Das quatro Feiras de Nisa esta era a primeira em que havia calor, geralmente não chovia e os dias eram maiores, nascer do sol pelas 06:10 horas e ocaso pelas 20:58 horas, ou seja, 14 horas e 48 minutos de dia, ainda mais tendo em conta a alvorada e o crepúsculo. Muito tempo para se estar em Nisa, pois a viagem de ida e volta, cerca de 16 quilómetros, consumiam muito tempo. Assim, esta era a feira por excelência para as freguesias que distavam vários quilómetros de Nisa. Os preparativos começavam logo de véspera, no sábado, pois a saída de Montalvão, era bem cedo, nesse domingo.
No segundo domingo de junho era pegar na trouxa e partir cedo para Nisa. Estava montada uma das maiores feiras do concelho. Dependendo do calendário de cada ano, podia decorrer entre os dias 8 e 14. A «Feira de Junho», popularmente «Feira das Cerejas», por ser tempo de abundância delas. Durante décadas colhidas nas encostas mais umbrias da serra de São Mamede, onde nasce o rio Sever.
Em Montalvão não há registos de um Feira com regularidade sazonal, mesmo uma vez por ano. O que num povoado tão grande é quase inexplicável. Por vezes, em 24 de setembro, ocorria uma Feira mas era esporádica, raramente tendo uma década consecutiva a realizar-se. Em cem anos - entre 1830 e 1930 - teria sido realizada cerca de vinte vezes. Nem se pode dizer que fosse «uma Feira», por não ter regularidade de assinalar. Era a Feira de Nossa Senhora das Mercês. Depois houve Feiras mas por coincidência de feirantes que chegavam e partiam no mesmo dia. Era mais «Mercado» que «Feira».
Em Montalvão, sinónimo de Feira era ir às três Feiras Anuais em Nisa. A de janeiro (ou de Inverno), a de junho (ou das Cerejas) e a de outubro (ou São Miguel). Depois juntou-se uma quarta... feira, a dos Passos (terceiro domingo da Quaresma).
A de «Inverno» é no segundo domingo de janeiro, a das «Cerejas» no segundo domingo de junho e a de «São Miguel» no segundo domingo de outubro.
Em Montalvão, sinónimo de Feira era ir às três Feiras Anuais em Nisa. A de janeiro (ou de Inverno), a de junho (ou das Cerejas) e a de outubro (ou São Miguel). Depois juntou-se uma quarta... feira, a dos Passos (terceiro domingo da Quaresma).
A de «Inverno» é no segundo domingo de janeiro, a das «Cerejas» no segundo domingo de junho e a de «São Miguel» no segundo domingo de outubro.
Ninguém se enganava. Janeiro, junho e outubro. Sempre ao segundo domingo.
Mesmo quando, em Lisboa, se decidiu fazer um inventário dos estragos que o terramoto do 1.º de novembro de 1755 provocou no país, quem responde de Montalvão é inequívoco quanto às questões n.º «22 - Se tem feira, em que dias?» e n.º «23 - Se he franca, e quantos dias?». O Vigário Frei António Nunes Pestana de Mendonça, escreve de Montalvão, em 24 de abril de 1758, de forma esclarecedora como resposta n.º 19:
«Naõ tem feyra, nem mercado em algum dos dias do anno; excepto nos sábados, que saõ livres para quem na praça quizer vender alguns frutos».
E ainda a resposta n.º 15 à questão n.º 18 - «Quaes saõ os frutos da terra, que os moradores recolhem em maior abundancia?»
«Os frutos desta terra saõ somente trigo, senteyo, sevada, e linho, e algum azeyte, e mel; sendo entre todos estes de trigo a mayor abbundançia, segundo a qualidade dos annos».
Ao segundo domingo de junho, Montalvão preparava-se com os seus melhores trajes e rumava a Nisa, para comprar na Feira.
Descrição da povoação e do seu termo (Montalvão: componentes, características e atividades, da vila até aos limites do concelho). Documento original, datado de 24 de abril de 1758, na Torre do Tombo, em Lisboa |
«Naõ tem feyra, nem mercado em algum dos dias do anno; excepto nos sábados, que saõ livres para quem na praça quizer vender alguns frutos».
