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04 fevereiro 2020

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Castanhas à Moda de Montalvão

04 fevereiro 2020 0 Comentários
ANTES DA ALIMENTAÇÃO EM MONTALVÃO SER À BASE DE BATATA AS CASTANHAS TINHAM GRANDE DESTAQUE NA GASTRONOMIA MONTALVANENSE.



A batata apenas foi conhecida na Europa depois da Descoberta da América, por Cristóvão Colombo, em 1492. Mas não foi de imediato, pois apenas em 1565, há notícias de plantações na América do Sul. 



As batatas chegaram à Europa, em 1573, disseminando-se por todo o Continente Europeu. No início era admirada entre os botânicos pelas suas flores, para os europeus de algum modo exóticas e ornamentais, por serem desconhecidas e como alimento para gado, pois como se dizia na época "ser humano civilizado não come raízes". Os portugueses, já ia o século XVI a caminhar para o seu final, perceberam que era alimento excelente, por se conservar depois de apanhada no campo, comestível durante muito tempo, nas demoradas viagens de Portugal para o Oriente e regresso. Depressa entrou na dieta alimentar dos portugueses, mesmo dos que viviam "em terra firme".



Antes da batata, para os montalvanenses, a castanha era um dos alimentos mais importantes, para o dia-a-dia, a par da bolota e do trigo. De qualquer deles fazia-se farinha. Se o trigo era transformado como pão, já a bolota e a castanha podiam ser consumidas, também, como alimento sem moagem. 



A castanha, tal como o arroz, tem origem na Ásia, embora o arroz seja nativo do Extremo-Oriente (China) e a castanha do Próximo-Oriente (Cáucaso e Leste da Turquia). 



As castanhas e o arroz chegaram a Montalvão, tal como a Portugal, com as invasões muçulmanas, depois de 711. Os castanheiros necessitam de humidade apreciável (principalmente ar pouco seco no Verão além do solo com algum teor em água) e de temperaturas não muito elevadas, ou seja, de Estios suaves. No interior do Alentejo apenas existiam em quantidade apreciável na Serra de São Mamede e a norte desta até ao rio Tejo e margem esquerda do rio Sever, incluindo algumas áreas com encostas umbrias em Montalvão. Nunca existiram em quantidade de modo a haver soutos montalvanenses, mas chegou a existir cerca de um milhar de castanheiros na vasta área da freguesia, concentrados em locais com condições minimamente aceitáveis para os jovens castanheiros crescerem e frutificarem. Com o cultivo da batata perdeu importância, acabando por diminuir o número de castanheiros de cerca de um milhar - substituídos por oliveiras e sobreiros - para escassas centenas e na atualidade, apenas, dezenas! Ou, nem isso!  



Há mais de seis gerações que se mantém na gastronomia da família uma receita ancestral, cujo início deve recuar ao tempo em que ainda não havia batatas em Montalvão.

Castanhas acompanhadas com leite (como prato principal ou sobremesa, dependendo esta da junção de açúcar)

Deixam-se secar as castanhas, numa cesta de vime, junto ao fumeiro, numa das paredes laterais da chaminé. Era assim que as secava, a minha bisavó Branca, na rua Drêta, num cestinho com aquelas saborosas castanhas ouriçadas dos magníficos castanheiros da Charneca, com a Salavoiça à vista!




Receita para quatro pessoas. Numa panela com água e sal (uma colher de chá) colocam-se 400 gramas de castanhas, deixando-se cozer. Quando cozidas, adicionam-se 200 gramas de arroz, 250 ml de leite, um pau de canela e uma casca seca de laranja, continuando a cozer.



Depois de cozido, ficando um caldo, e não uma massa tipo arroz-doce, está pronto o manjar. No momento em que se quer comer o arroz com as castanhas pode sempre adicionar-se mais leite de modo a ficar um caldo de castanhas e arroz. Como sobremesa adiciona-se açúcar. Se não for sobremesa não se adoça.


1. Numa panela ferve-se água para escaldar as castanhas secas;



2. As castanhas devem ser escaldadas para libertarem os restos da pele castanha que ainda podem ter. No final as castanhas devem estar completamente libertas de qualquer vestígio de pele acastanhada;



3. Os ingredientes - arroz previamente lavado, leite, açúcar, um pau de canela, casca de laranja e uma colher de chá de sal - devem estar devidamente preparados pois é fundamental cumprir o que a cozedura "vai pedindo";



4. Numa panela com água fervem-se as castanhas, em água e sal (pitada ou colher de chá) até ficarem bem cozidas quase a esboroarem-se;



5. Com as castanhas em ponto ótimo de cozedura adiciona-se o arroz (a quantidade deve ser metade em relação às castanhas);



6. Um ou dois minutos depois adiciona-se o leite, o pau de canela e a casca seca de laranja;



7. Adiciona-se o açúcar, continuando a ferver;



8. Quando estiver fervido está pronto a comer;



9. Mexer até estar uma boa cozedura com as castanhas no limite de se desfazerem;

Video:

10. Pronto a comer.



Eis uma das receitas mais antigas, talvez da Idade Média, da gastronomia de Montalvão.
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