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22 janeiro 2020

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Concelho de Montalvão (Territórios)

22 janeiro 2020 0 Comentários
CONCELHO ATÉ 28 DE DEZEMBRO DE 1836 E FREGUESIA DEPOIS O TERRITÓRIO MANTÉM-SE INALTERÁVEL.




Os limites do território ilustram na perfeição o isolamento do território. A superfície da freguesia (124,17 km2) já foi pretexto para um texto neste blogue, em 10 de agosto de 2019 (clicar). A freguesia de Montalvão tem maior superfície que 79 dos 308 concelhos existentes em Portugal.


Durante mais de seis séculos, entre finais do século XII e meados do século XIX, até à reforma administrativa de Mouzinho da Silveira (apoiado por Passos Manuel, entre outros), entre 16 de maio de 1932 e 6 de novembro de 1936,  o concelho de Montalvão, era um dos 788 concelhos portugueses, que podiam ser 804 municípios, pois em 16 é difícil apurar a área dos mesmos. Pois nos 788 municípios que estão estudados, Montalvão (com 124,17 km2) é superior a 563 municípios. E dos 225 com 100 ou mais quilómetros quadrados, Montalvão é superior a 28 concelhos, ou seja, em 788 municípios só 197 têm uma área superior a Montalvão, ou seja, Montalvão foi o 198.º maior concelho de Portugal. Um concelho gigantesco que devido ao sítio (localidade dominante num monte altaneiro), território (peneplanície vasta a perder de vista do cimo do monte onde se ergueu a principal povoação) e localização (de difícil transposição devido aos limites serem praticamente à prova de entrada e saída do território de modo facilitado) fizeram durante centenas de anos de isolamento gerar-se uma necessidade inexorável de ser, praticamente autosuficiente, mesmo que isso tenha acarretado muito pobreza secular.




O perímetro do território - concelho e depois freguesia - é de 57,87 quilómetros, com 47,25 delimitados por água (81.65 por cento) e 10,62 por terrenos (18.35 por cento), geralmente por cumeadas ou ligação entre estas e as linhas de água, a Sul. A distribuição é a seguinte:

11,94 quilómetros - Rio Sever (Este);
14,23 quilómetros - Ribeira de São João (Sul);
11,71 quilómetros - Rio Tejo (Norte);
09,37 quilómetros - Ribeiro de Fivenco ou Fevêlo (Sul).

Esta situação - limites naturais bem definidos e praticamente intransponíveis, pois o rio Tejo e o rio Sever (40.87 por cento do perímetro/limite da freguesia) correm encaixados em vales profundos com caudais abundantes, desnivelados e que arrastavam muitos detritos sólidos, de quatro a cinco meses por ano - provocaram um isolamento secular - que dificilmente tem paralelo noutro concelho ou freguesia em Portugal. Em conjunto de concelhos e freguesias há situações semelhantes, mas numa unidade territorial é único.



A morfologia e topografia da freguesia de Montalvão permite que mesmo os cursos de água - ribeira de São João e ribeiro de Fivenco ou Fevêlo - que nem têm caudal elevado, como o rio Tejo e o rio Sever, sejam difíceis de transpor. Redobrando o fator de isolamento quando tal poderia estar mais esbatido.

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



A ribeira de São João (um seu pequeno afluente) quando o limite entre freguesias (Montalvão e Póvoa e Meadas) que coincide com limites concelhios (Nisa e Castelo de Vide) deixa de ser a linha de água (afluente da ribeira) passando a ser a "fronteira" estabelecida por terrenos, está a 6,45 quilómetros da confluência da ribeira de São João com o rio Sever. Pois se a distância em linha reta é de 6 450 metros a distância que o curso de água vai ter na realidade é de 14 230 metros, ou seja mais do dobro. A quantidade de curvas e contracurvas, em espécie de meandros acidentados, quando estes existem em área planas aluviais, mostram na perfeição como o território de Montalvão, nos seus limites é de uma irregularidade impressionante. 



