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18 fevereiro 2020

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Ciclo do Loureiro III

18 fevereiro 2020 0 Comentários
O LOUREIRO É A ÁRVORE-LUSTROSA DOS MONTALVANENSES.



Há muitos e variados loureiros mas em muito poucos se sente o poder daquela doce sensação que exala doçura em vez de ser mais uma folha de uma qualquer árvore ou arbusto. 




O Loureiro a que quanto mais folhas se roubam até parece que, no dia seguinte, tem mais para oferecer!


Com poucas palavras e frases curtas consegue-se descrever bem esta árvore arbustiva (clicar) para o portal "Brigada da Floresta".




Planta originária das margens do Mar Mediterrâneo e costa temperada atlântica abundava no território que é na atualidade a freguesia de Montalvão. Só as espécies em locais condignos para extrair deles as folhas mais aromáticas sobreviveram. O seu espaço foi ocupado, humanizado, com espécies de maior rendimento: Oliveiras, Sobreiros, Figueiras e Azinheiras.





Em Montalvão está já no limite oriental temperado além da costa oceânica atlântica.



Espécie nobre o Laurus nobilis ainda é na atualidade amplamente utilizado para premiar algo ou alguém. Como se sabe para sinónimo de premiado utiliza-se...



Laureado como premiado. 



O Loureiro é uma planta que oferece poucas mas decisivas utilizações.



1. As suas folhas a secar que abundam em toda a árvore desde o caule junto ao terreno até bem lá em cima no cocuruto da copa;



2. As suas folhas verdes que estão ao nosso dispor todo o Santo Ano, 365 ou 366 dias vezes os anos que a árvore durar;



3. As folhas e ramos que entrelaçados são ótimos para laurear vencedores e consolar vencidos;




4. A madeira do caule ereto duro mas roseada é utilizada para fazer embutidos - entalhes coloridos - em peças de marchetaria.  



Este blogue irá acompanhar o "Ciclo do Loureiro" com quatro publicações por ano, utilizando um nobre loureiro da Charneca de Montalvão. 




A. Verão - O aroma transbordante de desejo e apaladar refeições veraneias (publicado em 21 de setembro de 2019);



B. Outono - Amadurecimento dos frutos do «lórêru» em montalvanês (publicado em 16 de dezembro de 2019);




C. Inverno - Inflorescências e floramentos 
(publicado hoje, em 18 de fevereiro de 2020); 



D. Primavera - Amadurecimento dos frutos (a publicar em 22 de maio de 2020). Ficando em definitivo como texto permanente neste blogue.


Uma homenagem à árvore que, escasseando na freguesia e tendo bem delimitados os locais onde tem aroma QB (quanto baste) deu melhor paladar às refeições de milhares de montalvanenses durante 700 anos. 




Um louro da Charneca é tão loureiro como os melhores louros do Mundo. 



Próxima paragem, num dia destes, no Futuro próximo. A Parreira: o arbusto-preferido.  


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16 fevereiro 2020

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Capital Nacional do Açafrão

16 fevereiro 2020 0 Comentários
A FREGUESIA ENTRA NO SÉCULO XXI A GANHAR.



A cultura do Açafrão tem como exigência não ter necessidade de ser exigente. Em muitas áreas da freguesia tem condições para desenvolver-se como em poucos outros locais de Portugal, até no Mundo. Com terrenos limpos, o Açafrão necessitando de solos pobres, pouca humidade, temperaturas extremas - baixas numa parte do ano (Inverno) e muito altas noutra estação (Verão) - não tem muitas outras plantas que lhe façam concorrência.



Em terrenos de Charneca - solos arenosos, porosos, onde a pouca inclinação em terrenos elevados permitem pouca retenção de humidade - o Açafrão está nas suas "Sete Quintas". Nem as Xaras e Giestas medravam naqueles terrenos, com vegetação esparsa de Sargaços e Carqueja. 



Quando se passava o dia na «Charneca do Avô Silva» (na realidade bisavô materno do lado da avó) aproveitavam-se os talhões lá em baixo com água boa, para regar legumes, onde havia também Loureiros e Abrunheiros. Na meia encosta: mais à sombra, Castanheiros; na mais solarenga, Medronheiros. De resto sargaços (em cima) e carquejas (em baixo).



