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03 novembro 2023

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Os Cafés 60

03 novembro 2023 0 Comentários

COMPLETAM-SE NESTE FINAL DE ANO SEIS DÉCADAS EM QUE FORAM INAUGURADOS OS DOIS PRIMEIROS CAFÉS EM MONTALVÃO E QUE CONTINUARAM, ININTERRUPTAMENTE, ATÉ À ATUALIDADE.



O "Café Paraíso" abriu ao público, em 1 de novembro de 1963 e o "Café Bela-Vista", depois "Central" e "Belo" em 1 de janeiro de 1964.

 

Dois cafés, mas com histórias distintas

O Café Paraíso teve três donos - ou famílias diferentes - a gerir o espaço na rua de São Pedro. O Café Bela-Vista/ Central/ Belo na rua do Arneiro (oficialmente 5 de Outubro) pertenceu sempre à mesma família, já com duas gerações ou três, se bem que a primeira tenha sido episódica (instalação).



Com os Anos 60 surgiu a necessidade da abertura de cafés em Montalvão

O tempo da exclusividade das tabernas (reservadas para os homens) ficava para trás, iniciando-se uma nova era com estabelecimentos de venda de bebidas e alimentos para consumo nesses espaços para os dois géneros: masculino e feminino. Tomás António Belo Sequeira e António Matos Diniz foram a Lisboa tirar uma Certificação para Servir de Cerveja a Copo, indispensável para dotar os estabelecimentos da novidade que as tabernas não tinham, pois só vendiam cerveja em garrafa. O ano de 1963 foi de grande azáfama. Transformar um prédio de habitação, da Tchá Hermínia, em café e a taberna do Ti António Belo e da Tchá Gracinda passar a café. 



CAFÉ PARAÍSO

Abriu no dia 1 de novembro de 1963. Espaço pensado para serem homens a dirigi-lo acabou, por este ou aquele motivo, por ocupar mais as mulheres deles. Veio da rua do Hospital (atual travessa da Praça) o primeiro proprietário. O Tónhinho dos Correios (filho do Ti «Deniz» onde esteve o correio e depois o telefone - clicar para correio/telefone - durante décadas, até se instalarem em edifício adaptado, na rua da Costa, nos Anos 50). António de Matos Diniz estava casado com a Tchá Hermínia, abrindo o café na casa dos sogros. A casa era da avó paterna da Tchá Hermínia, pois o pai da Tchá Hermínia era filho único e estava casado com a Tchá Elísia (costureira). Teve que ser adaptada a espaço de venda. Café no rés-do-chão com a Tchá Hermínia a viver no primeiro andar. Depois do falecimento do Tónhinho dos Correios a esposa passou a dirigir o espaço, até que decidiu vender o café. Quem ficou com ele foi um salavessense que o adquiriu para os filhos – rapaz e rapariga, sendo esta - Nazaré - nora do Ti Zé Patrício. Quando a rapariga morreu, o rapaz trespassou o café ao João Pereira, natural do Pardo, freguesia de Santana, concelho de Nisa, em maio de 1973, tempo em que se estava a concluir a construção da barragem de Cedilho. O João Pereira introduziu mudanças significativas, modernizando o espaço, que chegou a ter uma mesa de matraquilhos, onde se passava e suava durante tardes e noites a fio. Com a morte precoce do João Pereira coube à sua esposa, Zélia Carrilho, prosseguir a atividade até hoje! Com a simpatia e gentileza de sempre!

 


RECORDAÇÕES DE UM FREQUENTADOR

Sendo já da geração dos cafés em detrimento da geração anterior e anteriores, a das tabernas, passava algum tempo nos cafés, mas nos Anos 70 (final) e 80 do século XX, o que mais recordo eram os jogos de matraquilhos num cubículo contíguo ao café, de tão minúsculo que parece impossível como se podia jogar à vontade, com quatro em jogo e o dobro a ver jogar e à espera de vez, pois quem ganhava ficava à espera de novo par que pagava. O entretenimento era tal que espantava ao sair-se do cubículo onde estava a mesa e já ser noite - mesmo de verão - pois quando para lá se tinha entrado era de tarde, brilhando o Sol.



CAFÉ BELA-VISTA (Atual BELO)

Abriu no dia 1 de janeiro de 1964. Café mais tradicional, adaptado da antiga taberna de António Belo, estava muito bem equipado com posto de telefone público, o n.º 18, beneficiando de ter um dono empreendedor, o meu Ti Tomás (casado com a irmã do meu pai) e que na prática foi o meu padrinho de batismo pois o seu filho António Miguéns (que seria o meu padrinho de casamento e era afilhado do meu pai) nem cinco anos tinha quando nasci. Aliás o meu nome próprio foi da iniciativa do meu tio Tomás, para desespero da minha mãe que queria que eu fosse Amadeu e não fui! Com o falecimento de Tomás Belo, em 15 de setembro de 2000, uma semana depois das Festas de «Nossa Senhora dos Remédios» (8 de setembro) coube ao filho manter o café aberto até à atualidade.







RECORDAÇÕES DE UM FREQUENTADOR

Sendo da família era onde passava mais tempo do tempo passado em cafés que até nem era muito, pois em Montalvão privilegiava o campo, o Rio ou as conversas com os mais idosos - sentados no banco corrido da Igreja da Misericórdia - aprendendo como era o passado e se tinha chegado ao presente. Lembro-me de "ir ver televisão" pois a alternativa era a da Casa do Povo, mas só à noite a partir do noticiário (Telejornal) e programa a seguir. Depois fechavam. A televisão e a Casa do Povo. E da televisão havia apetência por ver a TVE (televisão espanhola) principalmente ao domingo. A TVE parecia outro mundo comparada com a RTP - ainda única, em Portugal, com dois canais, VHF e UHF - mas quando vou tendo oportunidade de ver jornais antigos com a programação da TVE, também única em Espanha, parece-me que era mais mito (embora o jogo de futebol fizesse diferença, pois em Portugal era raro) que realidade. Mas o que conta é a percepção que havia e no tempo a TVE é que era!





Em cima: programação da TVE e RTP (TVP) em 21 de abril de 1974, domingo de Pascoela (São Silvestre) último dia das férias escolares da Páscoa; em baixo: programação de quinta-feira (25 de Abril de 1974). A da RTP não foi emitida pelos acontecimentos ocorridos, na madrugada, desse dia!

Os dois cafés resistiram até à atualidade

Houve outros cafés, mas tiveram existência episódica, durando poucos anos. Abriram para fechar algum tempo depois.

 

Assim se foi fazendo modernidade em Montalvão há seis décadas

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