Se a ribeira de São João é sinuosa, mais a norte, no limite entre a freguesia de Montalvão e a do Espírito Santo e São Simão não lhe fica a dever nada em termos de morfologia, com igual sinuosidade. O local onde o limite entre as duas freguesias muda de terrestre para aquífero (nascente da Barroca das Laranjas que conflui no ribeiro) dista 4 825 metros da confluência do ribeiro de Fivenco ou Fevêlo com o rio Tejo, mas este curso de água está na realidade a 8 370 metros de confluir com o rio Tejo. Mais do dobro, devido às "curvas e contracurvas" que o terreno acidentado obriga. 

Montalvão em termos geográficos foi durante séculos um local isolado pela dificuldade em aceder ao território mas também um importante local de passagem. 


O caminho entre as antiquíssimas e importantes povoações de Castelo de Vide e Castelo Branco passava por Montalvão para atravessar o rio Tejo na margem junto à Lomba da Barca. É provável que a ligação mais a norte do Alentejo se fizesse por uma barca no rio Sever. Mesmo Nisa para aceder a Castelo Branco teria de passar a ponte sobre a ribeira de Nisa junto à Senhora da Graça que era a única passagem confiável e que podia ser utilizado todo o ano mais próxima da confluência da ribeira de Nisa com o rio Tejo. Montalvão estava isolado pelos acidentes geográficos naturais mas era fundamental para permitir as ligações, pelo interior de Portugal, entre as margens esquerda e direita do rio Tejo, além das ligações com Espanha numa região, até ao rio Salor, que pertencera ao Reino de Portugal até à assinatura do «Tratado de Alcanices», em 12 de setembro de 1297, mas que só se fez sentir aquando da crise com Castela em 1383-1385 com fronteira marcada fisicamente apenas no século XIX.



O antigo concelho (depois freguesia) de Montalvão em forma de coração - o coração do Além-Tejo - tem esta idiossincrasia. Esta particularidade. é muito difícil entrar no seu território, tal como é extremamente difícil sair. Isto durante séculos, até ao início do século XX. Rodeado de água, só a Sul tem "fronteira terrestre" numa linha de cumeada cujas "pontas" tocam a Leste (A) e Oeste (B) duas linhas de água que não tendo a imponência do rio Tejo e rio Sever, serpenteiam como poucas a paisagem alentejana, a ligação da cumeada à ribeira de São João (A) pela barroca da Nave Gadelha e a ligação ao ribeiro de Fivenco ou Fevêlo (B) pela barroca das Laranjas. É impressionante ainda hoje, agora imagine-se quando não havia qualquer estrada de piso duro, em macadame e depois alcatrão. Montalvão devia parecer um ducado pobre dentro de uma região também pobre. Por isso desenvolveu-se olhando para si. Só por si podia dar sobrevivência aos montalvanenses. Muitos, durante centenas de anos, nunca devem ter saído do território da freguesia. Viviam uns para os outros. Dependiam uns dos outros. 


A linha de água a norte do limite da freguesia de Montalvão (Nisa) com a freguesia de Póvoa e Meadas (Castelo de Vide) é a Barroca da Nave Gadelha (nasce nesta tapada que no registo cadastral tem o n.º 4) que vai confluir com a Barroca de Vale das Espias e esta, sim, é afluente da ribeira de São João


Montalvanês ou como o isolamento de Montalvão durante séculos fez manter palavras, léxico, gramática, expressões idiomáticas, sintaxe, evolução semântica diferenciada e o que mais se verá (lerá) numa segunda parte que se não é (foi) uma língua diferente evoluindo em paralelo ao português tendo uma origem comum, o galaico-português bem parecia que sim!  Mas tudo foi perdido se é que houve mesmo um língua própria muito próxima da portuguesa falada a Sul, mas diferente, como o mirandês muito próxima do português falado a Norte. Língua diferente mas semelhante ou não, dialecto bem característico sem dúvida. Tudo - se foi língua, se foi dialecto ou se foi uma variante - perdeu-se por desconhecimento ou por ter havido outras prioridades...



Houve mestres portugueses que bem "avisaram", como José Leite de Vasconcelos na «Carta Dialectológica de Portugal Continental» (em 1894) e no «Mapa Dialectológico do Continente Português» (1897), entre outros estudos; bem como em «Mapa de Dialectos e Falares de Portugal Continental» (em 1958) de Manuel de Paiva Boléo e Maria Helena Santos Silva; ainda Luís Lindley Sintra, em 1992, com «Mapa dos Dialectos de Portugal Continental e da Galiza»; e ultimamente Marco Neves em «O Galego e o Português São a Mesma Língua?», publicado em junho de 2019. Além do notável «Assim Nasceu uma Língua», de Fernando Venâncio, publicado em novembro de 2019.  