Por vezes, havia idas lá para terrenos atrás dos palheiros, a umas oliveirinhas, no "Cabeço do Ouro", em areão entre ponedros e no caminho uma mina de pedra para cal. Lá do alto, junto ao mato do talefe OURO, olhava-se para a Salavessa. Entre esta e o "Cabeço do Ouro" as chamadas "Terras da Montesinha" ainda mais pobres. Até os sargaços e as carquejas pareciam de miniatura.



Pois é nestas terras semi-áridas, no deserto montalvanense, que agora florescem açafrões de encantar o Mundo. Planta de bolbo, reproduz-se como se fosse selvagem e deixa-se colher como se fosse dócil. Cultura ponderada e minuciosa (clicar). Entre raízes, bolbo (caule), folhas e flores, só desta há aproveitamento. Três estigmas por flor. 



A cultura sendo recente - primeira colheita em setembro/outubro de 2018 - deseja-se que tenha Futuro. Quer-se que haja sucesso, no «Lagar do Clavijo» (clicar).



A planta é resistente, pode ser utilizada, como flor, para embelezar jardins e vasos. Como especiaria apenas é utilizada uma ínfima parte - os três estigmas (órgão feminino da planta que retém o pólen vindo dos três estames).


A - Bolbo; III - Corola com pétalas; 1/2 - Estames; 3 - Estigmas (utilizados como especiaria)

Antes da produção na freguesia de Montalvão - já nos arrabaldes da Salavessa - foi cultivada da Beira Alta à Beira Baixa (num texto futuro será feita a história destas tentativas portuguesas de produzir açafrão de qualidade), mas sem solos adequados como os que existem em três grandes áreas da freguesia de Montalvão, compostos por arcoses (areão) e conglomerados/cascalheiras (ponedros).


(clicar em cima da imagem para obter melhor visualização)



Além de haver mais terrenos entre Montalvão e a Salavessa existem ainda condições semelhantes na Cereijeira e no Monte do Pombo. 


Adaptação da «Carta Geológica de Portugal» à freguesia de Montalvão

Não em todas essas áreas pois o declive (inclinação) tem de ser suave. O Açafrão exige pouco em termos de composição química dos solos e condições climáticas mas não pode ser cultivado em encosta. 



O açafrão pode ser importante factor de desenvolvimento agrícola numa área tão deprimida, em termos económicos com reflexos na demografia, como Montalvão.





A cultura do açafrão - se generalizada em países asiáticos, onde a qualidade é elevada - é consumida essencialmente na Europa, para confeccionar receitas de valor acrescentado devido aos custos do açafrão. São necessárias quase 200 mil flores (100 quilos de flores) para produzir um quilo da especiaria. Cada bolbo reproduz outros bolbos sendo possível um hectare (equivalente a um campo de futebol) ter 300 mil bolbos que se multiplicam por quatro, ou seja, em média desenvolverem-se plantas para uma produção de 20 quilos por ano de açafrão para utilização como especiaria rara. Os valores variam conforme s condições do terreno e do clima, daí a importância de algumas áreas da freguesia montalvanense que devem ser do melhor que existe em Portugal, comparável à Turquia e ao Irão.  



A freguesia de Montalvão tem características agrárias que podem (e devem) ser exploradas. O açafrão é uma boa possibilidade. Como os pioneiros do açafrão em Montalvão estão a demonstrar e mostrar.



Agora surge a recompensa, agora há visibilidade, agora é notícia... agora o Mundo já sabe, o Planeta já conhece (clicar).



É sempre com regozijo saber que Montalvão continua útil para o Mundo. Seja em que for. Seja como for.

Próxima "paragem": Montalvão Capital Mundial do Açafrão


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14 fevereiro 2020

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Faço Minhas as Palavras de Faria Artur

14 fevereiro 2020 0 Comentários
NOTÁVEL PEDAGOGO MONTALVANENSE QUE SE NOTABILIZOU NOS ANOS 20 A 60 DO SÉCULO XX.



António de Matos Faria Artur um dos quatro autores do livro escolar com mais edições em Portugal: 132 entre 1931 e 1967.



Autor de centenas de textos para a escola primária eis um dos mais belos e significativos que escreveu.