E ainda a resposta n.º 15 à questão n.º 18 - «Quaes saõ os frutos da terra, que os moradores recolhem em maior abundancia?»
«Os frutos desta terra saõ somente trigo, senteyo, sevada, e linho, e algum azeyte, e mel; sendo entre todos estes de trigo a mayor abbundançia, segundo a qualidade dos annos».
Ao segundo domingo de junho, Montalvão preparava-se com os seus melhores trajes e rumava a Nisa, para comprar na Feira.
As cerejas por vezes eram o pretexto pois até nem se compravam muitas, embora em Montalvão as cerejeiras se contassem pelos dedos, e eram mirradas, mesmo havendo vários topónimos, como «Cerejeira» (cerejêre, em «montalvanês») e «Fonte Cereja».
Não se compravam muitas cerejas. Cada mãe fazia uma «caldêrinha» - uma mão cheia de cerejas, duas a duas, atadas pelos pés com um simples fio - que depois se distribuía por cada membro da família. Tocava meia dúzia a cada um. Era o dinheiro a encurtar uma má barrigada de cerejas que por vezes davam volta à tripa com maus resultados.
A «Feira das Cerejas» era a típica feira de Verão. Bom tempo, dias longos, com nascer do Sol por volta das seis da manhã e o pôr-do-Sol pelas nove da noite. Raramente chuvisco embora por vezes as trovoadas fizessem das suas...
Era uma feira de família. Na Vila ficavam mesmo os que estavam impedidos por qualquer enfermidade, velhice ou algum trabalho urgente por acabar de rumar a Nisa. Já sabiam o que os esperava. Mesmo depois da estrada nacional n.º 359 (variante 3) ter encurtado distância e tempo eram 16 quilómetros bem medidos, em cada sentido.
Os pais iam à procura do que necessitavam para mais um ano de vida (até à próxima feira de Verão) ou pelo menos até à de Outono, no segundo domingo de outubro, pelo São Miguel. Esta era mais para feijão, grão-de-bico e cereais.
Para os filhos (crianças e jovens, rapazes e raparigas, em linguagem grave, ou «catchôpos e catchópas», em montalvanês) entre o «Largo Central» das guloseimas - rebuçados de açúcar e outros doces caseiros feitos noutras terras por isso iguarias - e o «Campo da Devesa» onde entre animais de todas as espécies e raças à venda corria-se desalmadamente como se não houvesse amanhã.
Assim se foi fazendo Montalvão...
Não se compravam muitas cerejas. Cada mãe fazia uma «caldêrinha» - uma mão cheia de cerejas, duas a duas, atadas pelos pés com um simples fio - que depois se distribuía por cada membro da família. Tocava meia dúzia a cada um. Era o dinheiro a encurtar uma má barrigada de cerejas que por vezes davam volta à tripa com maus resultados.
Era uma feira de família. Na Vila ficavam mesmo os que estavam impedidos por qualquer enfermidade, velhice ou algum trabalho urgente por acabar de rumar a Nisa. Já sabiam o que os esperava. Mesmo depois da estrada nacional n.º 359 (variante 3) ter encurtado distância e tempo eram 16 quilómetros bem medidos, em cada sentido.
Os pais iam à procura do que necessitavam para mais um ano de vida (até à próxima feira de Verão) ou pelo menos até à de Outono, no segundo domingo de outubro, pelo São Miguel. Esta era mais para feijão, grão-de-bico e cereais.
Para os filhos (crianças e jovens, rapazes e raparigas, em linguagem grave, ou «catchôpos e catchópas», em montalvanês) entre o «Largo Central» das guloseimas - rebuçados de açúcar e outros doces caseiros feitos noutras terras por isso iguarias - e o «Campo da Devesa» onde entre animais de todas as espécies e raças à venda corria-se desalmadamente como se não houvesse amanhã.
Assim se foi fazendo Montalvão...
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