão "cortando" a sub-bacia do ribeiro de Fevêlo estabelecer a delimitação.
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Carta Corográfica de Portugal; Folha 28 (Nisa); Escala 1/100 000; Instituto e Geográfico e Cadastral; Edição de 1960; Lisboa |
A folha das Antas que é a mais pequena (nas "Barreiras do Sever") deve ser a que corresponde aos pequenos cursos de água que têm origem na cumeada que é o caminho entre Montalvão até à confluência do rio Sever com o rio Tejo;
A folha das Barreiras com uma légua (cerca de cinco quilómetros até ao rio Tejo) corresponde às sub-bacias da ribeira de São Simão (nasce na Tapada da Cadeirinha) e da ribeira de Ficalho - tendo muitas outras designações - desde a nascente na importante (e significativa) Tapada da Forca. Dois cursos de água afluentes do rio Tejo, fronteira entre os "Alentejos e as Beiras";
A folha dos Diagueiros (com mais uma légua até à divisão com o concelho de Castelo de Vide) corresponde à sub-bacia hidrográfica da ribeira de São João seguindo-se para Oeste a cumeada até ao antigo caminho (atualmente estrada) de Montalvão para Nisa onde esteve a Casa dos Cantoneiros;
A folha da Madalena - nome de grande simbolismo para os Cavaleiros da Ordem do Templo - com mais uma légua corresponde à sub-bacia do ribeiro de «Fevêle» até à cumeada - linha de topos que a dividia da sub-bacia da ribeira de Nisa - no antigo caminho de Montalvão para Nisa que permitiu o desenvolvimento demográfico do Pé da Serra pois estava nesta cumeada na encruzilhada Montalvão/Salavessa para a ponte de pedra sobre a ribeira de Nisa.
Notável é que três folhas têm aproximadamente a mesma superfície e a folha das Antas também poderia ter se aquando da divisão feita pelos Templários, antes do Tratado de Alcanizes, os territórios agora de Espanha - onde se situa Casalinho/Cedilho - pertencessem a Montalvão. Como já se escreveu acerca desse tema, aqui no blogue, em 22 de agosto de 2020 (clicar).
Assim se foi fazendo Montalvão...
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