Acrescento-lhe o seguinte:

           Óh! Minha eterna saudosa Montalvão
           Na mais bela rua das Almas onde nasci
           Longe tão longe mas não foi em vão
           Tanto e para ti tão perto vivi

NOTA: António de Matos FARIA ARTUR nasceu em Montalvão, cedo ficou órfão ao cuidado do tio paterno a viver em Nisa. Foi este que conseguiu interná-lo na Real Casa Pia de Lisboa. Foi nesta instituição que recebeu criteriosa educação e teve emprego toda a vida falecendo, em Lisboa, a seis dias de completar 90 anos. Sendo talvez o montalvanense mais fascinante do século XX (e um dos mais injustamente esquecidos em sete séculos de Montalvão) terá vários textos publicados em 2020 e 2021 acompanhando a sua vida, assinalando as principais efemérides, do nascimento, na Praça (depois de 1910, da República), desventuras (órfão) e venturas (casapiano a estudar e trabalhar) ao falecimento, na distante Lisboa, junto ao cemitério do Alto de São João, onde está sepultado. Fica uma resenha bio-bibliográfica publicada pela Casa Pia de Lisboa.


Páginas 89 e 90


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09 fevereiro 2020

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As Parteiras

09 fevereiro 2020 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE PARTEIRAS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.



No auge demográfico e social de Montalvão no século XX (Anos 40 e 50), houve a Xá Marí Emília na rua do Arneiro, a Xá Amálha na "Serventia" e a Xá Isabel Teresa no largo da Igreja.


Nos Anos 50 as duas parteiras com mais atividade eram a Xá Amálha (Amália para os que falavam "grave" à Lisboa ou Coimbra) e a Xá Isabel Teresa, mas antes delas há memória da Xá Marí Emília que foi a principal parteira nos Anos 30 e 40 e antes desta outras. E antes destas outras ainda muitas outras recuando até à fundação de Montalvão pois uma localidade não pode existir sem parteiras ou com alguém, que aquando de um final de gravidez, faça nascer os montalvanenses. E depois, da Xá Amálha e da Xá Isabel Teresa, houve a Xá Tomásia Carrilho, filha da Xá Marí Emília, que deve ter sido a última parteira montalvanense, já entre final dos Anos 50 e meados dos Anos 60, quando o forno de que cuidava caiu em desuso com a chegada da energia elétrica (1948) e o estabelecimento das padarias e fornos elétricos. Coube a ela seguir os passos da mãe (Xá Marí Emília) e assegurar os partos quando a Xá Amálha e a Xá Isabel Teresa já não tinham condições físicas, apesar de um acumular incalculável de experiência, para realizar partos com a mestria que a velhice não deixa ter eficácia. Mulheres analfabetas sabiam bem o que fazer e como resolver. Não sabiam ler e escrever mas tinham uma cultura ímpar naquilo que faziam, por isso faziam bem. 


(clicar em cima desta e de quase todas as imagens permite melhor visualização das mesmas)

Muitas crianças colocaram elas no Mundo. Foram as parteiras, ao permitir os nascimentos, que fizeram renascer Montalvão. Foi por elas que Montalvão teve continuidade desde o século XII. Foi por elas que Montalvão ainda teve partos nos Anos 60. A seguir, com o desenvolvimento dos transportes e a necessidade de haver condições para poder resolver situações delicadas passou tudo para o Hospital de Nisa e depois para Portalegre.



Consta que poucas crianças morreram nas suas mãos. Passado um dia, dois dias, uma semana, um mês ou um ano muitas crianças morriam. Elas foram parteiras no tempo em que nasciam mais de 60 crianças por ano em Montalvão. Poucas ficaram nas suas mãos. A taxa de mortalidade infantil era terrível, em Montalvão, como em todo o interior de Portugal, até aos Anos 60. Em Montalvão, nas décadas de 40 e 50, morriam em média, durante o primeiro ano de vida, cerca de quatro crianças por cada cem que nasciam.



Parto
Quando chegava a hora do parto, alguém da família contactava a parteira que estava apalavrada e esta dirigia-se para o quarto onde estava a parturiente. Chegada a hora, ficavam no quarto apenas quatro mulheres: a que ia ser mãe, as duas que iam ser avós (mãe e sogra) e a parteira. Era assim. Tudo tinha que correr bem. Se corresse mal as parteiras tratavam de tudo para tentar que o parto corresse bem!



Mesada
As parteiras não faziam só nascer as crianças, também cuidavam delas e de tudo o que as envolvia - até lavar a roupa - durante o primeiro mês de vida. E a troco de quê? De quase nada. Cada família pagava-lhes como podia. O acerto era pagar "quase nada". Muito trabalharam elas. Muito se esforçaram. Davam vida e tiveram tão pouca vida. Tiveram a que se podia ter numa povoação com rendimentos escassos.



