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21 março 2023

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Montalvão: Terra dos Poetas Ativos (Parte IV)

21 março 2023 0 Comentários

EM SETE SÉCULOS DE MONTALVÃO É MULTIPLICAR POR SETE OS POETAS MONTALVANENSES.



Em média, há um rimador por geração (25 anos) parece-me a mim! Poetas um a cada cem anos! Talvez!


Não tem obra vasta, mas tem o "Poema de Uma Terra". Aliás este poema podia (e devia) fazer parte de qualquer «Antologia de Poesia Portuguesa» mesmo que esta tivesse 150/200 poemas ou até menos se fosse temática. O "Ti Mané Pássaro" foi-o construindo - lembro-me bem, ainda que «catchôpe», de como a cada ano ia ficando maior e melhor - acrescentando-lhe organização, coerência e sentido. Um dos melhores poemas em Língua Portuguesa, ao nível dos melhores do século XX (para não recuar até ao século XIV). A diferença é que os maiores poetas portugueses apresentam uma obra com vários que são obras-primas e o "Ti Mané Pássaro" apresenta um que é uma obra-prima.   


MANUEL DOS SANTOS TAVARES

(Ti Mané Pássaro)

(falecido)



Ser Poeta

Ser poeta
Ser diferente
Dos que não sabem sonhar
Não é para toda a gente
Que às vezes quer criticar
O que não sabe, nem sente!...

Ser poeta
Com o dom da Natureza
Mergulhar no Desconhecido
Com alegria ou tristeza
Faz parte do meu sentido!...

Ser poeta
Amigo de quem trabalha
Querer paz e alegria
Travar por isso batalha
Sem descanso, noite e dia!...

Ser poeta
E ao Povo poder cantar
E querer com ele estar
Todos os momentos da vida
É bem essa a minha lida
Seja a rir ou a chorar
Em cadeia bem comprida!...

Ser poeta
Estar com génios do Bem
Cá na Terra, ou no Além
Quero estar eternamente
De vontade estou contente
Julgando que mal não tem!...

Ser poeta
Estar com os infelizes
Vítimas de grandes prejuízos
Estou de cérebro e coração
Seja Inverno ou Verão
Com advogados e juízes
Nas horas de salvação!...

Ser poeta
Cantar o bem e o mal da Terra
Sempre condenando a Guerra
Monstro da destruição
Dando-lhe a nossa maldição
Já que tanto mal encerra!...

Ser poeta
Estar com a Técnica e a Ciência
Quero ter essa paciência
E com o Trabalho igualmente
Ao lado de quem tanto sente
Que tem prática e experiência!...

Ser poeta
Ser concreto e realista
Pondo sempre a verdade à vista
Doa lá a quem doer
É assim que quero ser
Não vaidoso nem bairrista!...

Ser poeta
Estar com pescadores e astronautas
Descalços ou com gravatas
Artistas e cientistas
Na cidade ou nas matas!...

Ser poeta
Ser activo e humano
Nunca viver no engano
Com hipocrisia ou maldade
Ao contrário de desumano
É a melhor Sociedade!...

Ser poeta
Humilde e trabalhador
Dar ao Colectivo o seu valor
Para a família universal
Trás mais o bem que o mal
E não ser explorador!...

Ser poeta
Ser sonhador?...
Pode ser descobridor
De mundos desconhecidos
Trazer em olhos e ouvidos
Com carinho e amor
As coisas com bom rigor!...

Ser poeta
Amar uns olhos encantadores…
E seus meninos continuadores
Que são toda a lei da Vida
Tenho nisso grande lida
Que são os maiores valores!...

Ser poeta
E que fosse omnipotente
Para todos remediar
Criados e por criar
Acudir a toda a gente
No Espaço e no Tempo!...

Ser poeta
Talvez dom da Natureza
Não é para toda a gente
Cantar alegria ou tristeza
Saudável ou doente
Pobrezinho ou com riqueza!...

Ser poeta
Amar as musas
As estrelas
Os sóis e as luas
Que até dá gosto vê-las
E todas as coisas suas!...

Ser poeta
Cantando a Natureza
As borboletas e as flores
E toda a sua beleza
A Vida a sair de amores
Seria a maior grandeza
Com todos os seus rigores!...