Os "falares de Castelo Branco e Portalegre" têm particularidades locais, algumas bem audíveis durante anos até haver a contaminação irreversível por outras localidades vizinhas mais populosas, a Escola e a Televisão. Entre essas particularidades, Montalvão e Salavessa, mostravam-se um caso bem à parte. Com muito mais diferenças que semelhanças em relação a toda essa região que já era uma "ilha linguística" dentro da Língua Portuguesa. Como se verá (porque já não se ouvirá)!

Próxima "paragem": Concelho de Montalvão (Falares)

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18 janeiro 2020

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Os Taberneiros

18 janeiro 2020 0 Comentários
HOUVE CENTENAS DE TABERNEIROS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.


No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve dez tabernas a funcionar em simultâneo, em Montalvão (além de uma no Santo André e outra no Burnáldine). Havia duas com «Salão de Baile» no piso superior.  Eram estes os estabelecimentos cujos donos menos dormiam em Montalvão! Abriam cedo e fechavam tarde. Viver na taberna facilitava a poupança de tempo. Eram dez as famílias, que em meados do século XX, tinham como principal rendimento a exploração de uma taberna.



Num povoado central de um vasto (em território) e reduzido (em rendimento) por isso escasso (em trabalho) espaço rural, como Montalvão, a taberna era muito mais que um local para copos e bebedeiras. Era muitas vezes nelas que se sabia de negócios e arranjava trabalho para o dia seguinte ou tempos mais próximos. Não são de estranhar dez (doze contando com os subúrbios) as tabernas montalvanenses.



Na rua Direita, considerando os topos - a do Cabo e a do Outeiro - como prolongamentos da rua principal da localidade funcionavam quatro tabernas. De nascente para poente, a do Ti Januário (logo depois da Praça), do Ti Juan Sequêra, do Ti Jaime (esta a mais tardia a abrir das dez) e a do Ti Semé (Simão para quem falava grave, ou seja, à Moda de Lisboa, para os montalvanenses). Na rua da Costa, a do Ti Ambrósio. No arrabalde, a do Ti Bagulho (talvez a última a fechar). Na rua de Sampedro (São Pedro) a do Ti Zé Leandro. No «Fundo da Rua» - cruzamento das quatro ruas: Barca, Costa, Ferro e Almas - a do Ti Mané Desgraça (amputado do braço esquerdo) que depois de falecer passou para a filha, Xá Antónia com a qual tenho uma estória para contar. Depois as duas "grandes tabernas" com Salão de Baile no piso superior. Mais acima da taberna do Ti Mané Desgraça, a caminho do topo da rua da Barca, a da Xá Cezíla Àzabumba. A outra grande taberna com «Salão de Baile» no primeiro andar era da Xá Gracinda e do Ti Antónhe Belo (depois passou para o edifício em frente quando a taberna passou a café) logo no início da rua do Arneiro para quem vem do Arrabalde. Mas isso - escrever acerca dos Cafés - fica para um Futuro próximo. Havia ainda mais duas tabernas: a do Ti Cananã no topo poente da rua do meio no Santo André e a do Ti Juan Branco no Burnáldine (em linguajar grave, Bernardino) já na estrada para Nisa, do lado esquerdo logo depois da divisão entre estradas: Nisa/Alferrarede e Póvoa e Meadas/Castelo de Vide.       


(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)




As múltiplas funções das tabernas
As tabernas eram geralmente reservadas aos homens adultos. E eram muito importantes. Depois do dia de trabalho findar e antes do jantar ou mesmo depois dele os homens tinham vantagem, por vezes necessidade, de irem à taberna, principalmente para saber «Notícias da Vila» ou quem necessitava de alguém para trabalhar. A taberna, em Montalvão, era uma espécie de jornal falado. Sabia-se o que se estava a passar na povoação - se fosse situação grave os sinos tocavam, mas se fosse mexerico ou situações mundanas ficavam quedos e mudos - e, principalmente, sabia-se se havia negócios a fazer ou trabalho a realizar. 



