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19 outubro 2020

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Música Concertina Montalvanense

19 outubro 2020 0 Comentários

 EM MONTALVÃO AS CERIMÓNIAS MAIS POPULARES SEMPRE FORAM ACOMPANHADAS DE MÚSICA.



Mas como por todo o Alto Alentejo não se pode dizer que a música popular seja "exuberante" como noutras regiões do País, embora os dois grandes estudiosos da música popular portuguesa, com recolhas efetuadas por todo o Portugal, Michel Giacometti (nascido na Córsega/França) e Fernando Lopes Graça afirmassem que cada região tinha as suas formas musicais de acordo com, as características das respetivas ruralidades, a nível da relação empregador/jornaleiro e do tipo de técnicas agrícolas empregues na generalidade das tarefas agrícolas.



O Alto Alentejo fica entre duas regiões com características diferenciadas, onde dominam formas de expressão musical bem definidas e distintas: a Beira Baixa com adufes e variações rítmicas consideradas das mais diversificadas de Portugal e o Baixo Alentejo com o "Cante" polifónico com grande amplitude e enorme variedade de letras que está reconhecido, devida e inequivocamente, como «Património Imaterial da Humanidade» pela UNESCO.   



No Alto Alentejo, a música popular mais divulgada e consistente é a «Moda das Saias» ou simplesmente «Saias» uma forma musical simples e cantada por isso podem ser só cantadas ou podem ser bailadas. O ritmo é binário composto (6/8) com pandeireta, no século XVII (1601 a 1700), também adufe mais tarde com concertina. Até castanholas podem ser usadas por quem dança e canta, o que também liga a «Moda das Saias» à música/dança do sul de Espanha.


Estreia da «musseca» em 7 de Setembro  de 1947

Segundo os estudiosos do assunto (clicar):

Dançar e cantar a Moda de Saias

O que é a «Moda de Saias» do norte alentejano é a grande pergunta que se deve fazer, até porque não há uma resposta exata a essa dúvida. Pode ser um tipo de canção regional portuguesa, isto é, um capitulo do nosso cancioneiro tradicional, pode ser uma dança tradicional, pode ser uma forma de canto, e pode ser tudo isto ao mesmo tempo.

Giacometti e Lopes Graça, que, no passado século, recolheram parte destas cantigas de campo, ligaram a Moda de Saias aos despiques que aconteciam nos trabalhos agrícolas, nomeadamente por altura das colheitas, dizendo que estes podiam, ou não, ser bailados, e acrescentaram que estes cantarolares também poderiam acontecer em momentos de descontração e festa. Estes mesmos estudiosos da música popular portuguesa apontam Espanha como a influência principal das «Saias» alentejanas – tendo em conta a proximidade da raia, não parece de todo improvável. Há aqui uma distinção a fazer nesta influência espanhola: uns dizem que poderá vir da Saeta, dança religiosa do folclore do sul de Espanha; outros que virá de tradições do sul de Espanha, mas de cariz profano e não religioso, aproximando-a do bailado sevilhano. Parece, até pelo carácter lúdico do cantar das «Saias», que a segunda hipótese é mais plausível.



A estrutura dos versos da «Moda das Saias» é muito simples e pode ser adaptada a cada localidade, como estes versos:


Todos

Adeus Montalvão branquinho
Não és vila nem cidade,
Mas és um rico cantinho
Onde mora a mocidade.

Homem

Menina que tanto sabe,
Diga lá o seu saber,
Uma camisa bem feita
Quantos pontos vem a ter.

Mulher

Quantos pontos vem a ter
Vou-lhe já explicar,
Nem é mais e nem é menos
Dos que lhe querem prantar.

Homem

Estas raparigas finas de hoje
Iguais às de ontem no monte,
Albardá-las e mandá-las
Com um cântaro à fonte.

Mulher

Estes rapazes de agora
Estes que de agora são,
Albardá-los e mandá-los
à serra buscar carvão.

Homem

Canta lá ó prima, ó prima
Canta prima tu mais eu,
Canta lá ao teu amor
Que ó prima eu canto ao meu.