Batizado
Praticamente um mês depois do nascimento, logo nas primeiras saídas dos bébés à rua, já estava aprazado o dia do batismo na Igreja Matriz. Nesse dia era a Parteira que tinha cuidado da criança que a levava ao colo (conhecia-a melhor do que a mãe...) seguindo para a Igreja Matriz, acompanhada pelo padrinho e madrinha da criança, pais, familiares e convidados. O padrinho e a madrinha eram, em regra, repartidos pelo lado materno e paterno. Se fosse rapaz era o padrinho que escolhia o nome. Se fosse rapariga era a madrinha. Geralmente de acordo com os pais, mas nem sempre. Eu sou o melhor exemplo. A minha mãe queria que me chamasse Amadeu mas o meu padrinho (aliás o pai pois o meu padrinho nem cinco anos tinha quando me batizei) teimou que seria Alberto e Alberto fiquei. 



Celebração
Se fosse rapaz era o padrinho e se fosse rapariga era a madrinha a levar o "Goumil" com água (jarra de vidro com bica) deitando sobre a cabeça do bébé a água na pia batismal. Celebrado o ato fazia-se o registo com o cortejo a regressar a casa dos pais acompanhados, também, pelo pároco. Durante o percurso de regresso, os padrinhos e pessoas amigas iam atirando amêndoas e confeitos da ocasião para os lados e para as janelas que ficavam no percurso. Das janelas as pessoas mais chegadas à família, também lançavam amêndoas, rebuçados e outros confeitos misturados com pétalas de flores várias. Os garotos, para os apanharem, metiam-se por todos os lados, empurravam inebriados pela generosidade do dia, caíam de uma assentada, levantavam-se num ápice embaraçando o andamento do cortejo, pelo que iam levando o seu cachação (palmada na nuca) à mistura com a doçaria caída do céu!
Da janela ou da porta da casa, os padrinhos atiravam à rua punhados de fruta da época, como maçãs, castanhas, pêras, nozes, passas de uva e figo, etecetra, que continuavam a ser disputadas pelos catchôpús e catchópas (crianças em montalvanês) e mesmo por pessoas crescidas que não resistiam à tentação e era também uma forma de celebrarem o dia do batizado de mais um montalvanense.
Quando chegava a hora da refeição - almoço se o batizado fosse de manhã ou jantar se o batizado fosse de tarde - rumavam todos à mesa fazendo honras ao cerimonial, desde roupas aos petiscos, honrando um dia com tanto significado, numa festa que se queria alegre e memorável. Acabara de nascer mais um cristão.



A Minha Parteira
Apesar da minha bisavó paterna pelo seu lado materno, a Xá Isabel Teresa, ser Parteira, quando nasci já não tinha idade para assistir a partos e fazer nascer montalvanenses. Mas fez nascer centenas para a vida durante a sua vida. A "minha parteira" foi a Xá Tomásia Carrilho. Naquele dia, na rua das Almas, tudo correu de feição. Quando era criança e acompanhava a minha mãe, lembro-me de esta me dizer. Olha, vem ali ou está ali a senhora que te fez nascer! Eu quando passava pela Xá Tomásia Carrilho curvava-me, num gesto irreflectido, espontâneo, fazendo como que uma vénia. Agora quando penso nisso, talvez o tivesse feito - e fiz bem uma dúzia de vezes - num misto de agradecimento e reconhecimento. Não por mim, seria dar importância desmedida ao meu nascimento, mas por ela. Se estava ali foi porque ela tinha sido competente quando foi chamada a ser competente. Tinham confiado nela e ela soube estar à altura do que lhe era pedido e exigido. Só posso agradecer. 

Obrigado, Xá Tomásia Carrilho.


A imagem pode conter: 2 pessoas, pessoas a sorrir, pessoas sentadas, mesa, interiores e comida

Próxima "paragem": Os Barbeiros
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04 fevereiro 2020

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Castanhas à Moda de Montalvão

04 fevereiro 2020 0 Comentários
ANTES DA ALIMENTAÇÃO EM MONTALVÃO SER À BASE DE BATATA AS CASTANHAS TINHAM GRANDE DESTAQUE NA GASTRONOMIA MONTALVANENSE.



A batata apenas foi conhecida na Europa depois da Descoberta da América, por Cristóvão Colombo, em 1492. Mas não foi de imediato, pois apenas em 1565, há notícias de plantações na América do Sul. 



