No apogeu
demográfico em Montalvão, entre os anos 40 e 50, as lojas concentravam-se na
via mais central da povoação, a rua Direita, no troço final para Oeste
denominada do Cabo e no início para Leste com o nome de Outeiro: a loja do
senhor Augusto e sua esposa D. Branca, a da Xá Hermínia (com salsicharia), a do
Senhor José (ido de Lisboa), a mercearia do Ti Possidónio e a dos panos da Xá
Flávia (também salsicharia). Na Praça, gaveto com o rua de São Pedro, a do
senhor António Falcão e no Arrabalde, a do Jaquim Morujo.
(clicar em
cima da imagem para obter melhor visualização)
Num
povoado como Montalvão, quase com três mil habitantes, muita e variada
necessidade de bens para o dia-a-dia, as lojas eram de paragem diária
obrigatória. Fosse de manhã, à tarde ou ao anoitecer poucos montalvanenses -
principalmente as mulheres e crianças que passavam mais tempo no povoado que no
campo - não rumavam a uma loja para comprar algum utensílio ou ingredientes
para fazer comida ou cuidar da casa. E fazer roupa...
As lojas tinham "de tudo ou quase". Neste aspeto eram iguais mas
depois havia algumas mais iguais que outras, ou seja, com mais especialização
embora vendessem de tudo. E não tendo naquele dia haveriam de o ter no dia
seguinte ou muito próximo disso...
Quem comprou em quase todas as lojas - nos final dos Anos 60 e início de 70 - ainda havia, pelo menos quatro, tem estórias em todas. A mais central era a do senhor Augusto que passou, depois, para um "ratinho" da Beira Baixa, o Senhor Luís com uma irmã divorciada.
Entretanto o lojista da Beira Baixa tinha dado lugar ao Ti
Xequim da Tróia, em meados dos Anos 50. Talvez a melhor estória pessoal tenha sido nesta loja, bem
central, na rua Direita quando ainda se denomina do Outeiro.
"Óh senhor Jaquim da Tróia a minha avó quer pó para tingir". O lojista questionou: "E de que pó? O azul ou o ocre?" Eu respondi: "Não sei!" Senhor Jaquim da Tróia lembra-se de questionar: "De que cor tem a casa as barras?" Eu: "São azuis!" Senhor Jaquim da Tróia: "Então deve querer caiar de ocre. Leva lá este!"
A minha
avó materna tinha "recebido instruções" das filhas para modificar os pequenos
almoços dos netos. Numa manhã recebi um mandado. Vai à loja do Xequim da Tróia
comprar pó para tingir. Lá fui.
"Óh senhor Jaquim da Tróia a minha avó quer pó para tingir". O lojista questionou: "E de que pó? O azul ou o ocre?" Eu respondi: "Não sei!" Senhor Jaquim da Tróia lembra-se de questionar: "De que cor tem a casa as barras?" Eu: "São azuis!" Senhor Jaquim da Tróia: "Então deve querer caiar de ocre. Leva lá este!"
Quando
cheguei a casa - nem dois minutos levava o caminho entre a loja e a casa na rua
de São Pedro - a minha avó diz: Não é deste pó. É pó para tingir o leite. Lá
regressei eu à loja para fazer a troca. Um cartucho de pó para tingir a cal por
uma embalagem do famoso chocolate acacauzado, que rareava em Lisboa, mas nalgumas
"coisas" Montalvão ficava mais perto de Espanha que de Portugal:
Em
Lisboa era mais Milo, Ovomaltine, Nesquik ou Toddy, embora houvesse cacau espanhol, mas não havia hábito de consumo. Cola-Cao era Montalvão ou Casalinho.
Próxima "paragem": Os Ferreiros
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