-->

Páginas

01 agosto 2020

Textual description of firstImageUrl

Os Louceiros

01 agosto 2020 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE LOUCEIROS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.


No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve o Ti Louceiro. Sendo único não havia engano. Era aquele na rua de São Pedro. 


Habilidoso como era norma nos artesãos de Montalvão faltava-lhe a matéria-prima (barro de grande qualidade numa terra de xisto e grauvaques, saibro/cancho de xisto argiloso que era mole ou «saibre, em montalvanês» e ponedros/cascalhos) para poder ter mais atividade. Lá para a Charneca, nas vizinhanças da Salavessa, havia barro para telhas de cano, tijolo de adobe, tijolo maciço e ainda algum... para o esmerado trabalho do Ti Louceiro. Além disso o empedrado de Nisa era "concorrência desleal" embora o Ti Louceiro também fizesse louça empedrada com o cascalho branco (esmigalhado a martelo), do melhor que havia lá para o «Monte do Pombo».



(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



O Ti Louceiro passava o dia a fazer essencialmente potes (cântaros sem asas) de todos os tamanhos, bem como vasos, talhas de muitos tamanhos e feitios, cantarinhas e alguidares de amassar (mas para onde também se cortava a carne de porco nas matanças). Casado mas sem descendentes e com Montalvão envelhecido e a encurtar habitantes coube-lhe ser o último louceiro de uma povoação que, certamente, os teve séculos-a-fio.



As talhas de Montalvão também eram "vasilhame para tudo e mais alguma coisa", desde azeitonas a salgadeira para o toucinho, conservavam muito e bem todo o ano.



Um louceiro montalvanense tinha sempre que fazer. 



Mas... "gatar" louça que já não ia para nova, antes pelo contrário, estava reservado aos «bufarinheiros" que escalavam Montalvão de vez em quando.




O forno do Ti Louceiro ficava num palheiro lá para a azinhaga a caminho do «Monte do Santo André». 




Era aí que terminava a obra que tinha começado num amontoado de barro avermelhado disforme e haveria de alindar parte da vida dos montalvanenses. 




A maior quantidade e variedade da louça "mais fina" era comprada numa das quatro Feiras Anuais de Nisa...



... ou ao Ti Alentejano lá do Redondo que chegava à «Vila» com um burro carregado de cântaros, porrões, barris, asados e outra louça "mais fina" mas partia mais leve. O burro que ele levava ia mais aliviado e ele com mais uns trocos nos bolsos. E convinha não partir loiça, só partir para a Salavessa ou Póvoa e Meadas.



Há a particularidade do porrão só o ser antes ou depois da rua de São João, Corredoura ou da rua do Ferro. Interior montalvanense. Antes ou depois destas passavam a chamar-se piporros.



A louça era fundamental para o dia-a-dia. Todo o ano.



Fosse amassar o pão.



Fosse fazer a comida.



Fosse ir buscar água à cabeça.



Fosse ir buscar água nas «angarelas».




Fosse ter água.




Fosse o que fosse. 



Até para embelezar o lar.  

Próxima "paragem": Os Latoeiros
Ler Mais ►

25 julho 2020

Textual description of firstImageUrl

Fronteiras Interiores (1250)

25 julho 2020 0 Comentários
PARA LIBERTAR PRESSÃO E SOBREVIVER.



Com a pacificação da maior parte do território português as Ordens Religiosas que ocupam o espaço junto do rio Tejo têm cada vez mais dificuldade em justificar a sua existência para além da sua importância histórica.



Dioceses versus Ordens: passado
Com a guerra da Reconquista para expulsar os almóadas já no andaluz e no ocidente deste, o Algarve há nova correlação de forças no território a sul da principal via de comunicação, capacidade hídrica e barreira natural, que passou a eixo central do território, entre o Minho e o Algarve, o rio Tejo. É em torno deste que se registam mudanças profundas na segunda metade do século XIII. De um lado as Ordens (Templários e Hospitalários) e do outro os Bispados (Guarda e Évora).




Dioceses versus Ordens: futuro
As Ordens foram exemplares na forma como derrotaram os muçulmanos mas fracassaram no modo como não conseguiram povoar um território inóspito, com terrenos pouco férteis e escassez de água devido a Verões extremamente prolongados e muito secos. As duas Dioceses apresentam uma capacidade renovada em organizar o território estruturando-a. Num território estabilizado politica e militarmente, têm vantagem, por serem gregárias, em relação às duas Ordens que continuam a lutar mais cada vez mais longe e para sul.



