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29 julho 2022

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Salavessa: Terra do e de Mel

29 julho 2022 1 Comentários

A SALAVESSA É UM POVOADO ANTIQUÍSSIMO PRATICAMENTE CONTEMPORÂNEO DE MONTALVÃO.


Abelha salavessense carregada de pólen (cera)


As abelhas têm nela um domínio de liberdade e alimentação num caleisdoscópio de cores que tanto lhes agrada.


NOTA: Agradecimento muito especial, pois a Salavessa sempre ficou para mim, distante - fui o dobro das vezes a Casalinho/Cedilho, em Espanha, relativamente em idas à Salavessa - aos ilustres salavessenses: José Henriques, Luís Duarte Silva e Luís Mário Bento. Extensível também para o próximo texto a publicar na próxima semana.


A Salavessa sempre pertenceu ao Concelho (depois de 28 de dezembro de 1836, freguesia de Montalvão). Não sendo povoado autónomo, em termos políticos e administrativos, sempre teve destaque devido à sua grandeza. No Recenseamento Geral da População, em 12 de dezembro de 1940, a Salavessa tinha 220 edifícios (mais 190 que em 1758) e cerca de 630 habitantes (mais 543 que em 1758). Um crescimento notável em 182 anos. Os números certos são difíceis de contabilizar pois para a Salavessa só foram publicados os referentes à população presente (623) naquele dia mas seriam mais pois para toda a freguesia os presentes foram 2610 mas os residentes eram 2672.   



Mas é quando se compara a povoação com outras, mesmo as do concelho de Nisa, que se percebe como era enorme a Salavessa no início dos Anos 40. A maior povoação de São Matias, o Monte Claro, com 557, tem menos habitantes e o Pé da Serra (676) só registou mais 53 habitantes, embora em menos 13 edifícios (207). A Salavessa era maior que o Pé da Serra. Em 25 localidades apenas sete têm mais habitantes que a Salavessa. Até Arez (899) pouco mais tinha que a Salavessa (623). Uma localidade enorme que sendo estudada muito ainda tem para nos "dizer" a vários níveis. Até a razão da sua origem e evolução, mas isso fica para um ano destes.   




Mesmo Póvoa e Meadas, embora com mais edifícios e habitantes que a Salavessa era menor que a freguesia de Montalvão - menos 251 edifícios (770/519) e menos 837 habitantes (2 672/1 835) - daí uma rivalidade durante anos, por serem povoações de igual dimensão. Montalvão tinha na Salavessa um lugar que a freguesia de Póvoa e Meadas nunca conseguiu ter, havendo mais concentração nesta, desenvolvida no caminho entre Castelo de Vide e Castelo Branco via Montalvão/Lomba da Barca, com o "esvaziamento" das Meadas. Montalvão permitiu que a Salavessa se desenvolvesse com autonomia social e económica.


O lugarejo mais Setentrional do Além-Tejo (Monte do Pombo) está na atualidade deserto
Mas chegou a ser a localidade, ainda que um lugarejo (Monte) mais a norte do... Norte Alentejano, com nascimentos e mortes registadas e certificadas. A última localidade antes de atravessar o rio Tejo para Norte ou a primeira depois de atravessar o grande rio peninsular de Norte para Sul. Cabe à Salavessa ser atualmente o povoado mais a norte do Alentejo. Latitude de Montalvão: 39º 35' 43.84" N. Latitude da Salavessa: 39º 35' 43.86" N.   


Em 1758: 30 edifícios e 87 pessoas

Na descrição (arquivada na Torre do Tombo, em Lisboa) que Vigário Frei António Nunes Pestana de Mendonça faz, em 24 de abril de 1758, a pedido do Poder Central, em Lisboa, para avaliar os estragos provocados pelo terramoto em 1 de novembro de 1755 (original e tradução) às perguntas:



«5. Se tem termo seu, que lugares, ou aldeas comprehende, como se chamaõ, e quantos visinhos tem?» 