A jorna
Em Montalvão, muitos dos homens casados e solteiros em idade de trabalhar não tinham trabalho certo. Eram jornaleiros, ou seja, trabalhavam ao dia. Podiam era conseguir trabalho para mais de um dia, para dois, uma semana, um mês, sazonal ou um ano (estes eram os sortudos). Quando chegava a noite em que não tinham trabalho para o dia seguinte, tinham de passar por uma taberna para anunciar que precisavam de trabalho para a manhã seguinte ou procurar se alguém - e quem - andava à procura de pessoa para trabalhar e onde. Era assim! Vida difícil. Vida muito difícil. Vida dificílima. Vida em Montalvão. Por isso, muitos, quando podiam e puderam saíram da povoação. À procura de menos incerteza e proporcionar menos fome aos filhos, tal como poder dar a estes uma outra vida que Montalvão é um Ideal, bem bonito, mas depois a vida era o «Diabo». Que o pão amassou e não se saboreou ficando com "a barriga a dar horas"!



Salão de Baile
As duas tabernas com salão de baile eram sumptuosas. Nos dias de festa engalanavam-se com artistas tocadores. Eram concertinas, banjos, música e tudo a dançar. O Salão de Baile da Xá Gracinda era afamado. Música de fora, até vinham tocadores, dizia-se, lá dos lados de Lisboa, para abrilhantarem, até às tantas, as danças de pares, entre as montalvanenses e os montalvanenses. Nem se cabia e se o salão era grande. 



No da Xá Cecília Àzamumba até teatro se encenava e exibia, com tabuado improvisado a fazer de palco. Teatros à Capital com atores e atrizes bem aperaltados. A Rosa do Adro, As Pupilas do Senhor Reitor, Amor de Perdição e a Ceia dos Cardeais. Montalvão era terra prá frente não era para trás. Para trás mija a burra!



Depois com a construção e inauguração do novo edifício da Casa do Povo, em 10 de setembro de 1952, os Bailes e Teatro foram passando para lá, até que por lá ficaram em definitivo!
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As crianças e as tabernas
Eu tenho poucas história nas tabernas. Algumas já adolescente, na do Ti Bagulho, nem vale a pena contar. Em criança há algumas também pouco interessantes a envolver pessoas queridas. Resta uma que ilustra o que era, em final dos Anos 60 e início dos Anos 70, a diferença entre Montalvão e Lisboa. Num dia, teria nove anos, o meu avô materno fechou a carpintaria e anunciou. «Vou comprar-te um gelado!» Eu comecei logo a imaginar um gelado da "Olá" ou da "Rajá". Que bom! Entrámos na taberna da Xá Antónia - não me lembro de conhecer o pai, o Ti Mané Desgraça - e o meu avô pede um copo de três traçado (para ele) e um gelado para o neto. Eu contente. Fiquei desconfiado quando o vi com uma moeda de cinco tostões para pagar o gelado, mas seria porque em Montalvão estava tudo, sempre, em saldo. Eis que lá do quarto de dentro, atrás do balcão ao fundo da taberna, surge a Xá Antónia com um cubo de gelo vermelho preso com um palito. Era esse o gelado. Sabia a groselha. O meu avô todo contente perguntou-me, um minuto depois, pois já estava o gelado comido. «Então soube-te bem, com este calor abafado de agosto?» Eu: «Foi bom! Soube foi a pouco! Gastou-se logo!» E depois deste mais alguns gelados de cubos de gelo com groselha degustei ao longo de várias férias montalvanenses. Agora... trocava todos os Olás, rajás, cornetos, pernas-de-pau, etecetra-e-tal, que já comi ao longo da minha vida por um gelado de cubo de groselha dado pela mão do meu avô a pegar-lhe no palito e a passar para a minha mão. Mas o tempo não volta para trás.



Depois as tabernas foram fechando e os Cafés abrindo. Mas isso é outra história. E este foi apenas um contributo para a história das tabernas montalvanenses!


   
Próxima "paragem": As Parteiras
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15 janeiro 2020

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Ciclo do Medronheiro III

15 janeiro 2020 0 Comentários
O MEDRONHEIRO É A ÁRVORE-MISTERIOSA DOS MONTALVANENSES.