Templários versus Hospitalários
Com territórios vizinhos há diferenças entre elas. Os Templários (Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão) têm o seu território, do que resta da Açafa, a confinar com o rio Tejo - Montalvão, Nisa e Alpalhão - excomungado desde 1242 pelo Bispado da Guarda que exige dominar esta vasta área. Os Hospitalários (Ordem dos Cavaleiros do Hospital de São João de Jerusalém) têm território a sul, entre a Amieira e o Crato. A ribeira de Figueiró faz "fronteira natural" durante alguns quilómetros mas os Templários foram ocupando território, como Alpalhão (para lá dos limites da "Herdade da Azafa" doado por D. Sancho I em 5 de Julho de 1199). Na década de 40 do século XIII os Templários profundos conhecedores do território, por serem quase nómadas envolvendo-se em escaramuças com fervor em nome do Cristianismo expandem o seu território até uma área com alguma abundância de água  - nascentes e na confluência de dois ribeiros afluentes da ribeira de Figueiró) permitindo agricultura menos rudimentar e potencial para crescer demograficamente, algo episódico no território que dominam. Uma área que não tinha presença - pelo menos em permanência - dos Hospitalários, nem era reivindicada pelo Bispado da Guarda. O seu nome... Ares (atual Arez). Embora local com referência histórica anterior, um «achado» só ao alcance de quem conhecia o território como a palma das mãos. Os Templários marcam o território onde os cursos de água não o fazem. Surgem marcos que os homens levaram e o tempo poucos salvou.



Templários versus Bispado da Guarda
Com o território de Montalvão, Nisa e Alpalhão, vulnerável perante as exigências da Diocese da Guarda, os Templários alinham na estratégia de uma outra Diocese, a de Évora. Perante as características da formação do território de Portugal, assente na Reconquista de Norte para Sul, as instituições, sejam de que tipo fora, tinham um maior poder concedido pela antiguidade e presença histórica. Por isso, para o Bispado da Guarda, o rio Tejo não significou qualquer obstáculo. O território necessitava de ser reorganizado a nível eclesiástico e estruturado socialmente, por isso serras ou montanhas, riachos ou rios (mesmo o maior a atravessar o território) eram apenas pormenores. 



Templários versus Bispado de Évora
Com a guerra para expulsar os muçulmanos instalada no Algarve e na Andaluzia, a Diocese de Évora expande-se territorialmente. Para norte da sede do Bispado (Évora) as condições eram favoráveis, por saber-se que o território estava completamente pacificado e necessitava de crescimento demográfico. Além disso, urgia estabelecer o domínio da Diocese o mais para norte possível pois havia o Bispado da Guarda com interesse territorial para sul do rio Tejo. A Diocese de Évora desejava que fosse o importante rio ibérico a fazer "fronteira" entre as duas Dioceses. Os Templários pressionados pela excomunhão percebiam que a pressão seria insustentável pois a sua presença nestes territórios há muito libertos do islamismo era cada vez menos imprescindível. 



Grão-mestre D. Pedro Gomes
A morte do Mestre Martim Martins, em maio de 1248, no cerco cristão a Sevilha obrigou à eleição de novo Mestre recaindo a eleição em D. Paio Gomes em pleno campo de batalha. Ao regressar de Sevilha conquistada (novembro de 1248) o novo Mestre jura vassalagem perante o rei D. Afonso III colocando a Ordem ao seu dispor. Foi durante o seu Mestrado, breve pois faleceu em março de 1250 que o território português fica, praticamente, com as fronteiras definidas como na atualidade - seriam ajustadas em 12 de setembro de 1297 (tratado de Alcanizes) e depois em 29 de setembro de 1801 (perda de Olivença). Um ano antes de D. Pedro Gomes falecer, D. Afonso III entra em Faro, a 27 de março de 1249, conquistando o Algarve que é anexado ao território português. 



Grão-mestre D. Paio Gomes
A morte de D. Pedro Gomes obriga a nova escolha para Mestre Templário. É eleito D. Paio Gomes, em março de 1250, que tem tarefa importante a fazer em início de mestrado.



Abril de 1250
Com a presença do Mestre templário, D. Paio Gomes e do Bispo eborense, D. Martinho celebra-se um acordo de cedência, pela «Ordem do Templo», à revelia do Bispado da Guarda, dos direitos episcopais de Montalvão, Nisa, Alpalhão e Ares (Arez) à Diocese de Évora. Eis o documento em latim que data de abril de MCCLXXXVIII = 1288 corresponde na Era Cristã a 1250.