Mulher

Anda cá meu preto moreno
Torradinho ao sol de agosto,
Quanto mais moreno mais fino
Quanto mais fino mais gosto

Homem

Menina que tanto sabe
Faça-me esta conta bem,
Um moio de trigo limpo
Quantas meias quartas tem?

Mulher

Falaste no trigo limpo
Mas não me falas no joio
Quatrocentas e oitenta
Meias quartas tem o moio.

Todos

As ondas do teu cabelo
Nelas me deito a afogar,
É pra que saibas amor,
Que há ondas sem ser no mar.



Em Montalvão, a concertina, em meados do século XX (1901 a 2000) era o instrumento que não podia faltar em casamentos e bailes, no Salão da Xá Cezíla-a-Zabumba (rua da Barca) ou da Xá Gracinda (rua do Arneiro).



Salão de Baile
As duas tabernas com salão de baile eram sumptuosas. Nos dias de festa engalanavam-se com artistas tocadores. Eram concertinas, banjos, música e tudo a dançar. O Salão de Baile da Xá Gracinda era afamado. Música de fora, até vinham tocadores, dizia-se, lá dos lados de Lisboa, para abrilhantarem, até às tantas, as danças de pares, entre as montalvanenses e os montalvanenses. Nem se cabia e se o salão era grande. 



Até com apenas uma harmónica (gaita-de-beiços) se fizeram bailes nos anos 50! 



Montalvão tinha sempre algum tocador de concertina. Havia música (e baile) pouco depois do «Entrudo», o "Baile da Sardinha» em que no final se fazia cair no salão, doces e enfeites, pendurados durante o baile no teto do salão. Havia música (e bailes) a abrilhantar e dar alegria aos casamentos, durante dois ou três dias, muitas vezes com tocadores que vinham "de fora" como, por exemplo, de Nisa. Havia música pela «Festa da Senhô Dumédes» (8 de setembro) quase sempre três dias, na Corredoura, antes ou depois - dependia do calendário de cada ano - do dia de Nossa Senhora dos Remédios. 



Mas havia música num qualquer domingo em que os «quintes» em ano de "Sortes" (Inspeção Militar) decidissem que tinha de haver alegria a percorrer as ruas da povoação. Vai de se juntarem e correrem os arruamentos de concertina e a cantarolar, em grupo a tentar ocupar a largura das ruas. 



Os «quintes» eram os grandes animadores musicais em Montalvão para lá dos bailes aprazados e das Festas de setembro.



Depois com a inauguração das instalações definitivas da Casa do Povo, em 10 de setembro de 1952, os bailes (e a música) passaram para o grande salão que está no seu interior.



E escrevendo acerca da música em Montalvão nunca se pode ignorar a Banda Filarmónica, bem como as contradanças do rancho folclórico. A Banda Filarmónica (musseca, em «montalvanês» que existiu durante quase uma década, atuando aquando em grandes eventos que ocorrerem na povoação ou nas alvoradas dos dias da "Festa da Senhora" bem como na Praça de Touros (Corridas à Vara Larga) e, até num qualquer domingo de manhã, percorrendo as ruas de Montalvão terminando a atuação na Praça da República, convidada para abrilhantar festas para lá da povoação, em Arez até em localidades no concelho de Castelo Branco - Perais e Benquerenças - mesmo de Vila Velha de Rodão, como Perdigão (Fratel). 



As Contradanças com atuações mais episódicas, ao som da concertina, mas também para lá dos limites do povoado, em Nisa, Portalegre e Elvas, pelo menos.



Dois textos de José Alberto Sardinha, publicados em 1982, um dos investigadores que melhor soube continuar o trabalho dos seus mestres (Michel Giacometti e Lopes Graça) acerca da Beira Baixa e do Alentejo. Depois uma tema musical onde se percebe como se conseguem "colar" várias "Saias" numa série infindável de letras ilustrando como é um tema simples mas que pode ser bailado até "ser dia".




Assim, também, se fez Montalvão.


NOTA: Há ainda o Grupo Coral "EmCanto" mas escrever acerca dele e de Montalvão contemporâneo está aprazado para quando forem publicados os dados demográficos e habitacionais do Recenseamento Geral da População a realizar em 2021. 






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