Árvore fantástica ainda pode ter medronhos do ano anterior (se não os tiverem colhido) e rapidamente nascem as flores e destas os frutos, coexistindo medronhos maduros com medronhos novos. Estes têm um longo período de amadurecimento de 10/11 meses. Não há nenhuma outra árvore mediterrânica com estas características. Apenas os citrinos (Laranjeiras, por exemplo) se assemelham, mas estas espécies não são nativas mediterrânicas, ou seja, espontâneas no clima subtropical seco, mas sim nativas de climas subtropicais húmidos. Em Portugal, particularmente em Montalvão, têm condições de temperatura semelhantes mas para sobreviverem e darem frutos com qualidade e em quantidade têm de ser regadas (citrinos), ou seja, ter o suplemento em água fornecido pelo Ser Humano que no clima subtropical húmido é de origem natural, por haver mais humidade no ar e mais precipitação que no clima mediterrânico, que é um clima subtropical seco. 



Quase todos a queriam (até querem...) ter, pelo menos uma árvore, mas não é fácil. Só nos poucos terrenos de charneca - solos arenosos (degradação dos grauvaques) entre giestas, trovisco, urzes e carqueja - se encontram alguns exemplares. Como cresce em terrenos de forte inclinação não tem outras árvores de maior porte a disputar o mesmo espaço. O Medronheiro («madrunhêro» em montalvanês) pode ser considerado uma árvore pequena ou um arbusto grande!



Planta originária do Mediterrâneo é talvez, a árvore mais portuguesa de Portugal. A beleza da copa, flores e fruto fazem dela uma árvore ornamental. Mas é mais, muito mais, muitíssimo mais que isso.


A verde: áreas na Europa onde o Medronheiro se desenvolve com frequência e facilidade

É uma árvore de aspecto delicado mas das mais resistentes, até ao fogo.





Um ciclo bem definido na frutificação não causa surpresa a quem dele necessita para uma boa aguardente "medronheira". 


Com poucas palavras e frases curtas consegue-se descrever bem esta árvore arbustiva (clicar) para o portal "Brigada da Floresta".



Medronheiro é uma planta que oferece múltiplas utilizações.


Um dos maiores Medronheiros do Mundo. Uma exceção pois a árvore nos terrenos montalvanenses dificilmente ultrapassa, em média, os três metros de altura

1. Os seus frutos em pequenos cachos de candeia são apetitosos para serem consumidos diariamente durante longo tempo entre o Verão e Outono;



2. Os suas flores em candeia são apreciadas para ornamentar arranjos florais;



3. A casca pode ser utilizada como ingrediente para curtir peles;



4. Os frutos quando muito maduros transformados em mosto - apanham-se do chão ou abana-se a árvore para eles caírem de maduros - permite fazer com um alambique uma aguardente de elevada qualidade e teor em álcool. 



Ei-los lindos, bons e prontos a comer ou beber depois de uma "alimbêquéda" (em montalvanês)!



Este blogue irá acompanhar o "Ciclo do Medronheiro" com quatro publicações por ano, utilizando um nobre medronheiro de Montalvão. 



A. Verão/Outono - Início da frutificação e crescimento dos medronhos (publicado em 16 de setembro de 2019);




B. Outono/Inverno - Amadurecimento e apanha dos medronhos: na árvore para comer e do chão para fazer aguardente com um «álimbique» em montalvanês (publicado em 9 de dezembro de 2019);


Em Montalvão não era bem assim. A aguardente não corria "em bica". Quanto mais fino corria melhor seria a medronheira. Mais álcool, mais agradável o sabor.


C. Inverno/Primavera - Floração e frutificação em dias de Sol mais escasso (em 15 de janeiro de 2020); 


Em Montalvão, os medronheiros ainda têm frutos de 2019 (por não serem apanhados) mas já têm medronhos de 2020 bem desenvolvidos e outros ainda não nasceram das flores, coexistindo duas gerações de medronhos (a de 2019 e 2020) e as flores que darão origem à nova geração de 2020!

D. Primavera/Verão
- Desenvolvimento dos frutos: medronhos (a publicar em 25 de maio de 2020). Ficando em definitivo como texto permanente neste blogue.