A força das Dioceses
As características da Reconquista Cristã, com avanços e recuos, fez-se sentir por todo o Alem-Tejo que até ao final do século XIII e mesmo depois continuou espartilhado por vários poderes. As Ordens Militares que foram fundamentais para libertar, pacificar e povoar o território a Sul do rio Tejo até ao Algarve detinham algumas localidades e territórios onde tentavam fundar outras. O seu poder e influência estava a perder-se, pois entre final do século XIII e o século XIV teriam de ceder face ao crescimento do domínio eclesiástico que organizaria um território que já estava estabilizado. Tinha terminado a Guerra para se promover a Paz.  



O território templário a sul do rio Tejo ia resistindo. Em 1260 nova tormenta chegaria...
Ler Mais ►

18 julho 2020

Textual description of firstImageUrl

Os Padres

18 julho 2020 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE PADRES EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.



Num povoado com origem nos Templários o fator religioso sobrepôs-se durante centenas de anos às atividades seculares. 




Um dos sacerdotes que marcou o século XX foi o padre Virgílio (Virgílio Diniz Oliveira). Foi ele o último grande orador e pregador da povoação, embora não fosse o último pároco e muito menos o último a residir em Montalvão que tem casa paroquial. 


Casa Paroquial: amplo edifício com excelente quintal na rua da Barca

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



O Padre Virgílio pregou a primeira missa - havia pelo menos duas celebrações por dia (uma de manhã e outra pela tarde) em 20 de fevereiro de 1898. Apesar de chegar a Montalvão no final do século XIX foi o "Padre do Século XX Montalvanense" afastando-se do sacerdócio, por velhice, no início dos Anos 30.




A sua principal atividade era assegurar as eucaristias e todo o serviço de que estava incumbido um sacerdote até ao século XX, num povoado com tantos habitantes como Montalvão. 


O Padre Virgílio celebrou o primeiro casamento e batizado em 21 de fevereiro de 1898 e registou o primeiro óbito, estreando-se no «sacramento da extrema-unção», em 5 de março de 1898. 


"Adro" na escadaria da Igreja Matriz antes das obras de 1968/1969 que desfiguraram o traçado com dezenas (ou mais...) de anos

Além da sua principal atividade eclesiástica ainda ensinou muitos montalvanenses a ler, escrever e contar. 


Edifício de habitação do Padre Virgílio, na rua do Outeiro

Tinha um prestígio insuperável no povoado, dando exemplo de ética e moral acima de qualquer dúvida ou equívoco. 


Interior da Igreja Matriz - com soalho/madeira e púlpito - antes das obras de 1968/1969 que desfiguraram o traçado com dezenas (ou mais...) de anos
Reprodução de uma gravura, a aguarela, do pintor portalegrense João Tavares, datada de 1944. João Augusto Silveira Tavares nasceu em Portalegre a 22 de Setembro de 1908, falecendo na mesma cidade, em 20 de Novembro de 1984, aos 76 anos e dois meses. Foi professor de desenho no Liceu de Portalegre, além de pintor a óleo e aguarela, com tapeçarias elaboradas com base nos seus trabalhos

Foi uma figura superlativa e ao qual os montalvanenses procuravam apoio e aconselhamento, mesmo tendo aperfilhado uma criança, que seria em adulto, o lojista António d'Oliveira Falcão.  



Outros padres se seguiram, alguns a residir em Montalvão (por exemplo, o Padre José António dos Santos) outros vindos de fora da "Vila", quase sempre de Nisa. 


Da esquerda para a direita: Ti Chico (barbeiro), Ti Joaquim Branco (carpinteiro), Padre José dos Santos e Joaquim da Tróia (lojista)

Todos foram dando o seu contributo numa povoação onde as atividades diárias eram pontuadas pelo Sagrado. Com a desertificação demográfica tudo terminou. 

Próxima "paragem": Os Professores
Ler Mais ►

11 julho 2020

Textual description of firstImageUrl

Montalvão 1900

11 julho 2020 0 Comentários
A DEMOGRAFIA MONTALVANENSE HÁ 120 ANOS ERA UM «ASSUNTO À PARTE» COMPARADA COM A ATUALIDADE. 

A quantidade de crianças na «Vila» contrasta com a progressivo envelhecimento durante o século XX. E o despovoamento irreversível no século XXI

Até mesmo com a de 1940 ou 1950. Mas tendo de começar por algum ano que se perceba a de 1900.

(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)



No Recenseamento realizado em 1900, Montalvão (freguesia) tinha 1 819 habitantes (911 homens e 890 mulheres) que viviam em 507 edifícios. Metade dos fogos (contando também com edifícios abandonados e sem telhado!) na atualidade.