«6. Se a Parochia está fora do lugar, ou dentro delle, e quantos Lugares, ou Aldeas, tem a freguezia, e todos pelos seus nomes.» 

De Montalvão responde: «= Tem e comprehende em si esta freguesia, cinco lugares a que vulgarmente se chama Montes = Monte da Salavessa, que tem trinta fógos e setenta e duas pessoas de confiçaõ e comunhaõ, e quinze menores. -»



As cores da Salavessa são diferentes de Montalvão por ter mais humidade no solo: mais verdes de Inverno e menos amarelas de Verão.



A cartografia permite viajar ao tempo em que a Salavessa tinha ainda um efetivo populacional elevado mas maus acessos (azinhaga - com muros laterais - até à ribeira da "Feguêra Douda" (Ficalho) e caminho - sem muros laterais - depois da ponte sobre esta).


Ponte da «Feguêra Douda» onde se deixava de caminhar por uma azinhaga (murada) e passava a caminho (sem muros de lajes de xisto)


E quando passou a ter estrada mas já sem muitos habitantes.


Cartas Topográficas (excertos) na escala 1:25 000 do ano de 1946 (em cima) e de 1993 (em baixo); Carta Militar de Portugal; Folha 314; Cartas Militares de Portugal; Serviços Cartográficos do Exército


A localização da Salavessa (e do Monte do Pombo, atualmente em ruinas) explicam-se por fatores económicos ligados a questões rurais e técnicas agrárias. Já Montalvão é mais complexo envolvendo prática Mística, embora durante muito tempo esta também fosse económica, pois considerava-se que estanto protegida por Deus teria mais condições para que a população debelasse fomes e doenças, tendo ajuda Divina para melhores colheitas e clima favorável às questões agrícolas. A Salavessa estabeleceu-se num topo que domina dois dos afluentes mais importantes do rio Tejo, no vasto território montalvanense - Ficalho e Fivenco (Firvêlo, em salavessense e Fevêle, em montalvanês) - além de ter água muito boa e abundante, ao contrário de Montalvão que tem escassez de água e de pouca qualidade. A Salavessa é abastecida por água recolhida, na Charneca, a dois quilómetros e Montalvão necessita da água de Póvoa e Meadas. Ter muita água corrente (dois ribeiros e o rio Tejo) e água de nascente foi fundamental. 



Água é vida. Só podem existir povoações onde há água de nascente para alimentar essa população. A carta geológica ilustra na perfeição. A Salavessa e o Monte do Pombo (servida por outra excelente fonte com água muito semelhante à da Salavessa, até diria, incrivelmente semelhante) localizam-se onde há terra de arcozes e cascalho que permitem qualidade e quantidade de água infiltrada ao contrário do barro xistoso de Montalvão, com água de pouca qualidade, muita dela até salobra.




Antes dos seres humanos colonizarem o território este era constituído por montado (de sobreiros e azinheiras) com um sub-bosque, essencialmente, com giestas, xaras (estevas) e rosmaninho, ou seja, o Mundo das Abelhas. Eram estes insectos que dispunham do seu Paraíso. Depois regrediu com a ocupação humana - as plantas autóctones foram substituídas por outras de maior rendimento através de charruas e arados -  voltando a expandir-se com a desertificação devido ao despovoamento demográfico e abandono rural.


Abelha salavessense a extrair néctar (mel)


Muito há para contar, com cartografia da cobertura vegetal, limitação do uso dos solos e do tipo de solos. Mas ficará para a próxima. E mais acerca da história - aparecimento e crescimento - para desenvolver nos próximos anos.



Próximo: O Melhor Mel do Planeta e Arredores



1 comentários blogger
  1. Já passei vezes sem conta na estrada onde está uma tabuleta a indicar o caminho de Salavessa. Da próxima vez visitarei SALAVESSA e comprarei...MEL. Fica prometido!!!

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