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20 janeiro 2023

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Uma Loja ao Serviço dos Montalvanenses

20 janeiro 2023 0 Comentários

ESTA BALANÇA QUILO A QUILO - POR VEZES NEM ISSO - PESOU TONELADAS NUMA VIDA DE QUASE MEIO SÉCULO A VENDER.



Um pouco de tudo e de tudo um pouco, mas nunca faltava, pois nova remessa chegava para substituir o que se comprava.


A loja do Xequim da Troia ou Jaquim da Troia (dependia da pronúncia) ficava muito bem localizada, ali no centro demográfico, em vez do centro geográfico, pois Montalvão "pesa" mais para Leste que para Oeste devido à rua da Barca, Almas e Ferro. Além do Arneiro e Sítio do Bernardino. O nome "da Troia" surgiu pelo facto dele, em «catchepínhe» não prescindir da companhia da cadelinha "Troia".


NOTA: clicando em cima da imagem aumenta a qualidade da visualização.



NOTA: agradecimento a Clementina Marques (que enviou as seis fotografias) extremosa filha de Joaquim Leandro Marques que soube alindar uma loja dos pais que foi sempre muito mais eficiente e prática, que espampanante ou «alfarraquêra» (em Montalvão, querer parecer mais do que se era), mas sempre asseada, elegante e arrumada. 


Estreia da «músseca» em 7 de Setembro  de 1947, com o Regente (senhor António Raposo)

Uma saudade imensa. Aquele sorriso atrás do balcão à espera de um descuido para fazer uma graça bem disposta. 


A «músseca», em 1950, com o Regente (senhor João Gualberto)

Joaquim Leandro Marques nasceu em 24 de março de 1929 e faleceu, aos 91 anos, cinco meses e 15 dias, em 8 de setembro de 2020. No dia do aniversário da sua esposa e da «Senhô Drumédes» ele que tanto a honrou, a cada dia 8 de setembro, com o seu clarinete enquanto componente da Banda Filarmónica de Montalvão, a «Músseca» montalvanense.


Fatura da loja, na rua do Outeiro, oficialmente Miguel Bombarda, ainda no tempo em que as portas não eram numeradas. Atualmente é o 48A e 48B


Jaquim ou Xequim da Troia casou com Jaquina Ramalheta e era o mais novo de quatro filhos do fantástico pedreiro Ti António Vivo que cortava os blocos de xisto como se fosse a "laser". Fazia, na perfeição paredes para rebocar e caiar, escadas entre pisos, sobrados, forros, telhados, chaminés e varandas, raras, em Montalvão. Um artista a trabalhar a pedra ainda que para construção. 



Que quarteto!

A acompanhar o "Grupo Cénico" ensaiado pelo Ti Zézana ou em quarteto: Ti Tchic (banjo) que vivia na «rua de Sam Pôidre» (atual n.º 53), Ti Jaquim Branco (concertina) do «Funde da Rua» (rua da Costa; atual n.º 6), Senhor Padre José dos Santos (banjo, rua da Barca, atual n.º 33) e Xequim da Troia (clarinete) na rua do Outeiro (atual n.º 48 e a loja nos atuais 48A e 48B). Atuais números pois quando o dedicado e afável carteiro João Belo distribuía correio não existiam números nas portas. Só depois dele foram colocados. 



O local deve ter tido - já não tem desde 1999 - uma loja desde há séculos

Foi-se renovando, construindo no local edifícios cada vez mais acolhedores com a melhoria das técnicas de construção. Há memória até aos Anos 20: antes do Jaquim da Troia, o "ratinho" da Beira Baixa (senhor Luís Gomes) e o senhor Augusto. Mas pela localização central naquele espaço ou muito perto haveria uma loja com características semelhantes pelo menos, desde o século XVIII ou início de XIX pois a população de Montalvão já o justificaria. Em Montalvão, ser tratado por Senhor e Ti tem diferenças. "Ti" é um comum mortal. Senhor é um «rique» (Proprietário ou Lavrador) ou alguém que vem de fora, de outra povoação, mesmo que chegasse "com uma mão à frente e outra atrás".