         DEMOGRAFIA 1900



Em 1900, nasceram 39 pessoas e morreram 20, o que fez transitar um acréscimo de mais 19 montalvanenses (dez homens e nove mulheres) para 1901. Em arruamentos, mesmo que diminutos (praticamente com a mesma expressão demográfica em 1900) há circunstâncias inevitáveis, enquanto a rua do Hospital acrescentou mais uma menina aos montalvanenses, na rua da Igreja (com mortes e nascimentos em 1899) não houve alterações em 1900.


(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)


NOTA: a rua das Almas parece ser a continuação da rua da Costa mas também pode ser a da rua da Barca. Só na segunda década do século XX "ganha autonomia"



Em 1900 - ou até 1900 - ainda não existiam alguns dos arruamentos que só foram surgindo durante o século XX, tais como o largo da Corredoura, a rua das Almas (embora esta informação seja dúbia), Porta de Cima e Porta de Baixo. Além da rua das Traseiras e rua da Cabine, que eram traseiras com os quintais da rua do Outeiro, Direita e Cabo. Alguns destes arruamentos surgiram com o esvaziamento demográfico do Monte do Santo André e Monte do Pombo.



Em 1900, mesmo alguns arruamentos eram muito menores - em termos de edifícios construídos e extensão - do que na atualidade. Principalmente os arruamentos nos extremos da povoação. Por exemplo, a rua de São Pedro seria menos de metade do que é passados 120 anos. Em 1900 era, essencialmente, uma rua de traseiras - quintais das casas do Outeiro, Direita e Cabo - depois do «Pátio» e até à capela, então Ermida de São Pedro. Aliás denominava-se «caminho do São Pedro».



Analisando os nascimentos e óbitos desde o século XVI é possível perceber como foram evoluindo os arruamentos montalvanenses. Há muito «pano para mangas». 

Assim se foi fazendo Montalvão


Ler Mais ►

04 julho 2020

Textual description of firstImageUrl

Sinais dos Tempos

04 julho 2020 0 Comentários
O QUE FOI DRAMÁTICO, NO DESENVOLVIMENTO E NA DEMOGRAFIA NO INTERIOR DE PORTUGAL, FORAM OS MELHORAMENTOS CHEGAREM TARDE.


Tal como em Montalvão, quando a desertificação demográfica e a decréscimo da atividade económica já eram irreversíveis. Ainda continua na atualidade. Mesmo a sede de concelho (Nisa) nem aparece em mapas temáticos quando estes são acerca de equipamentos e infraestruturas da modernidade. 



Nos Anos 60, na presidência da Câmara Municipal de Nisa, tendo por principal edil, o «Doutor Mário» ainda houve melhoramentos assinaláveis como um ambicioso plano de atividades para 1965.



O pontão no «Rebêre de Fevêle» foi substituído por uma ponte, entre 1965 e 1966, mas os que tanto necessitaram dela (bem como da estrada entre a Salavessa e o Pé da Serra) já tinham envelhecido e outros fugido para a emigração ou a Grande Lisboa. Chegava tudo demasiado tarde...



Séculos com uma travessia num pontão resistente mas perigoso com frequência assídua numa demografia crescente.


Carta Militar de Portugal; 1/25 000; Serviços Cartográficos do Exército; folha 314 (excerto); publicação em 1950; trabalho de campo 1946 (divisão de freguesias com base na Carta Corográfica de Portugal; 1/50 000; folha 28-B; Instituto Geográfico e Cadastral; publicada em 1982)

Décadas com uma ponte segura, resistente e adequada a uma travessia frequente mas já num território em declínio demográfico em que passará um carro "de quando em vez"! O progresso nunca peca por desnecessário e sumptuoso, só por tardio... 


Carta Militar de Portugal; 1/25 000; Instituto Geográfico do Exército; folha 314 (excerto); publicação em 1993; trabalho de campo 1989 (divisão de freguesias com base na Carta Corográfica de Portugal; 1/50 000; folha 28-B; Instituto Geográfico e Cadastral; publicada em 1982)

As duas pontes: uma antiga em derrocada (que teve muito mais pisoteio e "ouviu das boas") que outra recente praticamente sem utilização. Quando esta chegou já o povo tinha rumado a outras paragens bem mais tentadoras...



Os 2 242 dias da presidência de Mário Relvas Fraústo, como presidente do Município de Nisa, entre 30 de março de 1961 e 20 de maio de 1967... «dão pano para mangas»...

Assim se foi fazendo Montalvão 

Ler Mais ►