Uma homenagem à árvore que, escasseando na freguesia e tendo bem delimitadas as áreas onde cresce, deu alegria (por vezes em excesso) - como medronhos («madrônhôs» em montalvanês), casca e/ou aguardente - a milhares de montalvanenses durante 700 anos.


NOTA: Para saber mais (clicar)


Próxima paragem, num dia destes, no Futuro próximo. O Loureiro: a árvore-lustrosa.  

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07 janeiro 2020

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Os Ferradores

07 janeiro 2020 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE FERRADORES EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.



No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve o Ti António na rua as Almas, o Ti Demingues Tincótinco entre o largo da Igreja e a rua da Barca e o Ti Demingues Ferrador na rua de São Pedro. Havia até quem improvisasse de ferrador (quando corria mal um dos Ferradores tinha uma urgência a resolver), mas estes três ferradores de meados do século XX tinham como principal rendimento, para viver uma vida, a tarefa de ferrar animais.



No espaço rural, os Ferradores eram fundamentais para manter a saúde de animais, que utilizados para tração de veículos, lavoura (lavrar, trilhar, etecetra) ou auxiliares de transporte, eram clientes sazonais dos ferradores. Os animais (gado graúdo: bovino, equino, asinino e muar) eram o suporte que permitia às atividades agrícolas desenvolverem-se em harmonia com os ciclos naturais. Numa povoação como Montalvão nunca lhes faltava trabalho nem eles regateavam esforços para servir bem, pessoas e animais. Muitas vezes eram eles que faziam de veterinários. Até de farmacêuticos cuidando de pequenas mazelas que afetavam a pele e os tecidos exteriores dos montalvanenses.  Uma vida de saberes vários, acumulando experiência com os pais ou como aprendizes e apurando-a dia-a-dia compreendendo os animais era uma vida ao serviço da comunidade. De toda a comunidade, em sentido lato, pois envolvia muito mais que ajudar apenas as pessoas. Eram eles que garantiam o bem-estar dos animais. 

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)




Só conheci o Ti Demingues Ferrador, em finais dos Anos 60 e início de 70, que já devia ser o único ferrador. Talvez o último em Montalvão. Seja ou não, fosse ou não fosse, foi o único que me lembro de conhecer a exercer a atividade. Ficava "três portas" ao lado da casa dos meus avós maternos. Com tanta proximidade não é difícil ter estórias a envolver o Ti Demingues Ferrador e um miúdo curioso.



A mais hilariante foi estar a fazer-me confusão como se podiam espetar pregos nos pés de um animal assim sem mais nem menos. Claro que ainda não tinha estudado na escola que o casco é a unha córnea da última falange do dedo dos ungulados e constituída por "tecido morto", ou seja, onde não há extremidades nervosas ativas por isso não causa nenhum distúrbio ao animal qualquer intervenção. É como cortar as unhas nos seres humanos. 


Com um misto de tristeza e inconformismo perguntei ao Ti Demingues Ferrador se antes de pregar os cravos no casco do animal - tenho ideia que era um burro - o tinha anestesiado para que ao cravar ferros nos pés não lhe doesse. Ele riu-se e disse que não era preciso. Eles gostavam, até pediriam se falassem, que lhes cravassem os pregos para poderem andar em cima das ferraduras! Eu retorqui: «Como podem gostar de ser pregados com ferros desse tamanho?». 



Ele entretido com a pergunta ingénua, enquanto ia colocando os cravos, disse-me. Então olha lá para ele e diz-me se vês ele queixar-se enquanto cravo mais este! E não é que ao olhar para o animal em vez de o sentir incomodado, pelo contrário, fez aquele gesto que por vezes é comum nos equídeos, muares e asnos de fazerem um trejeito com os lábios como se estivessem a sorrir! Fiquei convencido. Coincidências que sabem bem. Tão bem que duram a memória de uma vida!  


Os Ferradores foram importantes, como eram todos os ofícios, numa aldeia que praticamente subsistia só pelo que nela se fazia e produzia. As ferraduras permitiam que os cascos não se desgastassem em animais que tinham de fazer ao longo da vida milhares de quilómetros a pisar terrenos duros muitas vezes carregados com quase o triplo do seu próprio peso!   

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