As batatas chegaram à Europa, em 1573, disseminando-se por todo o Continente Europeu. No início era admirada entre os botânicos pelas suas flores, para os europeus de algum modo exóticas e ornamentais, por serem desconhecidas e como alimento para gado, pois como se dizia na época "ser humano civilizado não come raízes". Os portugueses, já ia o século XVI a caminhar para o seu final, perceberam que era alimento excelente, por se conservar depois de apanhada no campo, comestível durante muito tempo, nas demoradas viagens de Portugal para o Oriente e regresso. Depressa entrou na dieta alimentar dos portugueses, mesmo dos que viviam "em terra firme".



Antes da batata, para os montalvanenses, a castanha era um dos alimentos mais importantes, para o dia-a-dia, a par da bolota e do trigo. De qualquer deles fazia-se farinha. Se o trigo era transformado como pão, já a bolota e a castanha podiam ser consumidas, também, como alimento sem moagem. 



A castanha, tal como o arroz, tem origem na Ásia, embora o arroz seja nativo do Extremo-Oriente (China) e a castanha do Próximo-Oriente (Cáucaso e Leste da Turquia). 



As castanhas e o arroz chegaram a Montalvão, tal como a Portugal, com as invasões muçulmanas, depois de 711. Os castanheiros necessitam de humidade apreciável (principalmente ar pouco seco no Verão além do solo com algum teor em água) e de temperaturas não muito elevadas, ou seja, de Estios suaves. No interior do Alentejo apenas existiam em quantidade apreciável na Serra de São Mamede e a norte desta até ao rio Tejo e margem esquerda do rio Sever, incluindo algumas áreas com encostas umbrias em Montalvão. Nunca existiram em quantidade de modo a haver soutos montalvanenses, mas chegou a existir cerca de um milhar de castanheiros na vasta área da freguesia, concentrados em locais com condições minimamente aceitáveis para os jovens castanheiros crescerem e frutificarem. Com o cultivo da batata perdeu importância, acabando por diminuir o número de castanheiros de cerca de um milhar - substituídos por oliveiras e sobreiros - para escassas centenas e na atualidade, apenas, dezenas! Ou, nem isso!  



Há mais de seis gerações que se mantém na gastronomia da família uma receita ancestral, cujo início deve recuar ao tempo em que ainda não havia batatas em Montalvão.

Castanhas acompanhadas com leite (como prato principal ou sobremesa, dependendo esta da junção de açúcar)

Deixam-se secar as castanhas, numa cesta de vime, junto ao fumeiro, numa das paredes laterais da chaminé. Era assim que as secava, a minha bisavó Branca, na rua Drêta, num cestinho com aquelas saborosas castanhas ouriçadas dos magníficos castanheiros da Charneca, com a Salavoiça à vista!




Receita para quatro pessoas. Numa panela com água e sal (uma colher de chá) colocam-se 400 gramas de castanhas, deixando-se cozer. Quando cozidas, adicionam-se 200 gramas de arroz, 250 ml de leite, um pau de canela e uma casca seca de laranja, continuando a cozer.



Depois de cozido, ficando um caldo, e não uma massa tipo arroz-doce, está pronto o manjar. No momento em que se quer comer o arroz com as castanhas pode sempre adicionar-se mais leite de modo a ficar um caldo de castanhas e arroz. Como sobremesa adiciona-se açúcar. Se não for sobremesa não se adoça.


1. Numa panela ferve-se água para escaldar as castanhas secas;



2. As castanhas devem ser escaldadas para libertarem os restos da pele castanha que ainda podem ter. No final as castanhas devem estar completamente libertas de qualquer vestígio de pele acastanhada;



3. Os ingredientes - arroz previamente lavado, leite, açúcar, um pau de canela, casca de laranja e uma colher de chá de sal - devem estar devidamente preparados pois é fundamental cumprir o que a cozedura "vai pedindo";



4. Numa panela com água fervem-se as castanhas, em água e sal (pitada ou colher de chá) até ficarem bem cozidas quase a esboroarem-se;



5. Com as castanhas em ponto ótimo de cozedura adiciona-se o arroz (a quantidade deve ser metade em relação às castanhas);



6. Um ou dois minutos depois adiciona-se o leite, o pau de canela e a casca seca de laranja;



7. Adiciona-se o açúcar, continuando a ferver;



8. Quando estiver fervido está pronto a comer;



9. Mexer até estar uma boa cozedura com as castanhas no limite de se desfazerem;

Video:

10. Pronto a comer.



Eis uma das receitas mais antigas, talvez da Idade Média, da gastronomia de Montalvão.
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