Um espaço renovado

Mas mantendo o mobiliário emblemático que marcou o dia-a-dia dos montalvanenses desde meados dos Anos 50 e alguns utensílios e móveis, certamente, já vinham detrás, mesmo que poucos, do senhor Augusto Pimentel e do senhor Luís Gomes.


Edifício com três pisos (dos poucos com 2.º andar, em Montalvão) n.º 48 com a loja no 48A e 48B (numeração recente de final do século XX) após o dedicado carteiro João Belo deixar de distribuir as cartas, postais e aerogramas (durante a Guerra Colonial no Ultramar)


Foram tantas décadas a vender e trocar umas palavras com os conterrâneos

Até 1999, quando completou 70 anos e chegou o tempo de descansar.




Muita alegria por comprar

A necessidade de adquirir todo o tipo de utensílios, dos mais pequenos aos maiores, era sempre motivo de satisfação pois correspondia a suprir, com êxito, uma necessidade. Mas não era e é assim em todo o lado? Era e é! Mas Montalvão sendo mais isolado havia pouco por onde escolher. Por isso ele tinha variedade e sabia o que era mais e menos necessário, quem comprava mais este ou aquele produto. Todos conheciam todos. E não havendo era encomendar que ele sabia quanto tempo demoraria a chegar.




Também houve sonhos por realizar

Quantas vezes não se entrava na loja para fazer uma aquisição e olhava-se para outra que por ser cara ou supérflua ficava na imaginação. Depois era ir poupando até poder comprar ou entretanto esquecia-se e já não se comprava. Mas o sonho de ter aquele desejo nunca ninguém o iria tirar. ainda me lembro de alguns desses "sonhos" que não passaram disso mesmo, mas fez parte do crescimento de todos. Era a vida! Não havia volta a dar.





Começou a sua vida atrás do balcão aí por meados dos Anos 50

Muitos clientes quando Montalvão ainda parecia um enxame ao anoitecer e aos domingos. Era a bom ritmo que todos se "aviavam", pois não estava muito tempo parado. Eu não conheci esses tempos de mais de 2 500 pessoas na «Vila», mas sim de cerca de 1 000 (final da Década de 60 e meados dos Anos 70) embora aumentasse em agosto (emigrantes) e em final da primeira semana de setembro (festas da «Senhô Drumédes»).



Não deve haver um montalvanense que não tenha frequentado a sua loja "Centro Comercial"

Que não tenha estórias com ele, pois ele era de recordar e adaptar situações do passado ao presente. Sabia bem transformar Drama em Comédia... sem dramas! Eu que ia à loja uma vez por semana ou a cada duas, tenho bem uma dúzia delas.


A Banda Filarmónica («Músseca») de Montalvão, em 12 de agosto de 1951, nas escadas da Casa do Povo de Montalvão antes da partida para os Perais (concelho de Vila Velha de Ródão) com o Regente (senhor João Gualberto)

Gostava de banjo e clarinete

Confesso que por gostar mais de "Jazz" que de "Folk" sempre me entusiasmou mais a ouvi-lo tocar clarinete que banjo (que julguei ser mais para se entreter na loja, entre atender clientes, enquanto um saía e outro chegava) pois como o Ti Tchic barbeiro e alfaiate vivia, na casa em frente à minha, ouvia mais este a tocar banjo e se o tocava bem... pois quem corre por gosto...



Teve Que Ser Assim!

Infelizmente envelheceram ou partiram cedo de mais pois se fosse agora conseguia-se gravar e filmar muito do que fizeram. Não deixaram registo do virtuosismo e dedicação que foram tendo ao longo da vida para fugir à monotonia de um dia que se seguia a outro sempre igual, embora sempre competentes e bem dispostos, sorridentes para alegria de quem necessitava deles para ter uma vida com menos "fardo". A homenagem possível ao Ti Jaquim da Troia enquanto clarinetista da «Vila».



Assim se conseguia viver melhor em Montalvão

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