Ser poeta
Condenar Hiroshimas
Fornos crematórios
Centros cosmopolitas
De exploração e prostituição
Sermões oratórios
Guerra e destruição
E classes de parasitas!...

Ser poeta é natural
E filho do mundo inteiro
Não é só de Portugal
Mas não poeta por Dinheiro!...

A poesia é uma musa
Que deve ser estimada
Como Arte imaculada
Que mal não pensa nem usa
Seja clara e não confusa
Traga mais bem do que mal
De carácter universal
Poeta quem me dera ser
Mesmo na hora de morrer
Ser poeta é natural!...
 
Uma família, a Humanidade
Em todas as latitudes
Seja com vícios ou virtudes
E seja a melhor Sociedade
Tudo o melhor acabado
Poeta deve ser certeiro
Dos bons génios o primeiro
Nem espanhol nem português
Americano ou inglês
É filho do mundo inteiro!...
 
Cantar sempre para o Povo
Ser concreto e realista
Nunca ser obscurantista
Seja velho ou seja novo
Sem nada que lhe dê estorvo
Assim é mais normal
Cada vez mais actual
Pôr a cantar toda a gente
Para tudo viver contente
Não é só de Portugal!...
 
Ser poeta por humanismo
Por Justiça e Liberdade
Um regime de igualdade
Como quer o Socialismo
Contra o Parasitismo
Seja sempre verdadeiro
Trabalhador o primeiro
Por tudo que traga bem
E o mal para ninguém
Mas não poeta por Dinheiro!...

 


JOÃO DOS REMÉDIOS AMBRÓSIO

(Ti Júan Póquito)

(Nascido em 22 de outubro de 1923, na rua Direita; falecido em 1994)


MONTALVÃO TRISTE VELHINHO


Montalvão, triste velhinho

Chora sem consolação

Ao lembrar-se, coitadinho,

Dos tempos que já lá vão.

 

 

Tens tanto prédio fechado,

De gente que abalou.

Filhinhos que ele criou,

O têm abandonado…

Vai tudo para o mesmo lado,

Toma tudo igual caminho.

Vão-te deixando sozinho,

Já tens ruas sem ninguém.

Já nem mocidade tem,

Montalvão, triste velhinho.

 

 

Abala tanta pessoa,

Dali para vários lados.

Deixam os seus lares fechados.

Dizem que vão para Lisboa.

Alguns abalam à toa,

Sem saber para onde vão…

Para ganhar algum tostão,

Lá vão na grande esperança,

Montalvão vai-se p’ra França,

Chora sem consolação.

 

 

Abala o velho e o novo…

Tudo te tem desprezado.

Vais estando desabitado,

Vais sendo vila sem povo.

Ao ver-te assim, me comovo,

Porque sou de ti filhinho.

Ver-te assim, tão tristinho,

Lembram-me os tempos de outrora

E Montalvão triste, chora,

Ao lembrar-se coitadinho.

 

 

Lembram-se os tempos passados,

Que eu vivia, antigamente…

Eram todos… boa gente

E de costumes engraçados.

Todos estão acabados

Só a pobreza é que não…

Tens lá muita televisão,

Mas não te dão rendimento.

Lembram-me, a todo o momento

Dos tempos que já lá vão.



ANTÓNIO JOSÉ BELO


(Ti Zézana)


(Nasceu em 11 de junho de 1912 e faleceu em 26 de junho de 2002; morador na rua Direita, gaveto com a Ruínha de Cima, empalhador de «cadêras»: Ti Zézana; ensaiador das Contradanças)




I

Montalvão teve poetas
E continua-os a ter...
Para vos dar provas certas
Eis o que vos vou dizer.

II

De Montalvão veio a Nisa
Um poeta popular,
Que com todos simpatiza
E vos deseja abraçar.

III

Nisa, à sua entrada
Estima todos os visitantes.
Nisa querida, Nisa amada,
Nisa, terra de encantos.

IV

Vou pedir uma promessa
Do fundo do coração.
Para que Nisa nunca esqueça
O povo de Montalvão

V

A todos que aqui estão
Desejo felicidades...
Lembrai-vos de Montalvão,
Que por mim sereis lembrados.

VI

Esta linda mocidade
Que hoje aqui veio, com certeza
Vai, leva saudades,
Mas deixa a sua alma presa.

VII

O povo de Portugal
Honrado e trabalhador
Desejo a todos por igual
Saúde, paz e amor.



