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15 dezembro 2022

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Manuel Godinho 360

15 dezembro 2022 1 Comentários

HÁ 360 ANOS, EM 15 DE DEZEMBRO DE 1662, O PADRE MANUEL GODINHO INICIOU A VIAGEM QUE LHE DARIA A IMORTALIDADE. 


Nasceu em Montalvão, em 5 de dezembro de 1633, há 389 anos, mas aos 15 anos, em 3 de junho de 1649, ingressou na Companhia de Jesus, em Coimbra, onde fez um percurso notável de aprendizagem, com erudição (vastos conhecimentos de um série infindável de saberes) e cultura (capacidade de observação, análise das situações e sentido crítico perante a realidade) que ficou para a posteridade no livro que em boa-hora decidiu escrever e publicar. Faleceu a 25 de fevereiro de 1712, aos 78 anos e em Loures foi sepultado, há 310 anos.



A viagem da qual resultou o livro que o tornou imortal decorreu entre 15 de dezembro de 1662 (saída de Baçaim/Índia) e 25 de outubro de 1663 (chegada a Cascais). O livro "Relação do Novo Caminho Que Fez Por Terra e Mar Vindo da Índia Para Portugal no Ano de 1663" foi publicado em 1665. A sua importância é enorme na História da Literatura Portuguesa e para o conhecimento de parte do mundo em meados do século XVII, pois descreve com mestria os muitos lugares por onde passou, fazendo um inventário notável a todos os níveis (culturas, hábitos, gastronomias, fauna e flora, clima e geografia, etc.). Além disso é um livro crítico acerca do modo como Portugal estava a ser ultrapassado por holandeses e ingleses (principalmente por estes) nas relações comerciais com os indianos. Aliás a missão dele - por isso regressou a Portugal por uma rota não usada e disfarçado - sendo secreta era para alertar para o perigo de Portugal ceder Bombaim aos ingleses. Há vários textos neste blogue acerca da sua obra e da sua vida. É só procurar na etiqueta Manuel Godinho (Padre).


Seguiu para a Índia, em 1655, pela rota usual, mais paragem, menos paragem. Regressou por um caminho que ele foi desbravando de improviso!



Sendo Manuel Godinho o mais insigne montalvanense de sempre e para sempre terá de haver um acompanhamento dessa sua viagem aproveitando as efemérides mais importantes e por si datadas, com exemplos do modo como descrevia as viagens e estadias. Neste texto a saída de Baçaim e a chegada a Surrate, numa viagem pedestre para depois conseguir seguir viagem de barco e por percursos terrestres até Cascais, mas com muitas paragens e peripécias.





Baçaim esteve na posse de Portugal, entre 1534 e 1739. Os portugueses não ocupavam o vasto território da Índia, mas chegaram a ter grande domínio do comércio com as principais cidades da costa ocidental dessa península. Tinham cidades fortificadas na foz dos rios para serem abastecidas por navios e poderem repelir invasores e potenciais ocupantes. Estabeleciam contactos comerciais com as áreas envolventes à procura de produtos locais ou que chegavam de longe, do interior do território indiano, mas depois comprados nessas cidades fortificadas. Os portugueses ao saírem dessa "área de segurança" corriam riscos que eram maiores ou menores dependendo se havia maior ou menor hostilidade dos locais (indígenas) para com os portugueses. Como é evidente os europeus conseguiam, mesmo sendo muito minoritários, defender-se pois tinham superioridade tecnológica em armamento, navios (capacidade de transportar tropas de uma cidade para outra em caso de conflito) e complacência devido ao comércio pois todos lucravam, quer os indígenas quer os portugueses. Os extensos areais permitiam deslocações em campo aberto, entre essas "praças-fortes" (cidades amuralhadas) evitando emboscadas. 






Damão esteve na posse de Portugal, entre 1559 e 1961. O Padre Manuel Godinho chegou a Damão pelas nove da manhã do dia 18 de dezembro de 1662.



Surrate esteve na posse de Portugal, entre 1540 e 1612, por isso já não era portuguesa, há duas décadas, quando o Padre Manuel Godinho ali chegou, em 1662, vindo de Baçaim, via Damão. Pelas descrições, o Padre Manuel Godinho deve ter chegado a Surrate a 21 ou 22 de dezembro. Só deixaria Surrate, de barco, em 5 de fevereiro de 1663. O livro tem muitíssimas descrições "deliciosas" além do óbvio - deslocações, produtos agrícolas e hábitos alimentares, lugares e modos de vida - pois questiona usos e costumes. Só lendo todo o livro o leitor se apercebe do valor documental e literário, mas fica um pequeno excerto de um diálogo nesta curta viagem entre Damão e Surrate, na companhia de um persa muçulmano (que ela apelida de Mouro) que prima pela descrição como personalidade, um gentio hindu (brâmane/bracmene) exuberante e ele que era Padre cristão.




Uma viagem, a pé entre Baçaim e Damão e numa carroça, entre Damão e Surrate. Cerca de 240 quilómetros em 6/7 dias - 35 quilómetros por dia  - com paragem mais prolongada em Damão para se disfarçar de "não cristão/europeu".



Em Surrate, a estadia foi longa pois teve que esperar pelos ventos favoráveis rumo a Comorão junto a Ormuz.



Até 5 de Fevereiro de 2023


NOTA PESSOAL (que será retirada quando for escrito um texto autónomo): se o Padre Manuel Godinho foi o primeiro montalvanense a estar na Índia (1655/1662) o meu pai foi o segundo - do que se conhece - para cumprir o Serviço Militar como voluntário (1957/1959) ou seja, esteve na Índia, 300 anos depois "certos" (1657/1957 - 1659/1959) da estadia do Padre Manuel Godinho. Esteve foi no território de Goa (o padre Manuel Godinho também por lá deve ter passado) e como soldado/primeiro cabo radiotelegrafista nunca foi a Baçaim, Damão ou Surrate. Mas percorreu inúmeras localidades goesas: Alparqueiros (sede dos radiotelegrafistas, onde completou 20 anos de idade), Aguada, Mapuçá, Bicholim, Mormugão (porto marítimo), Vasco da Gama, Pangim (capital do estado de Goa, onde assinalou o seu 21.º aniversário, já a preparar o regresso a Lisboa) entre outras localidades fronteiriças, entre Portugal/Índia Portuguesa e a União Indiana. A curiosidade está em que também fez viagens, de Portugal para a Índia Portuguesa, com percursos semelhantes aos do padre Manuel Godinho, ainda que sempre de navio («Timor») e sem ser à vela: ida pelo Cabo da Boa Esperança (devido à Crise da Guerra dos Seis Dias, entre Israel e o Egito, que fechou o Canal do Suez) e regresso - pelo navio «Índia», gémeo do «Timor» - pelo Mar Mediterrâneo, por já estar a funcionar o Canal do Suez. 300 anos depois e percursos semelhantes. Incrível. Quando tive que ler o livro (e estudá-lo a nível académico) e lhe contei o que se passava, ficou estupefacto e combinámos ir à Índia - onde ele sempre manifestou desejo de regressar aos locais onde passou o fim da adolescência (chegou a Mormugão com pouco mais de 19 anos) e eu passei a infância/adolescência a ouvir as estórias/peripécias dos seus dois anos na Índia - e passaríamos por onde eu gostaria de ir: Baçaim (atualmente Vasai-Virar), Damão e Surrate (atualmente Surat). Infelizmente morreu cedo de mais para podermos concretizar a ideia, restou-me ir sozinho.






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