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23 novembro 2019

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Os Lojistas

23 novembro 2019 0 Comentários
HOUVE DEZENAS DE LOJISTAS EM SETE SÉCULOS MONTALVANENSES.




No apogeu demográfico em Montalvão, entre os anos 40 e 50, as lojas concentravam-se na via mais central da povoação, a rua Direita, no troço final para Oeste denominada do Cabo e no início para Leste com o nome de Outeiro: a loja do senhor Augusto e sua esposa D. Branca, a da Xá Hermínia (com salsicharia), a do Senhor José (ido de Lisboa), a mercearia do Ti Possidónio e a dos panos da Xá Flávia (também salsicharia). Na Praça, gaveto com o rua de São Pedro, a do senhor António Falcão e no Arrabalde, a do Jaquim Morujo. 

(clicar em cima da imagem para obter melhor visualização)



Num povoado como Montalvão, quase com três mil habitantes, muita e variada necessidade de bens para o dia-a-dia, as lojas eram de paragem diária obrigatória. Fosse de manhã, à tarde ou ao anoitecer poucos montalvanenses - principalmente as mulheres e crianças que passavam mais tempo no povoado que no campo - não rumavam a uma loja para comprar algum utensílio ou ingredientes para fazer comida ou cuidar da casa. E fazer roupa...




As lojas tinham "de tudo ou quase". Neste aspeto eram iguais mas depois havia algumas mais iguais que outras, ou seja, com mais especialização embora vendessem de tudo. E não tendo naquele dia haveriam de o ter no dia seguinte ou muito próximo disso...




A da Xá Hermínia, em Lisboa (tirando a parte da salsicharia) seria uma retrosaria (agulhas, alfinetes, botões e linhas). Já a do Senhor António Falcão seria uma espécie de loja "Casa Africana" em versão aldeia sem pronto-a-vestir. Panos do mais fino, as popelinas. O Ti Jaquim Morujo era uma espécie de "vale tudo", desde os indispensáveis panos até pregos e alguns utensílios que nem ele já devia saber para que serviam, tão antigos eram. Como candeias de iluminar a azeite quando já havia luz elétrica! A do Senhor Augusto era a que tinha as "novidades". Quem queria saber o que havia de novo em Nisa, sem ir a Nisa, ia à loja do Senhor Augusto e da Dona Branca. E foi lá que começou, em Montalvão, o Telefone e esteve anos-a-fio o posto dos Correios. Um mundo. E assim se fazia Montalvão. 




Quem comprou em quase todas as lojas - nos final dos Anos 60 e início de 70 - ainda havia, pelo menos quatro, tem estórias em todas. A mais central era a do senhor Augusto que passou, depois, para um "ratinho" da Beira Baixa, o Senhor Luís com uma irmã divorciada.




Entretanto o lojista da Beira Baixa tinha dado lugar ao Ti Xequim da Tróia, em meados dos Anos 50. Talvez a melhor estória pessoal tenha sido nesta loja, bem central, na rua Direita quando ainda se denomina do Outeiro.




A minha avó materna tinha "recebido instruções" das filhas para modificar os pequenos almoços dos netos. Numa manhã recebi um mandado. Vai à loja do Xequim da Tróia comprar pó para tingir. Lá fui.

"Óh senhor Jaquim da Tróia a minha avó quer pó para tingir". O lojista questionou: "E de que pó? O azul ou o ocre?" Eu respondi: "Não sei!" Senhor Jaquim da Tróia lembra-se de questionar: "De que cor tem a casa as barras?" Eu: "São azuis!" Senhor Jaquim da Tróia: "Então deve querer caiar de ocre. Leva lá este!" 
Quando cheguei a casa - nem dois minutos levava o caminho entre a loja e a casa na rua de São Pedro - a minha avó diz: Não é deste pó. É pó para tingir o leite. Lá regressei eu à loja para fazer a troca. Um cartucho de pó para tingir a cal por uma embalagem do famoso chocolate acacauzado, que rareava em Lisboa, mas nalgumas "coisas" Montalvão ficava mais perto de Espanha que de Portugal:




Em Lisboa era mais Milo, Ovomaltine, Nesquik ou Toddy, embora houvesse cacau espanhol, mas não havia hábito de consumo. Cola-Cao era Montalvão ou Casalinho.



Próxima "paragem": Os Ferreiros 

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