JOSÉ ANTÓNIO VITORINO

(Ti Zé do Santo; nasceu em 2 de fevereiro de 1915/Salavessa; falecido)



SALAVESSA

Salavessa é minha aldeia!
Na margem esquerda do Tejo,
Será pequenina e feia
Mas a cidade não invejo.

Se eu fosse rico, abastado,
Esqueceria a minha aldeia,
Sou pobre e mal roupado
A cidade para mim é feia.

Salavessa está esquecida!...
Aqui não há regalias,
Não tem rossio nem avenidas
E mal se ouvem telefonias.

Salavessa pequenina,
És um berço de embalar!
Nasceste numa colina,
De rouxinóis a cantar.

Quero-lhe bem, mesmo feia,
É o meu berço natal.
Viva a minha querida aldeia
E viva o nosso Portugal!




JOÃO GORDO DO ROSÁRIO CORREIA

(Nasceu em 26 de setembro de 1917/ Salavessa; faleceu, em Montalvão, a 10 de novembro de 2015)


A SALAVESSINHA

Encontraram-se casas velhas
No sítio do Curralceiro
Não se sabe quem por ali andou
Mas dizem que ali morou
Um casal que era estalageiro

Aí à Cruz se encontraram
Peças de ouro ou dinheiro
Eu hoje estou convencido
Que esse ouro aí escondido
Era do tal estalageiro

Talvez no tempo da Barca Velha
Que morassem nessa casinha
Dizem que era uma estalagem
Para quem passava de viagem
No Monte da Salavessinha

Debaixo do terreno se encontrou
Quem seria a última donzela
Que tantas vezes bebeu dela
E nunca mais ali voltou
Que para a fazer ali cavou

Sentado depois junto dela
No verão ou na primavera
A secura lhe matou.
Numa fonte muito antiga
Quem seria o homem




ANTÓNIO DA GRAÇA HENRIQUES


(Nasceu, na rua do Outeiro, em 27 de março de 1955)



SIMPLESMENTE

É pobre pequeno e belo
Gente muito acolhedora
Nós somos de Montalvão
E temos a Corredora

Gente que trata dos campos
Para arranjar para comer
Outros são contrabandistas
Para poderem viver

Era assim noutros tempos
Hoje é tudo diferente
Agora são poucos e bons
Dantes havia mais gente

Quem nasceu em Montalvão
Reconhece o seu viver
Esta terra velha e linda
É a razão do meu ser

Saudades tantas saudades
Que guardo da minha infância
Brincando na nossa Praça

Lindos tempos de criança




E para terminar, neste ano de 2023 - esperando pela parte V, em 2024 - dois poemas do excelso poeta montalvanense do século XXI.



CARLOS ALBERTO LUCAS DA SILVA


(Nasceu, no Arrabalde, em 12 de junho de 1946)



ACORDAR

Acordar
fascinado
por uma aurora matinal
e sonhar!

Beber
a madrugada
num cálice profano
doce e divinal
e ficar embriagado.

Escutar
o silêncio musical
e a voz dos ribeiros
que declamam poemas
pela boca do vento
ainda molhada
pela saliva dos beijos
que amanhecem
nos lábios apaixonados
a desafiar o desejo

na cama da alvorada.


CAMINHA

Despe a manhã
e levanta-te.
Abraça o dia
Agarra o sonho
e caminha!

Dança na areia
dos resíduos do tempo
caído da ampulheta
que desnuda as horas
suspensas no azul
de um sorriso
e caminha pelo amor.

Caminha pelo tempo
sem nuvens
e ilumina a viagem
que galopa
sobre as estrelas
agarrando a madrugada
e navega pelo rio
que é apenas teu
porque mais ninguém o viu.

Mergulha na alvorada
e não tenhas frio.
caminha pela cidade
e risca o silêncio
do vento sem idade
que sopra nas margens
as lágrimas do tempo.


NOTA PROVISÓRIA (a retirar pelas 00:00 de 26.03.2023): Especial agradecimento ao "blog Master Groove", ao actor António Melo e Carlos Lucas Silva, pois não tendo eu telemóvel desde sábado (18 de março, pelas 16.30 horas) foi possível concluir este texto do modo como o idealizei. Também prova que é possível depender menos dos telemóveis que da poesia e rimas! 

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